Análise da proposta de deliberação das alterações do Preçário da Universidade Aberta A Associação Académica da Universidade Aberta analisou com atenção a proposta de deliberação da alteração ao Preçário da Universidade Aberta apresentado ao Senado. Considera que é de louvar terminar com as propinas de exame e multas de inscrição fora de prazo. A Universidade Aberta era a única que cobrava propinas pelos exames (excepção aos de melhoria de nota). Em relação às outras propostas, apresentamos a análise realizada e conclusões. A análise foi realizada em dois contextos. No primeiro contexto verifica-se o significado desta proposta para os estudantes actuais. Faz-se uma análise ao aumento proposto face aos preços actuais, assim como uma comparação com as restantes universidades públicas. No segundo contexto analisa-se as consequências para a Universidade numa perspectiva estratégica de médio/longo prazo. A Percepção do Aluno Sobre o Serviço Prestado Comparação dos preços face ao preçário actual Proposta de Aumento 2007/08 2006/07 Aumento Inscrição em Mestrado como supra-numerário 500,00 450,00 11,11% Taxa de matrícula em cursos Pós-graduação e de Mestrados 100,00 80,00 25,00% Taxa de matrícula em cursos de Doutoramento 100,00 0,00 Taxa de matrícula em cursos de Licenciatura ou Bacharelato 80,00 30,00 166,67% Inscrição lectiva numa disciplina, por cada crédito 13,00 9,00 44,44% Mudança interna de curso/variante 50,00 30,00 66,67% Equivalências de disciplinas Por cada crédito concedido 2,00 1,00 100,00% Por cada crédito realizado na Universidade Aberta 1,00 0,50 100,00% Doutoramento 600,00 500,00 20,00% Mestrado 500,00 400,00 25,00% Análise por Disciplinas/Curso 2007/08 2006/07 Aumento Disciplina Semestral 78,00 45,00 73,33% 780,00 540,00 44,44% Comparando os preços existentes com os propostos, verifica-se que é criada uma nova taxa, a de matrícula em Doutoramentos. Os restantes preços têm aumentos com taxas muito díspares, caracterizadas por não se verificar qualquer relação com a taxa de inflação 1 ou taxa de redução do financiamento da Universidade Aberta. 1 2,8% segundo dados do INE referentes ao passado mês de Abril 1/5
Não é compreensível qualquer dos aumentos nas taxas propostas. O que justifica um aumento de 166,67% da taxa de matrícula em Licenciatura ou Bacharelato? No tempo em que se conseguem elevadas reduções de custos nos processos administrativos pela introdução e generalização das novas Tecnologias de Informação e Comunicação, propõe-se que os estudantes da UAb quase tripliquem o pagamento?! A cobrança de mudança de variante dentro de um mesmo curso não nos parece justificável. O trabalho que implica é exactamente igual a mudar a morada de residência do estudante, o seu número de telefone ou endereço de e-mail. Não sendo justificável, menos será o aumento de 66,67% proposto. Mas o aumento com maior peso na economia do estudante é relativo à propina. É proposto um um aumento de 73,33% nas disciplinas semestrais! O facto do número de disciplinas por semestre ser agora inferior (5 em lugar das 6 semestrais), faz com que o aumento no ano lectivo não seja de 73,33%, mas situa-se nuns igualmente incompreensíveis 44,44%. Em conclusão deste ponto, afirmamos que não há justificações quer económicas quer do serviço prestado para um aumento tão acentuado do preçário. Comparação com outras Universidades Públicas A AAUAb fez um levantamento dos valores de propinas cobrados em outras Universidades públicas e realizou a comparação que de seguida se apresenta. Os dados foram recolhidos nas páginas da Internet das referidas instituições. Custo Por (1º Ano) Absoluta por Relativa por Universidade Aberta 860 Faculdade de Letras de Lisboa 570 290 50,88% Faculdade de Psic. C. Educação Lx 768 92 11,98% Universidade do Algarve 780 80 10,26% Universidade Nova de Lisboa 800 60 7,50% UBI 870-10 -1,15% UTL, UP, UC, UM, UA 920-60 -6,52% Custo Por (2º e 3º Ano) Absoluta por Relativa por Universidade Aberta 780 936 Faculdade de Letras de Lisboa 570 570 210 366 36,84% 64,21% Faculdade de Psic. C. Educação Lx 768 768 12 168 1,56% 21,88% Universidade do Algarve 780 769 0 167 0,00% 21,72% Universidade Nova de Lisboa 800 800-20 136-2,50% 17,00% UBI 870 870-90 66-10,34% 7,59% UTL, UP, UC, UM, UA 920 920-140 16-15,22% 1,74% 2/5
As instituições analisadas em que é usada abreviatura ou sigla são: Faculdade de Psic. C. Educação Lx Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade de Lisboa UBI Universidade da Beira Interior UTL Universidade Técnica de Lisboa UP Universidade do Porto UC Universidade de Coimbra UM Universidade do Minho UA Universidade de Aveiro Neste estudo algumas das propinas apresentadas como 920 euros foram arredondadas ao euro, pois há Universidades/Faculdades cujo valor é superior em 16 cêntimos, 23 cêntimos ou outros valores inferiores a 50 cêntimos. Existe distinção entre os valores do 1º ano e anos seguintes devido à Universidade Aberta cobrar a taxa de matrícula. Nos cálculos não está incluído o seguro. Está calculado o custo com duas disciplinas, que é o limite máximo permitido na UAb. São apresentados os cálculos em valor absoluto, diferença absoluta em relação ao preçário proposto para a UAb e diferença relativa. O quadro dos custos no primeiro ano informa que é 50,88% mais caro estudar na UAb que na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, e é apenas 6,52% mais barato estudar na UAb que nas universidades que adoptaram a propina máxima. Já em relação aos segundo e terceiros anos, no caso do estudante transitar com duas disciplinas, verifica-se que é sempre mais caro estudar na UAb que em qualquer das outras universidades. O valor oscila entre 1,74% para as universidades com propina máxima e os 64,21% em relação à Faculdade de Letras. Custo do Curso em Três Anos com 100% de Sucesso em Cada Absoluta Relativa Universidade Aberta 2.420 Faculdade de Letras de Lisboa 1.710 710 41,52% Faculdade de Psic. C. Educação Lx 2.304 116 5,03% Universidade do Algarve 2.340 80 3,42% Universidade Nova de Lisboa 2.400 20 0,83% UBI 2.610-190 -7,28% UTL, UP, UC, UM, UA 2.760-340 -12,32% Este quadro apresenta o cálculo efectuado considerando a aprovação em todas as disciplinas em cada ano lectivo. Inclui taxa de matrícula. Não inclui seguro, diploma e certificado de habilitações. 3/5
Custo do Curso em Três Anos com Duas Disciplinas em Dois Anos Lectivos Custo do Curso Com 2 disc em Absoluta Relativa atraso Universidade Aberta 2.732 Faculdade de Letras de Lisboa 1.710 1022 59,77% Faculdade de Psic. C. Educação Lx 2.304 428 18,58% Universidade do Algarve 2.340 392 16,75% Universidade Nova de Lisboa 2.400 332 13,83% UBI 2.610 122 4,67% UTL, UP, UC, UM, UA 2.760-28 -1,01% Este quadro apresenta o custo do curso considerando que o estudante transitou do 1º para o segundo ano com duas disciplinas ; do segundo para o terceiro também com duas disciplinas ; e tendo concluído o curso nos três anos previstos. Inclui taxa de matrícula. Não inclui seguro, diploma e certificado de habilitações. Por este quadro constata-se que o curso na UAb fica 59,77% mais caro que na Faculdade de Letras e apenas 1,01% mais barato que nas universidades que optaram pela propina máxima. Do ponto de vista do estudante esta comparação demonstra que o preçário não é adequado face aos serviços que são proporcionados. A Universidade Aberta não tem custos de instalações comparáveis às Universidades presenciais. Poder-se-á alegar que existem os custos com as salas de exames, mas aproximarse-ão eles aos encargos que as presenciais suportam com a sua construção e manutenção? Também não é de esquecer que com a diminuição do número de disciplinas diminui o número de salas necessárias assim como o número de vigilantes e toda a logística encarregue dos exames. Um custo referenciado é o dos Centros de Apoio. Mas honestamente, que estudantes efectivamente podem usufruir dos Centros de Apoio? E terão para o estudante um significado sequer aproximado do que uma biblioteca e sala de periódicos tem nas universidades presenciais? Por outro lado, o rácio docentes/aluno na nossa Universidade é incomparavelmente menor que nas presenciais. É perfeitamente normal um docente na UAb ter para cima de 500 estudantes. Alguma presencial tem um docente a dar aulas a cinco centenas de alunos? Com Bolonha é agora fácil ver quantas horas de contacto é suposto um docente ter. A maioria das disciplinas estima-se que se compromete com 15 horas. Considerando um exame de 1:30 ou 2:30 horas, quer dizer que o docente só contactará com os alunos durante doze horas e meia ou treze horas e meia ao longo de todo um semestre. Onde acontece isso nas presenciais, com quem a UAb praticamente igualou os preços? Existe também para equacionar a questão do apoio social. Na nossa Universidade a fórmula existente obriga que o estudante ganhe menos que o salário mínimo nacional para ficar isento de propinas: 345,43 euros por mês, quando o SMN é de 403 euros. Para além desse apoio, é legítimo questionar que custos existem na UAb com residências universitárias, cantinas, bares a preços sociais, instalações desportivas, etc. O estudante tem a percepção que o serviço prestado já não justificava os preços existentes. Muito menos se justificam estes novos preços. 4/5
O Erro Estratégico O país encontra-se numa situação económica grave, com significativa perda do poder de compra real das famílias e uma elevada taxa de desemprego 2. As famílias já estão muito endividadas e se não atingiram o limite, encontram-se lá perto. A UAb, como todas as universidades, deverá ter dificuldades financeiras. A solução óbvia e mais fácil será aumentar as propinas. Estima-se que a procura dos serviços da Universidade seja rígida, ou seja, o número de estudantes manter-se-á sensivelmente o mesmo apesar da oscilação dos preços. E é provável que isso seja verdade no curto prazo. Aqueles que estão próximo de terminar o curso farão um esforço para o conseguirem, mesmo que se endividem. Mas a médio prazo a procura é elástica. Um elevado aumento dos preços resultará numa procura mais reduzida dos serviços oferecidos pela Universidade. A Universidade irá perder estudantes, tal como todas as outras, e não atingirá os 10.000 alunos a que se propôs. Existirá então nessa situação um excesso de docentes, que terão de abandonar a instituição e/ou em caso de aposentação não existirá renovação. Com menos estudantes e menos docentes custará mais à Universidade afirmar-se. Haverão menos licenciados e haverá menos investigação. Haverá menos projecção. Uma outra questão que é de interesse considerar é o custo marginal por estudante. Ou seja, quanto é que custa à Universidade ter mais um estudante. No nosso caso a despesa que mais um estudante das licenciaturas implica é baixíssima, praticamente nula. Mas a receita já é significativa. Ou seja, tecnicamente a Universidade encontra-se com custos marginais decrescentes nas licenciaturas, onde não só é desejável mas também imperioso que aumente o número de estudantes. Tentar financiar a Universidade com um aumento de preços desta dimensão talvez resolva alguns problemas no curto prazo. Mas vai comprometer seriamente o seu futuro. 2 8,4% segundo os dados do INE e Banco de Portugal, Março de 2007. 5/5