V.7. Noções Básicas sobre o uso da Potência e do Torque do Motor.



Documentos relacionados
Dinâmica do movimento de Rotação

MÁQUINAS AGRÍCOLAS PROF. ELISEU FIGUEIREDO NETO

Empurra e puxa. Domingo, Gaspar reúne a família para uma. A força é um vetor

O estado no qual um ou mais corpos possuem a mesma temperatura e, dessa forma, não há troca de calor entre si, denomina-se equilíbrio térmico.

ESCOLA SECUNDÁRIA DE CASQUILHOS

FÍSICA, 1º Ano do Ensino Médio Potência Mecânica. A máquina a vapor

NOME: Nº. ASSUNTO: Recuperação Final - 1a.lista de exercícios - Comentada VALOR: 13,0 NOTA:

Universidade Paulista Unip

CAPÍTULO 6 Termologia

Universidade Estadual de Campinas. Instituto de Física Gleb Wataghin. F 609 Tópicos de Ensino da Física I

Fichas de sistemas de partículas

O céu. Aquela semana tinha sido uma trabalheira!

Programa de Retomada de Conteúdo 1º Bimestre

NOME: Nº. ASSUNTO: Recuperação Final - 1a.lista de exercícios VALOR: 13,0 NOTA:

4.1 MOVIMENTO UNIDIMENSIONAL COM FORÇAS CONSTANTES

Intensivo Trabalho, potência e Energia mecânica. Obs: cada andar do edifício tem aproximadamente 2,5m.

FÍSICA - 1 o ANO MÓDULO 17 LANÇAMENTO VERTICAL E QUEDA LIVRE

Lista de Exercícios - Unidade 8 Eu tenho a força!

Física. Pré Vestibular / / Aluno: Nº: Turma: ENSINO MÉDIO

PROVA DE FÍSICA QUESTÃO 01 UFMG

Escola: Colegio Interativa - Educação Infatil, Ensino Fundamental e Medio

como a DT200 da Yamaha.

O QUE É A ESCALA RICHTER? (OU COMO SE MEDE UM TERREMOTO)

Ensaio de impacto. Os veículos brasileiros têm, em geral, suspensão

muito gás carbônico, gás de enxofre e monóxido de carbono. extremamente perigoso, pois ocupa o lugar do oxigênio no corpo. Conforme a concentração

Projeto rumo ao ita. Química. Exercícios de Fixação. Exercícios Propostos. Termodinâmica. ITA/IME Pré-Universitário Um gás ideal, com C p

Soluções das Questões de Física da Universidade do Estado do Rio de Janeiro UERJ

ENERGIA CINÉTICA E TRABALHO

Física Geral I - F 128 Aula 7 Energia Cinética e Trabalho. 2 o semestre, 2011

Atividade Proporcionalidade (vídeo)

3.4 O Princípio da Equipartição de Energia e a Capacidade Calorífica Molar

Um momento, por favor

Velocidade Média Velocidade Instantânea Unidade de Grandeza Aceleração vetorial Aceleração tangencial Unidade de aceleração Aceleração centrípeta

Como erguer um piano sem fazer força

CONCEITOS CINÉTICOS PARA O MOVIMENTO HUMANO. Prof. Dr. Guanis de Barros Vilela Junior

O Princípio da Complementaridade e o papel do observador na Mecânica Quântica

O decibel e seus mistérios - Parte II

O momento do gol. Parece muito fácil marcar um gol de pênalti, mas na verdade o espaço que a bola tem para entrar é pequeno. Observe na Figura 1:

ALISADOR DE CONCRETO MANUAL DO USUÁRIO NAC2. Por favor, leia este Manual com atenção pára uso do equipamento.

Como funcionam os elevadores hidráulicos

Esquema: Representação da força de atração gravitacional entre dois corpos de massas M 1 e M 2

Guia de Instalação Pinhão de 18 dentes

Desenho e Projeto de Tubulação Industrial Nível II

Gerencie adequadamente os custos da sua frota

Calculando RPM. O s conjuntos formados por polias e correias

Capítulo 5 Trabalho e Potência

Estime, em MJ, a energia cinética do conjunto, no instante em que o navio se desloca com velocidade igual a 108 km h.

DATA: 17/12/2015 VALOR: 20,0 NOTA: NOME COMPLETO:

Laboratório de Física I - EAD- UESC 2011

Trabalho e potência. 1º caso: a força F não é paralela a d. 2º caso: a força F é paralela a d. 3º caso: a força F é perpendicular a d

Inversores de Frequência Aplicados em Processos de Mineração Trazem Ganho de Produtividade, Economia de Energia e Manutenção Reduzida.

Tipos de malha de Controle

Curso de Instrumentista de Sistemas. Fundamentos de Controle. Prof. Msc. Jean Carlos

APRENDA FÍSICA BRINCANDO NO PARQUE GUANABARA

Lista de Exercícios de: Trabalho de uma força paralela ao deslocamento

Resolução da Questão 1 Item I Texto definitivo

...uma vez que no espectro de emissão se observam duas riscas brilhantes, na zona do amarelo.

Dist. da linha saída à 1ª barreira

DATA: / / 2014 VALOR: 20,0 pontos NOTA: ASSUNTO: Trabalho de Recuperação Final SÉRIE: 1ª série EM TURMA: NOME COMPLETO:

EXERCÍCIOS ON LINE DE CIÊNCIAS - 9 ANO

sendo as componentes dadas em unidades arbitrárias. Determine: a) o vetor vetores, b) o produto escalar e c) o produto vetorial.

Motor de combustão interna

ESTUDO EXPERIMENTAL DA COMBUSTÃO DO ETANOL ADITIVADO NA MÁQUINA DE COMPRESSÃO RÁPIDA

FUNCIONAMENTO DO SISTEMA DE TRANSMISSÃO:

Equacionando problemas

Período de injeção. Período que decorre do início da pulverização no cilindro e o final do escoamento do bocal.

Considerações sobre redimensionamento de motores elétricos de indução

Prof. Rogério Porto. Assunto: Cinemática em uma Dimensão II

MOVIMENTO CIRCULAR ATIVIDADE 1 Professores: Claudemir C. Alves / Luiz C. R. Montes

APOSTILA TECNOLOGIA MECANICA

Lâmpadas. Ar Condicionado. Como racionalizar energia eléctrica

CONVERSÃO DE TEMPERATURA

Hoje estou elétrico!

As Fases da Lua iluminado pela luz do Sol A fase da lua representa o quanto dessa face iluminada pelo Sol está voltada também para a Terra

Potência, uma coisa mais que complicada Parte V

MECÂNICA APLICADA. FONTES DE POTÊNCIA RENOVÁVEIS E MOTORES CICLO OTTO E DIESEL (2 e 4 TEMPOS) PROF Msc. Rui Casarin

Exercícios: Lançamento Vertical e Queda Livre

DINÂMICA 1 DE UM KART 2 Bob Bondurant (tradução de Eduardo Moreira)

Lista de Exercícios para Recuperação Final. Nome: Nº 1 º ano / Ensino Médio Turma: A e B Disciplina(s): Física LISTA DE EXERCÍCIOS RECUPERAÇÃO - I

TELE - VENDAS: (0xx41) FAX GRÁTIS:

A velocidade escalar constante do caminhão é dada por:

FUNÇÃO DE 1º GRAU. = mx + n, sendo m e n números reais. Questão 01 Dadas as funções f de IR em IR, identifique com um X, aquelas que são do 1º grau.

MUDANÇA DE ESTADO - 2

Resolverei neste artigo uma prova da fundação VUNESP realizada em 2010.

5. Resultados e Análises

1 ATUADORES HIDRÁULICOS

Máquinas Térmicas Τ = Q Q 1 2 T

Física. INSTRUÇÃO: Responder às questões 28 e 29 com base na figura e nas informações abaixo.

TONALIDADE X FREQUÊNICA

Entenda a tributação dos fundos de previdência privada O Pequeno Investidor 04/11/2013

Nome: Data. Prof: Manoel Amaurício. p p% de C é C. 100 exemplo 1: 14% = 0,14 20% = 0,2 2% = 0,02

EME405 Resistência dos Materiais I Laboratório Prof. José Célio

3) Uma mola de constante elástica k = 400 N/m é comprimida de 5 cm. Determinar a sua energia potencial elástica.

Densímetro de posto de gasolina


Bem-vindo ao curso delta Gerenciamento de peso para a versão 9.1. Este curso aborda a nova solução de peso introduzida nessa versão.

Escolha sua melhor opção e estude para concursos sem gastar nada

Os motores de CA podem ser monofásicos ou polifásicos. Nesta unidade, estudaremos os motores monofásicos alimentados por uma única fase de CA.

NOTAS DE AULA 01. Introdução. Movimentos lineares. Biomecânica: Introdução à Mecânica 1

A Equação de Bernoulli

Transcrição:

V.7. Noções Básicas sobre o uso da Potência e do Torque do Motor. V.7.1. Torque Quando você faz força para desrosquear uma tampa de um vidro de conservas com a mão, se está aplicando torque. O torque é calculado da seguinte forma: T = f.d Onde: T Torque (Kg.f) f força (Kg) d distância (m) Então, por definição, torque é o resultado da força aplicada multiplicado pela distância. O torque é, portanto, a força que produz ou tende a produzir rotação ou torção. Temos, portanto duas variáveis para calcular o torque: a força empregada (em quilogramas) e a distância (em metros) da alavanca em relação ao ponto de aplicação do esforço. Imagine-se tentando soltar uma porca que esteja travada. Você exerce uma força sobre a chave estrela e não consegue girar a porca. Nesse momento, você coloca uma alavanca na outra extremidade, segura essa alavanca no final e aplica a mesma força sobre a chave. Mas dessa vez a porca se solta com facilidade. Por que? Ora, ao colocar a alavanca no fim da chave, se aumentou a distância entre o local a exercer a força e o local onde você está exercendo essa força. Em resumo, aumentou a distância (d). Um exemplo: Digamos que você esteja usando uma chave estrela de 30cm para soltar uma porca. Na ponta oposta da chave, você está aplicando uma força de 5kg. Se aplicarmos à fórmula, temos que o torque que você está aplicando é de 1,5kg/f. Agora, se você colocar uma alavanca na extremidade da chave, que a aumente para 50cm e, aplicar a mesma força de 5Kg, terá (T = 5 X 0,50) 2,5kg/f. Da mesma forma, se quiser aplicar este torque de 2,5kg.f mantendo a chave de 30cm, terá que aumentar a sua força para aproximadamente 8,33kg. Figura 51. Chave fixa de comprimento b, sofrendo um momento (torque) F, atuando sobre um parafuso sextavado. Aplicando essa teoria em um motor, temos que, quanto maior o curso do pistão (entenda-se pelo movimento da biela do ponto morto inferior ao ponto morto superior), maior será o torque gerado por esse motor, devido ao comprimento da biela (alavanca). Como o torque é a força que produz rotação (no caso, do virabrequim), o motor já apresenta torque a partir de sua rotação mais baixa (marcha lenta). Esse torque sobre proporcionalmente à medida que a rotação do motor sobe, atingindo seu pico em

determinada rotação. Se a rotação continuar a subir após o pico de torque máximo, este tende a cair. Por que? O movimento do pistão está relacionado a queima de combustível. Quanto melhor esta queima (explosão), mais energia é gerada para empurrar o pistão para baixo (e gerar a rotação do virabrequim e conseqüentemente gerar o torque). Em uma rotação muito alta, os tempos de admissão e escape diminuem e, com isso, a queima não é tão perfeita, o que gera a perda de torque. Quanto menor for a rotação exigida para se alcançar o torque máximo, mais utilizável é o torque. Portanto, quando aceleramos a moto para atingir a velocidade desejada, estamos usando o torque; quando subimos um morro, estamos usando o torque. Figura 52. A explosão da mistura ar + combustível empurra o pistão (êmbolo) para baixo com uma fora (f), ocorrendo o torque (T) e rotação no Virabrequim (CBT, s/d). V.7.2. Potência Já a potência é a grandeza responsável pela manutenção da velocidade desejada, e o tempo necessário para alcançá-la. Portanto, a potência está relacionada a outras duas grandezas: velocidade e tempo. A potência, é determinada normalmente em cv (cavalo vapor) e tem um valor pré-fixado: 1 cavalo vapor é o equivalente a se suspender 75Kg, a um metro de altura, no intervalo de 1 segundo, ou seja, 1cv equivale à 75kg.m/s. A título de curiosidade, em 1769 o escocês James Watt inventou a primeira máquina a vapor que podia mover rodas. Watt queria demonstrar quantos cavalos sua máquina a vapor podia substituir. Para isso, era necessário saber a potência de um cavalo. Verificou-se que um cavalo podia elevar uma carga de 75 kg a um metro cada segundo, fazendo um trabalho de 75 kgm por segundo. Daí o nome o cavalo vapor. Para calcular a potência, precisamos ter os dados de muitas variáveis. Somente um teste em dinamômetro (a potência efetiva é obtida no volante do motor) pode fornecer com exatidão a potência gerada por um motor. Mas é possível estimar este valor. São diversos cálculos elaborados para se estimar a potência teórica (estimada com

base em propriedades físicas e consumo de combustível), potência indicada (estimada a partir da pressão sobre o pistão e das características dimensionais do motor). Tanto no teste do dinamômetro quanto no cálculo, o resultado é a quantidade de trabalho mecânico fornecido pelo motor em um instante. É desse resultado que se deduz a potência gerada. O trabalho mecânico é sempre composto dos dois fatores: Uma força que se mede em Newtons (N), que atua por impulso (pressão dos gases durante a explosão e em seguida, a expansão derivada dessa explosão) ou por tração; e um deslocamento do ponto de ação desta força. Este deslocamento é medido em metros na direção em que a força provoca o movimento (para baixo, empurrando o pistão). Portanto, a potência está relacionada a velocidade de queima do gases, ao alto regime de giros, e, portanto, ao pouco curso do pistão. E é o produto dos valores destas duas grandezas quem fornece a quantidade de trabalho efetuado, medido em Joules (J). Portanto, a potência é a rapidez com a qual um trabalho é realizado num determinado tempo. TORQUE E POTÊNCIA Para melhor tentar identificar o que é torque e o que é potência, imagine um atleta que corre os 100 metros rasos. Dada a largada, ele começa a tomar velocidade dando pisadas fortes no solo e com isso empurrando o corpo à frente. O que ele está fazendo é usar o seu torque. À medida que ele alcança a velocidade máxima que pode alcançar, as pisadas são mais leves, apenas para mantê-lo em frente naquela velocidade. Nesse momento ele está usando a potência. É possível ter em um motor torque e potência satisfatórios? A resposta é: não! Como vimos, o torque está associado a um curso grande do pistão, a baixa velocidade dos gases na explosão e na exaustão. Já a potência está relacionada a velocidade maior de explosão e eliminação dos gases e esta velocidade está relaciona ao pequeno curso do pistão. Um exemplo disso são os motores automotivos de 1.0 litro. No início tinham pouco mais de 50cv. Hoje em dia, rendem quase o dobro disso. A grande responsável por isso foi a utilização de cabeçotes multi-válvulas. Com mais válvulas, a passagem dos gases é mais rápida, gerando maior trabalho mecânico (impulso). Por outro lado, esses motores se mostram sofríveis no anda e pára do trânsito urbano, pois, justamente pela passagem rápida dos gases, (principalmente na exaustão) que não ficam na câmara o tempo suficiente para empurrar (com toda a força que ele pode gerar) o pistão para baixo. Daí também podemos concluir os motivos pelo qual o motor de 2 tempos é mais potente que o de 4 tempos e este último tem mais torque que àquele (baseando-se em motores de mesma cilindrada). O motor de 2 tempos, por não ter válvulas, suas janelas são abertas e fechadas pelo movimento do pistão. Como a janela de escape fica bem alta, assim que ocorre a explosão, o pistão é imediatamente empurrado para baixo e abrindo a janela de escape. Então os gases escapam antes do que deveriam, o que limita o torque do motor. As válvulas de escape utilizadas em motores mais modernos tentam inibir um pouco este defeito deste tipo de motor, ao fechar parcialmente a janela de escape em baixos giros e abrindo gradualmente a medida que os giros sobem. Estruturalmente falando, temos motores superquadrados, subquadrados e quadrados. Essas terminologias se referem a relação diâmetro X curso do pistão. Quando o diâmetro é maior que o curso (ambos medidos em milímetros), o motor é subquadrado, gerando mais torque; quando o curso é maior que o diâmetro, o motor é superquadrado, gerando mais potência. Um meio termo é o motor quadrado, quando as

medidas de curso e pistão são idênticas (ou muito próximas). Nessa configuração, o motor gera torque e potência, sem ser excepcional em nenhum deles. Outros pontos a serem analisados, são os dados de torque e potência fornecidos pelos fabricantes. Esses dados são apresentados em seus valores máximos para aquele motor. Note que junto com o valor, vem a que rotação o motor alcança aquela grandeza. Aliás, quanto mais plana for a faixa de torque e potência, ou seja, os valores se aproximam do máximo na maior faixas de rotações possíveis, melhores serão as respostas do motor. Figura 53. Curvas características de desempenho de um motor de combustão interna de êmbolos, como os utilizados em tratores agrícolas. A Figura 53 mostra um esquema das Curvas características de desempenho de um motor de combustão interna de êmbolos, similar àqueles que equipam os tratores agrícolas. Sabendo interpretá-la, pode-se economizar combustível durante o uso da máquina, além de proporcionar um incremento em sua vida útil. Observa-se, na Figura 53, que existe um ponto (4) que indica o menor consumo específico de combustível. Isso quer dizer que na rotação do motor correspondente a este ponto é onde se obtém a melhor condição de economia de combustível. No caso do exemplo, tal rotação é de 1850 rpm. A seguir, um exemplo da economia que seria possível obter considerando-se as informações da Figura 53. Quando se toma a rotação de consumo específico mínimo, o consumo horário (ponto 5) é de, aproximadamente, 12 litros de óleo diesel. Por sua vez, na rotação de potência máxima (2300 rpm) o consumo é de 16 litros por hora de trabalho. Isso significa dizer que, num dia de trabalho, com jornada de 8 horas, pode-se economizar 32 litros de combustível, utilizando-se da rotação de menor consumo, efetuando o mesmo trabalho mecanizado. Ao custo de R$ 1,60/litro de óleo diesel, tem-

se R$ 51,20, de economia, ao dia; ou R$6,40/ hora. Considerando-se que um tratar deve trabalhar 1000 horas durante o ano, a economia seria de R$6.400,00, valor este nada desprezível. E o importante é que, essa economia ocorre sem prejuízo da qualidade das operações agrícolas.