Abordagem Conceitual Cultura Popular



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UNESCOM - Congresso Multidisciplinar de Comunicação para o Desenvolvimento Regional São Bernardo do Campo - SP Brasil - 9 a 11 de outubro de 2006 - Universidade Metodista de São Paulo. Maracatu Nação na Nação Zumbi: estudo sobre a apropriação de elementos da cultura popular pela cultura de massa Gilmara Dias do NASCIMENTO - Universidade Federal da Paraíba Resumo Como objetivo analisar como a cultura de massa se apropria de elementos da cultura popular, neste trabalho delimitamos o campo de pesquisa e verificamos como a banda Nação Zumbi absorve elementos característicos do Maracatu Nação ou do Baque Virado como também é chamado. O Maracatu é uma representação de um desfile que leva às ruas a corte real negra com suas coroas, espadas e capas, estandartes bordados com fios dourados sobre veludo e cetim, as damas da corte levando calungas.todos ao som de um conjunto de instrumentos de percussão. Já a banda Nação Zumbi é uma das bandas precursoras do movimento Manguebeat que surgiu em Recife no início dos anos 90 com a intenção de misturar os ritmos das culturas locais com músicas produzidas em outros lugares do Brasil e do mundo. O Maracatu Nação se tornou para a Nação Zumbi um ponto de referência no momento de produzir os seus trabalhos. Na análise contatou se a presença marcante de instrumentos bem com de ritmos que são peculiares ao Maracatu Nação, assim como também a citação direta do folguedo nas composições da banda. Tais apropriações são tidas como positivas se observadas pela óptica de que através delas é possível fazer com que elementos da cultura popular sejam evidenciados. Palavras-chave: Cultura de massa. Cultura Popular. Maracatu. Manguebeat Introdução Esta pesquisa surgiu da necessidade de conhecer os atuais níveis de apropriação que a cultura de massa faz da cultura popular e vice-versa, especialmente como se dá esse processo entre o Maracatu do Baque Virado e a banda Nação Zumbi. A partir de 1538, período colonial, os negros foram trazidos de várias áreas da África para trabalhar como escravos no Brasil. Aqui mantiveram viva a sua essência esteja seja cantando, praticando sua religiosidade ou suas danças. No século XVIII, entre os negros, eram coroados no Recife os Reis e Rainhas de Angola. Dentre as nações de negros, a que mais se destacava dentro das associações das Irmandades de Nossa Senhora do Rosário

2 dos Homens Pretos e de São Bento, era a do Congo. Das tais coroações do Congo, que no Recife chegaram até o fim do século XIX, no decorrer dos anos foi surgindo o maracatu. Muitos anos depois do surgimento dos maracatus na capital pernambucana, é de lá que também que surge a banda Nação Zumbi. O grupo mistura acordes de guitarra e batidas eletrônicas aos baques do maracatu. Com as raízes na mesma terra, a Nação Zumbi se aproxima do maracatu do Baque Virado e se apropria de elementos, de características desse folguedo. Com o passar do tempo e o desenvolvimento dos meios de difusão de informação, a cultura que é produzida para a massa se utiliza traços que vêm do povo para, assim, se tornar algo diferenciado, via processo de refuncionalização. Este trabalho justifica-se pela necessidade de compreendermos a vivência da cultura popular em um contexto atual. Contexto esse que faz com que haja uma aproximação estreita do que é tradicional e do que é contemporâneo. Apesar de hoje viver em um momento de constantes surgimentos, inovações e renovações, a cultura popular consegue preservar suas características e elementos próprios. Preocupamo-nos em mostrar que, mesmo tendo elementos característicos extraídos pela cultura de massa, a cultura popular continua despertando o interesse de muitas pessoas e boa parte desse interesse teve como principal intermediador os meios de comunicação que difundem a cultura de massa. Ou seja, em uma via de mão dupla, a apropriação mútua é fator de sobrevivência tanto para quem apropria como para quem se deixa apropriar. Metodologia O estabelecimento das etapas metodológicas do presente projeto de pesquisa de forma sistemática é fundamental para que se alcance resultados positivos. Deste modo, realizamos um estudo de caso que, segundo O Sullivan (2001, p. 102) é uma observação de uma pessoa, um processo ou um evento social caracterizado por uma análise profunda, entrevistas e pesquisa empírica detalhada. Dentre os estudos realizamos pesquisa indireta que segundo Megale (1999) é uma pesquisa em que se procura obter as informações desejadas através de informantes e mesmo através da história escrita, da literatura, desenhos, gravuras e afrescos. Para a elaboração de nossa abordagem conceitual foram inúmeras pesquisas na internet, revistas e jornais em fim de obter mais informações sobre os temas que nos propom

3 os a analisar. Uma entrevista foi realizada com um dos autores que constam em nossas referências bibliográficas e com base no qual será feita a nossa abordagem conceitual. Em nosso trabalho também fizemos usos de materiais audiovisuais como CDs e DVDs que trazem as músicas da banda Nação Zumbi. A utilização desses meios audiovisuais dinamiza as novas técnicas de pesquisa e de coleta de dados, dando um suporte significativo. A banda possui 96 músicas gravadas em seus seis discos. Por isso, fizemos um recorte e centramos as nossas pesquisas em duas músicas da banda. São elas: Maracatu de Tiro Certeiro (1994) e Meu Maracatu Pesa Uma Tonelada (2002). Tais músicas foram selecionadas por, através delas, ser possível perceber fortemente elementos que mostram o maracatu em meio às batidas eletrônicas e sons de guitarras que não pertencem ao universo do maracatu, ou seja, elementos que foram tirados da cultura popular e incorporados ao universo da Nação Zumbi, produto da cultura de massa. Posterior a fase de coleta de dados, foi feita a análise do material, seguindo das transcrições e captação das partes que nos seriam úteis para a realização deste trabalho. Abordagem Conceitual Cultura Popular Quando se fala de cultura popular o próprio nome já nos dá o significado. Na visão de Downing (2002) a cultura popular é uma expressão autêntica das visões e aspirações do público, como a música e na arte folclóricas, e tem um inerente potencial de oposição. É uma cultura que pode ser definida como um impresso autêntico das versões e aspirações do público. A sua difusão é feita principalmente através do próprio povo através de seus costumes, crenças, hábitos, rituais sobrevivessem ao longo dos tempos. Tal sobrevivência nos permite (re) conhecer as origens de nossa gente e como se comportavam. Foi através dessa sobrevivência e transmissão cultural que dentre tantas manifestações da cultura popular brasileira que chegamos até o maracatu do baque virado 1, nosso objeto de estudo. 1 Segundo Katarina Real no livro O folclore no carnaval do Recife (Rio de Janeiro, 1967) o Maracatu do Baque Virado apresenta várias denominações, sendo o termo Nação o escolhido pela autora.ainda segundo a autora, esses grupos são descendentes de organizações de negros africanos dos séculos passados. Essas Nações nasceram da instituição mestra, implantada no Brasil pelos portugueses, da Coroação do Rei do Congo.

4 Folclore Não podemos falar de cultura popular sem falar também de folclore. Segundo Pellegrini Filho (1982) apud Luís da Câmara Cascudo: Todos os países do mundo, raças, grupos humanos, famílias, classes profissionais, possuem um patrimônio de tradições que se transmite oralmente e é defendido e conservado pelo costume. Vale ressaltar, porém, que o termo abrange muitos outros elementos que não necessitam, necessariamente, apenas da oralidade para ser transmitido como a dança e o artesanato. No Congresso na Bahia, em 1995, os especialistas elaboraram um documento com a proposta de fazer uma releitura da Carta do Folclore Brasileiro. No documento foi apresentado o seguinte conceito: Folclore é o conjunto das criações culturais de uma comunidade, baseado nas suas tradições expressas individual ou coletivamente, representativo de sua identidade social. Constituem-se fatores de identificação da manifestação folclórica: aceitação coletiva, tradicionalidade, dinamicidade, funcionalidade. Ressaltamos que entendemos folclore e cultura popular como equivalentes, em sintonia com o que preconiza a UNESCO. A expressão cultura popular manter-se-á no singular, embora entendendo-se que existem tantas culturas quanto sejam os grupos que as produzem em contextos naturais e econômicos específicos. 2 Antes mesmo de o termo folclore ser tido como equivalente de cultura popular pela UNESCO, Luís da Câmara Cascudo (in PELLEGRINI FILHO, 1982, p. 14) já especifica o termo fazendo utilização do termo que se refere à cultura oriunda do povo: Cultura do Popular, tornada normativa pela tradição, unidade funcional do heterogêneo pelo exercício consuetudinário. Utilizaremos essa concepção de equivalência conceitual em nossas análises. Cultura De Massa Na sociedade atual os grupos se aglomeram por proximidades. No entanto, devido à dispersão e diferenças que também existem, a comunicação direta se torna pouco eficaz. É preciso a utilização de meios que permitam que um número maior de pessoas, de grupos diferentes, receba a mensagem transmitida. Chegamos à comunicação de massa e é através dela que os valores culturais projetados às massas serão disseminados. 2 Carta do Folclore Brasileiro em XI Congresso Brasileiro de Folclore, 19 a 22 de outubro de 2004, em Goiânia GO.

5 No discurso de Morin (1984) cultura de massa é uma cultura que é produzida segundo as normas maciças de fabricação industrial propagada pelas técnicas de difusão maciça destinando-se a uma massa social, ou seja, a cultura de massa seria o produto das indústrias comerciais de publicidade, rádio e teledifusão, cinema e mídia impressa. O novo contexto da Folkcomunicação segundo Roberto Benjamin Foi depois de observar que os agentes comunicadores que não faziam parte do sistema convencional de comunicação possuíam meios de transmissão de sua mensagem com características folclóricas, em 1965, que Luiz Beltrão se tornou pioneiro no uso da nomenclatura folkcomunicação. O termo estuda o intercâmbio de informações e opiniões de grupos marginalizados, através de agentes e meios que estejam, ou não, diretamente ligados ao folclore sendo, assim, um processo semelhante aos tipos de comunicação interpessoal. Posteriormente e inspirados no trabalho de Beltrão vieram muitos outros pesquisadores e estudiosos da cultura popular embasados nos seus estudos buscaram novos olhares, novas nomenclaturas no contexto da sociedade contemporânea. Em nosso trabalho destacamos o pesquisador Roberto Benjamim. Já no primeiro capítulo do seu livro Folkcomunicação no contexto de massa (João Pessoa: Editora Universitária/UFPB, 2000) Benjamim afirma que Beltrão constatou que uma grande massa da população não estava exposta ao sistema convencional de comunicação. Se levarmos em consideração que a tese de Beltrão é de 67 e fica difícil conceber, depois de quase quarenta anos, que ainda seja possível encontrar uma grande massa da população que não tenha sido exposta ao meio convencional de comunicação. É com esse ponto de partida que Benjamim apresenta uma reformulação do conceito inicial de Beltrão e elabora uma nova forma de sistematização do estudo da folkcomunicação. Nossa pesquisa foi feita com base no conteúdo em um ponto que trata da apropriação de elementos da cultura folk pela cultura de massa. Através dele, pretendemos identificar os traços da cultura popular que foram absorvidos pela cultura de massa. Como objeto de estudos analisamos o que foi retirado do maracatu do Baque Virado pela banda Nação Zumbi

6 OBJETO DE ESTUDO MARACATU Para ordenar a administração dos negros trazidos como escravos no período colonial brasileiro, os colonizadores portugueses incentivaram a instituição de reis e rainhas negros protegidos pelas irmandades de N.S. do Rosário e São Bento. Dentre os costumes africanos detectados em terras brasileiras no século XVIII estava a festa de coroação de reis negros eleitos e nomeados na instituição do Rei do Congo. A coroação e posse dos eleitos se dava no dia de Nossa Senhora do Rosário. Depois da coroação, era hora de festejar com danças, bebidas e comidas. No decorrer dos anos, através desses costumes, foi surgindo o maracatu. Os grupos administrados por governadores negros que participavam dessas festas profano-religiosas receberam a nomenclatura Nação, surgindo, assim, a denominação de Maracatu Nação para esse tipo de festejo. Maracatu do Baque Virado A julgar pelos registros históricos o Maracatu do Baque Virado 3, dentre os tipos do folguedo registrados, teria sido o primeiro a ser criado. Apesar de intimamente ligado ao candomblé, o maracatu do Baque Virado se origina de uma festividade católica representando as procissões. Os trajes seguem à moda da Corte Portuguesa dos tempos coloniais, associamse músicas e danças africanas, e elementos da religiosidade nagô. Uma das principais e mais marcante característica desse maracatu é presença de instrumentos musicais como bombo, zabumba, tarol dentre outros exclusivamente de percussão, não sendo permitido, assim, a utilização de instrumentos de sopro, por exemplo. Segundo Katarina Real (1967), este maracatu também é caracterizado pela presença do Rei e da Rainha, que desfilam sob uma grande sombrinha ornamentada, e de sua corte, a presença de uma calunga 4 ou boneca de madeira preta. A ela é dedicada grande parte das 3 Em Maracatus do Recife, Guerra Peixe explica com detalhes o significado de baque: Um sinônimo para toque é baque. Nos antigos maracatus participam infalivelmente mais de um zabumba no mínimo três. Por isso o seu ritmo de percussão é chamado toque dobrado ou baque dobrado. Dessas expressões, toque virado é a que se ouve pronunciar maior número de vezes, opondo-se à designação toque solto dos Maracatus de - Orquestra, em que participa apenas um zabumba. 4 Dentre os elementos típicos do Maracatu do Baque Virado, a calunga é um dos mais estudados. Guerra-Peixe e Mário de Andrade, por exemplo, foram dois autores que fizeram um estudo detalhado da calunga e cada um fez observações distintas sobre tal boneca. Um dos pontos distintos entre os autores era em relação ao sexo da calunga. Guerra-Peixe afirma que a boneca do maracatu não era fixamente do sexo feminino como afirma Andrade, pode ser de um ou de outro. A quantidade de calungas depende de cada grupo.

7 músicas e danças, pois se acredita que são elas que detêm os segredos e mistérios do folguedo. Maracatu do Baque Solto Com o passar do tempo não somente os negros participavam do cortejo do Maracatu do Baque Virado, mas também mestiços e brancos. Mas mudanças não ficaram restritas às características dos componentes. A diversidade passou a surgir também na musicalidade do maracatu, o que fez com que um novo tipo surgisse. Segundo Guerra-Peixe (1981) desenvolveu-se uma orquestra própria, com mudança de instrumentos de percussão e com acréscimo de alguns de sopro como trombone, o trompete e o clarinete. As melodias também adquiriram novas características que não tem relação com a África. Tanto podem evocar sua glória individual do mestre que é quem faz as declamações de improviso, quanto podem louvar a beleza de sua cidade ou a bravura de seus caboclos.o Maracatu de Baque Solto, segundo a pesquisadora Katarina Real (1967, p.85), é "uma fusão de elementos de vários folguedos populares existentes(...)no interior pernambucano", sobretudo nos engenhos de cana-de-açúcar da Zona da Mata Norte de Pernambuco, principalmente em Nazaré da Mata no início do século XX. Assim como no Maracatu de Baque Virado, no de Baque Solto também é possível encontrar a presença da calunga. Só que nesse tipo de maracatu a boneca é feita de pano branco, diferente da boneca de madeira encontrada no Maracatu Nação. A Nação Zumbi com e sem Chico Science Foi no início dos anos 90, sob narizes retorcidos da sociedade conservadora da capital de pernambucana, que surgiu o movimento Manguebeat 5. Não é difícil imaginar de onde tenha surgido a inspiração para este nome uma vez que o Recife no seu sistema ambiental se encontra envolta de manguezais. Tal denominação foi dada por Francisco de Assis França, conhecido no cenário musical nacional e internacional como o cantor e compositor Chico Science. Em entrevista para o jornal A Tarde, de Salvador (in TELLES, 2000, p. 330) Chico Science explica as pretensões e fala das características do manguebeat: 5 Originalmente o nome do movimento era bit e depois é que passou a se chamar beat.

8 Se a gente for tocar maracatu do jeito que ele é, a galera vai pegar no nosso pé. Então a idéia básica do manguebeat é colocar uma parabólica na lama e entrar em contato com todos os elementos que você tem pra fazer uma música universal. Isso faz com que as pessoas futuramente olhem para o ritmo como eles eram antes. Em 1993 Chico Science & Nação Zumbi fecharam contrato com uma gravadora e no ano seguinte foi lançado o primeiro disco Da Lama ao Caos (1994). O segundo disco da banda foi lançado em 1996. O Afrociberdelia 6 contou com a participação de Gilberto Gil com quem também dividiram durante um show no Central Park em Nova York. No carnaval do ano seguinte, noite do dia 2 de fevereiro, Chico Science sofreu um acidente de carro em Recife e morreu aos 30 anos. Depois da morte de Science, os integrantes da banda continuaram trabalhando e logo em 1998 foi lançado álbum duplo "CSNZ" (Sigla que significa Chico Science e Nação Zumbi, ou seja, ainda vinculado ao nome do ex-líder), incluindo um CD de músicas inéditas e ao vivo e um outro de remixes. Mesmo sem um dos inventores Manguebeat, a banda continuou os trabalhos. Em 2000, o grupo gravou "Rádio S. AMB. Dois anos depois foi a vez de gravar o disco que leva o nome da banda, Nação Zumbi. Por mais que guitarras e sons eletrônicos apareçam nas músicas da banda, os sons e as temáticas locais também estão sempre presentes. Em 2006, a banda lançou mais um disco, o Futura, seu sexto álbum, uma espécie de síntese dos treze anos de carreira, mas é também um produto musical que apresenta uma característica mais eletrônica que os discos anteriores. No palco a apresentação da banda pôde ser registrada em um DVD gravado na cidade de São Paulo. Ao vivo, o repertório mescla todas as fases da banda e consegue fazer com que o público participe calorosamente do espetáculo. O Maracatu Nação na Nação Zumbi: Apropriações Além destes ritmos que já estão há muito incorporados às raízes pernambucanas como o coco, a ciranda, o forró, o frevo e o maracatu, dessa terra também brotam outros ritmos. Assim foi como som que surgiu do mangue e deu origem ao Manguebeat. 6 Afrocibedelia é uma palavra criada pelo ex-cartunista de jornais pernambucanos, Paulo Santos. A palavra é um híbrido de África, como raiz cultural, cibernética, representando os elementos digitais-eletrônicos e pscicodelia, relativo à mente, aumento de percepção.

9 A afirmação de que a banda Nação Zumbi utiliza elementos da cultura do povo vem do próprio vocalista da banda, Jorge Du Peixe, em entrevista a revista Raiz (Novembro de 2005, p. 42): Estávamos interessados nos sons do (maracatu de) baque virado, que é mais urbano, mais solto. Queríamos a evolução, é importante salientar isso, e a nossa apropriação do maracatu foi como referência. Para a realização de nossa pesquisa foram selecionadas duas músicas da Nação Zumbi: Maracatu de Tiro Certeiro, música do primeiro CD da banda o Da Lama ao Caos, de 1994 e Meu Maracatu Pesa uma Tonelada de 2002. O primeiro disco gravado por Chico Science e Nação Zumbi, Da lama ao Caos é de 1994. Neste disco, os elementos e personagens da cultura popular também são facilmente identificados nas letras das músicas desse disco. Alguns deles já vêm expressos nos títulos das canções como Salustiano Song 7, Coco Dub e Samba Makossa. Como é possível verificar, estes elementos extraídos da cultura popular nunca se apresentam sozinhos. Eles aparecem miscigenados com sons produzidos por instrumentos eletrônicos que, em muitos dos casos, são produzidos em culturas estrangeiras ou que não sejam diretamente ligadas ao povo. Assim também acontece com a música Maracatu de Tiro Certeiro, uma das músicas de nossa análise.o nome do folguedo não aparece apenas no título da canção. Ao ouvir a música é possível identificar o ritmo e os instrumentos que são utilizados nos desfiles do Maracatu de Baque Virado se misturando com os sons de instrumentos de cordas e eletrônicos usados pela banda. No Maracatu, o primeiro instrumento a fazer a entrada pode ser o tarol ou o gongué 8. A música Maracatu de Tiro Certeiro também começa com o solitário gongué, assim como pode acontecer no Maracatu Nação. Em seguida vão se unindo a ele sons de berimbau e guitarras, bem como os tambores e tarol que são usados na percussão das orquestras de maracatu. Nos trechos da música onde não ouvimos a letra é possível verificar com mais clareza os ritmados instrumentos do Maracatu de Baque Virado. 7 Fazendo referência ao rabequeiro pernambucano Manoel Salustiano Soares, o mestre Salu. Grande conhecedor da cultura popular de seu estado, mestre Salu é considerado um dos maiores rabequeiros do país tanto no fabrico quanto na execução do instrumento. Ele é mestre do Maracatu de Baque Solto Piaba de Ouro, da Zona da Mata de Pernambuco. 8 O gongué é um instrumento que dá ritmo. É formado de duas campânulas de ferro de tamanhos diferentes, unidas por cabo em forma de U, e que se percutem com vareta também de ferro. Nas cerimônias dos Xangôs esse mesmo instrumento é denominado agogô. Segundo Guerra-Peixe (1981) No maracatu as dimensões do instrumento são maiores, a fim de que, produzindo sons mais fortes, possa fazer frente à intensidade dos zabumbas tambores maiores que os tambores dos terreiros.

10 Neste Maracatu de Tiro Certeiro as toadas de maracatu que, segundo Guerra-Peixe (1981, p. 47) tem como predominância temas como Luanda, Reis, Calunga e Dança, dão lugar a letras cujo tema, como o próprio título já traz, são tiros e balas. Da fonte musical de inspiração restaram apenas os instrumentos de percussão. A segunda música de nossa análise mostra que os elementos da cultura de raiz ainda estão presentes nas composições da banda, mas também já é possível perceber certo um distanciamento das manifestações populares, bem como das características iniciais da banda. Meu Maracatu Pesa Uma Tonelada Carrego pr'onde vou o peso do meu som / Lotando minha bagagem / Meu maracatu pesa 1 t de surdez / E pede passagem / Meu maracatu pesa 1 t/ Sempre foi atômico/ Agora biônico, eletro-soulsônico / Alterando as batidas / No azougue pesado / Em ritmo crônico / Tropa de todos os baques existentes / De longe tremendo e rachando os batentes / Mutante até lá adiante / Pois a zoada se escuta distante / Levando o baque do trovão / Sempre certo na contramão / Meu maracatu pesa 1 t Em Meu Maracatu Pesa Uma Tonelada, faixa do CD que leva o nome da banda, lançado 2002, além dos tambores característicos do Maracatu Nação mesmo diluído em meio a batidas eletrônicas e sons de guitarras, percebemos na letra que o folguedo influencia a produção musical do grupo. Nesta letra os compositores também apresentam como é a música que fazem. No trecho Carrego pr'onde vou o peso do meu som lotando minha bagagem. Meu maracatu pesa 1 tonelada de surdez e pede passagem, podemos observar a presença do pronome possessivo meu, ou seja, o maracatu que lota a bagagem não é o maracatu tradicional. O maracatu feito pela banda é mais pesado pela intensidade do som que é mais forte que o Maracatu Nação, já que além de instrumentos de percussão a banda utiliza instrumentos eletrônicos. É também fazendo referência aos instrumentos eletrônicos que compões a música produzida pela banda que o compositor explica que o seu maracatu mudou: Sempre foi atômico, agora biônico, eletro-soulsônico. Alterando as batidas no azougue pesado em ritmo crônico. O trecho sempre foi atômico se refere à versão feita por Chico Science de Maracatu Atômico no CD Afrociberdelia de 1996 - música de autoria de Jorge Mautner e Nelson Jacobina, grande sucesso na voz de Gilberto Gil na década de 70. Já o

11 complemento agora biônico, eletro-soulsônico mostra que a banda está se propondo a fazer algo diferente do que a banda fazia no início da carreira. O maracatu produzido por eles, não é mais o maracatu de antes. Agora, ele é diferente, é um ritmo que carrega novas características que passam principalmente pelo campo da eletrônica. Em Tropa de todos os baques existentes de longe tremendo e rachando os batentes, percebemos a afirmação de que a banda se apropria de elementos da cultura popular. Quando se refere a todos os baques subentende-se estar falando tanto do Maracatu de Baque Virado como o de Baque Solto. Mutante até lá adiante, pois a zoada se escuta distante levando o baque do trovão sempre certo na contramão é mais uma afirmação de que o material que é produzido pela banda se propõe a ser diferente do que existe primordialmente. Apresentamos, a seguir, um quadro resumindo os níveis de apropriação registrados pela Nação Zumbi X Maracatu: Quadro 02: Músicas Elementos da Marcas das Comentários cultura popular apropriações - Instrumentos de - Utilização de alguns - Além do nome, a percussão que são dos instrumentos banda também utiliza utilizados nas utilizados nos elementos Maracatu de Tiro orquestras do Baque desfiles do Maracatu característicos deste Certeiro Virado do Baque Virado folguedo nas composições. - Instrumentos de -Utilização de alguns - Além de utilizar percussão que são dos instrumentos instrumentos utilizados nas utilizados nos característicos do orquestras do Baque desfiles do Maracatu Maracatu do Baque Virado de Baque Virado Virado, a banda também expressa Meu Maracatu Pesa - Maracatu do Baque - Citação dos que tal folguedo uma Tonelada Virado e do Baque folguedos populares também está Solto como parte da presente junto com produção da banda. outros elementos

12 Fonte: Pesquisadora que não são originalmente populares. A utilização deste quadro se fez de grande importância para que através dele pudéssemos visualizar melhor os níveis de apropriação que foram encontrados na pesquisa. Como podemos verificar, nas duas músicas escolhidas para a análise é marcante a presença de elementos característicos ou indícios de que o Maracatu do Baque Virado é utilizado pela banda como referência nas produções das músicas. Em Maracatu de Tiro Certeiro a apropriação feita do Maracatu do Baque Virado é em relação aos instrumentos de percussão que foram utilizados na música. Eles são tocados de forma a reproduzir os sons que são produzidos durante os desfiles deste maracatu. Já na música Meu Maracatu Pesa uma Tonelada também é possível verificarmos a presenças dos instrumentos de percussão tal qual nas outras músicas. Considerações Finais O maracatu é uma representação de um desfile da corte real negra e obedecendo ao estilo das procissões católicas.os grupos levam às ruas da cidade do Recife, principalmente durante o período do tríduo momesco, estandartes bordados, a nobreza com as suas coroas, cetros, capas, as damas da corte levando calungas, todos ao som de um conjunto de instrumentos de percussão. No mesmo cenário, também em terras pernambucanas, surgiram grupos que se propunham a mudar o estado de inércia musical e artística em que se encontrava o Estado. Foi no início dos anos 90 que surgiu o que foi chamado de movimento Manguebeat. Dos mangues que se espalham por Recife veio a inspiração para o nome do movimento que tinha como símbolo uma antena parabólica enterrada na lama. O objetivo era se conectar com o mundo e enviar a cultura e música produzida por eles para outros lugares. Uma dos grupos musicais que deram o pontapé inicial no Manguebeat foi a banda Nação Zumbi. Observando os discos da banda Nação Zumbi com a presença de Chico Science e sem ele é fácil notarmos uma diferença. Os dois primeiros discos da banda (Da Lama ao Caos e Afrociberdelia) ainda com a presença do cantor os ritmos locais e instrumentos caracteríscos como os tambores e triângulos, pandeiro, são mais perceptíveis. Nos demais trabalho, existe ainda a mistura com elementos que da cultura nordestina, mas

13 especificamente a pernambucana. Porém, esses elementos passam a ser quadjuvantes dentro do cenário da música produzida pela banda. Podemos dizer, portanto, que a banda Nação Zumbi, um produto da cultura de massa, passa a se utiliza de elementos oriundo da cultura do povo para fazer o trabalho a que se propunham. Um dos elementos mais expressivos existentes na cultura popular de Pernambuco, o Maracatu de Baque Virado, foi também um dos folguedos com maior significância para a produção musical da banda. Na Nação Zumbi, três tambores fazem parte da composição da instrumentação da banda. Tambores que fazem soar os mesmos baques que se ouve em um desfile de Maracatu. A principal diferença é que aos instrumentos de percussão são acrescidos instrumentos de corda elétricos e outros aparelhos também eletrônicos. A Nação Zumbi se apropria de elementos do Maracatu de Baque Virado para fazer o seu próprio maracatu. É importante observar que a banda não pretende dar nome de cultura popular ao produto que elabora. A cultura popular é um ponto de referência, uma fonte de onde são extraídos elementos que compõe a sua produção. As temáticas dos antigos maracatus foram substituídas pelas questões do cotidiano dos que compuseram as letras. Segundo a letra Meu Maracatu Pesa Uma Tonelada eles fazem um maracatu pesado. Mas não podemos dizer que a música que é produzida pela banda Nação Zumbi seja, de fato, um maracatu como os que encontramos registrados nos livros ou os que se mantém vivos através dos tempos. A banda se apropria de elementos deste folguedo em suas composições. Segundo o próprio Chico Science como uma forma de resgatar e preservar o folguedo, a cultura popular. Percebemos, portanto, que a banda Nação Zumbi utiliza instrumentos que são característicos do Maracatu de Baque Virado, bem como elementos que fazem parte dele em suas composições. É importante observarmos que a música que é feita pela banda não pretende reproduzir o maracatu. O folguedo serve como referência para as músicas que são produzidas. Os trabalhos se apropriam dele para fazer parte de músicas que se propõem a mesclar elementos da cultura popular com traços eletrônicos e de outros gêneros musicais. Vemos tal apropriação como algo positivo por acreditarmos que através dela é possível fazer com que os folguedos, os costumes do povo não sejam esquecidos. Ao entrar em

14 contato com a mistura de elementos em um determinado produto é possível que as pessoas procurem conhecer mais cada um separadamente. Referências Bibliográficas BELTRÃO, Luiz. Folkcomunicação A comunicação dos marginalizados. São Paulo: Cortez, 1980. Folkcomunicação: um estudo dos agentes e meios de informação de fatos e expressão de idéias. Porto Alegre: EDIPURS, 2001. BENJAMIN, Roberto Emerson Câmara. Folkcomunicação no contexto de massa. João Pessoa: Editora Universitária/UFPB, 2000 CASCUDO, Luís da Câmara. Dicionário do folclore brasileiro. Rio de Janeiro, Ministério da Educação e Saúde, Instituto Nacional do Livro, 1954. Antologia do folclore brasileiro. São Paulo: Martins, 1965 DOWNING, John D. H. Mídia Radical: Rebeldia nas comunicações e movimentos sociais. São Paulo: SENAC, 2002 GUERRA PEIXE, César. Maracatus do Recife. São Paulo: Ricordi, 1955 2ed. São Paulo: Irmãos Vitale; Recife: Fundação de Cultura do Recife, 1981 MAGALE, Nilza B. Folclore brasileiro. Rio de Janeiro: Editora vozes, 1999 MORIN, Edgar. Cultura de massa no século XX: o espírito do tempo: tradução de Maura Ribeiro Sardinha. 6ª ed. Rio de Janeiro, Forense Universitária, 1984 O SULLIVAN, Tim. Conceitos-chave em estudos de comunicação e cultura, por Tim O sullivan e outros. Tradução de Margaret Griesse e Amós Nascimento.Piracicaba: Editora Unimep, 2001 PELEGRINI FILHO, Américo. Antologia do folclore brasileiro. São Paulo: EDART; (Belém): Universidade Federal do Pará; (João Pessoa): Universidade Federal da Paraíba, 1982 REAL, Katarina. O folclore no carnaval do Recife. Campanha de defesa do folclore brasileiro, MEC, Rio de Janeiro, 1967 SODRÉ, Nelson Werneck. Síntese de história da cultura brasileira. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1999 TELES, José. Do frevo ao manguebeat. São Paulo: Ed.34, 2000