Sumário DIREITO PREVIDENCIÁRIO... 03



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CARTILHA DO SUBSÍDIO

Transcrição:

Sumário DIREITO PREVIDENCIÁRIO... 03 1. DIREITO PÚBLICO X DIREITO PRIVADO... 03 2. ORIGEM E EVOLUÇÃO LEGISLATIVA DA SEGURIDADE SOCIAL... 04 3. COMPETÊNCIA, CONCEITUAÇÃO E PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS... 11 4. ORGANIZAÇÃO DA SEGURIDADE SOCIAL... 20 5. LEGISLAÇÃO PREVIDENCIÁRIA... 25 6. COMPETÊNCIA DO INSS E DA SECRETARIA DA RECEITA FEDERAL DO BRASIL SRFB.. 32 7. BENEFICIÁRIOS... 33 8. DEPENDENTES... 56 9. INSCRIÇÃO E FILIAÇÃO (RPS art. 18 a 21)... 61 10. EMPRESA E EMPREGADOR DOMÉSTICO... 62 11. FINANCIAMENTO DA SEGURIDADE SOCIAL... 63 12. RECEITAS DA UNIÃO... 65 13. RECEITAS DAS CONTRIBUIÇÕES SOCIAIS PREVIDENCIÁRIAS... 66 14. RECEITAS DAS CONTRIBUIÇÕES SOCIAIS PREVIDENCIÁRIAS DAS EMPRESAS... 72 15. SALÁRIO DE CONTRIBUIÇÃO... 77 16. OBRIGAÇÕES DA EMPRESA E DEMAIS CONTRIBUINTES... 81 17. PRAZO DE RECOLHIMENTO... 84 18. RECOLHIMENTO FORA DO PRAZO; JUROS E MULTA... 84 19. EXAME DA CONTABILIDADE... 86 20. RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA... 86 21. PARCELAMENTO DE CONTRIBUIÇÕES DE DEMAIS IMPORTÂNCIAS DEVIDAS À 87 SEGURIDADE SOCIAL... 22. DECADÊNCIA E PRESCRIÇÃO BENEFÍCIOS... 88 23. RECURSO DAS DECISÕES ADMINISTRATIVAS... 89 24. CRIMES CONTRA A SEGURIDADE SOCIAL... 90 25. PROVA DE INEXISTÊNCIA DE DÉBITO CND... 92 26. DÍVIDA ATIVA... 94 27. ISENÇÃO DAS CONTRIBUIÇÕES DE SEGURIDADE SOCIAL... 95 28. PRESTAÇÕES DO REGIME GERAL DE PREVIDÊNCIA SOCIAL... 96 29. CARÊNCIA (Lei n 8.213/91 art. 24 e RPS - art. 26 a 30)... 97 30. SALÁRIO-DE-BENEFÍCIO (Lei n 8.213/91 art. 28 a 32 e RPS - art. 31 a 34)... 101 31. REAJUSTAMENTO DO VALOR DOS BENEFÍCIOS (Lei n 8.213/91 art. 41-A e RPS - art. 40 a 42)... 104 Técnico do Seguro Social 1

32. PENSÃO POR MORTE (Lei n 8.213/91 art. 74 a 7 9 e RPS - art. 105 a 115)... 105 33. SALÁRIO-FAMÍLIA (Lei n 8.213/91 art. 65 a 70 e RPS - art. 81 a 92)... 108 34. SALÁRIO-MATERNIDADE (Lei n 8.213/91 art. 71 a 73 e RPS - art. 93 a 103)... 110 35. AUXÍLIO-RECLUSÃO (Lei n 8.213/91 art. 80 e R PS - art. 116 a 119)...... 114 36. AUXÍLIO-DOENÇA (Lei n 8.213/91 art. 59 a 63 e RPS - art. 71 a 80)... 116 37. AUXÍLIO-ACIDENTE (Lei n 8.213/91 art. 86 e R PS - art. 104)... 119 38. APOSENTADORIA POR INVALIDEZ (Lei n 8.213/91 art. 42 a 47 e RPS - art. 43 a 50)... 122 39. APOSENTADORIA POR IDADE (Lei n 8.213/91 art. 48 a 51 e RPS - art. 51 a 54)... 125 40. APOSENTADORIA POR TEMPO DE CONTRIBUIÇÃO (Lei n 8.213/91 art. 52 a 56 e RPS - art. 56 a 63)... 128 41. APOSENTADORIA ESPECIAL (Lei n 8.213/91 art. 57 a 58 e RPS - art. 64 a 70)... 134 42. ABONO ANUAL (RPS - art. 120)... 137 43. SERVIÇOS DO RGPS (Lei n 8.213/91 art. 88 a 9 3 e RPS - art. 136 a 140)... 138 44. ACÚMULO DE BENEFÍCIOS (Art. 167 RPS)... 140 45. EXERCÍCIOS... 142 46. LEGISLAÇÃO... 149 2 Técnico do Seguro Social

DIREITO PREVIDENCIÁRIO 1. DIREITO PÚBLICO X DIREITO PRIVADO Por definição, o Direito é um só (uno e indivisível). Porém, é comum e muito útil, para efeito didático, classificar o Direito em ramos. Uma das mais antigas classificações é a que divide o Direito em público e privado. O Direito Tributário é um ramo do Direito Público. O que caracteriza uma relação de Direito público é o fato de o estado nela figurar na condição de poder público, isto é, com supremacia. Nas relações do Direito Público temos como principal característica a desigualdade jurídica. O Estado encontra-se em uma posição jurídica superior á do particular em uma relação de Direito Público. A justificativa para essa desigualdade, é que o estado, na relação de Direito público, representa ou defende os interesses da sociedade (o interesse público). E o interesse público deve prevalecer sobre o interesse particular, desde que respeitados os direitos e garantias fundamentais. Essa característica das relações de Direito público é traduzida em um dos mais importantes princípios aplicáveis a todo o Direito Público: o princípio da supremacia do interesse público. Visualizemos a seguinte situação: um indivíduo obrigado a pagar um imposto. Não se leva em conta a vontade da pessoa (caso contrário, muito provavelmente ninguém pagaria!). A pessoa não praticou nenhum ilícito, ou seja, não está sendo punida por alguma atividade indevida. Apesar disso, o Estado, unilateralmente, coloca essa pessoa em uma relação jurídica como obrigada a efetuar a ele um pagamento. Ou seja, o Estado, compulsoriamente, subtrai uma parte da riqueza que a pessoa produziu com seu esforço, sem que ela tenha feito nada errado e sem que ela possa se opor a isso legitimamente. Nos ramos do Direito público o Estado está sempre presente em um dos pólos das relações jurídicas. Nos ramos do Direito privado (Direito civil e comercial), as relações não têm a mesma característica, isto é, os sujeitos de uma relação privada não se encontram em situação de desigualdade jurídica. Os princípios mais importantes do direito privado são a autonomia da vontade e a liberdade negocial. NÃO ESQUEÇA!!! DIREITO PÚBLICO Unilateralidade Predominância do interesse público Caráter cogente das normas (surgem obrigações, independentemente da vontade) Um dos pólos da relação jurídica é sempre o Estado, ou alguém por ele delegado. Nas relações de direito público, o estado impõe seu poder de soberania. Princípio da supremacia do interesse público DIREITO PRIVADO Bilateralidade Prevalência da vontade das partes Caráter dispositivo das normas (desde que a lei não proíba, pode-se agir segundo a vontade) O estado não é necessariamente um dos pólos da relação jurídica. Se for parte de uma relação jurídica de direito privado, o estado fica em pé de igualdade com o particular. Princípio da autonomia da vontade Técnico do Seguro Social 3

2. ORIGEM E EVOLUÇÃO LEGISLATIVA DA SEGURIDADE SOCIAL 2.1. A PROTEÇÃO SOCIAL A proteção social, então, nada mais é do que os mecanismos criados pela sociedade, ao longo de sua existência, para atender aos infortúnios da vida, como doença, velhice, etc., que impeçam a pessoa de obter seu sustento. A sociedade, ao longo de sua história, tem adotado em diversos mecanismos para o atendimento das necessidades de seus componentes em momentos de dificuldade. Pode-se dizer até mesmo que a proteção social possui uma natureza instintiva, porque a maioria dos seres humanos se preocupa em guardar algum tipo de recurso para o futuro. Na vida em sociedade pode-se dizer que uma das primeiras manifestações da proteção social como técnica de atendimento aos infortúnios da vida foi inicialmente patrocinada pela família, ou seja, um trabalhador que por exemplo ficasse incapacitado para trabalho teria o apoio de seus familiares enquanto se recuperava, e da mesma forma pessoas idosas teriam o amparo familiar para sua manutenção. Ao mesmo tempo existia também a figura da assistência voluntária, quando pessoas estranhas ao seio familiar auxiliavam necessitados, mesmo desconhecidos, numa situação que perdura até hoje quando, por exemplo, vemos pessoas recebendo esmolas na rua. Percebam que essas técnicas rudimentares originárias da proteção social ainda existem! Não foram excluídas, sendo que a proteção fornecida pela família ainda é facilmente encontrada, assim como a assistência voluntária de terceiros. Até aí, não havia nenhum outro mecanismo protetivo! O Estado não tinha qualquer parcela de responsabilidade, até porque prevalecia o conceito liberal-burguês de organização estatal, no qual o Poder Público detém muito mais obrigações negativas, deveres de abstenção, de não interferência estatal na vida privada. O seu sucesso ou insucesso na vida dependia exclusivamente de você! Não havia aposentadoria, pensão ou qualquer coisa parecida! A pessoa deveria ser precavida, guardando para o futuro, ou certamente iria depender de terceiros, tendo mesmo de trabalhar até cair! Não há consenso sobre as fases evolutivas da Previdência Social. Wladimir Novaes Martinez menciona dois grandes grupos, Feijó Coimbra, três; Já Ilídio das Neves, quatro. A mais usual é a seguinte: Fase inicial (até 1918): criação dos primeiros regimes previdenciários. Fase intermediária (de 1919 a 1945): expansão da previdência pelo mundo. Fase contemporânea (a partir de 1946): aumento da clientela atendida e dos benefícios. Entretanto, o importante é o entendimento dos pontos principais evolutivos da proteção social, de modo a se visualizar corretamente sua progressão. O que é interessante é que novos mecanismos foram se agregando aos precários mecanismos de proteção familiar e ao assistencialismo, dentro da evolução histórica citada acima. Dentro desse contexto merece menção os mútuos, que eram organizações voluntárias, em que determinado número de pessoas se reunia com propósito de estabelecer uma contribuição de todos para o fornecimento de benefícios em eventual dificuldade financeira por doença, por exemplo. Ou seja, em épocas remotas, a proteção existente tinha caráter privado, de fundos mutualistas, onde determinado grupo de pessoas unia-se, voluntariamente, para a proteção mútua contra os riscos sociais. Quanto aos necessitados, a assistência era patrocinada pela sociedade, também voluntariamente. Para alguns, inclusive, essas associações voluntárias de natureza mutualista foram as precursoras do que hoje nós chamamos de previdência complementar privada, na medida em que eram de natureza privada e de adesão plenamente facultativa (a diferença é que hoje, a previdência complementar é acessória frente aos regimes básicos). O que se vê claramente na evolução histórica é a assunção por parte do Estado de uma parcela de responsabilidade na manutenção de um mecanismo protetivo. Ou seja, o Estado abandona as suas posições periféricas, alheias à proteção social, e passa a assumir plena responsabilidade nesse setor. Isso se percebe claramente quando se vislumbra a evolução do Estado liberal para o chamado Estado social ou o Welfare State. Naturalmente, essa evolução foi feita de modo lento e gradual, desde uma ausência completa do patrocínio público até uma participação plena que nós encontramos hoje inclusive no Brasil. 4 Técnico do Seguro Social

2.2. EVOLUÇÃO DA PROTEÇÃO SOCIAL NO BRASIL A proteção social no Brasil também evolui desde uma completa omissão do estado, até ampla gama de ações que se convencionou chamar de Seguridade Social. Uma primeira manifestação de mecanismo protetivo em território nacional surge com as ações das Santas casas de Misericórdia, já no ano de 1543. Mais valorizada é a primeira legislação de acidentes de trabalho de 1919, a Lei 3.724, que institui a responsabilidade dos empregadores pelos acidentes de trabalho, que alguns consideram como um marco tão ou mais importante que a Lei Eloy Chaves. Para análise da evolução histórica da Seguridade Social no Brasil, necessário se faz considerar a Constituição vigente em cada época. 2.2.1. CONSTITUIÇÃO DE 1824 A primeira Constituição preconizava a instituição de socorros públicos para quem deles necessitasse. Em 1835 foi criado o Montepio Geral dos Servidores do Estado (Mongeral), no sistema mutualista. Além deste, o Código Comercial, no art. 79, garantia a remuneração de 3 (três) meses para comerciantes acidentados. Posteriormente em 1888, foi criada a Caixa de Socorro para o pessoal das estradas de ferro do Estado e no ano seguinte foi estabelecido montepio obrigatório para os empregados dos correios e fundo especial de pensões para funcionários das oficinas da Imprensa Regia. Em 1890, foi estabelecido montepio para os empregados da Estrada de Fero Central do Brasil e para os funcionários do Ministério da Fazenda. Os Montepios eram sociedades privadas, de ingresso voluntário, em que os participantes pactuavam pagamentos de determinado valor, de modo que pudessem usufruir benefícios no futuro. O montepio não contava com o poder público não havia direito subjetivo do participante em demandar do poder público uma prestação previdenciária. 2.2.2. CONSTITUIÇÃO DE 1891 Introduziu na legislação brasileira termo aposentadoria. Esse benefício era previsto para os servidores públicos em caso de invalidez a serviço da Nação. Era uma prestação que não necessitava de contrapartida pecuniária. Em 1919, por meio do Decreto nº 3.724, foi estabelecido o precursor para o seguro de acidentes do trabalho, compulsório para algumas atividades. Essa obrigação era a cargo do empregador, devendo este um indenização ao empregado ou sua família, quando ocorresse acidente ou contraísse alguma moléstia no exercício do trabalho, determinado lesões corporais ou perturbações funcionais, que constituíssem a causa da morte ou perda da capacidade para o trabalho. O SAT era de natureza privada. Evolução maior veio com o Decreto Legislativo nº 4.682 de 24 de janeiro de 1923, conhecido como Lei Eloy Chaves, em homenagem ao deputado federal paulista Eloy Marcondes de Miranda Chaves, que elaborou o projeto de lei. Foi a primeira norma a instituir no Brasil a Previdência Social, com a criação da Caixa de Aposentadoria e Pensão dos Ferroviários, de nível nacional. Previa benefícios de aposentadoria por invalidez, ordinária (equivalente a aposentadoria por tempo de serviço), pensão por morte e assistência médica. As CAP eram compostas de fundos originários basicamente de contribuições dos empregados e empregadores. Cada empresa de estrada de ferro teria a sua respectiva caixa de aposentadoria e pensão CAP, com custeio próprio. Com a lei Eloy Chaves a previdência social surgiu no Brasil com natureza privada. A Lei Eloy Chaves é considerada o marco da Previdência Social no Brasil, a despeito de favorecer somente uma categoria profissional: a dos ferroviários. Em sua homenagem, 24 de janeiro é o dia do aposentado. Em 1926, foram estendidos aos portuários e aos marítimos os benefícios da Lei Eloy Chaves. O pessoal pertencente às empresas particulares prestadoras de serviços telegráficos e radiotelegráficos foi incluído como beneficiário em 1928, por meio da criação das Caixas de Aposentadorias e Pensões nessas empresas (Decreto nº 5.485). Em 1930, por meio do decreto nº 1.497, foram criadas as Caixas de Aposentadorias e Pensões dos empregados dos serviços de força, luz, bondes e telefones vinculados a estados, Municípios e empresas particulares. As Caixas de Aposentadorias e Pensões CAP eram organizações de seguridade social por empresa, era como se existisse um INSS para cada empresa mas esse sistema não dava cobertura aos trabalhadores sem vínculo empregatício e nem aos sócios e diretores da empresa. Até 1930 a tendência era os regimes previdenciários se organizarem por empresa. Técnico do Seguro Social 5

No ano e 1931, o Decreto º 20.645 reformou as normas regulamentares que regiam as CAP. No decorrer da década de 30, a tendência da organização dos sistema previdenciário deixou de ser por empresa e passou a ser por categoria profissional. Sendo assim, nos anos de 1933 e 1934 foram criados os Institutos de Aposentadorias e Pensões IAP, dos Marítimos (IAPM), dos Comerciários (IAPC) e dos Bancários (IAPB). Ainda no ano de 1934, foram criadas as CAP para os estivadores e trabalhadores em armazéns de café. Os IPA eram formados por fundos originários de contribuição do empregador, dos empregados (associados), do Estado (quota de previdência), bem como dos aposentados. Os IAP não seriam mais organizados por empresas, mas sim por categoria profissional. 2.2.3. CONSTITUIÇÃO DE 1934 A Constituição Federal de 1934 foi outro grande marco para a seguridade social brasileira, ela introduziu várias formas de proteção ao trabalhador, à gestante, ao idoso e ao inválido. Essa constituição estabeleceu: competência para a União fixar regras de assistência social; conferiu aos Estados-membros responsabilidade para cuidar de saúde e assistência públicas; bem como competência aos Estados para fiscalizar a aplicação das leis sociais. O poder legislativo possuía competência para: legislar normas sobre aposentadorias; a proteção social ao trabalhador foi relevada; conferiu assistência médica e sanitária ao trabalhador e à gestante, assegurando a esta o descanso, antes e depois do parto, sem prejuízo do salário e do emprego. Foi a primeira Constituição a se referir a previdência, embora sem o acompanhamento da palavra social. A principal novidade foi a instituição mediante contribuição da União, do empregador e do empregado, caracterizando a forma tríplice de custeio (público, empregado e empregador) com contribuição obrigatória a favor da velhice, invalidez, maternidade e nos casos de acidente ou morte. Os funcionários públicos foram os mais beneficiados e eram compulsoriamente aposentados aos 68 anos de idade. em 1936, foi criado o Instituto de Aposentadoria e Pensão dos Industriários IAPI, deste eram excluídos os que exerciam atividades industriais exclusivamente familiares. Como podemos observar, após a edição da Lei Eloy Chaves, que originou as Caixas de aposentadorias e Pensões, houve, durante a década de 20, a expansão dessas instituições e na década de 30 tiveram origem os IAP, culminando com a Constituição de 1934, que contribui para implementação e avanço do sistema previdenciário no Brasil. 2.2.4. CONSTITUIÇÃO DE 1937 Esta constituição não trouxe grandes novidades. Trocou a palavra previdência por seguro social. Toda a positivação sobre a matéria estava contida em duas alíneas: I instituição de seguros de velhice, de invalidez, de vida e para os casos de acidentes de trabalho; II as associações de trabalhadores têm o dever e prestar aos seus associados auxílio ou assistência, referentes às práticas administrativas ou judiciais relativas ao seguro pelo empregador contra os acidentes de trabalho. Em 1938, seguindo a tendência dos IAP, foi criado o Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Empregados em Transportes de Cargas IAPTEC, incluídos nesses os avulsos, empregados em carga e descarga, os estivadores, entre outros. Em 1945, o Decreto º 7.526 previa a criação o Instituto de Serviços Sociais do Brasil ISSB, que cobriria todos os empregados ativos a partir dos 14 anos de idade, entretanto na prática não foi implementado, mas já demonstrava a tendência a um sistema único garantido pelo Estado. 2.2.5. CONSTITUIÇÃO DE 1946 Foi substituída a expressão seguro social por previdência social, portanto, foi empregado pela primeira vez a expressão PREVIDÊNCIA SOCIAL. Referia-se o seu art. 157, inciso XVI, previdência, mediante contribuição da União, do empregador, do empregado, em favor da maternidade e contra conseqüências da doença, da velhice, da invalidez e da morte. O inciso seguinte dizia: obrigatoriedade da instituição do seguro pelo empregador contra os acidentes de trabalho. 6 Técnico do Seguro Social

Observamos que essa constituição continuou estabelecendo o princípio da tríplice forma de custeio: União, empregador e o Empregado e institui a obrigatoriedade do seguro pelo empregador contra acidentes do trabalho. Em 1953, todas as CAP de empresas ferroviárias e serviços públicos, surgidas a partir da lei Eloy Chaves, foram fundidas, originando a Caixa de Aposentadoria e Pensões dos trabalhadores de ferrovias e Serviços Públicos CAPFESP, que passou a denominar-se Instituto de Aposentadoria e Pensões dos ferroviários e Empregados em Serviços Públicos (IAPFESP) em 1960, com a Lei nº 3.807. No ano seguinte, o Decreto nº 35.448 uniformizou o sistema de previdência social, fornecendo regulamento geral para os IAP. Deste regulamento eram excluídos os servidores civis e militares da União, dos Estados, dos Municípios e dos Territórios, bem como as respectivas autarquias, que estiverem sujeitos a regimes próprios de previdência social e aqueles que estiverem sujeitos ao regime das CAP. A Lei nº 3.259/1959 concedeu aposentadoria com remuneração integral ao jornalista profissional com 30 anos de serviço. A Lei Orgânica da Previdência Social LOPS, nº 3.807 de 1960, padronizou o sistema assistencial ampliando os benefícios, surgiram o auxílio-natalidade, o auxílio-funeral, o auxílio-reclusão e estendeu a área de assistência social para outras categorias profissionais. Eram segurados todos os que exercessem emprego ou atividade remunerada no território nacional, com exceção dos servidores civis e militares da União, dos Estados, Municípios e dos Territórios, bem como das respectivas autarquias, que estivessem sujeitos a regimes próprios de previdência; os trabalhadores rurais e os empregados domésticos. Essa lei foi regulamentada pelo Decreto nº 48.959, que aprovou o Regulamento Geral da Previdência Social. Em 1963, houve a criação do Fundo de Assistência do Trabalhador Rural FUNRURAL, e a Lei º 4.266 estabeleceu o salário-família. A Emenda Constitucional º 11 de 1965 estabeleceu um importante princípio da seguridade social, que foi repetido pelas Constituições posteriores, que foi o princípio da precedência da fonte de custeio, segundo o qual nenhuma prestação de serviço de caráter assistencial ou benefício compreendido na previdência social poderia ser criado, majorado ou estendido sem a correspondente fonte de custeio total. Assim toda vez que o legislador introduzir novo benefício ou majorar os já existentes, deverá obrigatoriamente indicar a fonte de custeio. Em 1966, o Decreto-Lei nº 66 institui a contribuição da empresa que utiliza o trabalho autônomo; nesse mesmo ano, por meio da Lei nº 5.107, foi criado o Fundo de Garantia do Tempo e Serviço FGTS e o Decreto-Lei nº 72 unificou os IAP, centralizando a organização previdenciária no Instituto de Previdência Social INPS, realmente implementado em 2/1/1967. 2.2.6. CONSTITUIÇÃO DE 1967 A constituição de 1967 não inovou em matéria previdenciária em relação à Constituição de 1946, porém, podemos destacar os seguintes eventos desta constituição: Conferiu descanso remunerado à gestante antes e depois do parto, encargo este suportado pelo próprio empregador; Seguro obrigatório do empregador contra acidente do trabalho; Aposentadoria à mulher aos 30 anos de trabalho, com salário integral. Integração do SAT Seguro de Acidentes de Trabalho ao sistema de previdência social através da Lei nº 5.316; No ano de 1969, o Decreto-Lei nº 564 estendeu a previdência social ao trabalhador rural, especialmente ao setor agrário da agroindústria canavieira; A edição da Emenda Constitucional nº 1/69 repetiu praticamente a redação da Constituição de 1967 em relação à previdência social; O PIS Programa de Integração Social e o PASEP Programa de Amparo ao Servidor Público foram instituídos em 1970, como uma maneira de integrar o trabalhador na participação dos resultados das empresas; Em 1971, cria-se o Pró-Rural Programa de Assistência ao Trabalhador Rural, por meio desse programa, o trabalhador rural obteve direito a vários benefícios no valor de meio salário mínimo, entretanto não previa contribuição por parte desse trabalhador. Em 1971 foi criado o MTPS o Ministério do Trabalho e Previdência Social, pela primeira vez a previdência social brasileira atingia status de ministério. Em 1972 através da Lei nº 5.859 de 11/12/1972 os empregados domésticos foram incluídos na previdência social; Em 1973 através da Lei nº 5.939 de 8/6/73 foi instituído o salário-de-benefício do jogador de futebol profissional; Técnico do Seguro Social 7

Em 1974, a previdência e a assistência social obtiveram um Ministério exclusivo, desvinculado do Ministério do Trabalho, criou-se o MPAS Ministério da Previdência e Assistência Social. Ainda nesse ano, foram incluídos, entre os benefícios previdenciários, o salário-maternidade e o amparo previdenciário aos maiores de 70 anos de idade ou inválidos, no valor de meio salário mínimo. Atualmente esse benefício de amparo previdenciário faz parte da assistência social (art. 203 da CF de 1988) e possui o valor de um salário mínimo. Em 1974 é criada a Empresa de Processamento de dados da Previdência Social DATAPREV; A consolidação das Leis da Previdência Social CLPS foi publicada em 1976, pelo Decreto nº 77.077 de 24/1/1976, subordinando-se a Lei Orgânica da Previdência Social LOPS; No ano de 1977 foi instituído o SINPAS Sistema Nacional de Previdência e Assistência Social, por meio da Lei nº 6.439 de 1/7/1977, sob a orientação, coordenação e controle do Ministério da Previdência e Assistência Social MPAS, possuía como objetivos integrar a concessão e manutenção de benefícios, a prestação de serviços; e custear as atividades e os programas, além da gestão administrativa, financeira e patrimonial. O SINPAS possuía as seguintes divisões: INPS Instituto Nacional de Previdência Social com a função de conceder e manter benefícios; INAMPS Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência cuja função era prestação de assistência médica; LBA Fundação Legião Brasileira de Assistência com a atribuição de prestar assistência social à população carente; FUNABEM Fundação Nacional do Bem-Estar do Menor que executava políticas voltadas para o bem-estar dos menores de idade; DATAPREV Empresa de Processamento de dados da Previdência Social; IAPAS Instituto de Administração Financeira da Previdência Social possuindo a competência para arrecadar, fiscalizar e cobrar as contribuições e outros recursos pertinentes à previdência e assistência social; CEME Central de Medicamentos na condição de órgão autônomo da estrutura do MPAS, distribuía medicamentos gratuitamente ou a baixo custo. Em 1981, a Emenda Constitucional nº 18, que alterou a CF/1967, concedeu aposentadoria privilegiada para o professor e para a professora após 30 e 25 anos, respectivamente, de efetivo exercício com salário integral. Esse benefício perdurou até a CF de 1988, entretanto a Emenda Constitucional nº 20/1998 restringiu o benefício apenas para os professores do ensino infantil, fundamental e médio, retirando o direito dos professores universitários. Com o advento do Decreto-Lei nº 2.283/1986, institui-se o seguro-desemprego, com a finalidade de prover assistência financeira temporária ao trabalhador desempregado em virtude de dispensa sem justa causa, ou por paralisação, total ou parcial, das atividades do empregador. Em 1986 foi criado o Conselho Superior da Previdência Social, na estrutura básica do Ministério da Previdência e Assistência Social, como órgão colegiado, de caráter consultivo, possuindo as seguintes competências: pronunciar-se sobre as prioridades orçamentária e as metas estratégicas do Ministério da Previdência e Assistência Social; representar perante o ministro da Previdência e Assistência Social os interesses dos contribuintes e usuários da previdência e assistência social; opinar, por solicitação do ministro de Estado, sobre as propostas de alteração da legislação da previdência e assistência social. Em 1988 foi criado o SUDS Programa de Desenvolvimento de Sistemas Unificados e Descentralizados de Saúde nos Estados cm o objetivo de contribuir para a consolidação e o desenvolvimento qualitativo das ações integradas de saúde. Esse programa foi precursor para o SUS Sistema Único de Saúde da atual Constituição (1988). 2.2.7. CONSTITUIÇÃO DE 1988 Em 5/10/1988 a Seguridade Social foi finalmente positivada na Carta Magna, que em relação à previdência social, inovou ao conceber a previdência social, a assistência social e a saúde como espécies cujo gênero é a seguridade social. A Constituição de 1988 reservou um capítulo inteiro à seguridade social, desvinculou a Ordem Social, que agora possui o título VII, da Ordem Econômica. O constituinte houve por bem criar o sistema de proteção social embasado na filosofia do Lord Beveridge. O sistema beveridgeano é universal, protege todos os cidadãos. Portanto, oficializou-se a Seguridade Social, sistema instituído com a finalidade de dar à todos proteção em relação à Saúde, Previdência Social e Assistência Social. Em 1990 foi criado o INSS pela fusão do INPS e IAPAS. 8 Técnico do Seguro Social

Em 25/7/1991, com a publicação no Diário Oficial da União DOU, entram em vigor as Leis nº 8.212 (Lei do Custeio da Previdência Social) e a Lei nº 8.213 (Lei dos Benefícios da Previdência Social), atendendo ao dispositivo do artigo 59 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias ADCT da Constituição Federal de 1988. A Lei nº 8.540, de 22 de dezembro de 1992, dispôs sobre a contribuição do empregador rural para a seguridade social. Nesse ano o MTPS foi extinto criando se o MPS Ministério da Previdência Social, que vigorou até 1995, quando se restabeleceu o MPAS. Em 1993 o INAMPS foi extinto. Em 1994, a Lei nº 8.870 extingui o abono de permanência em serviço e exclui o 13º salário para cálculo do salário-de-benefício, além de estabelecer outras providências relativas à previdência social. A LBA foi extinta em 1995 e, em 1997 a CEME foi desativada. Os Decretos nº 2.172 (Regulamento dos Benefícios) e 2.173 (Regulamento do Custeio) foram publicados em março de 1967 e vigoraram até a edição do atual Regulamento da Previdência Social, aprovado pelo Decreto nº 3.048, publicado em 07/05/199, republicado em 12/05/199 no DOU, regulamentando em um único diploma as partes de custeio e dos benefícios da previdência social. O ano de 1988 foi muito importante para definir os rumos à previdência social. A Emenda Constitucional nº 20 reformou grande parte da previdência social brasileira, adotando novos critérios para os Regimes Próprios e para o RGPS. A Lei nº 9.717, de 17/11/1998, surgiu para estabelecer regras gerais para a organização e funcionamento dos regimes próprios de previdência social. Em 26/11/1999, a Lei nº 9.876 criou o fator previdenciário, ponderando-se para o cálculo do benefício a expectativa de vida, a idade e o tempo de contribuição. Em 2002, por meio da Lei 10.421 foi estendido o benefício do salário-maternidade às mães adotivas, por um período variando de 30 a 120 dias, em função da idade da criança adotada. A Lei n 10.683, de 28/05/2003, reorganizou os Mini stérios; o Ministério da Previdência e Assistência Social (MPAS) passou a ser denominado Ministério da Previdência Social (MPS). Atualmente a assistência social está vinculada ao Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. A Lei n 11.098, de 13/01/2005, atribui ao Ministér io da Previdência Social competências relativas à arrecadação, fiscalização, lançamento e normatização de receitas previdenciárias e autoriza a criação da Secretaria da Receita Previdenciária no âmbito do referido Ministério. A Lei n 11.457, de 16/03/2007, extinguiu a Secreta ria da Receita Previdenciária. Esta Lei entrou em vigor no dia 02/05/2007. A partir desta data, as contribuições previdenciárias passaram a ser arrecadadas e fiscalizadas pela Secretaria da receita Federal do Brasil (RFB). RESUMO: Histórico no Brasil 1543 exemplos mais antigos da proteção social brasileira - santas casas 1808 montepio para a guarda pessoal de D. João VI 1835 Criação do MONGERAL - Montepio Geral dos Servidores do Estado 1891 A Constituição de 1891 foi a primeira a conter a expressão aposentadoria, a qual era concedida a funcionários públicos, em caso de invalidez. 1923 Ainda sob a égide da Constituição de 1891, foi editada a Lei Eloy Chaves (Decreto-Legislativo n 4.682, de 24/01/1923), a qu al criou caixas de aposentadorias e pensões para os ferroviários, por empresa. Apesar de não ser o primeiro diploma legal sobre o assunto securitário (já havia o Decreto-Legislativo n 3.724/19, sobre o seguro o brigatório de acidentes do trabalho), devido ao desenvolvimento posterior da previdência e a estrutura interna da lei Eloy Chaves, ficou esta conhecida como o marco inicial da Previdência Social. 1926/28 A Lei n 5.109, de 20.12.1926, estendeu o r egime da Lei Eloy Chaves aos portuários e marítimos; e pela Lei n 5.485 de 30.0 6.1928, ele foi estendido ao pessoal das empresas de serviços telegráficos e radiotelegráficos. 1930 Criação do Ministério do Trabalho 1933 Criação do primeiro IAP, dos marítimos IAPM (Decreto n 22.872 de 29.06.1933) Técnico do Seguro Social 9

1934 A Constituição de 1934 foi a primeira a estabelecer a forma tríplice da fonte de custeio previdenciária, com contribuições do Estado, empregador e empregado. Foi, também, a primeira Constituição a utilizar a palavra Previdência, sem o adjetivo social. 1937 A Constituição de 1937 não traz novidades, a não ser o uso da palavra seguro social como sinônimo de previdência social. 1946 A Constituição de 1946 foi a primeira a utilizar a expressão previdência social, substituindo a expressão seguro social 1960 A Lei n 3.807, de 26/08/1960, unificou toda a legislação securitária e ficou conhecida como a Lei Orgânica da Previdência Social LOPS 1963 instituição do Fundo de Assistência e Previdência do Trabalhador Rural FUNRURAL, instituído pela Lei n 4.214, de 02.03.19 63 1965 Ainda na CF/46, foi incluído, em 1965, parágrafo proibindo a prestação de benefício sem a correspondente fonte de custeio 1966 IAPs foram unificados no INPS, por meio do Decreto-Lei n 72, de 1.11.1966 1967 A Lei n 5.316, de 14.09.1967, integrou o segu ro de acidentes de trabalho à previdência social, fazendo assim desaparecer este seguro como ramo à parte. 1971 A Lei Complementar n 11, de 25.05.1971 instit uiu o Programa de Assistência ao Trabalhador Rural (PRORURAL), de natureza assistencial, cujo principal benefício era a aposentadoria por velhice, após 65 anos de idade, equivalente a 50% do salário-mínimo de maior valor no País 1977 A Lei n 6.439/77 institui o SINPAS 1988 A Constituição de 1988 tratou, pela primeira vez no Brasil, da Seguridade Social, entendida esta como um conjunto de ações nas áreas de Saúde, Previdência e Assistência Social 1990 O SINPAS foi extinto em 1990. A Lei n 8.029, de 12/04/1990 criou o INSS Instituto Nacional do SEGURO Social, autarquia federal, vinculada ao hoje MPS, por meio da fusão do INPS com o IAPAS 1991 Lei n 8.212 (Plano de Custeio e Organização d a Seguridade Social) e Lei n 8.213 (Plano de Benefícios da Previdência Social). 1999 Decreto n 3.048/99 Emenda Constitucional nº 20/98 2002 Emenda Constitucional nº 41/03 Emenda Constitucional nº 47/05 2005 2007 1ª Reforma da Previdência, transformando aposentadoria por tempo de serviço em aposentadoria por tempo de contribuição. Em 2002, por meio da Lei 10.421 foi estendido o benefício do saláriomaternidade às mães adotivas, por um período variando de 30 a 120 dias, em função da idade da criança adotada. 2ª Reforma da Previdência, mudando regras de aposentadoria do servidor, com o fim da integralidade e da paridade. Complementa a EC 41/03, trazendo mais uma regra transitória para os servidores. A Lei n 11.098, de 13/01/2005, atribui ao Ministér io da Previdência Social competências relativas à arrecadação, fiscalização, lançamento e normatização de receitas previdenciárias e autoriza a criação da Secretaria da Receita Previdenciária no âmbito do referido Ministério. A Lei n 11.457, de 16/03/2007, extinguiu a Secreta ria da Receita Previdenciária. Esta Lei entrou em vigor no dia 02/05/2007. A partir desta data, as contribuições previdenciárias passaram a ser arrecadadas e fiscalizadas pela Secretaria da receita Federal do Brasil (RFB). 10 Técnico do Seguro Social

3. COMPETÊNCIA, CONCEITUAÇÃO E PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS. 3.1. INTRODUÇÃO No Brasil, a Constituição Federal de 1988 foi o primeiro texto legal a adotar a expressão SEGURIDADE SOCIAL. No capítulo que trata especificamente da Seguridade Social (Capítulo II do Título VIII), a carta Magna estabelece seus objetivos e atribui ao Poder Público, nos termos da lei, a competência de organizá-la. 3.2. COMPETÊNCIA A competência para legislar sobre a Seguridade Social é privativa da União conforme artigo 22, inciso XXIII da CONSTITUIÇÃO FEDERAL, enquanto que tanto a União, os Estados e o Distrito Federal possuem competência concorrente para legislar sobre Previdência Social, proteção e defesa da Saúde conforme artigo 24, inciso XII, da CONSTITUIÇÃO FEDERAL. Competência privativa A competência legislativa privativa é a que cabe exclusivamente a um órgão componente do Estado Federal. Estão nesta categoria as competências da União estabelecidas no art. 22 da Carta Magna, a competência remanescente dos Estados, a competência do Município para legislar sobre assuntos de interesse local, as competências de cada ente para estabelecer tributos e para definir a organização administrativa. Competência concorrente A competência legislativa concorrente é a que cabe a mais de uma categoria de entes componentes da Federação. Cuida-se do rol apresentado no artigo 24 da Carta Política. A Constituição Federal divide a competência para estabelecer normas gerais, que cabe à União, e a competência para editar normas suplementares, específicas, que cabe aos Estados. Apresentam-se dois campos bem definidos, não podendo a União produzir normas que não sejam gerais. Por outro lado, os Estados podem legislar plenamente sobre estas matérias, prevendo normas gerais e normas específicas, desde que não tenha a União exercido o seu poder. Contudo, se for editada pela União lei com as normas gerais, a legislação estadual terá sua eficácia suspensa, naquilo que conflitar com a nova Lei. Competência Tributária é a atribuição ou o poder, diretamente haurido da Constituição, para editar leis que abstratamente instituam tributos. Somente têm competência tributária, em nosso país, as pessoas que possuem capacidade para legislar, ou seja, as denominadas pessoas políticas ou entes federados: União, Estados, D.F e Municípios. 3.3. CONCEITOS A Seguridade Social compreende um conjunto integrado de ações de iniciativa dos Poderes Públicos e da sociedade, destinadas a assegurar os direitos relativos à saúde, à assistência social e à previdência social. Pela leitura do parágrafo acima depreendemos que o objetivo da seguridade social, é garantir tranqüilidade aos indivíduos para que caso sejam acometidos por alguma contingência, a qualidade de vida dos mesmos não seja significativamente diminuída. Observe que a expressão seguridade social abrange três grandes frentes: a previdência social, a saúde e a assistência social. Enumeradas como direitos sociais no art. 6º da Constituição Federal, típicos direitos fundamentais de segunda geração, a saúde, a previdência e a assistência social são disciplinadas a partir do art. 194 da Constituição Federal. Art. 6 o São direitos sociais a educação, a saúde, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição. Como direitos sociais devemos entender as prestações oferecidas pelo Estado direta ou indiretamente, com a finalidade de proporcionar melhores condições de vida aos integrantes da sociedade, principalmente aos mais necessitados. Com isso, por meio desses direitos procura-se alcançar a justiça social, igualando situações desiguais. Dentro do gênero seguridade social encontramos as espécies: previdência social, assistência social e saúde. Técnico do Seguro Social 11

3.3.1. Previdência Social A previdência brasileira é formada por dois regimes básicos, de filiação obrigatória, que são o Regime Geral de Previdência Social (RGPS) e os Regimes Próprios de Previdência Social dos servidores públicos e militares. Há também o Regime de Previdência complementar, ao qual o participante adere facultativamente. A Constituição Federal dispõe em seu artigo 201 que a previdência social será organizada sob a forma de regime geral, de caráter contributivo e de filiação obrigatória, observados critérios que preservem o equilíbrio financeiro e atuarial, e atenderá, nos termos da lei a: a) cobertura dos eventos de doença, invalidez, morte e idade avançada; b) proteção á maternidade, especialmente a gestante; c) proteção ao trabalhador em situação de desemprego involuntário; d) salário família e auxílio reclusão para os dependentes dos segurados de baixa renda; e) pensão por morte do segurado, homem ou mulher, ao cônjuge ou companheiro e dependentes. 3.3.2. Saúde A Constituição Federal dispõe em seu artigo 196 que a saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação. Isto significa dizer que toda a população tem direito à saúde, sem que para isso ela tenha que pagar ou contribuir diretamente. È obrigação do Estado prover a saúde à população. Os serviços públicos de saúde serão prestados gratuitamente. Para usufruir de tais serviços, não é necessário que o paciente contribua para a seguridade social. A saúde é direito de todos. Assim, não pode o Poder Público se negar a atender determinada pessoa em razão de suas condições financeiras. 3.3.3. Assistência Social A Constituição Federal dispõe em seu artigo 203 que a assistência social será prestada a quem dela necessitar, independentemente de contribuição à seguridade social. Diferentemente do que ocorre na área da saúde, a qual todos têm acesso, a assistência social só é destinada a quem dela necessitar. Ela é voltada apenas para atender as pessoas carentes, destinando pequenos benefícios a pessoas que nunca contribuíram para o sistema. A Assistência Social é regulamentada pela Lei n 8.7 42/93 (Lei Orgânica da Assistência Social LOAS). O principal benefício da assistência social é o benefício de prestação continuada. Trata-se de uma renda mensal de 1 (um) salário mínimo concedido à pessoa portadora de deficiência e ao idoso com 65 anos ou mais que comprovem não possuir meios de prover a própria manutenção e nem de tê-la provida por sua família (art. 20 da LOAS). Nos termos do art. 20 da LOAS, considera-se incapaz de prover a manutenção da pessoa portadora de deficiência ou idosa a família cuja renda mensal per capita seja inferior a ¼ (um quarto) do salário mínimo. Os objetivos da assistência social são: a) a proteção à família, à maternidade, à infância, à adolescência e à velhice; b) o amparo às crianças e adolescentes carentes; c) a promoção da integração ao mercado de trabalho; d) a habilitação e reabilitação das pessoas portadoras de deficiência e a promoção de sua integração à vida comunitária; e) a garantia de um salário mínimo de benefício mensal à pessoa portadora de deficiência e ao idoso que comprovem não possuir meios de prover à própria manutenção ou de tê-la provida por sua família, conforme dispuser a lei (LOAS lei nº 8.742/1993). 12 Técnico do Seguro Social

SEGURIDADE SOCIAL (CF, art. 194) Conjunto integrado de ações de iniciativas dos poderes públicos e da sociedade destinados a assegurar os direitos relativos à PREVIDÊNCIA SOCIAL ASSISTÊNCIA SOCIAL SAÚDE Filiação obrigatória e caráter contributivo Gratuito para quem dela necessitar ; independente de contribuição Gratuito para todos indistintamente; independente de contribuição 3.4. PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS DA SEGURIDADE SOCIAL A seguridade social rege-se por vários princípios - que são preceitos, valores, proposições de base para qualquer outro enunciado, sendo tomados como verdades que não podem ser questionadas, para que assim não haja comprometimento da lógica do sistema. São fundações necessárias para a edificação do entendimento de todo e qualquer sistema jurídico e a maioria deles estão expressos no art. 194 da Constituição Federal. Ainda de acordo com Roque Antonio Carraza: Princípio jurídico é um enunciado lógico, implícito ou explícito, que, por sua grande generalidade, ocupa posição de preeminência nos vastos quadrantes do Direito e, por isto mesmo, de modo inexorável, o entendimento e a aplicação das normas jurídicas que com ele conectam. 3.4.1. CLASSIFICAÇÃO Segundo Sérgio Pinto Martins¹, os princípios podem ser classificados em três categorias: gerais, específicos e outros princípios, consoante esquema a seguir apresentado. ¹ Sérgio Pinto Martins, Direito da seguridade Social, p.69. Técnico do Seguro Social 13

PRINCÍPIOS GERAIS ESPECÍFICOS OUTROS Igualdade Legalidade Direito adquirido Implícito Solidariedade Explícitos art. 194, I a VII da C.F Os princípios gerais são aplicáveis a todos os ramos do Direito. Por outro lado, os específicos pertencem somente a determinado ramo do Direito, no caso em tela, o Direito da Seguridade Social. 3.4.1.1. PRINCÍPIOS GERAIS São basicamente três os princípios pertencentes a essa categoria: princípio da igualdade (art. 5º, I, da Constituição); princípio da legalidade (art. 5º, II, da Constituição) e princípio do direito adquirido (art. 5º, XXXVI, da Constituição). Macete: L (Legalidade) I (Igualdade) D A (Direito Adquirido) a) PRINCÍPIO DA IGUALDADE artigo 5º caput da Constituição Federal de 1988. Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: Trata-se de igualdade substancial, que consiste em aquinhoar desigualmente os desiguais na medida de sua desigualdade. Todos os cidadãos têm direito a tratamento idêntico pela lei, com base nos critérios definidos no ordenamento jurídico pátrio. Segundo Alexandre de Moraes¹: Dessa forma, o que se veda são as diferenciações arbitrárias, as discriminações absurdas, pois o tratamento desigual dos casos desiguais, na medida que se desigualam, é exigência tradicional do próprio conceito de Justiça, pois o que realmente protege são certas finalidades, somente se tendo por lesado o princípio constitucional quando o elemento discriminador não se encontra a serviço de uma finalidade acolhida pelo direito, (...). ¹ Alexandre de Moraes, Direito Constitucional, 11ª Edição, p. 64 b) LEGALIDADE artigo 5º, inciso II da Constituição Federal de 1988. II - ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei; O princípio da legalidade é inerente ao Estado de Direito. Tal princípio visa combater o poder arbitrário do Estado. Na Administração Pública, a vontade da administração é a que decorre da lei; diferentemente das relações entre os particulares, em que vigora o princípio da autonomia da vontade, que permite fazer tudo que a lei não proíbe; a Administração Pública é escrava da lei e só pode fazer aquilo que ela (lei) permite. Só haverá obrigação de pagar benefícios previdenciários, caso haja previsão legal. Não Existindo, não haverá obrigação por parte da Administração Pública. 14 Técnico do Seguro Social

c) DIREITO ADQUIRIDO, ATO JURÍDICO PERFEITO E A COISA JULGADA artigo 5º, inciso XXXVI da Constituição Federal de 1988. XXXVI - a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada; Direito adquirido é aquele que já pode ser exercido ou cujo começo tenha termo pré-fixado ou condição pré-estabelecida que não pode ser alterada ao arbítrio de outra pessoa. Cabe ressaltarmos nesse ponto, que a norma jurídica brasileira não tutela a mera expectativa de direito. Assim, enquanto o segurado não implementar todas as condições exigidas por lei para aquisição do benefício previdenciário, aposentadoria, por exemplo, não poderá alegar a não aplicabilidade de alterações legislativas ao seu caso, em virtude de possuir direito a se aposentar segundo as regras vigentes. Somente quando implementadas todas as condições é que a partir de então o segurado poderá alegar o direito adquirido. Exemplo, caso a exigência para aposentadoria por idade fosse 55 anos, suponhamos que o segurado empregado, com 57 anos já tivesse implementado todas as condições necessárias a se aposentar por idade, entretanto continuou exercendo suas atividades, nesse interstício surgiu nova lei ditando que o limite mínimo para se aposentar por idade passou para 60 anos. Em nosso exemplo, essa nova lei não se aplicará, pois o segurado já possui direito adquirido a se aposentar segundo a regra anteriormente vigente. Ato jurídico perfeito é aquele que já foi consumado segundo a lei vigente ao tempo em que se efetuou; requer agente capaz, objeto lícito e forma prescrita ou não defesa em lei (ato sem vício). Coisa julgada é a imutabilidade das decisões judiciais pelo não cabimento de recurso em virtude de trânsito em julgado da decisão, isto é, o processo jurídico que já percorreu todas as etapas previstas na lei, não cabendo mais recurso as partes. Última instância de uma sentença. O Pretório Excelso, dando exato entendimento ao enunciado na Súmula 359, firmou em aresto da lavra do eminente Ministro Luiz Gallotti: se na vigência da lei anterior, o impetrante preenchera todos os requisitos exigidos, o fato de, na vigência não haver requerido a aposentadoria, não faz perder o seu direito, que já estava adquirido. Um direito já adquirido não se pode transmudar em expectativa de direito, só porque o titular preferiu continuar trabalhando e não requereu a aposentadoria antes de revogada a lei cuja vigência ocorrera a aquisição do direito. Expectativa de direito é algo que antecede a aquisição; e não pode ser posterior a esta. 3.4.1.2. PRINCÍPIO ESPECÍFICO IMPLÍCITO PRINCÍPIO DA SOLIDARIEDADE Compromisso pelo qual as pessoas se obrigam umas pelas outras. O princípio da solidariedade é que está implícito em qualquer análise que se faça do Direito da Seguridade Social. O art. 3º da Constituição da República positiva que: Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil: I construir uma sociedade livre, justa e solidária. Com isso, o constituinte torna obrigatória a observância do princípio da solidariedade. A solidariedade reflete um dos objetivos da República Federativa do Brasil, sendo também uma das formas de se buscar a redução das desigualdades sociais, quando alguns, os que podem, se solidarizam, contribuindo para que os outros, sem condições financeiras, também estejam cobertos pela seguridade social. O princípio da solidariedade constitui fundamento para a atuação do Estado, que há de prover a solidariedade social. E, para tanto, pode mesmo utilizar a tributação como mecanismo para redistribuição de renda. ¹ Alexandre de Moraes, Direito Constitucional, 11ª edição, p. 107. 3.4.1.3. PRINCÍPIOS ESPECÍFICOS EXPLÍCITOS Esses princípios estão explicitados no art. 194, parágrafo único, da Constituição Federal. Art. 194. (...) Parágrafo único. Compete ao poder público, nos termos da lei, organizar a seguridade social, com base nos seguintes objetivos: I universalidade da cobertura e do atendimento; II uniformidade e equivalência dos benefícios e serviços às populações urbanas e rurais; III seletividade e distributividade na prestação dos benefícios e serviços; IV irredutibilidade do valor dos benefícios; V eqüidade na forma de participação no custeio; VI diversidade da base de financiamento; Técnico do Seguro Social 15

VII caráter democrático e descentralizado da administração, mediante gestão quadripartite, com a participação dos trabalhadores, dos empregadores, dos aposentados e do Governo nos órgãos colegiados. a) Universalidade da cobertura e do atendimento (CF, art. 194, parágrafo único, I) A universalidade da cobertura (universalidade objetiva) significa que a seguridade deve contemplar todas as contingências sociais que geram necessidade de proteção social das pessoas, tais como maternidade, velhice, doenças, acidentes, invalidez e morte. A universalidade do atendimento (universalidade subjetiva) significa dizer que todas as pessoas serão indistintamente acolhidas pela Seguridade Social. Na saúde Esse princípio tem ampla aplicação, pois os serviços de saúde alcançam realmente a todos os indivíduos, independentemente de pagamento ou contribuição; Na Assistência Social ele atinge somente os indivíduos que dela necessitam também independentemente de pagamento ou contribuição. Na Previdência Social a universalidade deve ser entendida como entre aqueles que pagam à previdência, ou seja, aqueles filiados ao regime geral de previdência social. Para atender a esse princípio constitucional, foi criada, no regime geral de previdência social, a figura do segurado facultativo. Assim, todos, mesmo que não exerçam atividade remunerada, têm a cobertura previdenciária. Para tanto, é necessário contribuir para o sistema previdenciário. b) Uniformidade e equivalência dos benefícios e serviços às populações urbanas e rurais (CF, art. 194, parágrafo único, II) Em obediência ao principio da igualdade (art. 5º, I, da Constituição Federal), o constituinte positivou o princípio da uniformidade e equivalência dos benefícios e serviços ás populações rurais e urbanas. A C.F./1988, no seu artigo 7º, dispõe que não há diferenças entre os direitos sociais dos trabalhadores urbanos e rurais. No que se refere à Seguridade Social, equivale dizer que as mesmas contingências que recebam garantia no meio urbano deverão também receber garantia no meio rural. Além disso, deverão ter o mesmo valor econômico, as mesmas prestações, bem como serviços de mesma qualidade, em cumprimento ao princípio da igualdade. A uniformidade refere-se ao objeto, às prestações devidas (morte, velhice, maternidade, etc.) em face do sistema de Seguridade Social, que deverão ser iguais para todos. Equivalência refere-se ao aspecto pecuniário dos benefícios ou à qualidade dos serviços, que não serão necessariamente iguais, mas equivalentes. c) Seletividade e distributividade na prestação dos benefícios e serviços (CF, art. 194, parágrafo único, III) Trata-se de princípio dirigido ao legislador. A seletividade atua na delimitação do rol de prestações, ou seja, na escolha dos benefícios e serviços a serem mantidos pela seguridade, poderá eleger os riscos e contingências sociais a serem cobertos. Já a distributividade implica a criação de critérios/requisitos para o acesso ao objeto de proteção, de forma a atingir o maior número de pessoas e a proporcionar uma cobertura mais ampla. Seguridade Social tem caráter social. Seu objetivo é distribuir renda, principalmente para as pessoas de baixa renda. Como os recursos são finitos e as necessidades da população são infinitas, o sistema tem de estabelecer preferência de acordo com as possibilidades econômico-financeiras. Melhor dizendo, deve tratar desigualmente os desiguais, favorecendo, portanto, os indivíduos que se encontram em situação inferior. Esse princípio permite que se restrinja o recebimento do auxílio-reclusão e do salário-família exclusivamente às famílias de baixa renda, configuradas em valor relacionado com o salário-de-contribuição. Em regra, pelo princípio da universalidade da cobertura e do atendimento, todos os cidadãos teriam direito a todos os benefícios. O princípio da seletividade e distributividade permite que se faça uma seleção de segurados necessitados para obtenção dos benefícios citados. Portanto, o princípio da seletividade e distributividade impõem limites ao princípio da universalidade da cobertura e do atendimento, isto é, ameniza os efeitos do princípio da universalidade. Os princípios da universalidade e da seletividade devem ser aplicados de forma harmônica e equilibrada. 16 Técnico do Seguro Social

d) Irredutibilidade do valor dos benefícios (CF, art. 194, parágrafo único, IV) Na doutrina, não há consenso a respeito do significado do princípio da irredutibilidade do valor dos benefícios, aplicado à Seguridade Social. Parte da doutrina entende que seu objetivo é preservar o valor real do benefício. Outra parte entende que a sua finalidade é, simplesmente, impedir a diminuição do valor nominal do benefício. A interpretação que o Regulamento da Previdência Social (art. 1, parágrafo único, IV) dá a esse princípio da Seguridade Social é a de que seu objetivo é a preservação do poder aquisitivo do benefício, ou seja, a preservação do valor real. Mas para o STF, não havendo diminuição do valor nominal, não procede a alegação de ofensa ao princípio da irredutibilidade. Vale ressaltar que, em relação aos benefícios previdenciários o 4 do art. 201 da Constituição Federal, assegura o reajustamento dos benefícios para preservar-lhes, em caráter permanente, o valor rela, com forme critérios definidos em lei. Assim, em relação aos benefícios previdenciários, o princípio da irredutibilidade (CF, art. 194, parágrafo único, IV) é garantia contra a redução do valor nominal, e o 4 do art. 201 da Constituição Federal assegura o reajustamento para preservar o valor real. Mas esses dois dispositivos constitucionais têm significados distintos, não devendo ser confundidos. O primeiro é princípio da irredutibilidade, aplicado à seguridade social (engloba benefícios da previdência e assistência social). O segundo é o princípio da preservação real dos benefícios, aplicado somente à previdência social. e) Eqüidade na forma de participação no custeio (CF, art. 194, parágrafo único, V) Esse princípio é um desdobramento do princípio da igualdade (CF/88 art. 5 ) que consiste em tratar igualmente os iguais e desigualmente os desiguais. Ele encontra intimamente ligado à isonomia e á capacidade contributiva, podendo ser entendido como justiça e igualdade na forma de custeio: alíquotas desiguais para contribuintes em situação desigual. O que este princípio garante é que as pessoas que estejam na mesma situação deverão contribuir da mesma forma; ou seja, os que ganham mais darão maior contribuição e os que estejam em situação econômica desfavorável contribuirão com menos. Não se confunde com igualdade, pois a eqüidade procura tratar desigualmente os desiguais. Então, agindo por meio do tratamento desigual, procura-se alcançar a justiça. Tal princípio permite uma tributação maior da empresa/empregador em relação ao segurado, haja vista que são aqueles os de maior poder aquisitivo. A Lei n 8.212/91 prevê alguns exemplos de equidade: a contribuição das empresas têm alíquotas maiores que a dos segurados; as instituições financeiras contribuem para a seguridade social com alíquotas mais elevadas do que as empresas em geral; as microempresas e empresas de pequeno porte contribuem de forma mais simplificada e favorecida (LC n 123/2 006); os segurados empregados, trabalhadores avulsos e empregados domésticos têm alíquotas progressivas (8%, 9% ou 11%) quanto maior a remuneração maior será a alíquota. f) diversidade da base de financiamento (CF, art. 194, parágrafo único, VI) A seguridade social tem diversas fontes de custeio. Assim, há maior segurança para o sistema, em caso de dificuldade na arrecadação de determinadas contribuições, haverá outras para lhes suprir a falta. De acordo com o caput do art. 195 da Constituição Federal, a seguridade social será financiada por toda a sociedade de forma direta e indireta, nos termos da lei, mediante recursos provenientes da União, Estados, Distrito Federal e Municípios, e das seguintes contribuições sociais: I) do empregador, da empresa e da entidade a ela equiparada na forma da lei, incidentes sobre: a) a folha de salários e demais rendimentos do trabalho pagos ou creditados, a qualquer título, à pessoa física que lhe preste serviço, mesmo sem vínculo empregatício; b) a receita ou faturamento; c) o lucro II) do trabalhador e demais segurados da previdência social, não incidindo contribuição sobre aposentadoria e pensão concedidas pelo regime geral de previdência social; III) sobre a receita de concursos de prognósticos; e IV) do importador de bens ou serviços do exterior, ou de quem a lei a ele equiparar. Por meio deste princípio busca-se garantir que a seguridade social não seja financiada por apenas um grupo de contribuintes, mas que possua uma base ampla, implicando em segurança do próprio sistema. Técnico do Seguro Social 17

g) Caráter democrático e descentralizado da gestão administrativa com a participação da comunidade, em especial de trabalhadores, empresários e aposentados (CF, art. 194, parágrafo único, VII) No Estado Democrático de Direito, a participação da comunidade é elemento da maior importância. Sem ela, o Poder Público, notadamente o Executivo, fica insensível aos problemas da população. Nos termos do art. 10 da Constituição Federal é assegurada a participação dos trabalhadores e empregadores nos colegiados dos órgãos públicos em que seus interesses profissionais ou previdenciários sejam objeto de discussão e deliberação. Em harmonia com esse dispositivo constitucional, a CF, art. 194, parágrafo único, VII, assegura para a seguridade social, caráter democrático e descentralizado da administração, mediante gestão quadripartide, com a participação dos trabalhadores, dos empregadores, dos aposentados e Governo nos órgãos colegiados. De acordo com esse princípio, a gestão dos recursos, programas, planos, serviços e ações, nas três áreas da seguridade social, em todas as esferas de poder, deve ser realizada mediante discussão com a sociedade. Exemplos de materialização desse princípio: criação do Conselho Nacional de Previdência Social (Lei n 8.213/91, art. 3 ), do Conselho de Nacional de As sistência Social (Lei n 8.742/93, art. 7 ) e do Con selho Nacional de Saúde (Lei n 8.080/90). GQ - GESTÃO QUADRIPARTIDE G A T E GOVERNO APOSENTADOS TRABALHADO RES EMPREGADORES 3.4.1.4. OUTROS PRINCÍPIOS h) Preexistência do custeio em relação ao benefício ou serviço (CF, art. 195, 5). Nos termos do 5 do art. 195 da Constituição feder al, nenhum benefício ou serviço da seguridade social poderá ser criado, majorado ou estendido sem a correspondente fonte de custeio total. Este princípio prega que sem a devida receita não pode haver despesa. Observa-se que o custeio do benefício ou serviço criado deve ser total (integral) e não apenas cobrir parte das despesas. Com isso, assegura-se o próprio sistema de seguridade social, pois há a garantia que nenhuma legislação oportunista crie ou conceda benefícios sem que haja a correspondente fonte de custeio total deste benefício. Esse princípio se aplica não somente a previdência social, mas à seguridade social como um todo, portanto, será inconstitucional a lei que criar um benefício, previdenciário ou assistencial, sem também criar a fonte de custeio total. i) Anterioridade nonagesimal, noventena ou anterioridade mitigada (CF, art. 195, 6). De acordo com o artigo 195, parágrafo 6º, da CF: As contribuições sociais de que trata este artigo só poderão ser exigidas decorridos noventa dias da data da publicação da lei que as houver instituído ou modificado, não se lhes aplicando o disposto no art. 150, III, b (princípio da anterioridade genérico). O princípio da anterioridade genérico veda a cobrança de tributos no mesmo exercício financeiro em que haja sido publicada a lei que os houver instituído ou aumentado. O princípio da anterioridade nonagesimal, de que aqui estamos tratando, é mais amplo quanto ao seu alcance, pois exige o interstício de noventa dias para se efetuar alguma modificação quanto à exigibilidade das contribuições sociais, não apenas para seu aumento ou criação. 18 Técnico do Seguro Social

O mesmo aplica-se a qualquer uma das contribuições sociais previstas no artigo 195 da Constituição Federal, portanto, só poderão ser exigidas após 90 (noventa) dias decorridos da data de publicação da lei que as houver instituído ou modificado. É um princípio que visa proteger o contribuinte, pois não será surpreendido por alguma legislação que altere a contribuição devida, acarretando um gasto extra não previsto em seu orçamento. As modificações que estão sujeitas à anterioridade nonagesimal são as que representam uma efetiva onerosidade para o contribuinte. As modificações menos onerosas ao contribuinte podem ser aplicadas desde a entrada em vigor da lei. O princípio da anterioridade nonagesimal tem como objetivo proteger o contribuinte contra o fator surpresa, quando gere aumento em sua carga tributária. Para as contribuições de seguridade social não se aplica o princípio da anterioridade anual ou genérica (CF, art. 150, III, b ). O STF entende que a lei que se limita simplesmente a mudar o prazo de recolhimento da contribuição social (ou de qualquer outro tributo) não se submete ao princípio da anterioridade anula nem ao princípio da anterioridade nonagesimal. Para firmar esse entendimento, o STF editou a súmula n 669: norma legal que altera o prazo de recolhimento da obrigação tributária não se sujeita ao princípio da anterioridade. E quanto uma contribuição de seguridade social for majorada por Medida Provisória, quanto se inicia o prazo da contagem dos 90 dias? O STF entende que o prazo nonagesimal (CF, art. 195, 6 ) é contado a partir da publicação da Medida Provisória que houver instituído ou modificado a contribuição (STF, RE-Agr 453490/SP). j) A pessoa jurídica em débito com o sistema de seguridade social, como estabelecido em lei, não poderá contratar com o Poder Público nem dele receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios Este princípio está inserido no artigo 195, parágrafo 3º da CONSTITUIÇÃO FEDERAL. O poder público para adquirir bens e serviços utiliza-se do processo de licitação, que é a forma mais comum de contratação de um ente privado (empresa) com o ente público, portanto, as pessoas jurídicas que estiverem em débito com a seguridade social não poderão participar de licitações, é o exemplo mais comum de aplicação deste princípio. k) A lei poderá instituir outras fontes destinadas a garantir a manutenção ou expansão da seguridade social, obedecido o disposto no artigo 154, inciso I Este princípio está inserido no artigo 195, parágrafo 4º é a chamada competência residual e é exclusiva da União. Para exercer esta competência e instituir contribuições sociais incidentes sobre fonte diversa das constantes no artigo 195 da CONSTITUIÇÃO FEDERAL., a União deve observar os três requisitos constantes do artigo 154, inciso I, da CONSTITUIÇÃO FEDERAL: 1º) lei complementar; 2º) não cumulatividade; 3º) fato gerador e base de cálculo distintos dos determinados para os impostos previstos no texto constitucional. O STF, analisando tais requisitos, manifestou o entendimento de que a lei complementar e a nãocumulatividade são condições de observância cogente para a instituição de novas contribuições sociais. Entretanto, podem estas ter fato gerador ou base de cálculo idênticos aos dos impostos previstos na Constituição. Assim, a coincidência do fato gerador e/ou da base de cálculo das novas contribuições com os impostos discriminados na CF é admitida. A exigência de lei complementar e da não-cumulatividade, ao contrário, permanecem como de observância obrigatória. Da mesma forma é válida a coexistência de um imposto e de uma contribuição social, já prevista na CF, com fatos geradores e bases de cálculo iguais. Basta pensarmos no imposto de renda e na contribuição social sobre o lucro líquido, que têm por fato gerador o lucro, para chegarmos a esta conclusão. Também é constitucional a coexistência de duas contribuições sociais, já previstas na Constituição, com idêntica base de cálculo ou fato gerador. A COFINS e o PIS, por exemplo, são contribuições que têm o mesmo fato gerador, o faturamento, e ambas, por expressa disposição, são constitucionalmente admitidas: a primeira com fulcro no art. 195, I, b; e a segunda com base no art. 239. Técnico do Seguro Social 19

É interessante aqui um comentário a respeito da Contribuição Provisória sobre Movimentação ou Transmissão de Valores e de Créditos e Direitos de Natureza Financeira (CPMF). Esta contribuição social não foi instituída por meio do exercício da competência residual da União, mas mediante emenda constitucional, estando prevista nos art. 74, 75 e 84 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias. Sua vigência, como o próprio nome já indica, é temporária, e o produto por intermédio dela arrecadado é destinado à área da saúde e da previdência social, bem como ao Fundo de Combate e Erradicação da Pobreza. l) Progressividade das contribuições sociais O artigo 195, parágrafo 9, da CF, acrescentado pel a emenda 20/1998 e pela emenda 47/2005, traz a possibilidade de que as alíquotas e as bases de cálculo das contribuições a cargo do empregador, da empresa e da entidade a ela equiparada, possam ser calculadas de forma diferenciada, em função da atividade econômica, da utilização intensiva de mão-de-obra, do porte da empresa ou da condição estrutural do mercado de trabalho. Estatui ele, portanto, a possibilidade de progressividade das alíquotas e da base de cálculo das referidas contribuições. Assim, por exemplo, considerando-se duas empresas sendo a empresa A que atua no ramo de fabricação de calçados, empresa esta que se utiliza de mão-de-obra intensiva e a empresa B que atua no ramo de intermediação financeira, empresa esta que se utiliza de pouca mão-de-obra, pode a legislação estabelecer uma alíquota menos onerosa ou mesmo uma base de cálculo menos ampla para a empresa A (até mesmo as duas medidas) sem que possa a empresa alegar violação ao princípio da isonomia, pois a CF, considerando a utilização intensiva de mão-de-obra, legitimou a diferenciação da base tributável e da alíquota incidente. 4. ORGANIZAÇÃO DA SEGURIDADE SOCIAL Conforme dispõe a Constituição Federal, art. 194, VII, a gestão administrativa da seguridade social é quadripartite, com participação dos trabalhadores, dos empregadores, dos aposentados e do Governo nos órgão colegiados. As áreas de saúde, previdência social e assistência social serão organizadas em conselhos setoriais, com representantes da união, dos Estados, do Distrito Federal, dos Municípios e da sociedade civil. São órgãos colegiados da Seguridade Social: o Conselho Nacional da Previdência Social (CNPS), os Conselhos de Previdência Social (CPS), o Conselho de Recursos da Previdência Social (CRPS), o Conselho Nacional de Assistência Social (CNAS) e o Conselho Nacional de Saúde (CNS). 4.1. CONSELHO NACIONAL DE PREVIDÊNCIA SOCIAL CNPS O CNPS, órgão superior de deliberação colegiada, criado pela Lei n 8.213/91 (art. 3 ), possui como objetivo precípuo o estabelecimento do caráter democrático e descentralizado da gestão administrativa com a participação do governo e da sociedade. 20 Técnico do Seguro Social