BENEFÍCIOS DO USO DE RECURSOS ERGOGÊNICOS NA PERSPECTIVA DE PRATICANTES DE MUSCULAÇÃO DA CIDADE DE FORTALEZA-CE



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Transcrição:

Recebido em: 28/02/2009 Emitido parece em: 17/03/2009 Artigo original BENEFÍCIOS DO USO DE RECURSOS ERGOGÊNICOS NA PERSPECTIVA DE PRATICANTES DE MUSCULAÇÃO DA CIDADE DE FORTALEZA-CE Helder Braide Lima¹, Danilo Lopes Ferreira Lima¹, Rossman Prudente Cavalcante¹. RESUMO O objetivo deste trabalho consistiu em conhecer os resultados que os usuários de recursos ergogênicos nutricionais e farmacológicos pensam estar obtendo com a ingestão dos mesmos e confrontá-los com a literatura específica. Esta pesquisa é do tipo exploratória e descritiva, com abordagem quantitativa. A amostra foi composta por 30 praticantes exclusivos de musculação de duas academias de Fortaleza, de ambos os sexos, faixa etária entre 25 e 45 anos de idade, experiência de pelo menos 2 anos ininterruptos de treinamento, que estivessem seguindo algum tipo de planejamento para modificações de composição corporal e fossem usuários de recursos ergogênicos nutricionais e farmacológicos para esta finalidade. Os achados demonstraram inicialmente uma prevalência na ingestão dos compostos protéicos pelos entrevistados (96,6%), seguido pela creatina (80%), aminoácidos de cadeia ramificada BCAA (66,6%), dos minerais boro, cromo e vanádio (53,3%), termogênicos (40%), (HMB) beta-hidroxi beta-metilbutirato (23,3%) e ácido hidroxicítrico (3,3%).Com exceção da creatina, a maioria dos benefícios esperados pelo uso destes suplementos não está respaldada pela literatura científica, notadamente entre os usuários de aminoácidos BCAA, minerais (boro, cromo e vanádio) e termogênicos, pois nenhum dos benefícios esperados foi demonstrado pela Ciência. Conclui-se com esses dados que há uma significativa distância entre o que os usuários procuram com o uso desses suplementos e os seus efeitos justificados cientificamente. Palavras chave: Suplementos dietéticos, proteínas, creatina. ABSTRACT The aim of this study is compare the results that the users of ergogenics and pharmacological drugs believe they are obtaining with those cited in specific literature. This research is a quantitative and descriptive aproach. Were selected 30 bodybuilders, both male and female, training in two fitness centers located in Fortaleza. The group age ranged from 25 and 45 years old, with at least two years of uniterrupted training and following any type of body composition change program by using ergogenic nutritional and pharmacological products to achive their purpose. There was a prevalence of the use of protein supplements (96,6%), followed by creatine (80%), branched-chain amino acids (66,6%), boron, chromium and vanadium minerals (53,3%), thermogenics (40%), beta-hydroxy beta-methylbutyrate (23,3%) and hydroxicitric acid (3,3%). Accepting creatine, the benefits waited for this kind of supplements are not clear in scientific literature in users of aminoacids, BCAA, minerals(boron, chromium and vanadium) and thermogenics. With the exception of creatine, the majority of benefits expected by the use of the other supplements is not supported by scientific literature. We conclude that there is a significant difference between the result expected by the supplement users and those scientifically proven. Key words: Dietary supplements, proteins, creatine. INTRODUÇÃO Muitos estudiosos, ao longo do tempo e até os dias atuais, partem do pressuposto de que os seres humanos não são essencialmente diferentes de outros animais, sendo este pensamento uma contribuição de estudos científicos desenvolvidos a partir da análise do sistema nervoso de animais, do darwinismo e das teorias da evolução (FRADIMAN, 1986). Porém, compondo uma das diferenças entre seres humanos e animais irracionais, possivelmente esteja a natureza vaidosa do homem que busca conquistas não somente para subsistir, mas também para obter e demonstrar poder, talvez numa busca incessante do ser amado, admirado ou respeitado. 53

Talvez o capitalismo e a globalização tenham sido os instrumentos chave para a intenção humana da busca de conquistas, porém a ideia do corpo musculoso, harmônico e com baixos níveis de gordura também tem sido vinculada à capacidade de conquistar, de vencer obstáculos, produzindo uma breve, porém complexa conclusão: antes é preciso ser para depois se ter. A busca do corpo perfeito transformou-se em desporto, o fisiculturismo ou body building. Este desporto provavelmente nunca foi tão massificado quanto nas décadas de 70 e 80. Um dos principais responsáveis por esta popularização foi Arnold Schwarzenegger, um atleta, empresário, astro de cinema e político que soube com sua técnica, seu estilo de vida e seu carisma inspirar gerações de homens e mulheres de todas as idades a praticarem musculação e a buscarem equilíbrio nutricional (SCHWARZENEGGER, 2001). É fato que muitos fisiculturistas e muitos praticantes de musculação não acreditam que para se alcançar o físico desejado, é preciso treinar musculação com intensidade elevada, dar repouso ao organismo e equilibrar o estado nutricional de acordo com as suas necessidades. Estes praticantes de musculação acabam por se precipitar, fazendo o uso de drogas ou realizando treinamentos excessivos, quando através da informação poderiam se livrar dos seus paradigmas e procurar um caminho mais seguro e mais simples, o caminho do treinamento eficaz, das dietas equilibradas e o caminho do possível uso de recursos ergogênicos nutricionais e farmacológicos, também chamados popularmente de suplementos. É importante destacar que existem muitas dúvidas a respeito da real necessidade do uso destes suplementos nutricionais e farmacológicos pelos praticantes de musculação, competidores ou não, principalmente sobre as verdadeiras ações destes suplementos, ou seja, se as propostas de respostas condizem com os seus efeitos reais. Os achados deste trabalho certamente terão relevância para os praticantes de vários esportes, pois o uso destes recursos ergogênicos não se restringe somente aos praticantes de musculação nas academias. Dá-se a classificação de recurso ergogênico, a todo e qualquer recurso capaz de melhorar a capacidade do trabalho físico ou desempenho atlético, podendo este ser de natureza mecânica (tênis, luvas, tensores, estrepes para musculação etc.), nutricional (aminoácidos, minerais, etc.), psicológica (técnicas de aprimoramento da inteligência emocional, treinamentos para motivação etc.), farmacológica (Tribulus terrestris, ácido hidroxicítrico etc.), dentre outras. Entre os mais comercializados suplementos nutricionais e farmacológicos, encontram-se: compostos protéicos, termogênicos, creatina, aminoácidos de cadeia ramificada BCAA, Tribulus terrestris, cromo, vanádio e boro. Pode-se citar ainda o beta-hidroxi beta-metilbutirato (HMB) e o Citrim (ácido hidroxicítrico). A prevalência do uso de suplementos permanece alta entre jovens e adultos, engajados ou não em atividades esportivas. Todos os suplementos devem ser obrigatoriamente registrados e fiscalizados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), porém muitos ingredientes que integram esses produtos podem apresentar riscos à saúde dos usuários, havendo a necessidade da realização de mais estudos sobre os mesmos, o que demonstra a falência de um sistema de saúde, que ao priorizar lucros, esquece do propósito principal, a saúde e o bem-estar da população. Desta forma este estudo pretende identificar o que os praticantes de musculação que utilizam recursos ergogênicos objetivam com a ingestão dos mesmos, para confrontar com o que a literatura científica afirma sobre os seus efeitos. MÉTODOS Este estudo é do tipo exploratório e descritivo, com uma abordagem eminentemente quantitativa. A população envolvida foi composta por praticantes de musculação em academias de Fortaleza de ambos os sexos na faixa etária entre 25 anos e 45 anos de idade. A amostra, do tipo intencional, foi composta por 30 praticantes de musculação que preencheram os seguintes critérios de inclusão: possuir mais de 12 meses ininterruptos de prática de musculação, seguir algum tipo de planejamento para modificações de composição corporal, ser usuário de recursos ergogênicos com esta finalidade e, no momento da pesquisa, não praticar outro exercício físico além do treinamento com pesos. Serão excluídos desta amostra, os indivíduos que não preencheram os critérios de inclusão. A coleta de dados foi realizada nas academias CTAM (Dr. José Lourenço, 1290) e CB Fitness (Tavares Coutinho, 2225), através de um inquérito com questões abertas e fechadas, objetivando obter 54

informações com relação ao uso de recursos ergogênicos e seus supostos efeitos para modificação da composição corporal. A seleção dos recursos ergogênicos descrita no questionário foi definida por um grupo de 10 profissionais de Educação Física, atuantes no mercado de academias de Fortaleza, com no mínimo 10 anos de experiência em treinamento com pesos e envolvidos com a modificação de composição corporal dos seus alunos. Além disso, foram entrevistados profissionais de vendas de 3 das principais lojas de recursos ergogênicos desta capital. RESULTADOS Dos 30 entrevistados, apenas 1 (3,4%) fazia uso de suplementos não pesquisados neste estudo, os outros 29 (96,6%) informaram ter feito uso de, pelo menos, um suplemento citado nesta pesquisa. Dos 29, 22(75,9%) utilizaram 3 ou mais suplementos, 4(13,8%) utilizaram 2 suplementos e 3(10,3%) fizeram uso de somente um suplemento referido neste estudo. Os compostos protéicos foram os mais utilizados, sendo utilizados por 27(905) dos entrevistados. Os principais objetivos relatados por estes para fazerem uso de compostos protéicos foram em ordem decrescente: aumento da massa muscular, diminuição do percentual de gordura e aumento da força e aumento no rendimento no treinamento (Tabela 1). A creatina foi utilizada por 24(80%) dos entrevistados que desejavam aumento da massa muscular, aumento da força, aumento no rendimento, diminuição do percentual de gordura, aumento do peso corporal (Tabela 1). A utilização do tribulus terrestris foi mencionado por 21 avaliados onde, a grande maioria, optou por seu uso para aumento da massa muscular seguido de diminuição do percentual de gordura, aumento da força, aumento do rendimento e aumento da testosterona sérica (Tabela 1). Para a utilização do BCAA os 20(66,7%) avaliados que faziam seu uso afirmaram que desejavam aumento da massa muscular, diminuição do percentual de gordura, aumento do rendimento e aumento da força. Essa mesma sequência foi observada quando da utilização dos minerais com 16(53,3%) dos entrevistados fazendo seu uso (Tabela 1). Dos 13(43,3%) avaliados que fizeram uso de termogênicos, a diminuição do percentual de gordura era o principal objetivo, seguido do aumento do rendimento, aumento da massa muscular e aumento da força (Tabela 1). HMB e ácido hidroxicátrico foram os suplementos com menor frequência de utilização. No caso do ácido hidroxicátrico somente 1(3,3%) avaliado fazia seu uso com o objetivo de diminuição do percentual de gordura. Já o HMB foi utilizado por 6(20%) dos avaliados que utilizaram-no na expectativa de aumento da massa muscular, diminuição do percentual de gordura, aumento da força e aumento da testosterona sérica (Tabela 1). A diminuição do percentual de gordura foi a objetivo mais citado entre os avaliados seguido do aumento da massa muscular, aumento da força e aumento do rendimento. O aumento da testosterona sérica e do peso foram os menos citados. Contudo, o aumento da massa muscular é o grande objetivo daqueles que fazem uso da suplementação (Tabela 1). Tabela 1. Objetivos dos avaliados com a utilização dos suplementos. SUPLEMENTO/OBJETIVO da massa muscular Diminuição do percentual de gordura da força do rendimento da testosterona sérica do peso Compostos proteicos 1 2 3 4 Creatina 1 4 2 3 5 Tribulus terrestris 1 2 3 4 5 BCAA 1 2 4 3 55

Minerais 1 2 4 3 Termogênicos 2 1 4 2 HMB 1 2 3 4 Ácido hidroxicátrico 1 Classificação quanto aos objetivos preteridos 2 1 3 4 5 6 DISCUSSÃO A ingestão de proteína diária recomendada é equivalente a 15% do consumo de calorias por dia, onde atletas necessitam de 1,5-2 g/kg/dia de proteína (PATEL;GREYDANUS, 2005). Sabe-se ainda que não foram observados graves efeitos colaterais em indivíduos saudáveis, com funções renais normais e que ingeriam esta quantidade de proteína na sua alimentação diária (CLARCKSON,1998). A despeito do uso de suplementos protéicos pela grande maioria da amostra (96,6%), os estudos mostram que não é necessária a ingestão de compostos protéicos para o aumento de massa muscular e melhoria da performance atlética. Segundo estes autores a ingestão de 2g/kg/dia de proteína através da alimentação, incluindo refeições protéicas logo antes e após treinamentos com pesos intensos e imediatamente após atividades aeróbias seria o suficiente (CLARCKSON,1998). O segundo recurso ergogênico mais utilizado entre os entrevistados foi a creatina, que segundo a literatura, aumenta o volume muscular por atrair água para o meio intracelular e talvez por sintetizar proteína mais rapidamente evitando a sua quebra (SANTOS, 2003; GUIMARÃES NETO, 1997). Estudos preliminares sugerem que pode ocorrer um aumento na síntese protéica, assim como na retenção de fluidos com o uso da creatina. Porém o modo de ação da creatina em aumentar o peso corporal ainda não é conhecido.como 50% dos usuários de creatina desta pesquisa esperam obter aumento de massa muscular como principal objetivo, é possível perceber uma certa coerência entre seus objetivos com os achados da literatura (CLARCKSON,1998). Ainda compondo a lista dos recursos ergogênicos de maior consumo por praticantes de musculação desta pesquisa, encontra-se o Tribulus terrestris (70%). 53,3% dos usuários o utilizam com a finalidade de aumentar a massa muscular e 16,6% buscam prioritariamente reduzir o percentual de gordura. De acordo com a literatura, o Tribulus terrestris é uma planta (erva) de áreas tropicais, cultivadas em climas moderados e com aplicações importantes na medicina há séculos. Os gregos usavam essa planta como diurético, antisséptico e antiinflamatório, enquanto que na China a erva é um componente comum em terapias para várias doenças que afetam o fígado, os rins e o sistema cardiovascular. Na Bulgária o Tribulus terrestris é usado primeiramente como coadjuvante no tratamento de infertilidade e falta de libido. O mesmo autor ainda afirma que esta erva eleva os níveis endógenos de testosterona por aumentar os níveis de LH (hormônio luteinizante) que por consequência induzem a pituitária a produzir mais testosterona (SANTOS, 2003). Outro trabalho define o Tribulus terrestris como uma erva que contém glicídios esteroidais e saponinas, e que ela aumenta a secreção e liberação endógena do hormônio luteinizante e testosterona, estimula a diurese e a libido, além de melhorar o humor (PATEL; GREYDANUS, 2005). Em outros achados, não foi demonstrada a ação desta erva na melhoria da composição corporal de atletas em treinamento de resistência e que seus efeitos como agente ergogênico nos esportes permanecem infundados, o que demonstra uma substancial discrepância com os objetivos dos usuários do Tribulus terrestris nesta pesquisa (KUNDRAT, 2004). Evidenciou-se também uma adesão aos minerais boro, cromo e vanádio de 53,3%, com 36,6% destes objetivando ganho de massa muscular e 19,9% redução do % de gordura. Mesmo com a literatura, relatando a poderosa ação anabólica da insulina em suas células alvo (COTRAN, 2000), e outros trabalhos afirmando a importante ação do mineral cromo e mineral vanádio como estimulante dos 56

receptores periféricos de insulina (cromo) (OLSZEWER, 2000) e suas ações hipoglicemiantes (cromo e vanádio) (SANTOS, 2003)), comprovou-se em pesquisas muito bem conduzidas, que até o presente momento os estudos não demonstraram justificativa científica que comprovem ação anabólica para atletas que ingerem estes minerais (CLARCKSON,1998). Os mesmos estudos revelam resultados infundados na comprovação de efeitos para ganho de massa muscular do mineral boro (CLARCKSON,1998). Os termogênicos que tiveram uma procura de 40%, sendo 30% destes os interessados em reduzir o % de gordura, o que demonstra uma possível inquietude dos usuários na busca desenfreada por este resultado. Existem atualmente, inúmeros produtos termogênicos à venda nas lojas de suplementos naturais, mas é sabido que dos componentes desses produtos, a cafeína é o único presente em todos eles em forma de mate, guaraná, cola, chás, dentre outros. A literatura afirma que a cafeína é responsável pelo aumento da utilização de ácidos graxos para o metabolismo energético (NETO, 2003). Encontra-se também na literatura outras afirmações, como por exemplo, a que coloca a cafeína como estimulante da produção de calor no organismo, havendo evidências de que ela possa ter algum efeito benéfico para o emagrecimento, mas conclui que é necessário um estudo mais completo e definitivo, para a confirmação inequívoca da real utilidade da ingestão regular de bebidas com cafeína para estimular o emagrecimento em pessoas obesas (LIMA, 2003). Porém em estudos mais recentes descobriu-se que a cafeína tem contribuição no aumento da performance atlética e tem efeito lipolítico por inibibir a ação da enzima inibidora de AMP-c (adenosina monofosfato-cíclico) (SILVEIRA, 2004). Os aminoácidos de cadeia ramificada, ou simplesmente, BCAAs (Branched Chain Amino Acids) são: isoleucina, leucina e valina. Têm sido utilizados com intuito de melhoria da performance atlética e de promover efeitos anti-catabólicos. Acredita-se que o aumento da serotonina no cérebro causa fadiga e que os BCAA bloqueiam os receptores centrais e impedem a liberação da serotonina, retardando assim a fadiga central. Porém, estudos demonstram que há poucas evidências da ação dos BCAA na melhoria da resistência geral e da performance esportiva, no entanto, também não há indicações de efeitos colaterais com o uso destes (PATEL; GREYDANUS, 2005). Merece destaque ainda, o fato de que nenhum dos principais objetivos citados pelos usuários de aminoácidos BCAA, encontraram suporte na literatura científica (PATEL; GREYDANUS, 2005). O HMB teve uma adesão de 23,3% entre os entrevistados, com 19,9% destes objetivando aumento de massa muscular e 6,6% buscando redução do % de gordura. O aumento de força, único benefício com respaldo na literatura (CLARCKSON,1998), foi citado por apenas 1 dos entrevistados. Estudos revelam resultados infundados na comprovação de efeitos para ganho de massa muscular do HMB (CLARCKSON,1998). Por fim, sobre o ácido hidroxicítrico, os achados demonstram que atualmente os dados ainda são insuficientes para fundamentar sua eficácia como redutor de peso (PATEL; GREYDANUS, 2005). Esta pesquisa não demonstrou significativa adesão ao ácido hidroxicítrico, tendo apenas 1 usuário, e que buscava redução do % de gordura com o uso do mesmo. Os usuários dos chamados suplementos alimentares provavelmente ainda baseiam suas decisões em propagandas enganosas, pesquisas com metodologia questionável e senso comum. Novas pesquisas com caráter mais abrangente serão necessárias para tornar a informação baseada em evidência mais acessível aos usuários de recursos ergogênicos. CONCLUSÃO Apesar das limitações deste estudo, é possível concluir que há uma distância considerável entre os objetivos pretendidos pelos praticantes de musculação com o uso de recursos ergogênicos e o que a literatura, através de pesquisas controladas, pode comprovar. O modelo de gestão desse sistema de comercialização deve ser revisto pelo Ministério da Saúde, pois alguns componentes dos chamados suplementos não possuem respaldo científico, o que nos faz desacreditar nos seus efeitos, e por consequência, seus possíveis efeitos colaterais também podem ser desconhecidos. Outra questão não pode deixar de ser levantada é sobre o nível de informação dos formadores de opinião ou simplesmente dos profissionais da área da saúde. Sabendo-se que até as pesquisas mais recentes colocam que alguns recursos ergogênicos ainda encontram-se infundados e que mais 57

pesquisas devem ser realizadas a respeito dos mesmos, este fato demonstra a extrema necessidade de atualização dos profissionais da área da saúde, precisando estes estar totalmente conectados com as mais recentes pesquisas realizadas. Lembrando ainda que alguns desses profissionais são os responsáveis diretos pelo consumo dos suplementos por parte dos usuários, e que uma pequena fração destes formadores de opinião ainda participa da comercialização dos recursos ergogênicos nutricionais e farmacológicos, posicionando-se estes de forma contrária ao seu código de ética. REFERÊNCIAS CLARCKSON, P.M. Dietary supplements and pharmaceutical agents for weight loss and gain. Exercise Science and Sports Medicine. v.10, 1998. COTRAN, R.; KUMAR, V.; ROBBINS, S. R Patologia estrutural e funcional. 6.ed. Rio de Janeiro - RJ: Guanabara Koogan, 2000. FRADIMAN, J.; FRAGER, R. Teorias da personalidade. 3.ed. São Paulo - SP: Harbra, 1986. GUIMARÃES NETO, W. M. Anabolismo total: treinamento, nutrição, uso de esteróides anabólicos e outros ergogênicos. Guarulhos - SP: Phorte, 1997. KUNDRAT, S. Ervas e atletas. Gatorade Sports Science Institute. v.17, n.2, p.5, 2004. LIMA, D. R. Manual de farmacologia clínica, terapêutica e toxicologia. Rio de Janeiro RJ: Medsi, 2003. NETO, W. M. G. Além do anabolismo. Rio de Janeiro - RJ: Phorte, 2003. OLSZEWER, E. Clínica ortomolecular. São Paulo - SP: Roca, 2000. PATEL, D.R.; GREYDANUS, D.E. Nutritional supplement use by young athletes: an update. International Pediatrics. v.20, n.1, p.15-20, 2005. SANTOS, A. M. O mundo anabólico: análise do uso de esteróides anabólicos nos esportes. Barueri - SP: Manole, 2003. SCHWARZENEGGER, A. Enciclopédia de fisiculturismo e musculação. 2.ed. Colaboração de Bill Dobbins. Tradução de Márcia dos Santos Dornelles e Jussara Burnier. Porto Alegre - RS: Artmed, 2001. SILVEIRA, L.R.; ALVES, A.A.; DENADAI, B.S. Efeito da lipólise induzida pela cafeína na performance e no metabolismo de glicose durante o exercício intermitente. Rev. Bras. Cie Mov. v.12, n.3, p.21-26, 2004. ¹ Universidade de Fortaleza - UNIFOR 58