GOVERNO DO ESTADO DO PARÁ PROGRAMA DE REDUÇÃO DA POBREZA E GESTÃO DOS RECURSOS NATURAIS DO ESTADO DO PARÁ PARÁ RURAL EMENDA à versão original do MARCO INDÍGENA E QUILOMBOLA DO PARÁ RURAL de março de 2005 Atualização Relacionada à Reestruturação do Pará Rural em 2013 Relatório final: Marco Indígena e Quilombola Políticas Públicas e Medidas Preventivas Maio 2013
MARCO POLÍTICO PARA OS POVOS INDÍGENAS E QUILOMBOLAS 1 I. APRESENTAÇÃO Na apresentação, os dados de pessoas que se identificam como indígenas foi atualizado e citado a fonte que é o IBGE. Estas informações não constavam no documento anterior. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IBGE (2010) o estado do Pará abriga 42 etnias indígenas formadas por uma população de aproximadamente 51.816 pessoas que se auto identificam como tal, estejam elas morando ou não dentro de áreas indígenas. Ainda segundo o instituto, deste total, apenas 35.816 moram em 64 unidades territoriais indígenas. Ainda destacando as populações tradicionais no estado, reconhece-se a existência de 230 comunidades quilombolas. Há um contingente de aproximadamente 80 territórios quilombolas reconhecidos ou em processo de reconhecimento pelo poder público (INCRA ou ITERPA). A população indígena e quilombola poderá se beneficiar do Programa Pará Rural 2 através da participação no seu componente geração de renda. No entanto, o Programa não será elaborado para beneficiar esta ou aquela comunidade especifica. O objetivo do mesmo é incrementar a renda das comunidades rurais que preencham critérios de elegibilidade estabelecidos pelo Pará Rural. De acordo com as Salvaguardas do Banco Mundial OP/BP 4.10, as populações indígenas e as populações quilombolas que participarem das atividades do componente geração de renda devem ser consultadas de forma prévia, livre e informadas, para evitar ou minimizar potenciais impactos negativos. Além disso, sua situação socioeconômica e ambiental deverá ser avaliada a priori com o objetivo de fazer o monitoramento e avaliação do projeto. 1 Comunidades de Afro-descendente relicitas que através de descendentes e tradições culturais tem mantido uma identidade peculiar durante séculos. 2 O termo 'programa é o termo usado no Brasil enquanto que o Banco Mundial prefere empregar o termo Projeto para se referir ao mesmo assunto.
Deste parágrafo foi retirado as informações sobre o projeto raízes que foi extinto e inserido a SEJUDH e suas coordenações que são, no estado do Pará, responsáveis pelas populações indígenas e quilombolas. A Secretaria de Estado de Justiça e Direitos Humanos, através de suas Coordenações de Proteção dos Direitos dos Povos Indígenas e Populações Tradicionais e Coordenação de Promoção da Igualdade Racial deverão colaborar com a Secretaria de Estado Especial de Produção (SEPE) para garantir que as populações indígenas e as quilombolas sejam adequadamente consideradas tanto no acesso aos benefícios como na proteção contra impactos negativos. II. BASE LEGAL E INSTITUCIONAL População Indígena No final da década de 1980, a partir de mobilizações e debates intensivos promovidos pelas organizações indígenas e vários setores da sociedade civil, o Brasil passou a adotar um novo marco para os direitos das populações indígenas. Na Constituição de 1988 foi adotado um artigo especifico para a proteger os direitos das populações indígenas (Titulo VIII da Ordem Social, capitulo VIII Dos índios ). Várias outras disposições constitucionais, assim como o artigo 68 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias ADCT) também focaliza explicitamente os direitos constitucionais da populações indígena no Brasil. Além de reconhecer os diretos originários das populações indígenas sobre as suas terras a Constituição também reconheceu a sua organização social, costumes, línguas, crenças, e tradições. No todo as disposições constitucionais de 1988 fez surgir a base legal para a definição da posse de terra e a proteção do Estado com respeito a preservação, demarcação, integridade e respeito para com terras indígenas. Especificamente, o Artigo 231determina vários elementos com respeito a natureza dos vínculos de posse, ocupação e domínio. Logo, as terras indígenas são;
Terras do Governo Federal; Destinadas a ocupação permanente pelos Povos indígenas; São nulos e extintos não produzindo efeitos jurídicos qualquer ato de posse ou legal que tenham por objeto as terras dos índios, gerando nulidade e a extinção do direito de indenização, ressalvando relevante interesse público da União; Somente as Populações Indígenas possuem o usufruto dos solos, rios, rios e lagos dentro das reserva; O aproveitamento dos recursos hídricos, pesquisa cientificas e a extração de minerais só podem ser efetivadas [nas terras indígenas ] com autorização do Congresso Nacional, ouvidas as comunidades afetadas, ficando-lhes assegurada a participação na lavra na forma da lei; Os direitos sobre a terras indígenas são intransferíveis; É vedada a remoção de grupos indígenas de suas terras salvo em casos excepcionais, garantido o retorno imediato. As leis que regulamentam as terras indígenas são encontradas na Lei Federal 1775 de janeiro de 1996. A regularização é de responsabilidade exclusiva do Governo Federal. Quilombos O Artigo 68 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias ADCT da Constituição de 1988 contem a primeira iniciativa para incluir as quilombolas (membros dos quilombos) no sistema legal brasileiro, garantindo os direitos sobre as posses de suas terras. Em 1992 o Estado do Pará editou o Decreto 663 que legitimou o direito de posse das terras das comunidades quilombo. O Artigo 332 da Constituição do Estado do Pará inseriu dispositivo análogo a Constituição Federal. O Estado do Pará seguiu avançando na regulamentação da matéria passando outras leis adicionais em 1988 e1999.
Além de legitimar as terras dos Quilombolas, a legislação paraense (e mais tarde a Federal) incorporaram o conceito da auto declaração como um meio probatório para a classificação como Quilombos para a comunidade constituída por descendentes de negros escravos que compartilham identidade e referências territoriais comuns. A legislação do Estado também reconhece que o espaço territorial está associado a espaço de gestão socioambiental vital a reprodução física e cultural das comunidades quilombolas. O Decreto Federal 227 de 21 de novembro de 2003, dá ao INCRA e aos Estados a competência para regularização fundiária do quilombo e os marcos jurídicos para as definições dos grupos de quilombo e a demarcação de suas terras (com conceitos já utilizados, como dissemos acima, pela legislação paraense). A terra Quilombo passou a ser entendida como aquela utilizada pelos próprios, cuja titulação se consuma não como títulos individuais mas como títulos coletivos matriculados em nome da comunidade interessada, que sob representação de pessoa jurídica associativa sem fins lucrativos. III. POLTICAS PÚBLICAS DE IMPACTOS PARA AS POPULAÇÕES INDIGENAS E QUILOMBOLA NO PARÁ Todas as ações ligadas às comunidades indígenas e quilombolas no estado do Pará estão ligadas à Coordenação de Proteção dos Direitos dos Povos Indígenas e Populações Tradicionais - Secretaria de Estado de Justiça e Direitos Humanos. Outra política adotada em 1999 pelo Governo do Pará resultou na inauguração do marco legal e normas administrativas para os processos de reconhecimento da condição quilombola e legitimação de terras. Desde então, o Estado do Pará regularizou as terras de 20 quilombos, sendo o estado que mais atuou nesta questão. IV. COMPONENTES DO PROGRAMA PARÁ RURAL E PROVÁVEIS IMPACTOS NAS POPULAÇÕES INDIGENAS E QUILOMBOLAS
Um conjunto de medidas foi pensado no programa para garantir que as comunidades indígenas e quilombolas se beneficiem do mesmo e que os impactos negativos sejam os menores possíveis. No componente geração de renda, através de Planos de Investimento Produtivo do Pará Rural (componente A), populações tradicionais [indígenas e quilombolas] organizadas em associações, 3 pelas regras do projeto, podem se candidatar. No entanto, serão tomados cuidados para garantir que o projeto não substitua outros instrumentos de políticas públicas que visem beneficiar populações vulneráveis em situações onde estas políticas públicas são mais adequadas 4 No componente de zoneamento (B-1), as terras indígenas existentes já regularizadas são cuidadas pelo plano de Macro zoneamento. Em sua legislação, o Estado também reservou mais 10 milhões de hectares de terras para futuras reivindicações de terras que possam ser feita por grupos indígenas 5. O MZEE e o Zoneamento econômico detalhados ajudarão a controlar o processo de expansão da fronteira econômica em direção as áreas de floresta, onde em geral ficam localizadas as terras indígenas e as quilombolas. Por conseguinte, espera-se que o processo de zoneamento tenha um efeito positivo na segurança destas populações, pois as ações de zoneamento devem ser realizadas para incluir a criação de novas áreas protegidas e estas áreas podem vir a constituir zonas tampão que impeçam os processos de invasão de terras de populações tradicionais e dificultem as atividades ilegais nestas terras. No componente gestão fundiária (B-2) os quilombos podem ser regularizados, mas não as terras indígenas, porque estas últimas são de responsabilidade exclusiva do poder público federal. Porém, o projeto se negará a registrar ou titular propriedades rurais em áreas onde reivindicações indígenas estejam pendentes. Também, ao melhorar o direito de posse no Estado, as ações deste 3 Quase todos os grupos indígenas e quilombos do Estado do Pará se organizaram em associações legalmente constituídas. Varias destas organizações recebem assistência do PPG-7 e outros programas 4 Incluídos aí programas de saúde, nutricional e apoio a renda. 5 O local e tamanho das terras indígenas reconhecidas recentemente não estão sujeitos a influencia do Estado.
sub componente reduzirão a grilagem de terras nas áreas próximas às terras indígenas e quilombolas, que em muitos casos levam à sua invasão ilegal. Sobre os possíveis impactos negativos sobre populações indígenas e quilombola, a tabela seguinte apresenta possíveis cenários que possam surgir das ações do Pará Rural, assim como as medidas mitigadoras a serem realizadas. A Secretaria de Estado de Justiça e Direitos Humanos através das suas duas coordenações: Coordenação de Proteção dos Direitos dos Povos Indígenas e das Populações Tradicionais e Coordenação de Promoção da Igualdade Racial principal responsável para garantir uma solução adequada, juntamente com os outros órgãos listados de acordo com as suas respectivas áreas de especialização. Princípios e Diretrizes para a Participação de Povos Indígenas e Comunidades Tradicionais Esta parte foi toda inserida ao texto original e teve como base o MARCO POLÍTICO PARA OS POVOS INDÍGENAS E QUILOMBOLAS e o MARCO INDÍGENA E QUILOMBOLA e salvaguardas sociais do Banco Mundial. Pensando em procedimentos mais adequados para a inserção destes grupos tradicionais e dirimir possíveis impactos negativos do Programa, devem-se seguir alguns critérios elaborados e outros já contidos no OP/BP 4.10 do Banco Mundial que trata especificamente de Povos indígenas. Ressalta-se, porém, que este pode e deve se estender as comunidades quilombolas, respeitando suas especificidades. Assim, segue abaixo a lista de ações que devem ser seguidas quando envolverem povos indígenas e comunidades quilombolas: a) Observância às legislações indígenas e quilombolas nas três esferas de poder (municipal, estadual e federal); b) Deve ocorrer consulta livre, prévia e informada aos grupos que serão envolvidos; c) As informações sobre o objetivo e o escopo das ações devem ser previamente cedidas às populações interessadas;
d) A comunicação deverá levar em consideração maneiras, formas e linguagem culturalmente adequadas; e) O projeto só deve ter continuidade se houver amplo entendimento e apoio pela maioria da comunidade; f) O projeto deve conter abordagens das questões de gênero e intergerações que existem entre muitos Povos Indígenas e quilombolas; g) Articulação do projeto em andamento com outras politicas públicas existentes, nas diferentes esferas; h) Articulação do projeto com a esfera pública prefeituras, organizações não governamentais, sindicatos entre outros. Monitoramento e Avaliação i) Estudo socioambiental e produtivo prévio (roteiro de estudos preliminares). Sem este estudo não há como MONITORAR E AVALIAR quaisquer ações; j) Se não houver informações sistematizadas anteriores sobre o grupo e a terra indígena ou quilombola, é fundamental que haja um tempo de campo maior para a realização de uma etnografia básica mais detalhada; k) Mapeamento e reconhecimento de Organizações locais existentes; l) Identificação de possíveis conflitos nas comunidades envolvidas; m) Avaliações trimestrais de aspectos como organização social, inserção econômica com aspectos de gênero (inclusão e mulheres, jovens e velhos no projeto), fortalecimento ou não do capital social nas comunidades (aumento ou diminuição da reciprocidade, confiança, organização social); n) Deve ocorrer Avaliação Social para verificar possíveis impactos positivos ou negativos do projeto nos Povos Indígenas ou quilombolas e, possíveis alternativas, caso os efeitos negativos sejam significativos; o) Supervisão de cientistas sociais durante todo o período de implementação do projeto;
p) Assistência jurídica adequada para o cumprimento das disposições previstas no Contrato de Empréstimo; Alteração do Quadro com a retirada do Programa raízes que foi extinto e inclusão da SEJUDH. E a troca de outros órgão como IBAMA por ICMBio que é responsável pelas Unidades de conservação. Impacto Possível Medida Mitigadora Órgão Responsável* (em negrito, de acordo com o cenário específico e a Fonte de Recursos competência) Conflito ou sobreposição de limites 1. Órgãos oficiais de SEMA, FUNAI, ITERPA, O custo dos entre UCs e TIs ou TQs apoio a populações Coordenação de levantamentos (regularizadas) tradicionais serão Proteção dos Direitos topográficos das novas oficialmente convidados a dos Povos indígenas e UCS e das consultas se pronunciar sobre a das Populações públicas está previsto no localização de novas UCs Tradicionais (SEJUDH), componente às proximidades de TIs e ICMBio, INCRA. Ordenamento Territorial TQs demarcadas do Pará Rural. 2.Consulta pública em Outros custos atendimento à lei federal relacionados a reforço da 9985/2000, propiciará a demarcação dos limites, manifestação de serão arcados pelas populações a serem instituições responsáveis, afetadas e a análise de conforme a esfera de casos específicos, que competência. poderão concluir pela redefinição dos limites das novas UCs, e pela necessidade de reforço à demarcação dos limites existentes.
Conflito ou sobreposição de limites 1. Órgãos oficiais de SEMA, FUNAI, ITERPA, O custo dos entre UCs e TIs ou TQs apoio a populações tradicionais serão oficialmente convidados a se pronunciar sobre a localização de novas UCs às proximidades de TIs e Coordenação de Proteção dos Direitos dos Povos indígenas e das Populações Tradicionais (SEJUDH), ICMBio, mediador imparcial levantamentos topográficos e das consultas públicas está previsto no componente Ordenamento Territorial do Pará Rural. TQs demarcadas Outros custos 2.Consulta pública em relacionados a estudos atendimento à lei federal topográficos das TIs e 9985/2000, propiciará a QIs e/ou reforço da manifestação de demarcação dos limites, populações a serem serão arcados pelas afetadas e a análise de instituições responsáveis, casos específicos, que conforme a esfera de poderão concluir pela competência. redefinição dos limites das novas UCs, TIs e QIs, e pela necessidade de acelerar o processo de demarcação dos limites. Pressão sobre recursos naturais Preparação de Planos de NGPR, Proponentes de Pará Rural, Proponentes localizados em TIs ou TQs Ação Indígenas ou projetos; SEMA, ICMBio, de projetos, SEMA, geradas por projetos de geração Quilombolas em consultas FUNAI, Coordenação de IBAMA, FUNAI, Raízes. de renda fomentados pelo Pará Rural. com os grupos indígenas e/ou quilombolas afetados e órgãos competentes para assegurar que os recursos sejam extraídos Proteção dos Direitos dos Povos indígenas e das Populações Tradicionais (SEJUDH), ICMBio, ONGs. legalmente e sustentavelmente, e que a remuneração para os grupos afetados seja equitativa e justa. Demandas para mão de obra Preparação de Planos de NGPR, Proponentes de Pará Rural, Proponentes dentro de comunidades Ação Indígenas ou projetos; FUNAI, de projetos, FUNAI, indígenas ou quilombolas criados por projetos de geração de renda fomentados pelo Pará Rural. Quilombolas em consultas com lideranças indígenas ou quilombolas para assegurar a distribuição culturalmente adequada Coordenação de Proteção dos Direitos dos Povos indígenas e das Populações Tradicionais (SEJUDH), ONGs. Coordenação de Proteção dos Direitos dos Povos indígenas e das Populações Tradicionais (SEJUDH).. de empregos e o pagamento de salários
justos e equitativos. Impactos socioculturais diretos Preparação de Planos de NGPR, Proponentes de Pará Rural, Proponentes ou indiretos sobre comunidades Ação Indígenas ou projetos; FUNAI, de projetos, FUNAI, tradicionais Quilombolas em consultas com lideranças indígenas ou quilombolas para identificar possíveis impactos e debates para Coordenação de Proteção dos Direitos dos Povos indígenas e das Populações Tradicionais (SEJUDH), ONGs, mediador imparcial, Coordenação de Proteção dos Direitos dos Povos indígenas e das Populações Tradicionais (SEJUDH).. assegurar respeito à cultura e organização tradicionais. Capacitação de grupos indígenas ou quilombolas no sentido de empoderamento diante dos impactos do programa. Em alguns casos, a UGP ficará responsável pela contratação de consultores especializados para analisar as situações encontradas, realizar consultas, e propor alternativas para evitar conflitos. Nos outros casos, o uso de mediadores externos, considerados imparciais pelos grupos interessados, para facilitar os fechamentos de acordos, podem ser incluídos. As metodologias para resolução alternativa dos conflitos ambientais, para as quais existem uma vasta literatura e experiência, podem ser utilizadas.