7º Prêmio VIVALEITURA Edição Lúcia Jurema TÍTULO JUSTIFICATIVA Pontes da Leitura por Ravel Andrade de Sousa As atividades descritas neste projeto foram por mim realizadas na Sala de Leitura, a partir do ano de 2010. O espaço fica dentro da sede do projeto Casa Brasil, situado no bairro Granja Portugal, pertencente à região do Grande Bom Jardim em Fortaleza. Essa região, que engloba quatro outros bairros, ficou conhecida nacionalmente pelos seus índices de violência. Ela possui o pior IDH da cidade, e altos índices de assassinatos. No ano de 2010, o Grande Bom Jardim produziu cerca de 120 assassinatos por situação de violência. Diante desses índices tão assustadores, algo precisava ser feito. Uma série de ações voltadas para a cidadania, esporte, cultura e lazer foram criadas pelo poder público para combater a criminalidade entre jovens e adolescentes. Eu, que havia saído de uma região não tão violenta quanto a do Bom Jardim, chego para dar minha contribuição para cultura e cidadania das pessoas dessa região. Em princípio tive muito medo de adentrar uma região com índices tão assustadores. Mas o desejo de dar sequência ao meu trabalho e poder contribuir também com o processo de pacificação e cidadania daquele lugar, me deram força e principalmente coragem para encarar o desafio. Com uma bagagem adquirida em experiências anteriores, pensei em aplicar atividades que costumava realizar em outros espaços. Nada foi fácil. A Sala de Leitura sequer possuía estantes para expor um rico acervo que estava encaixotado em um depósito. Móveis quebrados, lixo e sujeira compunham o espaço de leitura. Tratei eu mesmo de limpar a sala, consertar mesas, cadeiras, TV, e improvisar nas mesas, um local para que os livros fossem expostos aos visitantes. Logo em seguida, tracei um plano de trabalho, feito conforme as demandas surgidas em reuniões junto à comunidade, e pus em prática devolvendo o espaço com qualidade para as pessoas. Conforme constatado em conversas com representantes da comunidade, pais e frequentadores do lugar, a deficiência em relação à leitura era comum. Então precisávamos investir todos os esforços para atendermos os anseios da comunidade e oferecermos livro e leitura para auxiliar no desenvolvimento da cidadania daquelas pessoas que viviam em um universo repleto de violência, criminalidade e sem perspectivas promissoras. A leitura poderia contribuir nesse processo, e eu estava lá para cumprir com minha missão de ser mediador entre as pessoas e os livros. Mas como fazer atividades de estímulo à leitura entre pessoas tão carentes? Carentes até mesmo de comida. Eu me perguntava isso antes de iniciar os trabalhos. Com o tempo esse questionamento deixou de existir.
OBJETIVO As ações realizadas objetivam oferecer incremento às atividades escolares ligadas à leitura e escrita, estabelecer um processo formativo e informativo para pessoas de diversas faixas etárias e atuar como uma opção de lazer e entretenimento dentro da comunidade. Perseguindo esses objetivos, criei uma série de atividades, eventos e encontros que preenchessem a rotina da Sala de Leitura, para que ela fosse um bom motivo para que as pessoas deixassem o medo um pouco de lado e saíssem de suas casas. Esse plano de ação foi desenvolvido em reuniões com representantes da comunidade e equipe de trabalho do projeto. Em princípio nos vimos diante de alguns empecilhos, como falta de estrutura, falta de material e até mesmo falta de segurança no local. Mas sobravam criatividade e força de vontade em ver o espaço funcionando plenamente. A partir disso, delimitei o que precisava ser feito para que a Sala de Leitura desse sua contribuição na vida das pessoas daquela comunidade, potencializando os processos de aquisição das linguagens oral e escrita, desenvolvimento das aptidões pessoais e para a mudança da realidade do local. METODOLOGIA Após quase um mês de reestruturação do espaço, dei início a um ciclo formativo com atividades voltadas para crianças, adolescentes e jovens. Criei a Oficina de Leitura e Aprimoramento das Linguagens. Atividade realizada todas as terças e quintas, nos períodos da manhã e tarde, e contemplava sessenta crianças e adolescentes. O objetivo era desenvolver as competências relacionadas à língua e leitura, complementando e o trabalho feito no ambiente escolar. Realizamos periodicamente atividades de produção textual, leitura oral, interpretação do texto e aprimoramento da escrita. Em paralelo, nos outros dias da semana, uma vasta programação de entretenimento, formação e informação dentro do espaço de leitura. Para que mais coisas acontecessem, foi preciso fazer parcerias. Encontrei no Centro Cultural do Bom Jardim um grande parceiro que ajudou a diversificar e potencializar as nossas ações. Através dessa parceria, conseguimos oferecer cursos como Técnica de Desenho Artístico, Produção de Fanzine, Produção de Quadrinhos e Informática para as Artes. Todos esses cursos eram oferecidos gratuitamente, com dois encontros semanais e com duração de um a três meses. Também fizemos parceria com o CRAS (Centro de Referência à Assistência Social), que mensalmente realizava encontros/palestras, com temas específicos para crianças, adolescentes, jovens e adultos, contando com profissionais como psicólogos, assistentes sociais, dentistas e
outros técnicos de áreas específicas. Os encontros abordavam temas como higiene pessoal, sexualidade na adolescência, ações preventivas para à saúde feminina e masculina, direitos humanos, entre outros. Todas essas ações, aparentemente sem relação direta com a leitura, complementavam e fortaleciam o trabalho voltado para a leitura. Além de transformarem o espaço de leitura em um ambiente multifuncional, essas ações atraiam cada vez mais público, chamando atenção para a Sala de Leitura. Na linha de eventos, fizemos o Encontro com o Escritor. Trouxemos Rafael Limaverde para falar sobre o seu livro Pelos Caminhos de Nostra América. Rafael fez um bate-papo muito rico sobre o livro, que narrava sua viagem de bicicleta por alguns países da América Latina, e sorteou três livros para o público presente. Mas considero nosso maior feito a I Feira de Distribuição de Livros. A Feira surgiu a partir de uma demanda da comunidade por livros. Muitos alunos ainda não haviam recebido livros da escola e também havia pessoas que estudavam por conta própria, em casa, para concursos, vestibulares e ENEM, e não tinham livros para lhes auxiliar. Assim nasceu a ideia do evento. Durante cerca de três meses recebemos e arrecadamos cerca de seiscentos livros para serem distribuídos no evento. Esses livros eram de pessoas que os tinham em casa e estavam sem uso. Eram livros didáticos, livros de literatura variados, e ainda tinha revista em quadrinhos novinha para as crianças. As pessoas tiveram um dia todo para escolherem até quatro livros de acordo com sua necessidade. Fizemos uma ponte entre quem tinha livros e quem precisava deles. O evento contemplou cerca de 150 pessoas, diretamente, e deu uma visibilidade enorme para a instituição sendo destaque nos principais veículos de mídia de Fortaleza. Com essa ação, conseguimos mostrar para a cidade que também aconteciam coisas boas na região do Grande Bom Jardim. Sempre tive a iniciativa de mostrar para os frequentadores da Sala de Leitura, outros espaços e opções de busca de conhecimento e lazer. Sendo assim, programei visitas à importantes e acessíveis espaços da cidade. Fizemos uma visita ao Centro Cultural do Bom Jardim. Esse Centro realiza atividades de formação técnica em artes, além de oferecer uma programação de diversas linguagens como música, dança, teatro, cinema e contação de história. É um espaço que fica em um bairro vizinho, mas muitas pessoas da Granja Portugal não tinham acesso. O motivo principal, para adolescentes e jovens especialmente, era a rivalidade que existia entre facções nos bairros. Para muitos, adentrar o bairro vizinho representava um risco. Conseguimos um ônibus e levamos um grupo de cerca de sessenta crianças e adolescentes, em dois turnos, para conhecer esse importante Centro da região do qual a maioria só havia ouvido falar. Também fizemos uma visita a um espaço muito especial: a Gibiteca de Fortaleza. Lá, crianças e adolescentes se divertiram com a infinidade de quadrinhos dos tipos mais variados, nacionais e internacionais, além de aprenderem sobre como se deve manusear um livro/gibi sem que ele sofra desgaste.
Todas essas atividades são pensadas com um fim educativo e formativo. Realizadas de forma a seguir um plano sequência que incentiva a evolução intelectual dos participantes, além de propiciar momentos de integração com um novo universo. Foi pesando nisso que utilizei todo meu potencial criativo para conseguir fazer algo mesmo sem recursos. A criatividade foi a ferramenta mais importante para que todas essas ações fossem desenvolvidas. AVALIAÇÃO Os resultados são visíveis. Principalmente os alcançados com a Oficina de Leitura e Aprimoramento das Linguagens. Os pais dos participantes me procuravam diariamente para comentar sobre a melhoria de seus filhos não somente nos assuntos relacionados à escola mas também ao comportamento em casa. O aumento do interesse pela leitura também era visível. O espaço, que muitas pessoas de ruas vizinhas sequer conheciam, sempre teve índices crescentes na frequência dos eventos e das atividades. Cheguei ao ponto de infelizmente não poder receber mais pessoas para participar da Oficina de Leitura e Aprimoramento das Linguagens, devido ao grande número e participantes já inscritos. Chegamos a sessenta, que era o limite estabelecido logo na segunda semana do período de inscrições. O espaço ganhou fama de ser onde se recebia livros e revistas em quadrinhos gratuitamente. Isso iniciou-se quando eu distribuía revistas em quadrinhos, novas, após as atividades. Essas revistas eram oriundas de uma parceria fechada com a Biblioteca Municipal Dolor Barreira. Mas isso ganhou mais força com a Feira de Distribuição de Livros. Mesmo após o dia da Feira, continuávamos recebendo pessoas em busca de livros. Passamos a receber permanentemente doações de livros, que ficavam disponíveis para serem encaminhados a quem estivesse necessitando. Com isso fortalecemos a presença e a imagem da Sala de Leitura dentro da região do Grande Bom Jardim, também conhecida como Território da Paz após o início das ações de pacificação. Além do livro de frequência, tínhamos o cadastro dos frequentadores que nos apresentava o fluxo de origem deles. Eram pessoas oriundas de quase todo o Território. As parcerias por mim firmadas junto às escolas, centros culturais, bibliotecas e associações comunitárias, também serviram pra potencializar e difundir as ações do projeto Casa Brasil como um todo. Percebi a importância e a responsabilidade do trabalho que eu estava desenvolvendo. Era algo que estava quebrando as fronteiras entre os bairros e causando um impacto muito positivo na vida das pessoas. Com o tempo, esqueci o medo que sentia todo dia quando chegava pra trabalhar. Sinto-me transformado. Mais forte, mais destemido e com outro olhar sobre a vida.
Oficina de criação literária Recebimento de revista após atividade Conversa sobre sexualidade na adolescência Oficina de produção textual I Feira de Distribuição de Livros I Feira de Distribuição de Livros I Feira de Distribuição de Livros Oficina de Produção Textual Oficina de Criação de Caderno Artesanal
Oficina de produção textual Oficina de Produção de Caderno Visita ao Centro Cultural do Bom Jardim Recebimento de revista após atividade Visita ao Centro Cultural do Bom Jardim Recebimento de revista em quadrinhos Oficina de artes plásticas Recebimento de revista após atividade Visita à Gibiteca de Fortaleza Exibição de vídeo Pintura livre Encontro com o Escritor