VII ENCONTRO ENSINO EM ENGENHARIA PROGRAMA COOPERATIVO CAPACITAÇÃO DO PROFESSOR DE ENGENHARIA: IMPLANTAÇÃO DO PROJETO OFICINA DE PROFESSORES NA UFF Maria Helena Campos Soares de Mello - mhelenamello@netscape.net Universidade Federal Fluminense Departamento de Engenharia de Produção Marcos da Rocha Vaz - marcosvaz@alternex.com.br Universidade Federal Fluminense Departamento de Engenharia Elétrica Fabiana Rodrigues Leta - fabiana@ic.uff.br Universidade Federal Fluminense Departamento de Engenharia Mecânica João Carlos Correia Baptista Soares de Mello - jcsmello@yahoo.com.br Universidade Federal Fluminense Departamento de Engenharia de Produção Grupo de Estudos Sobre Educação Tecnológica GESET - UFF Resumo: A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), com suas inovações tais como as Diretrizes Curriculares, desencadeou uma grande discussão no âmbito dos cursos de Graduação. Particularmente, no caso dos cursos de Engenharia da UFF, as questões relacionadas com a capacitação dos professores, sua formação pedagógica e metodologias de ensino, levaram à formação de um grupo para discutir estes temas. Daí surgiu o Grupo de Estudos Sobre Educação Tecnológica (GESET), que no ano de 2000 iniciou uma experiência, abrindo uma discussão que levou a um projeto de capacitação do Professor de Engenharia na UFF. O objetivo deste trabalho e relatar a efetiva implantação do projeto Oficina de Professores, seus avanços, suas dificuldades e suas perspectivas. O trabalho começa com um breve histórico das experiências do ano 2000, passa pelas ações realizadas em 2001 e chega a intenções e perspectivas para 2002. O trabalho não é conclusivo; pelo contrário, ele leva a novas questões na inesgotável busca da melhoria do processo ensinoaprendizagem. Palavras-chave: Capacitação docente, Ensino-aprendizagem.
1. INTRODUÇÃO UM BREVE HISTÓRICO Durante muito tempo tem sido comum conversar a respeito das preocupações com a formação pedagógica do professor de Engenharia. Especialmente quando o grupo é formado por Coordenadores de Curso de Graduação, pois estes sentem na pele as dificuldades de terem que lidar, junto com os alunos, com os efeitos desta falta de formação. A maior parte dos professores que atuam hoje em dia na formação dos alunos de engenharia tiveram uma formação pedagógica heterodoxa, ou seja, aprenderam fazendo, na prática diária das salas de aula e laboratórios ou, quando muito, aprenderam a teoria fazendo cursos por iniciativa própria, lendo livros ou dividindo suas angústias com colegas de outras áreas. Pode-se dizer que são autodidatas, tendo por orientação apenas o senso comum. Tem funcionado? Por ousadia pode-se dizer que sim. Cada vez fica mais distante a figura do engenheiro que dá aula. Deseja-se professores de engenharia que, dentre outras características sejam dotados de grande conhecimento técnico-científico mas também sejam capazes de incentivar os alunos a buscarem este conhecimento além de formar plenamente o cidadão engenheiro, um profissional competente tecnicamente, mas crítico e ético; empreendedor mas atento às necessidades da sociedade. Assim, em agosto de 2000 formou-se o Grupo de Estudos Sobre Educação Tecnológica (GESET) que pretendia, ao fazer estudos sobre a educação tecnológica, caminhar nas direções apontadas acima. No início de 1999 já havia sido tentado através da Pró Reitoria de Assuntos Acadêmicos (PROAC) um treinamento de professores da Escola de Engenharia, ministrado pela Faculdade de Educação [1]. Ao final, verificou-se que esta integração (Escola de Engenharia-Faculdade de Educação) não estava suficientemente amadurecida e os resultados não foram muito relevantes. Mas a semente estava lançada. Foi a partir daí que alguns professores começaram a participar de Congressos e Encontros relacionados com o Ensino de Engenharia, percebendo sua importância e entendendo que Ensino de Engenharia é uma especialidade. Daí, surgiu o GESET e com ele a Oficina de Professores. O GESET nasceu do encontro de pessoas preocupadas com a situação em que se encontra o relacionamento professor-aluno, com o descompromisso de muitos professores, com a normalidade de altos índices de reprovação e com a falta de motivação e até mesmo evasão de um número significativo de alunos dos cursos de Engenharia. As diretrizes curriculares e as avaliações externas serviram de pretexto, por facilitar o envolvimento de alguns professores que normalmente não estariam envolvidos. Neste novo contexto, preocupações com a didática e com a metodologia passaram a ser relevantes. Obviamente o surgimento sistemático do GESET não foi imediato. Conversas, trocas de artigos dos COBENGE s, discussões de situações vividas pelos professores, problemas trazidos pelos alunos às Coordenações de Curso, tudo conduzia à necessidade de alguma ação mais incisiva e organizada. Após a sua formação, o grupo iniciou estudos de avaliação. A preocupação era precisamente como pesquisar entre os alunos e professores sobre a situação do ensino-aprendizagem, conciliando dados numéricos com opiniões. Daí surgiu o primeiro trabalho coletivo [2]. No entanto, não era este o único objetivo e surgiu a idéia de disseminar as dificuldades, revivendo o projeto de treinamento de professores. Não se tinha ainda opinião formada com segurança sobre o que de fato poderia ser feito. O que se pretendia era algo que fosse iniciativa de professores da Engenharia, evitando o rótulo de Educação, que poderia afastar alguns. Projeto, oficina, treinamento, dinâmica? Tinha-se a clareza que, inicialmente, o grupo que participaria seria pouco mais do que o GESET, mas a intenção era começar e a expansão dar-se-ia aos poucos. Pensou-se em princípio, em agregar todos os Coordenadores dos cursos de Graduação em Engenharia e os Chefes dos Departamentos que oferecem créditos aos cursos de Engenharia, mesmo sabendo dos riscos da discussão ficar polarizada em problemas particulares ou muito específicos do dia-a-dia. A motivação extra está relacionada com a necessidade iminente das reformas curriculares nos cursos de Engenharia. Estas reformas, que
devem ser feitas à luz das Diretrizes Curriculares, para serem de fato implementadas exigem professores com uma nova visão, uma nova postura e o mais importante: uma nova prática docente. Os novos currículos não podem mais ser apenas reformulações nas grades curriculares (fluxogramas) mas contemplar uma filosofia, dentro de um amplo projeto pedagógico. Daí surgiu a idéia de um projeto de Capacitação de Professores a partir de Seminários ou Painéis, com textos para discussão, com convites a palestrantes ou painelistas, para pequenos grupos que fariam o papel de multiplicadores. Já no VIEEE (novembro de 2000) foi apresentado um trabalho com esta proposta [1]. 2. AÇÕES REALIZADAS EM 2001 No início de 2001, o Grupo entendeu que era o momento de partir para ações mais concretas, dando início à estrutura do projeto. O primeiro passo, antes mesmo de definir a metodologia, era ter uma visão clara do objetivo a ser alcançado. Embora já se tivesse uma sensibilidade deste objetivo, era necessário formalizá-lo. Após muitas discussões, o objetivo poderia ser sintetizado da seguinte forma: Deseja-se a formação integral do engenheiro para a sociedade do século XXI. Para isto, dentro dos contornos das diretrizes curriculares que nortearão os novos currículos, os projetos pedagógicos deverão sair dos documentos formais para serem vivenciados verdadeiramente nas salas de aula, laboratórios, bibliotecas e com isto propiciar formação diferenciada aos nossos alunos. E para que isto aconteça, é imprescindível atingir inicialmente os Professores de todas as disciplinas e de todos os departamentos que oferecem disciplinas para cada curso. Naturalmente, o termo atingir não tem sentido bélico, mas de conscientização da necessidade de pensar na questão, discuti-la, negá-la até se for o caso, mas não ficar omisso. Se os professores não estiverem engajados no processo e dispostos às mudanças de mentalidade e comportamento, nenhuma ação poderá ter sucesso. Neste caso, pode-se dizer, inclusive, que se estaria retrocedendo, pois os alunos, cada vez mais conscientes das transformações que ocorrem no mundo e da sociedade, com acesso à informação e ao conhecimento, querem uma formação que lhes permita passar ao comando destas transformações. Uma vez definidos os objetivos, partiu-se para a metodologia de implantação, que foi denominada OFICINA DE PROFESSORES : pequenos grupos de professores interessados, com a participação integral do GESET, reunir-se-iam para discutir temas cuidadosamente escolhidos em encontros regulares de aproximadamente duas horas com intervalos de duas semanas. A idéia era apostar no efeito multiplicador, em que a cada sessão um professor traria mais um e as idéias passariam a ser disseminadas nos Colegiados de Curso, plenárias departamentais, etc. A forma de operacionalização surgiu com a implantação da disciplina Estágio em Docência [3]. Esta atividade, obrigatória para os bolsistas de Mestrado da CAPES, seria realizada junto com a Oficina de Professores. Esta integração tem duas intenções: a primeira é o fornecimento de massa crítica de forma a evitar o risco de baixa freqüência às palestras programadas. A segunda é mostrar a estes alunos que serão professores (muitos já o são) a integração entre as disciplinas técnicas e o Ensino de Engenharia, além de transformar esta atividade obrigatória em um espaço de discussão em torno da Educação em Engenharia, ampliado para os professores interessados. Após demoradas discussões filosóficas e acadêmicas, concluiu-se que havia a necessidade de resolver problemas práticos. Como convidar pessoas sem a existência do grupo? Apesar do reconhecimento e do aval da direção do Centro Tecnológico, que tem apoiado todas as atividades propostas pelo GESET, tornava-se necessário formalizar a existência do grupo para que se pudesse pleitear o mínimo de infra-estrutura. Por um lado para manter os professores do grupo atualizados sobre as discussões referentes ao assunto, o que permitiria escolher temas e debatedores capazes de multiplicar por um número maior que um a platéia. Por outro lado, viabilizar a participação nos Congressos e pesquisas na Internet. Desta forma, decidiu-se registrar o GESET como um projeto de Pesquisa e a atividade da OFICINA como um projeto de Ensino.
A partir daí, houve forte participação de professores da Escola de Engenharia da UFF no XXIX COBENGE, além de uma crescente participação em outras atividades ligadas ao Ensino de Engenharia, como os Fóruns de Coordenadores, formais ou informais. A Oficina teve início em agosto, com o início do período letivo e a programação apresentada foi a seguinte: Convidado Atividade Tema Presentes Prof. Iduína Mont Alverne Braun Chaves Coordenadora do Curso de Pedagogia da UFF O Paradigma da Complexidade no Ensino de Engenharia 9 Prof. Jorge Luiz do Nascimento e Fernando Antônio Sampaio de Amorim Prof. Wanderley Moura Rezende Representantes do Programa Cooperativo de Educação em Engenharia UFRJ/UFJF Prof. do Instituto de Matemática da UFF Mestre em Educação Matemática, Doutorando em Educação Educação em Engenharia: uma especialização De Arquimedes a Robert Reich: uma visão epistemológica da formação do Engenheiro 14 9 Ainda estão previstos mais quatro encontros até o final do período letivo. É de ressaltar o número até significativo de participantes, considerando o período em que as atividades tem se desenvolvido. Um ponto interessante é que em cada encontro, verificou-se a presença de algum professor que ainda não havia comparecido. É importante ressaltar que durante todo o ano de 2001, o GESET tem se reunido semanalmente para discussões e avaliações de suas atividades, incluindo-se aí o projeto da OFICINA. Numa destas discussões, surgiu a idéia de se fazer uma divulgação da OFICINA na Escola de Engenharia Industrial e Metalúrgica de Volta Redonda, vinculada à UFF, onde são oferecidos os cursos de Engenharia Metalúrgica, Engenharia Mecânica e Engenharia de Produção. A pretexto de relatar as discussões havidas no COBENGE, foi realizada uma reunião naquela Escola, no início de outubro. Na ocasião foi apresentado o projeto e suas ações em Niterói, além de exemplos de artigos sobre ensino de Engenharia. Foi tão bem recebido que os participantes solicitaram a continuidade de atividades deste tipo com objetivo de ampliar a participação e discussão sobre o tema. 3. AVALIAÇÃO Embora estejam sendo feitas avaliações freqüentes sobre o desenvolvimento do projeto, é ainda prematuro estabelecer uma avaliação objetiva e abrangente. No entanto, já é possível fazer algumas avaliações parciais, ainda sem comprovações objetivas, tais como: a) o efeito multiplicador está acontecendo, na medida em que o número de Coordenadores de Curso e professores interessados em discutir os temas vem aumentando, inclusive atingindo professores dos cursos sediados em Volta Redonda. b) o melhor resultado parece ser que os professores que vem participando das reuniões estão cada vez mais envolvidos com a questão do ensino e despertaram para a necessidade de ampliar e aprofundar as discussões. Percebe-se isso principalmente em reuniões cuja pauta não prevê esta discussão, mas ele aparece e isto desperta interesse mesmo dos que não estão ainda cientes (ou conscientes) da importância do tema. Tem-se verificado casos em que professores que, num primeiro momento se manifestavam de forma refratária, com criticas do tipo: pensei que iria aprender um novo método de dar aula hoje, ou o importante é dar a matéria, aos poucos vão se apercebendo que sem um relacionamento interpessoal entre professores e alunos o processo se torna muito mais difícil e ineficiente. c) os professores, em particular os coordenadores de cursos, vêm mostrando mais disposição em participar de Congressos de Ensino, inclusive com apresentação de trabalhos. Percebeu-se em
alguns professores que foram ao COBENGE, quase que obrigados por força do cargo, o aumento do seu entusiasmo e interesse em participar. d) o fato de se estar numa fase de grande discussão das diretrizes curriculares tem sido de grande valia pois a necessidade de reforma curricular dentro destes contornos já traz o assunto à discussão. e) pela participação nos Congressos e Encontros, pode-se perceber que a capacitação dos professores é fundamental para a melhoria do processo ensino-aprendizagem e esta visão é compartilhada com grupos em outras instituições de Ensino de Engenharia, o que estimula a continuar nesta direção. f) é necessário ampliar a discussão com professores dos institutos básicos (Matemática, Física, Computação, Química) e com chefes de Departamento em geral. 4. INTENÇÕES E PERSPECTIVAS PARA 2002 Com base nas ações realizadas em 2001 e na sua avaliação, o projeto deve ser mantido e suas ações ampliadas em 2002, para o que se pretende: a) oficializar o Grupo de Estudos sobre Educação Tecnológica (GESET), para permitir ações mais efetivas, inclusive com obtenção de recursos financeiros para o projeto. b) estender a participação com as chefias e professores dos Institutos Básicos (Matemática, Física, Computação, Química), promovendo reuniões específicas com professores de disciplinas por período ou por setor. c) promover uma discussão com chefes de departamento, tentando cada vez mais estreitar o relacionamento entre departamentos de ensino e coordenações de curso, sem o quê os planos dificilmente se tornarão realidade. d) atuar cada vez mais no sentido de ampliar a participação dos professores em qualquer fórum em que o assunto esteja em pauta, aumentando o efeito multiplicador. e) manter a seqüência de reuniões formais da OFICINA que servirão como referencial para futuras discussões, trazendo pessoas, trabalhos e artigos de interesse. f) atuar, de maneira específica, com professores recém concursados, integrando-os à Universidade, aos departamentos e engajando-os nos projetos pedagógicos dos cursos. 5. CONCLUSÕES Ao se chegar a este ponto do desenvolvimento do projeto, percebe-se que, apesar de estar longe de se atingir o objetivo final, já se avançou bastante. Pôde-se compreender que a capacitação de professores é um processo dinâmico, podendo a metodologia utilizada no projeto ser corrigida a qualquer tempo. O mais importante é a convicção da necessidade de capacitação do Professor de Engenharia, mais particularmente na UFF, como elemento básico na melhoria do processo ensinoaprendizagem e que isto só se dará na medida em que o professor se sensibilize para a questão, e por sua iniciativa procure seus caminhos para melhor formar seus alunos; que eles não sejam encarados como inimigos ou concorrentes e que o professor não se veja como dono do processo, mas um participante. Em outras palavras, que não existam mais posturas que conduzam à afirmação: eu ensinei, eles é que não aprenderam. 6. REFERÊNCIAS [1] Soares de Mello, M.H.C., Vaz, M.R., Soares de Mello, J.C.C.B., 2000, Oficina de Professores: uma experiência e um projeto, anais eletrônicos do VIEEE, Itaipava Petrópolis. [2] Soares de Mello, J.C.C.B., Leta, F.R., Fernandes, A.S., Vaz, M.R., Soares de Mello, M.H.C., Barbejat, M.E.R.P., Avaliação Qualitativa e Quantitativa: uma metodologia de integração, Ensaio avaliação e políticas públicas em Educação, nº 31, vol. 9 pp. 237-251, 2001. [3] Leta, F.R., Soares de Mello, M.H.C., Barbejat, M.E.R.P., 2001, Estágio em docência: uma monitoria de pós graduação, anais do XXIX COBENGE, Porto Alegre.