O Nazismo, a II Guerra Mundial e Uma mulher contra Hitler



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Transcrição:

O Nazismo, a II Guerra Mundial e Uma mulher contra Hitler Alexandre Coelho Pinheiro Pós-graduando em História do Brasil pela Universidade Estadual de Santa Cruz - UESC Sinopse Alemanha, 1943. Em plena II Guerra Mundial, o exército nazista marcha sob uma Europa já quase toda ocupada e se encontra em sérias dificuldades de vencer os russos nas cidades de Stalingrado e Lêningrado. Na cidade de Munique, na Alemanha, um grupo chamado Rosa Branca, composto por jovens universitários, recorre à resistência como forma de conter a aceitação popular à ideologia nazista. A única mulher a fazer parte do movimento é Sophie Scholl (Julia Jentsch, conhecida dos brasileiros pelo filme Edukadores), e será nela que toda a trama se concentrará. Com um discurso de protesto e de denúncia, Sophie e seu irmão, Hans Scholl (Fabian Hinrichs), elaboram um panfleto expondo as barbaridades que o exército alemão e que o Führer estariam praticando durante a guerra, reivindicando o direito à liberdade de expressão e de culto religioso. Em um clima sombrio

de suspense, os dois irmãos serão presos enquanto distribuem os panfletos nos pátios da Universidade de Munique. Dando enfoque maior à atitude de uma das poucas heroínas da história alemã, o filme se encarregará de retratar os últimos seis dias (17 a 22 de fevereiro de 1943) da vida de Sophie Scholl (daí o título original, Sophie Sholl- the final days) em sua própria perspectiva. Após ser presa, Sophie nega que tenha participado da entrega dos panfletos e tenta proteger seu irmão das acusações, porém, após ficar sabendo que o mesmo já havia confessado tudo, Sophie confessa e diz estar orgulhosa por seus atos. A coragem e a vibração dessa jovem mulher diante da possibilidade de ser condenada a morte, não negando a sua consciência e reafirmando os ideais do Rosa Branca diante das autoridades, que lhe julgam como uma traidora da nação alemã é intensamente abordada pelo filme. Depois de um longo duelo ideológico com o oficial interrogador da Gestapo, Robert Mohr (Gerald Alexander Held), os irmãos Scholl são acusados de alta traição e condenados à morte por decapitação, em 22 de fevereiro de 1943, no mesmo dia do

julgamento. Até os dias atuais, os componentes do grupo Rosa Branca ainda são lembrados por seus atos corajosos e pacíficos diante do terror imposto pelos nazistas. Direção Marc Rothemund é um jovem diretor de cinema alemão, nascido em 1968. Começa a sua carreira como assistente de direção na televisão alemã. É mais conhecido por ser um diretor de televisão, do que propriamente de cinema. Já possui em sua carreira, onze prêmios e seis indicações, entre elas a do Oscar de melhor filme estrangeiro em 2006, com Uma mulher contra Hitler. Também ganhou dois prêmios de melhor diretor no European Film Awards, e no Festival de Berlim, com o mesmo filme, que lhe deu destaque por conta da polêmica temática abordada. O resgate da história trazendo a discussão sobre os movimentos de resistência interna ao nazismo chamou a atenção do cinema alemão, que agora vive uma onda de filmes que procuram discutir a sociedade alemã governada pelo Partido Nazista.

Seu último trabalho de direção foi Pornorama (2007), uma crônica sobre as indústrias de filmes pornôs em Munique. Produção Uma mulher contra Hitler é um filme baseado em fatos reais, produzido através de documentos que há muito tempo estavam engavetados nos velhos arquivos da Alemanha Oriental, e de entrevistas recentes com testemunhas ou parentes e amigos dos envolvidos no episódio histórico. Entre as principais entrevistas está a do filho do interrogador Robert Mohr, Willy Mohr. E por ser baseado nos interrogatórios de Sophie, o filme se torna compreensivelmente estático. Porém, essa estática se torna elétrica, por conta das atuações vibrantes dos protagonistas em seu duelo verbal, cujo objetivo seria decidir a punição com a morte ou não o crime a que Sophie estava sendo acusada. Estreou nos cinemas brasileiros em fevereiro de 2006, obteve um número razoável de bilheteria, sendo indicado a melhor filme estrangeiro no Oscar 2006. Ganhou 3 prêmios

no European Film Awards, nas categorias de Melhor Atriz (Julia Jentsch), Melhor Atriz - Voto Popular (Julia Jentsch) e Melhor Diretor - Voto Popular. Obteve ainda indicações nas categorias de Melhor Diretor e Melhor Desenho de Produção. Ganhou dois Ursos de Prata no Festival de Berlim, nas categorias de Melhor Diretor e Melhor Atriz (Julia Jentsch). Ganhou também o Prêmio Ecumênico do Júri, no mesmo festival. Toda essa premiação só reforça a importância que o cinema alemão vem conquistando desde filmes como Adeus, Lênin!, Edukators e A queda. Análise do discurso fílmico sobre a história Diante de todos os crimes contra a humanidade provocados pelo Terceiro Reich há mais de 60 anos, percebe-se atualmente certo movimento por parte do novo cinema germânico na tentativa de reavaliar e exumar os pecados cometidos pelo nazismo, abordando a temática da II Guerra de forma menos complexada. Discutindo, entre outras questões, a idéia de que a população alemã não estaria em sua totalidade apoiando o

nazismo, defendendo que havia grupos e minorias que não se calaram diante da opressão nazista. Além de Uma mulher contra Hitler, podemos encontrar como exemplos recentes, os filmes; A queda - As últimas horas de Hitler (2005) e o documentário Eu fui a secretária de Hitler (2002). A descrença de Sophie Scholl no nazismo é bastante explorada durante o filme, levando o interrogador da Gestapo próximo de duvidar quanto às suas crenças na ideologia nazista. Isso se dá em algumas cenas, em especial, nos últimos momentos de Sophie, quando o interrogador Robert Mohr a encontra pela última vez, deixando para os espectadores a idéia de que ele poderia estar cometendo uma injustiça tendo iniciado a condenação de Sophie Scholl. Por outro lado, o filme compromete-se em mostrar como as instituições exerciam poder e fascínio sobre os cidadãos, o que percebemos quando os vários prédios públicos retratados, da universidade ao tribunal de justiça, são enquadrados em planos amplos, enchendo a tela e minimizando a presença dos principais personagens fílmicos. As bandeiras nazistas também ganham destaque, mostrando a presença cotidiana

da ideologia política e do estado de guerra em que viviam, além de mostrar como a sociedade alemã estava embriagada pelos símbolos nazistas, numa identidade que denuncia a participação da população alemã como culpada pelas ações de seu governo, que fora eleito e que não sofrerá maiores protestos. O clima sombrio em que o filme se desenvolve é a soma de uma boa direção de arte com uma trilha sonora muito bem sincronizada, o que nos provoca a sensação de suspense, ingrediente fundamental para provocar a atenção nos diálogos e gestos dos principais personagens do filme. A começar pelas primeiras cenas, em que Sophie e seus companheiros se encontram em seu esconderijo, construindo o conteúdo das cartas que seriam direcionadas a várias universidades alemãs, decidindo que as cartas que sobrassem deveriam ser distribuídas na universidade de sua cidade, Munique. Nessas cenas iniciais já percebemos a que o filme se propõe, principalmente pelo fato da presença de Sophie, única mulher envolvida na situação e que minutos antes cantarolava músicas com sua amiga, como uma jovem comum a todas as outras alemãs.

Ao longo da narrativa nos deparamos com os acontecimentos que darão importância ao filme. Após os irmãos Scholl serem detidos para interrogatório é que notamos que Sophie será a protagonista, o que será durante todo o enredo tratado como algo anormal, o fato de uma mulher estar protestando contra o nazismo. Começado o interrogatório, Sophie, que sempre se encontra trajando vermelho (cor utilizada mais pelo comunismo do que pelo nazismo) passa a olhar para o céu, para o sol que aparece na única janela da sala de interrogatório, sempre orando ou refletindo sobre a sua condição, por vezes passa a ser retratada a contraluz dando a idéia de alguém que teria uma missão a cumprir. Isso se ratifica nos momentos finais, quando Sophie reafirma suas convicções. A sensação de fuga fica marcante quando por falta de provas concretas, Sophie é chamada para assinar o seu documento de absolvição, porém segundos antes, o telefone soa e ela é encaminhada novamente à sala do interrogador Mohr, que dessa vez fecha a janela de sua sala, tornando-a sombria. Mohr passa a questionar o fato do pai de Sophie ter sido preso anteriormente por conta de ofensas feitas a Hitler, Sophie teria dito que o Füher era um

castigo de Deus ao povo alemão. Ela nega e afirma que participava de grupos ligados ao nazismo, é quando o interrogador passa a desvendar as mentiras nas palavras de Sophie, mostrando provas que a acusavam; como vários selos de correspondência e uma carta escrita pela máquina de datilografar encontrada no quarto de Hans Scholl, contendo frases como: Hitler não pode ganhar esta guerra, só mantê-la, Um criminoso não pode dar a vitória a Alemanha, a federação é o futuro da Alemanha; liberdade de expressão e liberdade de culto. Em resposta, Sophie afirma por várias vezes que não se interessava por política, nos levando a perceber que se tratava de uma tática para convencer o interrogador de que ela seria uma alemã comum, ou seja, uma mulher como todas as outras, educada a não discutir ou pensar em política, sua função seria gerar filhos, novos cidadãos para o Reich. Essas frases demonstram quais os ideais defendidos pelo grupo Rosa Branca e como o filme tenta passar ao espectador a sua interpretação da sociedade alemã, do que estava implícito nas ações de uma população que aceitou o nazismo e ajudou a perpetuá-lo na

Alemanha. Em especial, como as mulheres eram ausentes aos movimentos políticos, sendo educadas a não pensar em política. Podemos dividir o filme em duas partes; a primeira com Sophie sendo acusada e investigada e a segunda quando Sophie confessa que teria sido ela e seu irmão os grandes organizadores das entregas de folhetos contra o regime. O interrogatório acontece nas duas partes sendo que na segunda ganha contornos mais dramáticos, pois agora o espectador passa a esperar pela morte de Sophie. O interrogador Robert Mohr por várias vezes se irrita com a jovem, por sua teimosia em afirmar o que pensa e por não delatar seus outros companheiros do grupo Rosa Branca, assumindo a culpa integralmente. Mohr não consegue compreender a atitude de Sophie e ao ler seu relatório final, demonstra certa preocupação com a vida dela afirmando que a confissão não seria traição. Mas Sophie recusa a possibilidade de arrependimento e afirma que assumiria as conseqüências de seus atos. Nesse momento decisivo para o desfecho da narrativa fílmica, podemos recordar de outro interrogatório semelhante, o de Jesus de Nazaré, que diante de Pôncio Pilatos também não

nega nenhum de seus gestos anteriores. Tanto Pilatos quanto Mohr comungam de um mesmo gesto ao findar o seu interrogatório, lavam suas mãos. Esse paralelo indireto que o cineasta Marc Rothemund utiliza pode ser um das variadas formas de ler o filme, pois essa analogia pode não ser percebida aos olhos de um cidadão oriental, por exemplo. Tudo irá depender da carga simbólica e da memória de cada espectador. As relações de poder existentes entre os agentes do serviço secreto nazista, como funcionava a hierarquia dentro dos departamentos em que Sophie era conduzida a cada etapa da investigação e do interrogatório e as táticas utilizadas pela Gestapo para obter informações dos irmãos Scholl são ressaltadas durante as principais cenas de tensão do filme, em ambientes fechados para induzir ao terror psicológico. Além disso, também é generalista a uniformidade na forma como o filme retrata Sophie Scholl, beirando a canonização da personagem, tirando de certa forma a humanidade nos seus gestos que acabam sendo vistos como ações de uma heroína, que vence (com a sua morte) a personificação do mau (os nazistas). Isso leva o filme a ser encarado como uma visão

maniqueísta dos fatos encenados, nos levando a perceber certa ingenuidade na narrativa, como nas cenas do encontro dos irmãos Scholl com seus pais antes de serem guilhotinados. Das cenas envolvendo a distribuição dos panfletos às últimas em que os irmãos Scholl reafirmam seus ideais diante de um tribunal repleto de oficiais nazistas, o que se cristaliza enquanto narrativa é a expressão política contrária ao nazismo e a clara manifestação por parte do cinema germânico de uma Alemanha que busca reconstruir sua imagem, crendo que expurgar o passado seria um caminho para que o terror nazista nunca se apague da memória do povo alemão. O caminho não seria o esquecimento dos crimes do regime nazista e sim a lembrança contínua, para que o mesmo estado político não volte a acontecer. Idéia também mantida pelo cinema hollywoodiano, que volta a abordar a temática com os últimos lançamentos; O menino do pijama listrado (2008), Operação Valquíria (2009) e O leitor (2009). A ideologia criada e defendida por Adolf Hitler ainda continua a ser lembrada, desmistificada e discutida pelo cinema ocidental, e as novas gerações de alemães aparentam não mais sentir saudades dos tempos gloriosos do

grande Reich, como percebeu Marc Ferro ao analisar a importância de Hitler para a história do século XX: O estóico povo alemão guarda uma emocionada lembrança de seu amado Führer. Todos se recordam dos anos maravilhosos, anteriores à guerra, e das conquistas alcançadas até 1940, que mudaram a vida de todos: fim do desemprego, melhoria das condições de trabalho, juventude entusiasmada e agrupada, lazer organizado, múltiplos sucessos da política externa do Grande Reich. E que bela lembrança não ficou daquelas cerimônias em que o delírio da multidão era tão grande quanto seu amor pelo Benfeitor. (...) Ninguém quer admitir a existência dos campos de internação, de concentração, de extermínio...(ferro, 2008, p. 49-50) O filme na sala de aula Seguindo a proposta de Joan Ferres (1996), conforme explicado no link atividades, serão destacadas as funções investigativa e informativa do filme. Uma mulher contra Hitler pode ser o primeiro passo rumo à investigação e a pesquisa em sala de aula. As informações encontradas durante o filme podem ser exploradas com muita eficácia,

principalmente se o alunado já obtiver os conhecimentos necessários para a compreensão do momento histórico envolvido na ficção cinematográfica. Portanto, a função informativa, se dá quando o vídeo (o filme no todo ou em partes) centra-se no objeto da realidade, ou seja, quando a mensagem tem por finalidade descrever uma realidade (passada, presente ou futura) o mais objetivamente possível. De fato, nenhum tipo de vídeo, seja ele qual for, conseguirá reproduzir fielmente a realidade, porém, é nessa tentativa que o professor irá se concentrar incitando seus alunos à interpretação das informações passadas pelo filme. Temos várias opções para explorar o assunto que será abordado. Selecionamos algumas atividades de pesquisa que podem ser aplicadas antes ou após a exibição do filme, levando em conta que esta ordem irá encontrar diferentes situações e resultados. Confira abaixo: 1. Pesquisar sobre os organismos nazistas, como funcionava a Gestapo? Quando, como e por que foi criada? Qual a sua atuação durante a II Guerra Mundial?

2. Quais eram os movimentos existentes na Alemanha contrários ao nazismo? Pesquisar sobre o grupo Rosa Branca, sua atuação, seus integrantes, etc. 3. Pesquisar a respeito da Batalha de Stalingrado, em 1943. Qual a sua importância para a história? Exercitando a imaginação, o que poderia acontecer caso a Alemanha tivesse conquistado o território russo? 4. Pesquisar como se deu o holocausto judeu durante a II Guerra. 5. Pesquisar sobre a vida de Sophie Scholl, sua atuação e o que ficou na História. 6. Pesquisar como se dava a participação das mulheres na sociedade alemã durante o regime nazista. 7. Como a juventude alemã era utilizada pelo regime nazista? Como funcionava a Juventude Hitlerista? 8. Pesquisar qual o significado da suástica nazista e por que ela é utilizada com símbolo pelo nazismo.

9. Pesquisar sobre os grupos neonazistas que ainda se proliferam ao redor do mundo, em especial no Brasil. Como a internet é utilizada pelos neonazistas atualmente? Outras atividades também podem ser utilizadas, como a confecção de painéis sobre a temática do nazismo (a respeito dos símbolos, por exemplo), a elaboração de resenhas críticas, ou até mesmo dramatizar cenas marcantes do filme, como a cena do julgamento dos irmãos Scholl. O professor deve deixar claro aos seus alunos que o que está em discussão não é a verdade sobre os acontecimentos e sim a interpretação de cada um sobre o tempo histórico que se está trabalhando. Lembrando que o cinema é um documento tão válido quanto os livros didáticos para o ensino.

Ficha técnica Título Original: Sophie Scholl - Die Letzten Tage Gênero: Drama Tempo de Duração: 114 minutos Ano de Lançamento (Alemanha): 2005 Site Oficial: www.sophiescholl-derfilm.de Estúdio: Broth Film / Goldkind Filmproduktion Direção: Marc Rothemund Roteiro: Fred Breinersdorfer Produção: Fred Breinersdorfer, Sven Burgemeister, Christoph Müller e Marc Rothemund Música: Reinhold Heil e Johnny Klimek Fotografia: Martin Langer Desenho de Produção: Jana Karen Figurino: Natascha Curtius-Noss Edição: Hans Funck

Cronologia 1918- Revolução em Berlin, na Alemanha. Armistício. 1919- Tratados de Versalhes, de Saint-Germain, do Trianon, de Sèvres. Criação da Terceira Internacional e dos partidos comunistas. Fim do Império Áustro-Húngaro e do Império Otomano. 1921- Triunfo do Fascismo na Itália Mussolini. 1929- Crise econômica nos Estados Unidos, e depois na Áustria e na Alemanha. 1933- Hitler chanceler do Reich. 1936- Frente Popular e Guerra Civil na Espanha. Frente Popular na França. 1938- Conferência de Munique. 1939- Pacto germano-soviético. Agressão alemã na Polônia Começo da Segunda Guerra Mundial. 1940- Derrota a França Pétain presidente

1941- Agressão da Alemanha contra a Rússia. 1942- Conferência de Wannsee o extermínio dos judeus. 1943-1944- Campos de extermínio dos judeus na Europa. Queda de Mussolini. Desembarque dos aliados na França. 1945- Conferência de Ialta. Mortes de Roosevelt, Mussolini e Hitler. Rendição alemã. Hiroshima. Referências bibliográficas CAPELATO, Maria Helena, D ALESSIO, Márcia Mansor. Nazismo, política, cultura e holocausto. São Paulo, Atual Editora, 2004 FERRO, Marc. História da Segunda Guerra Mundial. São Paulo, Editora Ática, 1995.. O século XX explicado aos meus filhos. Rio de Janeiro, Agir, 2008. LUKACS, John. O Hitler da História. Rio de Janeiro, Jorge Zahar Editor, 1998.