Semi confinamento para produção intensiva de bovinos de corte



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de inverno que viraram opção para o pecuarista da região para conseguir ter pasto na época da seca.

Transcrição:

Semi confinamento para produção intensiva de bovinos de corte Ricardo Andrade Reis 1, André Alves de Oliveira 2, Gustavo Rezende Siqueira 3, Eliane Gatto 4 1 Professor Titular da FCAV/UNESP Jaboticabal, SP, Pesquisador do CNPq, Membro do INCT/CA - rareis@fcav.unesp.br; 2 Pós Graduando em Zootecnia, FCAV/UNESP-Jaboticabal. 3 Pesquisador da Apta Regional Alta Mogiana - Colina,SP, Prof. Convidado do Programa de Pós-graduação da FCAV/UNESP 4 MSc. Zootecnista, Bellman Nutrição Animal. 1 Introdução A partir da ultima década do século XX a agropecuária brasileira passou por profundas transformações frente à nova ordem econômica mundial. Apesar dos recentes avanços obtidos no manejo nutricional e sanitário dos rebanhos, apenas uma parcela dos pecuaristas investe na intensificação dos sistemas de produção. Assim, grande parte dos 174 milhões de hectares ocupados por pastagens no país está degradada ou sofrem algum estagio de degradação, devido, principalmente, a má utilização e manejo (Anualpec, 2008). A intensificação na utilização das pastagens torna-se vantajoso, pois permite diluir os custos fixos, através do aumento na taxa de lotação e redução no tempo de abate. O manejo intensivo, associado à adubação, suplementação estratégica e potencial genético animal, representam as práticas que promovem maior produtividade em sistemas de produção de bovinos em pastagens. O ano de 2010 foi finalizado com sucesso pelo setor prodututivo de carne bovina, tendo sido até mesmo denominado como o ano da carne. As cotações bateram recordes e o preço da arroba do boi gordo, segundo o CEPEA (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada) apresentou uma valorização de aproximadamente 20%. Essa valorização foi acompanhada por sinais de aumento da demanda nacional e externa por carne bovina, impulsionando os preços do boi e da carne. Para atender a demanda mundial de carne bovina em 2050, que deverá ser quatro vezes maior que a atual, o efetivo do rebanho mundial, 1,5 bilhões de cabeças, deverá aumentar em torno de 100% e o número de animais

abatidos triplicar, desse modo haverá aumento de produtividade, expresso em 50% de desfrute. A produção mundial de carne bovina, hoje estimada em 60 milhões de toneladas/ano, deverá aumentar para 84 milhões de toneladas nos próximos 20 anos. Uma vez limitadas as áreas de expansão da agropecuária, o aumento da produção de carne se dará através da intensificação dos sistemas, havendo necessidade do aumento da produção de grãos, para a alimentação desses animais. Segundo a análise de dados do CEPEA, existe uma forte tendência para queda no preço dos grãos (milho e soja), principais ingredientes do concentrado da dieta de animais confinados. Esse cenário pode favorecer a maior utilização de grãos na fase de terminação dos bovinos uma vez que o pecuarista tem maior poder de compra e a relação de troca da @ do boi pela tonelada do milho e outros ingredientes é favorável. Diante deste cenário, as técnicas de suplementação, em especial o semi-confinamento, devem ser adotadas como estratégia para manutenção do equilíbrio entre a oferta e demanda de alimentos nos sistema de produção e visando incrementar os níveis de produção animal (ganho de peso por animal e por área) na entressafra. Portanto, o objetivo deste trabalho é elucidar sobre técnicas de manejo de pastagens e suplementação alimentar para intensificação da produção de bovinos de corte no período seco do ano. 2 Bovinocultura de corte em pastagens A produção de bovinos em pastagens enfrenta sérios desafios, uma vez que há limitações na qualidade e quantidade da forragem disponível ao longo do ano para atender o requerimento animal. A distribuição desuniforme das chuvas resulta em acentuada variações na oferta de forragem, ao decorrer do ano. No geral, verifica-se nas condições do Brasil Central, concentração de 70 a 80% da produção forrageira nos períodos de chuvas (primavera/verão) e de 30 a 20% no período da seca (outono/inverno). Os pastos de gramíneas tropicais raramente mantêm um balanço ótimo entre os requerimentos dos animais e os nutrientes necessários para atender as exigências para ganhos elevados. Com a maturação das forrageiras a partir

do final do período chuvoso ocorre diminuição no valor nutritivo, com elevação na percentagem de matéria seca e nos constituintes da parede celular, bem como diminuição na concentração de conteúdo celular, como a proteína bruta (Johnson et al., 1998). Nesse caso, o baixo teor de proteína da forragem limita a fermentação ruminal, a degradação da fração fibrosa do alimento e o consumo de forragem, resultando via de regra em ingestão insuficiente de proteína e energia para desempenho satisfatório do animal (Reis et al., 2004). A estacionalidade da produção de forragem é mais marcante nas espécies de capim pertencentes ao gênero Panicum (Tanzânia, Mombaça e Colonião), comparativamente àqueles do gênero Brachiaria (Braquiarão, Decumbens e Humidicola), que apresentam maior plasticidade de produção e facilidade de manejo. Os efeitos desse fato sobre a pecuária de corte são evidentes, ocorrendo uma variação acentuada de ganho de peso, e um conseqüente atraso da idade de abate. Neste período a taxa de lotação das pastagens sofre redução, uma vez que a oferta de forragem é reduzida. Diante disso, a escolha de alternativas visando minimizar os efeitos da estacionalidade na produção de plantas forrageiras deve ser coerente com o nível de exploração pecuária, diferenciando-se, principalmente pela necessidade de intensificação de uso das pastagens. A utilização de suplementos concentrados permite corrigir deficiências específicas de nutrientes na forragem para maximizar a atividade de digestão da fração fibrosa e, conseqüentemente utilizar mais eficientemente os carboidratos estruturais, além de complementar a dieta em situações de escassez de forragem. Nas situações onde o consumo é limitado pela baixa oferta de forragem, um suplemento pode substituir a forragem proveniente do pasto, constituindo às vezes o único alimento disponível. Os níveis de concentrado e as estratégias a serem usadas são dependentes da categoria animal e das metas de ganho de peso. A estratégia de suplementação, no entanto, deve ser precedida da caracterização da quantidade e da qualidade da forragem disponível. A qualidade da forragem no tocante a características dos carboidratos e compostos nitrogenados são determinantes para a tomada de decisão para o fornecimento de nutrientes limitantes a atividade microbiana.

3 Qualidade da Forragem 3.1 Fração fibrosa e valor nutritivo de plantas forrageiras Os carboidratos são os principais constituintes das plantas, correspondendo de 50 a 80 % da MS das forrageiras e representam a principal fonte de energia para os ruminantes. As características nutritivas dos carboidratos das forrageiras dependem dos açúcares que as compõem, das ligações entre eles estabelecidas e de outros fatores de natureza físicoquímica. Assim, os carboidratos das plantas podem ser agrupados em duas grandes categorias conforme a sua menor ou maior degradabilidade, em estruturais e não estruturais, respectivamente (Van Soest, 1994). A natureza e a concentração dos carboidratos estruturais da parede celular são os principais determinantes da qualidade da forragem. A parede celular pode constituir de 30 a 80 % da MS da planta forrageira, onde os mais importantes carboidratos encontrados são a celulose, a hemicelulose e a pectina. Além disto, podem constituir a parede celular componentes químicos de naturezas diversas dos carboidratos, tais como tanino, proteína, minerais, lipídeos e lignina (Hatfield et al., 2007). Com o avançar da maturidade, verificam-se aumentos nos teores de carboidratos estruturais e redução nos carboidratos não estruturais o que depende em grande parte das proporções de caule e folhas. Isso se reflete na digestibilidade da forragem, que declina, especialmente de maneira mais drástica nas gramíneas do que nas leguminosas (Reis e Rodrigues, 1993). As gramíneas tropicais apresentam baixos teores de carboidratos solúveis e amido (frações A e B1), raramente superiores a 20% dos carboidratos totais (Vieira et al., 2000). A fração indisponível C é dependente do teor de lignina, portanto plantas com idade fisiológica mais avançada apresentam maiores teores dessa fração. O aumento da fração C promove redução da porção potencialmente degradável da fibra (B2), devido às interações entre a lignina e a hemicelulose (Caballero et al., 2001). Os componentes que compõem a fração B2 e C formam a fibra insóluvel em detergente neutro (FDN). A FDN constitui o conceito analítico de fibra desenvolvido por P. J. Van Soest na década de 1960, a qual apresenta os três componentes principais: a celusose, hemicelulose e lignina. A FDN possui

grande influência no valor nutritivo das gramíneas tropicas devido a sua elevada capacidade de repleção ruminal em função da lenta degradação pelos microrganismos ruminais, a qual influencia diretamente no consumo de forragem (Detmann et al., 2010). Em recente artigo de revisão Huhtanen et al (2010) propuseram a utilização das frações do FDN como um modelo de predição da digestibilidade in vivo da matéria orgânica de silagens, mas este pode ser aplicado as forragens em geral. O sistema de análises de fibra utilizando detergentes, desenvolvido por Van Soest (1967) forneceu a base para um mais completo entendimento dos mecanismos biológicos da digestão da forragem comparado com o sistema de análise proximal de Weende. Neste sistema, tem-se a separação da matéria seca da forragem na porção solúvel em detergente neutro (SDN), ou conteúdo celular e na fibra em detergente neutro (FDN). Originalmente, a porção SDN foi estimada através da diferença entre MS FDN, mas considerando que as cinzas não fornecem energia, o calculo de SDN deve ser feito utilizando a matéria orgânica (MO). Assim, tem-se: SDN = MO FDN. A fração FDN pode ser digerida pelas enzimas produzidas pelos microrganismos ruminais, enquanto a porção SDN também pode ser utilizada como substratos pelas enzimas sintetizadas pelos mamíferos (Huhtnen et al 2010). Segundo Van Soest (1994) a digestibilidade verdadeira da fração SDN é próximo de 100% quando estimada pelo teste de Lucas. Huhtanen et al. (2006) reportaram valor de 0,963 de digestibilidade verdadeira da fração SDN em diferentes forragens. Os mesmos autores determinaram valor de excreção metabólica fecal (M) de 100 g/kg de MS consumida, e assim o máximo valor de digestibilidade aparente não pode exceder a 0,90. Com base nos princípios do teste de Lucas, a concentração de MO digestível (MOD) pode ser expressa como (g/kg MS) MOD = SDN + dfdn M [1] Onde: SDN = solúvel em detergente neutro, dfdn = concentração de FDN digestível, M = excreção metabólica fecal. Considerando que a fração dfdn representa o conteúdo de FDN x a digestibilidade do FDN, enquanto a SDN é a MO FDN e M é igual a 100 g/kg de MS.

MOD (g/ kg) = (MO FDN) + (FDN x dfdn) 100 [2] Segundo Huhtanen et al. (2010) esta equação indica que a variação na digestibilidade da MO da forragem está associada, principalmente a concentração e digestibilidade da fração FDN, o que implica que a principal ênfase na avaliação da MOD da forragem deve ser direcionada para as características nutricionais da parede celular. Uma porção do FDN da forragem não e digerida pelos microrganismos ruminais, mesmo quando submetida a ação das enzimas por tempo indeterminado (Figura 5). Esta porção é denominada fração de fibra em detergente neutro indigestível (FDNi), a qual pode ser determinada pelas técnicas in vitro e in situ. Assumindo esta premissa, pode-se calcular a fração FDN potencialmente digestível (Huhtanen et al, 2010). FDNpd = FDN FDNi [3] Considerando que o FDNi é uma entidade nutricionalmente uniforme, a equação [2] pode ser escrita como a seguir: MOD (g/kg) = (MO FDN) + (FDNpd x dfdnpd) 100 [4] Onde, dfdnpd é a porção digerida do FDNpd. Esta equação indica que a variação na DMO é uma função das concentrações do FDNi e da dfdnpd. Segundo Huhtanen et al. (2006) os menores coeficientes de variação (4,1 x 11,4%) e variação nos valores (0,79 a 0,94 x 0,48 a 0,87) na digestibilidade do FDNpd, comparado com a do FDN em varias forrageiras indicaram que o FDNpd é uma entidade nutricionalmente ideal mais adequada para avaliação da qualidade da forragem do que a porção FDN. Neste contexto (Figura 1) é importante distinguir claramente as diferenças entre as frações FDNi e porção de FDN não digerida (ufdn). A porção FDNi não é digerida pelos ruminantes, enquanto ufdn representa a excreção fecal do FDN/ kg de MS ingerida, ou seja a fração do FDNpd que não é digerida em um dado nível de consumo. A porção do ufdn pode exceder a FDNi, uma vez que inclui uma porção do FDNpd que não é digerido devido ao

tempo de retenção nos compartimentos de fermentação serem curtos para completarem a digestão do FDNpd (Figura 1). Figura 1 Ilustração conceitual das transformações da MS da Forragem no trato digestivo Mertens, 2007. 3.2 - Compostos nitrogenados A avaliação da composição química e das características nutricionais dos compostos nitrogenados é de suma importância para otimizar a utilização dos recursos forrageiros. Algumas espécies forrageiras são fontes de proteína de alta degradação ruminal, enquanto outras suprem proteína com taxa de degradação mais lenta (Redfearn e Jenkins, 2000). A fração protéica da forragem é composta de proteína verdadeira e de nitrogênio não protéico (NNP). Cerca de 75% do N das folhas é relacionado a proteína verdadeira, compondo as enzimas que atuam nos processos de fotossíntese, respiração e crescimento. Em termos de fisiologia vegetal a proteína verdadeira da planta é classificada em três grandes classes de acordo com a solubilidade em água (Mangan, 1982). A Fração I é solúvel em água, enquanto a Fração II contém porções solúveis e insolúveis e a proteína da membrana do cloroplasto que é insolúvel representa a terceira classe.

A Fração I refere-se à proteína homogênea do cloroplasto, constituída de macromoléculas de ribulose 1-5 difosfato carboxilase-oxigenase (RUDP). A enzima RUDP é uma proteína abundante, altamente solúvel encontrada nas células do mesofilo de gramíneas C3 e no feixe vascular da bainha das gramíneas de clima tropical (Ku et al., 1979). A enzima fosfoenol piruvico carboxilase (PEP) substitui a RUDP no mesofilo das espécies de gramíneas C4, e podem representar 10 a 15% da proteína verdadeira das folhas. A Fração II da proteína verdadeira constitui de grandes quantidades de ferredoxina, plastocianina e os citocromos do cloroplasto e tubulina, actina, ATP sintetase, anidrase carbônica, e também fatores de alongação contidos no citoplasma, enquanto os aminoácidos livres representam em média 10% da proteína da forragem (Redfearn e Jenkins, 2000). A fração de NNP representa aproximadamente 25% do N total das folhas, embora esse componente possa variar de 15 a 50% do conteúdo de N da planta inteira. A fração de NNP compreende DNA, RNA, amônia, uréia e nitrato, e sua principal função é servir como intermediário para a síntese de proteína, agente de translocação e como produto de assimilação inorgânica de N (Mangan, 1982). A fração de proteína das plantas C3 tem sido bem caracterizada, enquanto as informações sobre as espécies C4 são escassas. Os teores de PB das espécies de gramíneas de clima tropical variam de 10,0 a 15,0; 7,0 a 10,0 e de 4,0 a 7,0%, respectivamente, nas plantas colhidas no estádio vegetativo, alongamento do caule e reprodutivo (Redfearn e Jenkins, 2000). Enquanto os valores registrados na literatura nas gramíneas de clima temperado são de 12,0 a 18,0; 9,0 a 12,0 e de 6,0 a 9,0%, respectivamente nas plantas colhidas no estádio vegetativo, alongamento do caule e reprodutivo (Buxton et al., 1996). As gramíneas pertencentes ao gênero Panicum, quando imaturas, apresentam conteúdos de PB adequados, atendendo o requerimento para ganho de peso da maioria de bovinos do rebanho de corte, que é de aproximadamente 11%, de acordo com o NRC (1985). Porém, quando em estádio de desenvolvimento avançado, os conteúdos de PB se aproximam do nível crítico de 6,0 a 7,0%.

Segundo Poppi et al. (1997), enquanto os teores de PB da forragem podem variar consideravelmente, os valores de proteína do conteúdo celular são constantes. Tal fato ocorre devido a grande variação nos valores de parede celular da planta, afetando assim os teores de PB da forragem devido ao efeito de diluição. Estes resultados são coerentes com o conteúdo de RUDP, que representa a principal fonte de PB solúvel das forrageiras (34 a 40% do total de PB). Recentemente têm ocorrido avanços na avaliação nutricional dos compostos nitrogenados de plantas forrageiras. O sistema proposto por Sniffen et al. (1992) denominado Cornell Net Carbohydrate and Protein System assume que a proteína metabolizável varia em todas as forrageiras com base na composição da proteína bruta, taxa de digestão ruminal, taxa de passagem, produção e composição da proteína microbiana. Esse sistema assume cinco frações da proteína, ou seja, as frações A, B1, B2, B3 e C. A fração A é considerada como a solúvel, constituída de NNP, enquanto a C é determinada pelo N ligado a porção insolúvel em detergente ácido. As frações B1, B2 e B3 são consideradas proteína verdadeira e apresentam degradação ruminal rápida, intermediária e lenta, respectivamente. A fração B3 é constituída pela extensina, proteína associada à parede celular, determinada pela diferença entre os conteúdos de N ligado a fibra em detergente neutro menos o N ligado a fibra em detergente ácido. Nas espécies de clima temperado, mais de 80% do N está na fração solúvel da célula (Sanderson e Wedin, 1989). A concentração de N da parede celular é menor nas espécies de gramíneas de clima temperado comparado com leguminosas, mas a concentração de N na parede celular é mais alta nas folhas de gramíneas do que nas de leguminosas. As características da fração protéica também diferem entre as gramíneas de ciclo C3 e C4. Além de menor conteúdo de PB, as folhas de gramínea C4 possuem menor degradação da proteína no rúmen em relação a plantas C3, uma vez que são observados altos valores das frações de menor solubilidade ruminal (B2, B3) e insolúveis (C). Além deste aspecto, deve-se ter em mente que os teores de proteína degradável no rúmen diminuem com o desenvolvimento das gramíneas de clima tropical, no entanto nas gramíneas

C3 as concentrações destas frações sofrem menores alterações (Mullahey et al., 1992). Com o desenvolvimento das plantas, observa-se decréscimo no conteúdo de PB, aliado a manutenção da proporção de proteína de baixa degradação ruminal, sendo assim, em função do efeito de diluição, tem-se o aumento na fração proteína escape. É oportuno salientar que a presença de proteína escape não é importante para os microrganismos do rúmen, podendo ocorrer deficiência de N para atender o requerimento dos mesmos, o que tem implicações na taxa de degradação da fração fibrosa, consumo de forragem e desempenho animal (Anderson, 2000). No entanto forragens com altos teores de proteína degradável no rúmen apresentam menor eficiência de utilização de nitrogênio amoniacal ruminal e síntese de proteína microbiana. A análise da Figura 2 evidencia que de nada adianta um pico de produção de N-NH 3 se a energia não está prontamente disponível para a síntese microbiana (Figura 2). Neste caso, a amônia liberada no rúmen será absorvida pela parede ruminal e quando a capacidade de reciclagem do nitrogênio na forma de uréia for superada, este excedente será eliminado através da urina, carregando com ele 4 ATPs por mol de uréia, gastos na sua síntese, afetando sobre maneira o desempenho animal. De acordo com Poppi e McLennan (1995) a máxima eficiência na síntese de proteína microbiana é atingida quando se observa 160 g de PD/kg de matéria orgânica fermentável, enquanto valores da ordem de 210 g de PD/kg de MO fermentável resultam em apreciável perda de N. É importante chamar a atenção para a discordância dos eventos ocorrentes no rúmen, uma vez que a rápida disponibilidade de produtos da degradação da proteína ou de NNP não é simultânea com a liberação de quantidade apropriada de energia disponível para o crescimento microbiano (situação A, Figura 2), representando baixa eficiência de incorporação de nitrogênio em proteína microbiana. Na situação B (Figura 2), simulando maior disponibilidade de energia, simultaneamente ao evento da degradação da proteína, a utilização de NH 3 pelos microrganismos será maior, com menores perdas de nitrogênio na forma de amônia. A disponibilidade das frações protéicas e fibrosas da forragem são os fundamentos para a maximização da síntese de proteína microbiana, que é a

Acúmulo I SIMBOV I Simpósio Matogrossense de bovinocultura de corte principal fonte de proteína para atender o requerimento de animais em pastejo. A sua produção (PPM) expressa em g/kg matéria orgânica digestível (g/kg MOD) varia intensamente nas dietas a base de forragem, devido a concentração de carboidratos não estruturais ou também daqueles solúveis em água (Poppi et al., 1997). Proteína da planta de rápida degradação Urina Uréia Fígado NH 3 (B) Rapida libração de energia (A) Lenta liberação de energia NH 3 utilizado por microorganismos Figura 2. Representação esquemática do desajuste dos principais eventos no rúmen (Adaptado de Davies et al, 2005). Tempo Alternativas estratégicas para melhorar o sincronismo entre disponibilidade de energia com a liberação de NH 3 para uma melhor eficiência microbiana é desejável, por esse motivo tem sido alvo de pesquisas das grandes áreas de nutrição e manejo de pastagens. Desta forma, o objetivo central da suplementação da dieta de animais em pastejo é o equilíbrio nas relações energia/proteína que permitam ao animal expressar seu desempenho de forma bioeconomicamente viável, o que nas condições tropicais apresentam características muito peculiares. 4 Produção intensiva de bovinos de corte em pastagens no período seco A intensificação dos sistemas de produção de carne bovina em pastejo envolve estratégias de manejo que maximizem o ganho de peso no período seco de forma a manter crescimento contínuo dos animais durante todo ano.

Para aumento na produtividade e maior giro de capital, o abate de animais com 24 meses ou menos de idade se faz necessário. Um dos grandes desafios nesses sistemas é a terminação dos animais em regime de pastejo, principalmente no período seco do ano, em função das alterações na disponibilidade de massa e concentração de nutrientes das forrageiras tropicais. A adequação da disponibilidade de nutrientes às exigências dos animais é de extrema importância para sistemas mais intensivos que objetivam abate de animais precoces. Nesse contexto a terminação de bovinos em pastejo deve ser estruturada em três etapas, em que a primeira refere-se à utilização de estratégias que permitissem o acúmulo de massa de forragem para a utilização no período de baixo crescimento das plantas. A seguir deve-se proceder à correção dos nutrientes limitantes nessa massa acumulada para sua eficiente utilização pelos microrganismos ruminais, e por fim o calculo final da dieta com base nas exigências para terminação dos animais (Figura 3). Figura 3. Esquema das etapas para terminação dos animais em pastejo durante o período da seca. 4.1- Estratégias de manejo para produção de forragem para uso no período seco O manejo de diferimento do pasto é a primeira etapa que deve ser implementada nos sistemas produtivos que utilizam a terminação de bovinos nas pastagens durante a seca, pois permite acúmulo de forragem para utilização nesta época do ano.

O diferimento das pastagens consiste em selecionar determinadas áreas e vedá-las à entrada de animais no final da estação de crescimento (período das chuvas), com o objetivo de corrigir a defasagem de produção de forragem durante o ano, e proporcionar forragem na forma de feno em pé para pastejo direto durante o período de baixa produção forrageira. No entanto, em grande parte dos sistemas que utilizam esta técnica, verifica-se que o pasto é de baixa qualidade com pequena proporção de folhas e alto acumulo de colmos e, conseqüentemente elevado teor de fibra (Reis et al, 1997). A época inadequada de diferimento e a escolha de gramíneas impróprias para este tipo de manejo consistem nos principais fatores de erro, com efeitos marcantes sobre as fases seguintes. O período de vedação, ou seja, as datas na qual o pasto será vedado e utilizado assume importante papel em relação à qualidade da forragem a ser obtida ao final do período de exclusão, sendo esta a primeira importante decisão a ser tomada dentro do sistema. Porém esta decisão é difícil, uma vez que é afetada por outras variáveis, algumas controláveis (massa de forragem no momento de vedação, quantidade de adubo aplicado) e outras não (precipitação, temperatura, disponibilidade de luz). Assim, a escolha do período de vedação das pastagens varia de acordo com as condições do ambiente, sendo que, a aplicação dessa tecnologia deve ser analisada e estudada de acordo com cada situação. 4.2 Época de diferimento e espécie forrageira No geral, pastagens diferidas por períodos mais longos apresentam menor valor nutritivo, maior produção de matéria seca e maiores riscos de apresentarem perdas por acamamento e pisoteio. Em períodos menores de vedação, ocorre um menor acumulo de forragem e um maior valor nutritivo (Costa et al., 1993). Leite et al. (1998) avaliaram épocas de diferimento (fevereiro, março e abril) e utilização (junho, julho, agosto e setembro) em seis gramíneas. Esses autores relataram que, em todas as espécies estudadas, o teor de proteína bruta foi maior na forragem colhida nas três primeiras épocas de utilização (junho, julho e agosto), sendo o menor valor no período de diferimento de fevereiro e o maior em abril. Assim, chegaram à conclusão que a melhor época

para diferimento do P. maximum cv. Vencedor, e os quatro genótipos de B. brizantha estendem-se de março até a primeira quinzena de abril, enquanto no genótipo A. gayanus cv. Planaltina, o diferimento deve ser realizado durante o mês de março. Segundo Silva et al. (2008), as plantas mais indicadas para a prática de diferimento são aquelas cujo valor nutritivo sofre redução lenta ao longo do tempo, tais como as gramíneas de crescimento prostrado e decumbentes como as do gênero Brachiaria (decumbens, capim-marandu e capim-xaraés), Cynodon (capins estrela, coastcross e tifton) e Digitaria (capim-pangola). As gramíneas cespitosas de crescimento ereto, tais como as do gênero Pannicum (capins tanzânia, mombaça e tobiatã), Pennisetum (capim elefante) e Andropogon (cvs. Planaltina e Baeti), quando diferidas por períodos longos, apresentam acúmulo excessivo de colmos grossos e baixa relação folha:colmo, não sendo indicadas, portanto, para a vedação por longos períodos (Silva et al., 2008). Euclides et al. (2007) relataram que as plantas forrageiras mais recomendadas para a prática de diferimento são aquelas que apresentam baixo acúmulo de colmos e boa retenção de folhas verdes, o que resulta em menores reduções no valor nutritivo ao longo do tempo. Euclides et al. (2007), avaliaram o efeito da época de diferimento (fevereiro e março) e utilização (maio a julho e julho a outubro) em pastos de B. brizantha (cv. Marandu) e B. decumbens (cv. Basilisk). Os autores relataram que os pastos diferidos em fevereiro apresentaram maior massa de matéria seca total (4.530 vs 3.160 kg/ha), de matéria seca verde (2.290 vs 1.445 kg/ha) e matéria seca de lâminas foliares (935 vs 680 kg/ha) que os diferidos em março e concluíram que esses dois cultivares de braquiária são adequados para o diferimento no final do verão possibilitando grande incremento na taxa de lotação durante todo o período seco, porém com valores nutricionais limitantes a produção animal. 4.3 - Estrutura do pasto diferido Durante o crescimento e desenvolvimento dos pastos, que resulta em acúmulo de forragem, a planta modifica sua morfologia e, conseqüentemente, sua estrutura (Hodgson, 1990). De acordo com Stobbs (1973), as características estruturais da forragem afetam o tamanho do bocado, o número

de bocados por unidade de tempo, o tempo de pastejo e, por fim, o consumo e desempenho animal. Desta forma, o período de diferimento além de afetar a produção de forragem, também modifica a estrutura do pasto, caracterizado pela massa de seus componentes morfológicos (Santos et al., 2009a). O tempo de diferimento influência negativamente no número de perfilhos vivos e vegetativos e positivamente na massa de colmo verde e material morto (Figuras 4 e 5) (Santos et al. 2010a). A redução na densidade populacional de perfilhos vivos em pastos diferidos por longos períodos pode comprometer sua persistência, caso o diferimento seja realizado, numa mesma área, durante vários anos consecutivos. Deste modo, é prudente alternar as áreas de pastagem a serem diferidas durante os anos, principalmente se o período de diferimento for longo, devendo-se considerar ainda que a adoção do diferimento da pastagem, em geral, resulta em aumento do banco de sementes no solo pelo desenvolvimento dos perfilhos reprodutivos. Figura 4 - Massa de colmo verde ( ) e de material morto (o) em pasto de capim-braquiária durante o período de diferimento da pastagem em Viçosa, Estado de Minas Gerais. Significativo a 1% (**) e 5% (*). Fonte: Santos et al. (2010a). Figura 5 Densidades populacionais de perfilhos vivos ( ) e de perfilhos totais (o) em pasto de capimbraquiária durante o período de diferimento em Viçosa, Estado de Minas Gerais. Significativo a 1% (**). Fonte: Santos et al. (2010a). Pastos diferidos por menores períodos (tardiamente) são desfolhados por mais tempo. Assim, muitos perfilhos que estavam iniciando o estágio reprodutivo têm seu meristema apical removidos, por outro lado, pastos diferidos mais cedo (maior período de diferimento) foram menos pastejados, apresentando maior proporção de perfilhos reprodutivos durante o período de diferimento (Santos et al., 2009b).

A altura das plantas também aumenta linearmente em pastos submetidas a maiores períodos de diferimento. Santos et al. (2009c), avaliando o índice de tombamento (quociente entre altura da planta estendida e altura do pasto) em pastos formados com Brachiaria decumbens (cv. Basilisk), submetidos a diferentes períodos de diferimento e doses de N notaram que o índice de tombamento dos pastos foi influenciado apenas pelo período de diferimento. Os mesmos autores sugeriram que as estratégias de manejo que poderiam ser utilizadas para reduzir esse índice e reduzir as possíveis perdas de forragem associadas a esta condição seria o menor período de diferimento e a redução das doses de N aplicada no início do diferimento do pasto. 4.4 Adubação nitrogenada antes do diferimento A Adubação nitrogenada e o tempo de diferimento afetam diretamente a estrutura e valor nutritivo da forragem acumulada. Trabalho conduzido por Santos et al. (2009b) avaliando doses crescentes de nitrogênio (0, 40, 80 e 120 kg/ha) e três períodos de diferimento (73, 95 e 116 dias) em pastos de Brachiaria decumbens cv. Basilisk encontraram aumento linear da massa de forragem com o aumento no período de diferimento e das doses de nitrogênioe. A massa de lâmina foliar verde aumentou com a aplicação de N, podendo isso ser explicado pelo aumento na duração de vida das folhas e pelo número de folhas por perfilhos individuais. Pastos com menores períodos de diferimento (73 dias), a adubação nitrogenada de 0 para 120 kgn/ha resultou em aumento de 145% na densidade populacional de perfilhos vegetativos, uma vez que esse tipo de adubação aumenta a capacidade de perfilhamento. Esse efeito de aplicações de N na densidade de perfilhos depende do índice de área foliar (IAF) que o pasto é mantido (Santos et al., 2009b). Quando o IAF é baixo, ocorre efeito positivo do N na densidade de perfilhos (aumento no site filling), mas esse efeito não persiste com o desenvolvimento do IAF devido ao sombreamento e mudanças na qualidade da luz incidente na base da planta que inibe o perfilhamento. Prosseguindo nesse mesmo estudo, foi encontrado aumento na massa de colmos verdes com elevação nas doses de N, devido à maior número de perfilhos por unidade de área e, principalmente, pelo maior peso dos perfilhos nesses pastos, sendo que o período de diferimento também contribuiu para o

aumento da massa de colmos verdes devido ao alongamento destes. Os autores relataram ainda que o aumento da massa de forragem total com o aumento das doses de N foi devido ao aumento da massa de forragem verde, uma vez que o N não afetou a massa de forragem morta. Neste trabalho, o pasto diferido por maior período (116 dias) e sem adubação nitrogenada produziu semelhante massa de forragem (4.979 kgms/ha) em comparação aqueles diferidos por menor período (73 dias) e adubados com a dose de 80 kgn/ha (4.901 kgms/ha). Assim, adubação nitrogenada também pode permitir maior flexibilização do período de diferimento da pastagem, pois o nitrogênio aumenta a taxa de crescimento da gramínea e, conseqüentemente, a quantidade de forragem produzida por unidade de tempo, sendo possível obter produção de forragem semelhante, mesmo adotando distintos períodos de diferimento (Santos et al., 2009d). Porém, atenção deve ser dada à existência de possibilidade de ocorrer grandes perdas por volatilização quando uréia é administrada nas épocas secas do ano em solos com baixa umidade. Nesse sentido, outras fontes de N como o sulfato de amônio e o nitrato de amônio, menos susceptíveis a volatilização, podem ser empregados como forma de reduzir as possíveis perdas (Santos et al., 2009d). A adubação nitrogenada tem efeito limitado e pequeno na melhoria do teor de PB da forragem diferida e seu efeito é mais pronunciado sobre o aumento na produção de forragem. Segundo Santos et al. (2009d), em todas as equações geradas que continham os efeitos do fator período de diferimento e doses de N, o coeficiente angular foi sempre superior para o período de diferimento em detrimento às doses de N. Desta forma, a adequação de período de diferimento da pastagem constitui ação de manejo prioritária e essencial para conciliar produção de forragem em quantidade e qualidade (Santos et al., 2009d). 4.5 Valor nutritivo da forragem de pastos diferidos O menor período de diferimento pode contribuir para a melhoria do valor nutritivo da forragem disponível devido à maior participação de perfilhos vegetativos na estrutura do pasto que possuem maior relação entre massa de

lâmina foliar verde:colmo verde o que favorece o consumo pelos animais (Santos et al., 2009b; 2010a). Euclides et al. (2007) encontraram relações entre matéria seca total:matéria seca verde de 1:0,40 e 1:0,55 nos pastos diferidos em fevereiro e março, respectivamente. Segundo os autores, a dieta selecionada e consumida pelos animais foi 100% da fração verde da planta, e, desta, 40 e 55% das dietas foram constituídas de lâmina foliar, nos pastos diferidos em fevereiro e março, respectivamente. Desta forma, as ofertas desses componentes da forragem podem limitar a máxima ingestão de forragem pelos animais. O índice de tombamento é associado com baixos valores nutritivos da forragem, e neste sentido, Santos et al. (2010b) encontraram que pastos mais baixos (tombados), porém com maior altura de planta (altura estendida) correlaciona-se positivamente com os teores de FDN e FDN indigestível (FDNi) e negativamente com os valores de PB e MS potencialmente digestível (MSpd). No entanto, foi observado correlação positiva entre o componente morfológico massa de lâmina foliar verde com os percentuais de PB, FDNpd e MSpd e negativa com a FDN e FDNi. Também encontraram correlação positiva entre massa de lâmina foliar morta e FDNpd, indicando que laminas foliares mortas constituem alimento energético para o animal durante o período da seca. A massa desse componente morfológico foi correlacionada negativamente com os teores de FDNi. Euclides (2001) enfatizou que o consumo máximo de forragem por animais em pastejo ocorre quando os mesmos estão em pastos com alta disponibilidade de folhas sendo que, o colmo e material morto, podem limitar o consumo. Vários autores descreveram a importância da quantidade de folhas verdes sobre a qualidade da ingesta (Santos et al., 2004a; Euclides et al., 2000; Euclides, 2001). Euclides et al. (2000), notaram uma preferência dos animais por folhas a caules e material morto, caracterizando sua seletividade. A avaliação da Figura 6 corrobora com os autores supracitados uma vez que o desempenho de animais em pastejo está intimamente ligado as variações na estrutura do dossel forrageiro e o valor nutritivo da forragem.

Figura 6 - Oferta de matéria verde seca e ganho de peso de novilhas suplementadas com suplemento protéico e suplementadas com sal mineral mantidas em pastagens de capim Marandú avaliada nos períodos chuvoso e seco. Adaptado de (Oliveira, 2006). A suplementação propiciou maior ganho de peso dos animais mantidos em pastagens ao longo do ano, comparado com o desempenho dos não suplementados. No entanto, o ganho de peso dos animais acompanhou a variação da oferta de forragem verde, registrando-se menores desempenhos nos meses nos quais se observaram as menores ofertas de massa e também nos meses de julho a setembro, constatou-se que a proporção de folha foi inferior a 40%, sendo que nos demais períodos a porcentagem de folhas foi sempre superior ao valor supracitado. Esses dados demonstram que a suplementação é um componente que auxilia na eficiência de utilização do pasto, porém é altamente dependente da quantidade e qualidade do pasto existente. Desta forma, em situações com elevada oferta de forragem e baixo consumo pelos animais, o aumento na oferta de forragem pode não alterar o consumo e desempenho dos animais, uma vez que eles podem não conseguir ingerir eficientemente o pasto (Santos et al., 2004). 5 Princípios para suplementação no período seco

As forragens de pastos diferidos, no geral, são caracterizadas pela baixa qualidade, destacando-se o baixo nível de compostos nitrogenados ou proteína bruta e pela elevada lignificação da fração fibrosa insolúvel, o que implica baixos níveis de consumo e de digestibilidade, reflexo da falta de nitrogênio para crescimento microbiano. Deste modo, o fornecimento os nutrientes deficientes na forragem é essencial para utilização dos recursos forrageiros disponíveis pelas bactérias ruminais e consiste na segunda etapa do esquema proposto para terminação de bovinos em pastejo na seca (Figura 3). Sendo o valor nutritivo das forragens durante o período seco limitado, o consumo assume importante papel em relação ao desempenho animal. A capacidade de ingestão de pasto de baixa qualidade está intimamente associada ao efeito de repleção ruminal da fração fibrosa insolúvel, o qual determina a capacidade da FDN em ocupar espaço no ambiente ruminal (Detmann et al., 2010). Sendo assim, que a habilidade da microflora em degradar e fermentar os polissacarídeos da forragem determina a energia extraída e a taxa de passagem, influenciando assim a repleção ruminal. A eficiência com que a parede celular é utilizada pelos microorganismos fermentadores pode ser alterada por fatores ambientais e nutricionais, como manejo da pastagem, alternativas de suplementação e correção de desequilíbrios de nutrientes (Paulino et al., 2006a). As limitações inerentes aos recursos nutricionais basais de baixa qualidade (pasto) são intrinsecamente limitações ao crescimento microbiano no rúmen. Nestas situações, devido à alta relação carbono:nitrogênio no substrato basal, haverá deficiências absoluta de compostos nitrogenados para a síntese de enzimas microbianas as quais são responsáveis pela degradação dos compostos fibrosos insolúveis da forragem (Detmann et al., 2009). Uma vez que a forragem foi consumida pelo animal, a qualidade da fibra passa a ser o fator mais limitante à produção (Wattiaux et al., 1991), sendo isso demonstrado pela melhora na performance animal com pequenas mudanças na digestibilidade da forragem (Casler e Vogel, 1999). Detmann et al. (2005) inferiram que em dietas onde parede celular é fornecida pode haver um efeito dramático na cinética de digestão devendo esta ser um processo de segunda ordem, sendo função do substrato e enzimas ativas. Ainda citaram que no caso de parede celular, a digestão requer uma

população microbiana ativa com capacidade de digeri-la, sendo possível que tanto em dietas de forragem total como mistas com concentrado, há situações em que a digestão é limitada por capacidade microbiana ou enzimática e não somente pela propriedade cinética da parede celular. De acordo com Reis et al. (2009) e Paulino et al. (2008) mesmo havendo a disponibilidade de fibra potencialmente digestível nos pastos na seca, a proteína é o nutriente mais limitante, devendo esta ser corrigida através da suplementação, a fim de aumentar a eficiência de degradação da fração fibrosa e, conseqüentemente, a taxa de passagem e o consumo de matéria seca da forragem. Dessa forma, não só o consumo de forragem seria aumentado devido ao estímulo ao crescimento das bactérias fibrolíticas, mas o consumo de energia seria maximizado pela maior extração da energia da forragem (Malafaia et al., 2006). Com base nessa caracterização, pode-se inferir de forma direta que a suplementação estratégica no período seco envolve a utilização de nitrogênio como base para a formulação do suplemento considerando-se a segunda etapa do planejamento nutricional para terminação de bovinos de corte nesta época (Figura 3). Segundo Reis et al. (2005), no Brasil Central o rebanho mantido em pastagens no período de seca se alimenta de forragem de baixo valor nutritivo, caracterizada por teores de proteína bruta inferiores ao nível crítico de 7% MS, limitando, desta forma, o seu consumo. Entretanto, Lazzarini et al. (2009) mencionaram que o nível mínimo de 7% PB na dieta não assegura maximização na utilização dos substratos energéticos de lenta disponibilidade, uma vez que respostas positivas na degradação da fibra foi observado ate valores próximos a 13-14% de PB. O fornecimento de compostos nitrogenados durante a seca deve considerar os eventos ruminais de digestão, fermentação, síntese de compostos nitrogenados e consumo de forragem de baixa qualidade. Detmann et al., (2010) determinaram que no período da seca, com forragem de baixa qualidade o mínimo de 8 mg/dl de nitrogênio amoniacal no rúmen (NAR) deve ser estabelecido pela suplementação para garantir a capacidade dos microrganismos fibrolíticos de degradação dos componentes fibrosos. No entanto, verificou-se que a maximização do consumo de fibra de

forragem de baixa qualidade foi obtida ao conseguir 15 mg NAR/dL de fluido ruminal. A divergência entre os valores é devido às diferenças entre exigência de microrganismos e animal. O aumento no consumo de fibra até níveis de 15 mg de NAR/dL pode constituir ajuste no balanço proteína metabolizável/energia metabolizável da dieta. Ocorrendo constância na energia extraída a partir da fibra, a elevação no consumo implicaria maior aporte de proteína metabolizável a partir de proteína microbiana, o que acarretaria melhor adequação metabólica ao animal. Deste modo, o mínimo de 8% de PB na dieta deve ser estabelecido para crescimento microbiano e utilização da fibra e 10% de PB para maximizar o consumo de fibra digestível (Detmann et al., 2010). Assim, no período seco, a segunda etapa do planejamento nutricional (Figura 3), a meta a ser alcançada com a suplementação é adequar os níveis deficientes de nitrogênio da dieta basal, fornecendo compostos nitrogenados em quantidades que permitam elevar o valor de PB da dieta a 10% a fim de maximizar a atividade dos microorganismos ruminais e o consumo voluntário. Dando seqüencia ao planejamento, a terceira etapa (Figura 3) seria o suprimento das exigências dos animais para as metas de ganhos de peso estipuladas pelo produtor. Como se refere a animais na fase de terminação a energia da dieta assume importante papel uma vez que, nessa fase, o animal passa a depositar de forma mais acentuada tecido adiposo. O nível de suplementação e o tipo de suplemento a ser usado vão depender da qualidade e quantidade de forragem disponível e dos objetivos a serem alcançados. De maneira geral, Euclides e Medeiros (2005) consideram que as formulações de suplementos para as condições de pastejo podem ser estruturadas em três grupos, dependendo do desempenho a ser alcançado: simples manutenção do peso vivo; ganhos moderados entre 200-300g/animal/dia; e ganhos de até 500-600g/animal/dia. No entanto, as respostas animal frente à suplementação podem ser afetada por diversos fatores, sendo estes ligados ao ambiente, ao animal, e interações pasto/suplemento. Desta forma, para a formulação de suplementos e determinação da quantidade a ser fornecida, com enfoque na terminação dos animais em pastejo, devem ser considerados os aspectos relacionados à dieta basal e as exigências do animal.

5.1 Características qualitativas e quantitativas dos suplementos x forragem A justificativa para o ajuste dos nutrientes a serem fornecidos para animais em terminação nas pastagens, durante a seca deve-se a melhor adequação e a maior eficiência de utilização dos mesmos. A fixação do nível de 10% de PB na dieta basal para bovinos em pastejo consumindo forragem de baixa qualidade permite delinear qual a melhor estratégia de fornecimento de compostos nitrogenados que atenda a 2º etapa do planejamento proposto na Figura 3, fornecimento de nutrientes limitantes para utilização da forragem disponível. No entanto, associada à proteína, deve-se considerar a complementaridade com que o nitrogênio ruminal é utilizado na presença de outros substratos microbianos essenciais, tais como ácidos graxos de cadeia ramificada, enxofre, fósforo, cobre e cobalto. Além disso, o crescimento microbiano desenvolve-se até o limite da disponibilidade de energia (Paulino et al., 2008). A partir de então, inicia-se a 3º etapa que consiste na introdução de compostos nitrogenados adicionais em conjunto com fontes energéticas que permitam sua maior assimilação ruminal e/ou atendam as exigências dos animais para que as metas de produção do sistema sejam atingidas (Detmann et al., 2010). O fornecimento de fontes energéticas de rápida degradação ruminal concomitante aos compostos nitrogenados suplementares pode ser realizados com dois propósitos principais, de acordo com as metas de ganhos e da estratégia de manejo da pastagem. Devem-se estabelecer níveis de nutrientes e fontes nos quais não haja restrições significativas sobre o consumo de forragem priorizando maximizar a utilização da forragem e maximizar a síntese de proteína microbiana. Nas situações, onde se observa limitação na oferta de forragem, ou/e almeja-se maior lotação das pastagens, o fornecimento de maiores níveis de suplementos com intuito de promover um efeito de substituição da forragem pelo suplemento deve ser estabelecido. Neste contexto, as características dos nutrientes fornecidos, o nível de suplemento e sua interação com a quantidade e qualidade da forragem disponível ditarão às respostas as estratégias adotadas.

A principal interação que ocorre, quando suplementos são fornecidos para animais mantidos em pastagens, é a do efeito associativo que, conceitualmente, é definido como a mudança ocorrida na digestibilidade e/ou no consumo da dieta basal (forragem). O efeito associativo pode ser de três tipos: substitutivo, aditivo ou suplementar e combinado. O efeito substitutivo é caracterizado pela diminuição do consumo de energia digestível oriunda da forragem, enquanto se observa aumento no consumo de concentrado. Assim, nesta condição, mantém-se constante o consumo total de energia digestível (CTED), indicando que a ingestão do suplemento substituiu a do pasto (Figura 7). O efeito aditivo ou suplementar refere-se ao aumento do consumo total de energia digestível (CTED) devido ao incremento no consumo do concentrado, podendo o consumo de forragem permanecer constante ou aumentar (Figura 7). Figura 7. Representação dos tipos de efeito associativo (Adaptado de Moore, 1980). No efeito combinado, observam-se ambos os efeitos, substitutivo e aditivo, ou seja, há decréscimo no consumo de forragem e, ao mesmo tempo, elevação no de concentrado, o que resulta em maior CTED (Figura 7). Quando ocorre o efeito substitutivo, a redução do consumo de forragem é expressa como uma proporção da quantidade do suplemento consumido. Assim, o coeficiente de substituição pode ser expresso pela equação:

Coeficiente de Substituição = Descréscimo no consumo de forragem Quantidade de suplemento consumido Há que se considerar que, quanto melhor for à qualidade da forragem, maior será o coeficiente de substituição pelo suplemento. Nessa situação, o coeficiente de substituição pode refletir a manutenção de um consumo de energia constante, ou a diminuição da digestão da fibra, o que pode acarretar decréscimo no consumo de forragem em decorrência da diminuição da taxa de passagem. A terminação de novilhos jovens, abaixo de 24 meses, exige elevados níveis de fornecimento de concentrado no período seco. Fornecimento que varia, entre 0,6% a 1,5% do peso corporal pode ser estabelecido de acordo com a quantidade da forragem disponível, taxa de lotação a ser empregada e viabilidade econômica. No entanto, a formulação dos suplementos e as características das fontes energéticas fornecidas devem ser consideradas na tomada de decisão. Segundo Chamberlain (1996), a produção de proteína microbiana varia com a natureza do substrato energético fornecido (amido, fibra solúvel, ou açucares), podendo ocorrer efeito substitutivo de acordo com a interação estabelecida entre pasto-suplemento. Neste aspecto merece destaque o nível de suplemento fornecido aos animais. 5.2 Suplementos de alto consumo para o período seco O fornecimento de suplementos protéico-energéticos de alto consumo durante a seca, cerca de 0,6 a 1,0% do peso corporal (PC), é realizado principalmente para a terminação em que o objetivo é o abate de animais precoces entre 24 a 27 meses de idade. O objetivo é conseguir ganhos de peso entre 0,700 a 1,00 kg/dia e o suplemento deve conter entre 2 a 8% de mistura mineral; 70 a 80% de energia; e 15 a 25% de proteína verdadeira. Deve-se suprir cerca de 100% das exigências de sódio, microminerais e PDR; e cerca de 60% das exigências de fósforo (PAULINO, 1999).