Dependendo da época e do lugar em que vive o compositor, da sua intenção com a música, dos instrumentos. Muitos tipos de música...



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Muitos tipos de música... B.B. King, guitarrista e cantor de blues. Dependendo da época e do lugar em que vive o compositor, da sua intenção com a música, dos instrumentos musicais que tem à disposição, do público a que se destina a música e de muitos outros fatores, a composição musical pode pertencer a determinados gêneros e formas musicais. As expressões gêneros e formas musicais muitas vezes recebem definições diferentes de acordo com o estudioso ou teórico musical. Não discutiremos neste material essas diferentes definições, mas sim ressaltaremos que, independentemente do nome utilizado, devemos abarcar todos os tipos de música durante o trabalho na escola. Mas que tipos de música são esses? Inicialmente, abarcaremos os gêneros musicais, que constituem a primeira grande classificação que podemos fazer diante da infinidade de composições musicais existentes no mundo todo, em todas as épocas.

Artes Visuais e Música Tocadora de flauta da antiga Roma. Gêneros musicais Essa primeira classificação leva em consideração quem executa a música, em que situações e, de uma maneira geral, por que ela é executada. Dentro dessa perspectiva, consideramos como gêneros: música étnica; música folclórica; música popular; músicas criadas pela indústria cultural; música erudita. Dentro de cada classificação, encontramos composições com uma intenção: religiosa; ou profana. Música tradicional ou étnica É a música de raiz, feita pelo povo, normalmente com caráter de ritual. Esse tipo de música mantém-se há séculos da mesma forma, refletindo as crenças e a vida dos povos. Fazendo parte desse gênero, citamos a indígena, a de tribos africanas, a dos aborígenes australianos, entre outras. Cerimônia tribal da África Central. Esse gênero está praticamente em extinção, pois essas civilizações estão, pouco a pouco, sendo dizimadas, e sua cultura, inclusive a musical, está sendo sufocada pela cultura dos povos que as dominam e está sendo esquecida. Muitas dessas músicas parecem-nos muito estranhas e engraçadas, justamente porque não estamos acostumados a ouvi-las. Além disso, atualmente muitos 154

Muitos tipos de música... teóricos e estudiosos consideram a música étnica de certa forma inferior e mais simples do que a música erudita ou dos centros urbanos. Essas idéias são muito questionáveis, pois a música étnica possui uma grande riqueza rítmica, que muitos músicos de orquestra não conseguiriam acompanhar, além de características complexas de composição e execução. Procurem ouvir músicas de povos indígenas, africanos, asiáticos, que ainda vivem de forma mais primitiva, e percebam a quantidade de técnicas vocais que esses povos executam, a quantidade de timbres diferentes que criam por meio de instrumentos musicais feitos apenas com elementos da natureza, a organização de inúmeras pessoas tocando juntas, enfim, a complexidade desse gênero que reflete uma forma de viver, que mostra uma relação direta com a natureza. As crianças gostam muito desse gênero, pois, além de possuir músicas diferentes das que estamos acostumados a ouvir, normalmente possui um ritmo bastante marcado. A criança é bastante sensível ao ritmo de qualquer música, pois ele pode ser considerado como um elemento mais corporal e, como todos sabemos, a criança possui uma relação estreita com seu corpo e suas manifestações. Criar músicas mais repetitivas, em roda, marcando ritmos apenas com palavras como hey-hô, hey-hô e jogando com essas palavras, trabalhando com sua intensidade, mudando os grupos que cantam, dividindo a sala em dois grupos iguais, metade executando o hey bem agudo e a outra metade executando o hô bem grave, por exemplo, são atividades simples, que podem ser desenvolvidas facilmente com crianças pequenas. Música folclórica A música folclórica normalmente é aquela criada e aceita coletivamente, que mostra idéias e sentimentos comuns de um grupo. A maioria das músicas folclóricas é transmitida por tradição oral, tem compositor desconhecido e é divulgada e transformada com o passar do tempo. É característica das regiões interioranas, litorâneas e rurais. São músicas executadas, muitas vezes, por toda a comunidade em situações importantes, como festas de casamento, festas de colheita, festas de trabalho, festas religiosas ou por pura diversão. Na maioria das vezes, são acompanhadas de danças e brincadeiras, mas nem sempre. Como exemplos, temos as cirandas, o frevo, as diversas músicas infantis (Ciranda cirandinha, Eu perdi o meu galinho, Sambalelê etc.), os repentes nordestinos e muitas outras. Ouçam diversas músicas folclóricas, infantis ou não, com seus alunos. Montem um pequeno livro com letras de músicas folclóricas que as turmas conheçam e façam pesquisas sobre músicas folclóricas da sua região, juntamente com seus alunos e outros profissionais da escola. Zé Caboclo. Banda de Pífanos. 155

Artes Visuais e Música Lembrem-se de que as músicas folclóricas são muito importantes, mas esse não deve ser o único gênero a ser trabalhado na escola! Música popular É a música feita por autor conhecido e que, normalmente, alcança todas as camadas da sociedade. A maior parte das músicas populares possui grandes produções artísticas e certo apoio da mídia, e é característica dos centros urbanos. Compositores como Raul Seixas, Chico Buarque, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Roberto Carlos e outros são exemplos típicos da Música Popular Brasileira (MPB) atual. Não somente a MPB deve ser trabalhada na escola mas também a música popular de outros países pode e deve ser explorada. Assim como esta, a música folclórica e étnica de outros lugares do mundo merece atenção e análise por parte do professor e, conseqüentemente, dos seus alunos. As poesias e composições de Vinicius de Moraes, compiladas no disco A arca de Noé, são bons exemplos de músicas populares infantis acessíveis e de boa qualidade para serem trabalhadas na escola. A coleção Palavra Cantada, de Paulo Tatit e Sandra Peres, também oferece uma série de opções de CDs de ótima qualidade com músicas infantis bem estruturadas e com uma variedade grande de opções de atividades para o professor. Raul Seixas, década de 1970. Músicas criadas pela indústria cultural São as músicas de massa ou comerciais. Aquelas feitas para serem assimiladas por um grande número de pessoas, com estrutura de composição simples e cuja intenção é o consumo alienado da população. Ela é estritamente ligada à moda e considerada arte de consumo. Às vezes, alguns grupos fazem muito 156

Muitos tipos de música... sucesso em um ano e depois somem do mercado completamente. Outras vezes, alguns grupos surpreendem, acabando por fazer parte da MPB. O limite entre a MPB e a música de massa é tênue, assim como, em algumas situações, o limite entre a música folclórica e étnica também é difícil de ser estabelecido. Normalmente, as músicas de massa são as mais conhecidas pelas crianças, e mais apreciadas também, porque todos nós somos bombardeados por esse gênero em todas as rádios, canais de tevê, festas e lojas. Portanto, é impossível eliminar o trabalho com esse gênero, até mesmo porque, de alguma forma, ele está mostrando a realidade humana... Na verdade, a música de consumo entra em nossas vidas sem pedir licença e, por características propositais em sua estrutura de composição, fica na nossa cabeça durante dias! Esse gênero deve ser estudado, apreciado e compreendido. Durante a apreciação desse tipo de música, deve-se, como sempre, saber quem a compôs, quando, que instrumentos são tocados, sobre o que se fala etc., mostrando que, muitas vezes, sua estrutura de composição é repetitiva, quase hipnótica, para que todos a decorem e comprem os discos... Conversar sobre os temas, obviamente de modo coerente com a faixa etária de sua turma, a qualidade da voz dos cantores e dos instrumentistas, a riqueza melódica etc., sem nunca desqualificar o gosto das crianças, é um caminho para que seus alunos sejam críticos e compreendam o significado dessas músicas, mesmo que continuem gostando delas e cantando e dançando nas festas! Música erudita É a feita normalmente por pessoas que estudaram ou estudam música formalmente. Considera-se música erudita toda música que não é popular, étnica, folclórica ou comercial. De acordo com Magnani (1996, p. 112), a música erudita possui, por sua própria natureza, ambições de comunicar mensagens estéticas universalmente válidas. Isso quer dizer que a música erudita segue padrões de composição criados em determinados contextos, ou então rompe com esses padrões. Os períodos da história da música erudita referemse, quase que totalmente, a esses padrões de composição: música medieval, renascentista, barroca, romântica, impressionista etc. Os padrões de composição referem-se ao período histórico em que as músicas eruditas foram compostas. A valsa, a sinfonia, o concerto, as sonatas e muitas outras formas musicais pertencem a esse gênero. Antonio Vivaldi. Muitas vezes, os professores se perguntam se podem trabalhar com esse gênero e como farão isso na escola, principalmente com crianças pequenas. A idéia que eles têm é a de que as crianças devem saber as da- 157

Artes Visuais e Música tas, o nome do período, as obras mais famosas etc. Essas são informações importantes, mas podem ser oferecidas por meio de jogos, progressivamente, à medida que as crianças escutam, dançam e trabalham com as músicas de maneira lúdica. Lembrem-se de que, inicialmente, vocês, professores, precisam ter o mínimo de informações sobre o período para depois passar essas informações em quantidade e profundidade coerentes com a faixa etária com a qual trabalham. Vamos pegar o exemplo de uma música medieval o cantochão. Inicialmente, pode-se ouvir o cantochão, conversar sobre a altura das vozes, a maneira como os cantores cantam, a ausência de instrumentos musicais (com exceção do órgão), a ausência de mulheres cantando, a característica do canto recitado etc. Depois, pode-se contar para as crianças que essa música era feita há muito tempo, na época dos castelos e das lutas com espadas, mas que esse tipo de música só era feito nas igrejas e por homens, e que é uma música que fala dos textos da Bíblia. Para uma turma de jardim 1, jardim 2 ou jardim 3, e até mesmo para uma 1.ª série, essas informações são acessíveis e suficientes. Dessa maneira, a música erudita está sendo trabalhada assim como os períodos da história da música. Quanto menores forem as crianças, mais se trabalhará com informações mais básicas. Contudo, isso não quer dizer que o estudo esteja incompleto: apenas que as informações estarão coerentes com o nível de desenvolvimento infantil. 158 Lucca della Robbia. Coro de Meninos. Relevo em mármore.

Músicas religiosas Em todos os cinco gêneros de música (étnica, folclórica, popular, indústria cultural e erudita), podemos encontrar músicas religiosas, ligadas à espiritualidade e à religiosidade dos povos. Independentemente da crença religiosa, todos os povos possuem músicas para rezar, agradecer, celebrar, abençoar ou pedir bênçãos aos seus deuses. Muitas músicas indígenas, por exemplo, são executadas em rituais dedicados aos deuses. As músicas da Festa do Divino ou até algumas das festas juninas, que falam dos santos padroeiros, são exemplos de músicas religiosas folclóricas. Algumas músicas gospel e outras músicas religiosas são criadas pela indústria cultural. Muitos compositores de MPB, como o próprio Roberto Carlos, compõem músicas religiosas e, na música erudita, temos os réquiens (música para a missa dos mortos da Igreja Católica), o cantochão, já citado, e muitas outras formas musicais religiosas. Muitos tipos de música... Hans Memlinc, 1480. É importante que o professor saiba lidar com a diversidade de religiões que poderá encontrar na sua turma. Esse material não pretende catequizar nem estabelecer comparações entre as religiões, mas mostrar que a necessidade humana da música é tão forte que, até para estabelecer contato com Deus, essa linguagem é utilizada em praticamente todas as religiões. As crianças podem trazer exemplos das músicas de sua religião, mostrar para os outros e, com isso, surge uma oportunidade valiosa para que todos convivam com as diferenças, respeitando-as e valorizando-as. 159

Artes Visuais e Música Músicas profanas Considera-se música profana toda aquela que não é religiosa: músicas de divertimento, de dança, para dormir, guerrear, trilhas sonoras, para relaxar etc. Em todos os gêneros, encontramos músicas profanas. Marie Laurencin. Composição, 1934. Faça uma lista de intenções das músicas profanas que você conhece. Quando ouvimos ou executamos qualquer música, dentro ou fora da escola, podemos levantar algumas questões importantes referentes aos gêneros musicais: É uma música profana ou religiosa? De que religião? Por quem foi feita essa música? Quem ouve essa música? Em que lugar ela é executada ou ouvida normalmente? Como está estruturada essa música e a que gênero pertence? 160 Antoine Vollon. Natureza Morta. Princípios de composição Usamos o termo gênero para uma classificação mais abrangente, mas existem ainda muitas subdivisões dentro de cada gênero, de acordo com a organização dos elementos formadores do som nas composições. Por exemplo, de acordo com a escolha tímbrica do compositor, podemos classificar as músicas em instrumental, vocal a capella e mista.

Música instrumental executada apenas por instrumentos Não importa qual seja o instrumento ou conjunto de instrumentos. Pode ser um tambor, um violino, uma orquestra ou até uma caixinha de fósforos. Se a música for apenas tocada, sem voz, ela é considerada instrumental. Mostrar versões instrumentais de músicas que as crianças conheçam para que sejam identificadas, trabalhar com a execução instrumental e estudar formas musicais que sejam essencialmente instrumentais, como a sinfonia, o concerto, a sonata, o balé, entre outras, são trabalhos importantes para que a criança reconheça e compreenda a música instrumental. Foi a partir do Renascimento que a música instrumental passou a ser mais valorizada, como podemos ver no texto a seguir: Até o começo do século XVI, os instrumentos eram considerados muito menos importantes do que as vozes. Usavam-nos apenas em peças de dança e, naturalmente, também como acompanhamento de canto, mas nessa função nada faziam senão duplicar a voz, isto é, tocar a mesma melodia do canto ou, talvez, na ausência de certos cantores, assumir a parte correspondente a estes. Contudo, durante o século XVI, os compositores passaram a ter cada vez mais interesse em escrever músicas para instrumentos não apenas danças, mas peças destinadas a serem simplesmente tocadas e ouvidas. (BENNET, 1986) Assim, é importante que a criança perceba a relevância da mudança na concepção de música que ocorre nesse período, pois uma música na qual o instrumento apenas acompanha a voz é diferente de uma música em que o instrumento, ou os instrumentos, são a única escolha tímbrica do compositor. Música vocal a capella apenas cantada A música vocal a capella é aquela apenas cantada, sem nenhum tipo de acompanhamento instrumental. Pode ser cantada por uma ou inúmeras pessoas, de ambos os sexos ou não. Os corais, muitas vezes, cantam a capella, mas outras vezes possuem acompanhamento instrumental. Já que usamos a época do Renascimento como exemplo na música instrumental, vamos também falar desse período em relação à música vocal a capella. Muitos tipos de música... Mstislav Rostropovich, violoncelista. Beth Gibbons, cantora. 161

Artes Visuais e Música a sociedade entrou numa fase atualmente conhecida como Renascimento. As artes floresceram durante o Renascimento, financiadas por ricaços e pela realeza, que amavam as artes e não pagavam impostos. Um dos mais famosos compositores italianos do Renascimento foi Giovanni da Palestrina (1525-1594). Palestrina era um dos grandes favoritos do Papa e tornou-se famoso por compor somente para vozes, sem acompanhamento instrumental. À diferença do canto gregoriano, a música de Palestrina não era apenas uma melodia cantada em uníssono (todos cantam a mesma nota simultaneamente). Pelo contrário, ele explorou harmonias fantásticas, que provinham do canto simultâneo de diversas melodias independentes. [...] O madrigal A forma musical mais popular para essas músicas era o madrigal. Madrigal é uma peça para pelo menos três vozes, geralmente sem acompanhamento. Durante o Renascimento, famílias ou grupos de amigos se reuniam para cantar esses madrigais, cada pessoa assumindo uma linha vocal diferente e dando cotoveladas em quem desafinasse. [...] (POGUE; SCOTT, 1998) Nesse texto, bem divertido, temos uma idéia de uma música vocal a capella do Renascimento. Qualquer música pode ser executada apenas por vozes, ou apenas por instrumentos. Quando classificamos as músicas nesses grupos, estamos levando em consideração o que o compositor pensou como escolha tímbrica, sabendo que cada intérprete poderá adaptar essa composição como achar melhor. Muitas vezes, os professores perguntam como formar um coral na escola. Isso não é tão simples. Normalmente, um coral infantil possui acompanhamento instrumental, mas isso raramente acontece nas escolas, pois o acompanhador (pessoa que vai tocar teclado ou violão enquanto as crianças cantam) precisa ser remunerado e conhecer bem a linguagem musical. Na verdade, o importante é que as crianças cantem coletivamente. Para estruturar o trabalho básico com canto junto aos alunos, pensem nos passos abaixo. Escolher músicas que as crianças gostem e que sejam acessíveis, que não tenham melodias muito complicadas nem letras de difícil entendimento. Essa é a etapa de escolha e montagem do repertório. Como, normalmente, o professor de arte não tem formação vocal, precisa escolher boas gravações dessas músicas para que as crianças ouçam com atenção cada uma delas. A partir daí, vocês podem: brincar com as músicas dividindo a turma em grupos; criar efeitos sonoros em determinados trechos; repetir muitas vezes a gravação; cantar coletivamente sem acompanhamento, desde que as crianças já estejam seguras. 162

Muitos tipos de música... É importante fazer alguns exercícios simples de aquecimento vocal, como relaxamento corporal ativo, rodando o pescoço, abrindo e fechando a boca, fazendo caretas e massagem no rosto, dançando e deixando o corpo preparado para cantar. A respiração pelo diafragma deve ser trabalhada, por meio de exercícios de soltar o ar com pspspspsp, xxxxxx, ccscscscs, zzzzzzzz etc. Dividir a turma e montar um coral a várias vozes, em que cada grupo cante uma melodia diferente, é um passo posterior e exige muito mais preparação do professor. Inicialmente, pode-se dividir a turma em grupos, para que cada grupo cante uma parte da música; colocar algumas crianças cantando, sozinhas, alguns trechos da música; criar efeitos sonoros com a boca para um grupo fazer enquanto o resto da turma canta a melodia normal ou seja, trabalhar com aqueles cinco elementos formadores na execução do canto coletivo. Essa não é uma atividade simples, pois demanda tempo: as músicas devem ser trabalhadas e não apenas cantadas uma ou outra vez. Mas qualquer grupo de crianças e qualquer professor podem montar um coral se forem seguidos esses passos! Música mista cantada e tocada A música mista é aquela na qual as vozes e os instrumentos são executados conjuntamente. Não interessa o número de vozes nem o tipo de instrumento. Esses grupos também não precisam estar executando simultaneamente o tempo todo. A maioria das músicas que ouvimos são mistas e podemos inserir, em todo o trabalho citado no item anterior, do coral, a execução instrumental, trabalhando com a voz e os instrumentos ao mesmo tempo. Obviamente, tomando cuidado para que não vire uma confusão musical! Para isso, é necessário dividir os instrumentos por timbres, trabalhar bem com as crianças para que a execução instrumental não fique mais forte do que a voz, cobrindo a canção, e dar oportunidade para o grupo de instrumentistas executar, sozinho, alguns trechos da música. Capa do CD Acústico MTV (Abril Music, 2001), da banda Capital Inicial. 163

Artes Visuais e Música Resumindo De acordo com a época e o lugar em que vive o compositor, e de acordo com a sua intenção com a música, ele fará escolhas diferentes de sons, o que fará com que sua música pertença a determinado gênero ou forma musical. Os gêneros musicais, de acordo com esse material, são: música tradicional ou étnica (feita pelos povos que vivem de forma primitiva, com grande ligação com a natureza), a música folclórica (feita pelas comunidades rurais e tendo compositor anônimo), a música popular (feita nos centros urbanos, com autor conhecido e certo apoio da mídia), as músicas criadas pela indústria cultural (muitas feitas com estruturas de fácil assimilação, com total apoio da mídia, desaparecendo do mercado e sendo substituídas rapidamente) e a música erudita (feita por acadêmicos que rompem ou seguem determinados padrões de composição de diversas épocas). Qualquer um dos cinco gêneros musicais pode ser encontrado nas músicas religiosas (de qualquer religião, mas que tenham sentido de oração, agradecimento, pedido ou contato com Deus) ou nas músicas profanas (toda música que não é religiosa, como as músicas de guerra, para dançar, brincar etc.). De acordo com a escolha tímbrica do compositor ou do intérprete, isto é, do tipo de sons que quer usar em sua composição, as composições musicais podem ser classificadas em instrumental (só tocada), vocal a capella (só cantada, sem acompanhamento instrumental) e mista (executada por instrumentos musicais e vozes). Para encerrarmos esse capítulo, vamos ler um texto que fala, de forma básica, sobre a música erudita brasileira. A música erudita brasileira (JEANDOT, 1990) A música erudita brasileira foi incentivada pela corte portuguesa. Um dos primeiros compositores foi o padre José Maurício Nunes Garcia (1767-1830), que aos 17 anos já compunha e era fortemente influenciado pela música barroca italiana. Entretanto, apesar das qualidades de Garcia, 164

Muitos tipos de música... o primeiro compositor brasileiro a alcançar projeção mundial foi Carlos Gomes, que conquistou a platéia italiana com sua ópera Il guarany (1870). O segundo compositor de renome internacional na música erudita brasileira foi o carioca Heitor Villa-Lobos, que desde cedo entrou em contato com vários instrumentos, principalmente o violão. As várias viagens que fez pelo Brasil, pesquisando a música popular e o folclore, forneceram-lhe matéria-prima para suas composições, que constituem uma síntese bem-sucedida entre as raízes musicais brasileiras e as influências estrangeiras (especialmente Stravinsky), do que resulta uma música de valor universal. Iniciador do modernismo musical brasileiro, esse regente e compositor teve participação especial na Semana de Arte Moderna de 1922. Seu trabalho sofreu inicialmente alguma resistência, mas a seguir alcançou reconhecimento internacional, destacando-se inicialmente em Paris. Abundante, sua produção abrange vários gêneros, como ópera, sinfonia, música de câmara, música sacra, música para piano. Uma de suas composições mais conhecidas, as Bacchianas, constitui uma síntese muito original entre elementos do folclore brasileiro e a música de Bach. Cabe notar que os expoentes da música erudita brasileira sofreram influência do samba, da polca, do choro, do xote, da mazurca, da quadrilha, do tango brasileiro, do maxixe, como ocorre com a obra de Francisco Mignone e com parte da de Camargo Guarnieri. Outros compositores eruditos ainda podem ser citados por seus méritos, como Osvaldo Lacerda, Almeida Prado, Walter Smetak, Conrado Silva, Gilberto Mendes, entre outros. Villa-Lobos. Faça uma pesquisa sobre Villa-Lobos e sua obra. Com certeza, você usará muito do que pesquisar com suas crianças na escola! 165

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