ESPLANADA DO CASTELO O PLANO E O DESEJO DO PLANO



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Transcrição:

ESPLANADA DO CASTELO O PLANO E O DESEJO DO PLANO Aluno: Maria Luisa Noujaim Teixeira Orientador: João Masao Kamita Introdução A pesquisa pretende investigar o processo de urbanização da esplanada do Castelo, resultante do desmonte do morro homônimo. Sítio fundacional da cidade do Rio de Janeiro, a pesquisa começa por levantar os discursos que motivaram a draconiana derrubada do morro, especialmente, considerando-se o argumento que o vincula as comemorações do centenário de independência em 1922. Outra tarefa a que a pesquisa se propôs é fazer o levantamento dos diversos planos urbanísticos para a área e em que medida foram executados (ou não) como o plano da exposição de 1922, o plano Agache, o plano modernista de A. E. Reidy, o plano da Comissão do Plano da Cidade, até os mais recentes como Frente Marítima, o Corredor Cultural, e os que mais estão sendo ainda elaborados para intervir na área em questão. Intervenções arquitetônicas também foram consideradas, tanto as novas construções como os pavilhões da Expo 22, quanto as que sofreram reformas como o Museu Histórico Nacional ou foram demolidas integral ou parcialmente, caso do Mercado Modelo, ou mesmo aqueles que permaneceram desde o período colonial, como a Santa Casa de Misericórdia. Obras consideradas de infra-estrutura como o terminal de linhas municipais ou o elevado estão sendo igualmente investigadas. O estado atual da área é uma espécie de colcha de retalhos, com restos de intervenção de diversos períodos, fragmentos de um todo sonhado (o plano), experimentos desconexos de unidade. Entre o abandono e a amnésia, este espaço ainda não encontrou sua vocação e estabilidade, uma vez que planos de futura ocupação ainda estão sendo elaborados. Objetivos A pesquisa pretende desvelar as camadas dos planos de projeção que se sobrepõem uns sobre os outros, para se perguntar afinal se sua incompletude é devida: a) aos limites do planejamento com seus instrumentos e métodos inadequados; b) aos limites do poder político; c) aos limites da realidade socioeconômica; d) aos limites do planejador, que delira com totalidades estéticas sem se confrontar com a realidade. Tarefas da equipe Reconstituir plantas da área ao longo dos eventos que a transformaram: a1 antes do desmonte do Castelo a2 depois do desmonte planta da exposição a3 Plano Agache a4 Comissão do Plano da cidade (meados da década de 1940) a5 na época do elevado (déc. 60) a6 com a instalação do Terminal a7 com a instalação das praças

a8 traçado atual Elaborar ficha de cada monumento (data, histórico, modificações, descrição arquitetônica) b. Levantamento bibliográfico e iconográfico c. Formar banco de dados d. Levantamento do lugar leitura fenomenológica/perceptiva da paisagem existente (fotos, estudos, croquis, gráficos) e. Levantamento do uso (tipos de usuários, de onde vem e para qual destino se dirigem, utilização nos finais de semana, usos clandestinos, usos parasitários) f. Construir maquetes da área em seus vários momentos Metodologia Em um ano de pesquisa foi feito levantamento iconográfico do Arquivo Geral da Cidade e do Museu da Imagem e do Som, com fotos principalmente de Augusto Malta, que foram elucidativas sobre aspectos da derrubada e construção dos pavilhões da Exposição Internacional do Centenário da Independência. Foi possível comparar fotografias com uma planta da exposição e com plantas atuais, observando alguns resquícios da época que se apresentam como ruídos na paisagem que vemos hoje. Alguns jardins, como a Praça Melvin Jones, mantiveram o mesmo desenho que as plantas de 1922 mostram. Por outro lado, ruas inteiras foram redirecionadas, espaços aterrados e o que se nota são camadas de urbanização desconexas e mal resolvidas. A partir do interesse pela dita Exposição, minha pesquisa direcionou-se em encontrar o Livro de Ouro do evento, com informações detalhadas dos pavilhões de todos os países presentes. Além de informações da Exposição, contém diversos capítulos sobre aspectos da História do Brasil, desde o momento do descobrimento, passando pelo desenvolvimento religioso, a Imprensa na altura da Independência, a propaganda republicana e muitas outras análises da trajetória brasileira. Este livro foi fundamental na percepção do projeto de nação que os idealizadores desta Exposição tinham para o Brasil. Produzia-se uma imagem a ser ingerida pelos próprios brasileiros e ao mesmo tempo exposta às nações estrangeiras. Das buscas de material artístico exibido em 1922, foram encontrados filmes como No país das Amazonas (1922) e Terra Encantada (1923), ambos de Silvino Santos e Agesilau de Araújo, Ipiranga (1922) e Companhia Fabril de Cubatão (1922), de João de Sá Rocha, dentre outros. Na Biblioteca Nacional consta um catálogo de arte, com a listagem de todas as obras em pintura, escultura, arquitetura (planos) e gravura expostas. Sabe-se também que na inauguração do evento foi feita a primeira transmissão de rádio do Brasil, com um pronunciamento do presidente Epitácio Pessoa, seguido da apresentação da ópera O Guarany, de Carlos Gomes, também transmitida. O edifício do Museu Histórico Nacional também foi objeto de pesquisa. Uma parte de sua construção é da época colonial, quando ainda era o Forte Santiago. No século XVI foi edificada a Casa do Trem junto ao Forte, para guardar material de artilharia. A este conjunto foi ainda acrescentado um novo prédio para abrigar o Pavilhão das Grandes Indústrias na Exposição e somente no fim das comemorações resolveram transformá-lo em Museu Histórico Nacional. Nos arquivos do museu foi possível

encontrar detalhes da formação de seu complexo arquitetônico como também de sua proposta ideológica presente no momento de sua criação até hoje. Pensando no papel que um museu histórico nacional tem na confecção historiográfica do país. Da bibliografia levantada foram lidos principalmente textos conceituais, que falam sobre o esgotamento de espaços urbanos, arquitetura contemporânea, utopias sociais versus construções urbanas e teorizações afins. Dentre estes e diversos outros trabalhos encontrados na internet se destacam Um passeio pelos monumentos de Passaic, de Robert Smithson; Arqueologia do Saber, de Michel Foucault e A Poética do Terrain Vague, de Ignase Sola-Morales. Além dos livros de Carlos Kessel, um estudioso da Exposição do Centenário da Independência e da arquitetura do centro carioca e Marly Silva da Motta, que transformou em livro sua tese sobre a questão da nação à época do centenário da Independência. Conclusão Das conceituações lidas, existe um ponto convergente que diz sobre a efemeridade das construções contemporâneas. Nesta linha de resíduos da modernidade, escreve Rem Koolhaas. Seu livro Junkspace denuncia o acúmulo amorfo das construções modernas, que se erguem como lixo urbano e feiúra. Nos séculos XX e XXI se construiu mais que durante toda a humanidade, porém nós não deixamos nada como as pirâmides. Como fala Robert Smithson, as construções já se erguem ruínas, para se juntar ao lixo urbano. Smithson introduz o conceito de entropia, que seria o esgotamento de um sistema ou de um processo. A falta de identidade do local ele caracteriza pela forma com que as novas construções são feitas Esse panorama zero parecia conter ruínas às avessas, isto é, todas as novas edificações que seriam ainda construídas. Trata-se do oposto da ruína romântica porque as edificações não desmoronam em ruínas depois de serem construídas, mas se erguem em ruínas antes mesmo de serem construídas [1]. Isto remete à situação do Castelo, às ruínas sem memória e os planos mal concebidos que levam à escassez do espaço, esgotamento de identidade, de sentido, de organização. Para recuperar a vida ali teria que se partir de uma tabula-rasa, solução que definitivamente passaria por cima da história do local, por isso, falamos em esgotamento do processo. Com uma perspectiva mais positiva, A Poética do Terrain Vague, de Ignase Sola Morales trabalha com a idéia de resistência de alguns espaços perante a determinação homogeneizante da sociedade. Ele vê um lado poético nestes lugares que travam um embate com os controles ditatoriais da urbanização, que mantêm sua liberdade física de espaço vazio de potencialidades e função, de vaguidez. A etimologia de vague, inclusive, pode vir do alemão, que significa onda e sugere uma abordagem mais surrealista ou do latim, que significa vago. E contraditoriamente à aparente ociosidade arquitetônica destes lugares, sua razão é o esgotamento de funções. A partir da virada do século, a ambição de modernizar o Brasil norteou as políticas do país. A capital não deveria mais sustentar aquela ordem orgânica e insalubre que estava instaurada, mas deveria dar lugar à edificação de uma metrópole nos moldes europeus. Os argumentos higienizantes foram devastadores na urbanização forçada do centro do Rio de Janeiro. O amplamente conhecido bota-abaixo do prefeito Pereira Passos ecoou por toda a década de 20 e 30, sob a forma de derrubadas homéricas e construções imponentes. A partir de 30 e ao longo do século, o ideal neo-clássico deu lugar ao modernismo e à crescente influência norte-americana. A estética modernista de

Le Corbusier se traduziu no Rio de Janeiro na construção dos edifícios dos Ministérios Públicos, a urbanização utilitária, separada por usos, grandes áreas livres e uma escala que já dava grande espaço aos automóveis. Até então trabalhamos com a suposição de que a especulação imobiliária foi o principal motor da desarticulação destes projetos urbanísticos, tirando cada vez mais uma visão geral daquela área que era o morro para fragmentar o espaço, subtraindo sua identidade. Apesar da violenta derrubada de um bairro inteiro que vivia sobre o Morro do Castelo e do monte em si, o projeto que se erguia na esplanada vazia tinha uma totalidade, era uma proposta arquitetônica e ideológica extremamente homogênea. A Exposição Internacional do Centenário da Independência concentra um momento de anseios de uma parcela da sociedade brasileira, que também se expressava na Semana de Arte Moderna de São Paulo, na criação do Partido Comunista, dentre outras manifestações. Apesar de divergirem entre si em alguns aspectos, estes projetos continham unidade e por isso tiveram força na história do Brasil. Interessa-nos descurar mais do produto que esta sociedade criou sob a forma de Exposição do Centenário, de modo que não é um episódio amplamente estudado e referenciado como a Semana Moderna de São Paulo o é. Olhar a Exposição como um produto artístico, político e econômico nos parece fundamental para o estudo do patrimônio histórico nacional. Referências [1] SMITHSON, Robert. A Tour of the Monuments of Passaic, New Jersey. Artforum, 1967. Bibliografia ASSIS, Machado de. Esaú e Jacó. Rio de Janeiro: Editora SEDEGRA, 1960. BARRETO, Lima. O subterrâneo do Morro do Castelo. Rio de Janeiro: Editora Dantes, 1999. FOUCAULT, Michel. A arqueologia do saber. 7.ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2009. 236p. KOOLHAAS, Rem. Junkspace. Taschen, 2003. MOTTA, Marly Silva da. A nação faz 100 anos: a questão nacional no centenario da independencia. Rio de Janeiro: Ed. Fundação Getulio Vargas - CPDOC, 1992. 129p. SMITHSON, Robert. A Tour of the Monuments of Passaic, New Jersey. Artforum, 1967. SOLA-MORALES. Ignasi de. A Poética do Terrain Vague. Barcelona: Territórios, Editorial Gustavo Gili, 2002.

VIDLER, Anthony. Staging Lived Space: James Casebere's Photographic Unconscious, James Casebere: The Spatial Uncanny. Milano: Edizioni Charta/Sean Kelly Gallery, 2001.