SAÚDE DO TRABALHADOR DE ENFERMAGEM DO CENTRO CIRÚRGICO: FATORES AMBIENTAIS ESTRESSORES E POSSIBILIDADES DE INTERVENÇÃO 1



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Transcrição:

SAÚDE DO TRABALHADOR DE ENFERMAGEM DO CENTRO CIRÚRGICO: FATORES AMBIENTAIS ESTRESSORES E POSSIBILIDADES DE INTERVENÇÃO 1 COELHO, Alexa Pupiara Flores 2 ; BECK, Carmem Lúcia Colomé 3 ; SILVA, Rosângela Marion 4 ; DONADUZZI, Daiany Saldanha da Silveira 5 ; DISSEN, Caliandra Marta 2 ; SANTOS, Juniara Dias dos 2. 1 Relato de experiência_ufsm 2 Curso de Enfermagem da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Santa Maria, RS, Brasil. 3 Docência em Enfermagem na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Santa Maria, RS, Brasil. 4 Doutorado DINTER UNIFESP-UFRJ-UFSM, Santa Maria, RS, Brasil. 5 Mestrado em Enfermagem pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Santa Maria, RS, Brasil. E-mail: alexa.p.coelho@hotmail.com RESUMO Relata-se a experiência de uma acadêmica do 5º semestre de Enfermagem, em estágio curricular no Centro Cirúrgico de um hospital universitário do Rio Grande do Sul. Objetiva-se relatar a presença de elementos estressores nesse ambiente para a equipe de enfermagem, e apontar possíveis possibilidades de intervenção. Observou-se nesse ambiente: poluição sonora e do ar (intenso ruído da aparelhagem e presença de gases anestésicos, respectivamente) e elementos estressores psicossociais (alta exigência da especialidade, ritmo de trabalho, conflitos interpessoais, entre outros). Infere-se que o enfermeiro, em parceria com a equipe, pode intervir nessa realidade por meio da busca por melhores condições de trabalho, vigilância quanto às condições físicas das salas cirúrgicas, organização consciente da equipe e exercício da liderança positiva e compartilhada. Conclui-se que o Centro Cirúrgico é potencialmente causador de adoecimento no trabalho, e que a equipe de enfermagem pode atuar no sentido de trabalhar em conjunto para minimizar esses elementos. Palavras-chave: Enfermagem; Saúde do trabalhador; Centro cirúrgico hospitalar. 1. INTRODUÇÃO O Centro Cirúrgico (CC) compreende o Bloco Cirúrgico (onde são realizados os procedimentos operatórios de pequena, média e grande complexidade), Sala de Recuperação Anestésica (onde os pacientes do pós-operatório imediato recebem vigilância e cuidados de enfermagem intensivos e são avaliados constantemente em relação à evolução e retorno às atividades fisiológicas), Sala de Recuperação Intermediária (onde os pacientes do pós-operatório imediato se recuperam e aguardam para alta hospitalar ou transferência para outro segmento do hospital) e Centro de Material e Esterilização (onde é realizada a limpeza, desinfecção, esterilização, guarda e redistribuição do material para o CC e demais unidades hospitalares). O CC está inserido num ambiente abrangente, complexo e multifacetado, e que apresenta numerosas nuances se analisado pelo aspecto ambiental. 1

Nesse contexto, o ambiente do CC é fechado, sem janelas ou quaisquer outras aberturas que mantenham contato com ambientes externos. Por este motivo, constitui um ambiente potencialmente estressor para os trabalhadores e pacientes que lá convivem. Além disso, o espaço possui intensa atividade técnica, alta exigência profissional, normas de estrutura físicas bastante rigorosas, cujo principal objetivo é minimizar a formação de focos de infecção hospitalar (SOUSA, 2011). Em decorrência disso, percebe-se que este setor hospitalar é bastante duro, frio e impessoal, e não favorece o conforto e o bem-estar psicológico e sentimental dos indivíduos que lá permanecem. Ainda, em decorrências das singularidades desse segmento hospitalar, pesquisas apontam para o CC enquanto um ambiente estressante e potencialmente gerador de desgaste e adoecimento no trabalho (PASSOS et al, 2010; NASCIMENTO, 2009; SOUSA, 2011) O objetivo deste trabalho é relatar a conformação ambiental do CC e sua implicação na saúde do trabalhador de enfermagem, e as estratégias utilizadas pelo enfermeiro para melhoria das condições de trabalho. 2. A SAÚDE DO TRABALHADOR E A PRÁTICA DA EQUIPE DE ENFERMAGEM NO CENTRO CIRÚRGICO A Saúde do Trabalhador, enquanto campo do conhecimento, procura entender as relações do trabalho com o processo saúde/doença do trabalhador, entendendo esse enquanto um processo dinâmico, intimamente relacionado com as características econômicas, sociais e históricas de cada sociedade (BRASIL, 2001). Entende-se por trabalhador toda a pessoa que exerça alguma atividade laborativa, formal ou informal, assalariada ou não (BRASIL, 2001). Ainda, a Saúde do Trabalhador compreende que todo aquele que trabalha está exposto ao sofrimento no trabalho, podendo esse transformar-se em adoecimento dependendo de sua intensidade e da presença ou ausência de mecanismos de enfrentamento do trabalhador. Pesquisas vêm apontando o trabalhador da saúde enquanto uma das classes mais expostas ao adoecimento no trabalho (SALA et al, 2009). Tendo isso em vista, identificamse diversas pesquisas e debates no campo da Saúde do Trabalhador, na busca por regulamentar melhores condições de trabalho. Entre as medidas de proteção ao trabalhador adotadas no âmbito nacional, pode-se citar a Norma Regulamentadora nº32 (ou NR-32) enquanto um importante avanço. A NR-32 é uma legislação do Ministério do Trabalho e Emprego que prevê medidas para a proteção do trabalhador da área da saúde. Segundo o COREN-SP (2009), a NR-32 objetiva a prevenção de acidentes e do adoecimento ocasionado pelo trabalho nos 2

profissionais da área da saúde, abolindo ou controlando as condições de risco presentes nos Serviços de Saúde. A norma recomenda que, para cada situação de risco, ocorra a adoção de medidas preventivas e a capacitação de trabalhadores para o trabalho seguro. Nesse sentido, a NR-32 é uma das políticas que têm surgido na tentativa de evitar ou minimizar os agravos do trabalho. Entretanto, faz-se necessário que cada seguimento profissional mantenha vigilância quanto às condições de trabalho, priorizando segurança, bem-estar e condições dignas de trabalho. Os trabalhadores de enfermagem, em decorrência da singularidade de sua atuação, estão expostos a fatores estressores nos mais diversos ambientes de saúde; entre eles, ressalta-se o Centro Cirúrgico. O CC pode expor os trabalhadores de enfermagem a situações insalubres, na medida em que colocar esse trabalhador em contato com agentes de risco químicos, físicos, biológicos ou ergonômicos (MERGULHÃO et al, 2010). Esses riscos estão relacionados a questões ambientais, uma vez que são oriundas do espaço físico em que o trabalhador se encontra. Por esta razão, são pertinentes observações e avaliações do meio ambiente que constitui o CC, a fim de identificar os riscos à saúde do trabalhador de enfermagem e, a partir disso, estabelecer possibilidades de intervenção, buscando melhorias nas condições de trabalho e, consequentemente, na qualidade do atendimento prestado. 3. PERCURSO METODOLÓGICO Trata-se de um estudo do tipo relato de experiência vivenciado por uma acadêmica do 5º Semestre do Curso de Enfermagem em Estágio Curricular no Centro Cirúrgico de um hospital universitário, localizado na região central do Rio Grande do Sul/Brasil. O estágio ocorreu nos meses de março e abril de 2012, compreendendo aulas práticas no CC durante as quartas-feiras à tarde e quintas e sextas-feiras pela manhã. O estágio totalizou nove aulas práticas. Durante o estágio, a acadêmica pôde, além de relacionar o conhecimento teórico a pratica, observar o ambiente do CC, as condições de trabalho da equipe de enfermagem e a inter-relação entre esses dois elementos. O presente trabalho é resultado dessas observações. 4. RESULTADOS E DISCUSSÃO 3

No Centro Cirúrgico observaram-se algumas formas de poluição ambiental que são potencialmente danosas à saúde do trabalhador de enfermagem. Dentre elas, destacaramse as poluições sonoras e do ar. A poluição sonora compreende qualquer som indesejável, sobretudo quando interfere nas atividades humanas ou ecossistemas (LEI DISTRITAL 4.092/08). No CC, as bombas de infusão, aspiradores traqueais, monitores cardíacos, aparelhos de anestesia e outros aparelhos, somados à conversação entre os profissionais e a ruídos de determinados procedimentos são abundantes, intensa e constantemente estridentes (OLIVEIRA e ARENAS, 2012). Autores apontam que a presença desses ruídos durante todo o turno de trabalho contribui para o estresse auditivo e mental dos trabalhadores que atuam nessas condições (OLIVEIRA e ARENAS, 2012; ZAMBERLAN et al, 2008). A poluição do ar também está presente em muitos procedimentos cirúrgicos, utilizam-se anestésicos inalatórios, como o óxido nitroso, o fluotane (halotano), isoflurano (forane), sevoflurano (sevoforane), dentre outros. A eliminação desses gases pelo paciente se dá pela via expiratória, ou seja, o paciente permanece emitindo esses gases nas salas de recuperação até mesmo horas após o procedimento cirúrgico. Esses gases comprovadamente exercem malefícios aos trabalhadores de saúde, sendo inclusive teratogênicos (GUEDES, 2011). No CC em questão, o paciente tem contato com a equipe de enfermagem em todos os momentos, o que significa que os trabalhadores sofrem o ônus da liberação desses gases, especialmente os que atuam nas salas cirúrgicas. Nesse sentido, faz-se necessário pensar nas atribuições do enfermeiro enquanto líder da equipe de enfermagem, e na competência do mesmo para elaborar mecanismos que possam intervir diante da presença de elementos ambientais estressores. Em relação à poluição auditiva, entende-se que a sinalização sonora é fundamental para o alerta quanto ao funcionamento da aparelhagem e estado do paciente (OLIVEIRA e ARENAS, 2012). No entanto, percebeu-se que, muitas vezes, o excesso de alarmes emitidos pelos aparelhos estava relacionado ao pouco tempo de que os profissionais dispunham para corrigir pequenos maus funcionamentos da aparelhagem, responsáveis por ruídos desnecessários. Esta pouca disponibilidade de tempo no trabalho da equipe de enfermagem está relacionada à alta demanda de trabalho. O enfermeiro pode interferir nessa realidade, uma vez que cabe a ele a divisão e delegação das tarefas e a busca de melhoria das condições de trabalho junto à gestão do serviço de saúde, em parceria com a equipe (BRASIL, 1986; RODRIGUES et al, 2010). No que diz respeito aos gases anestésicos, aponta-se para a necessidade de que o enfermeiro solicite periodicamente verificação programada de cilindros de gases, 4

conectores, conexões, mangueiras, balões, traquéias, válvulas, aparelho de anestesia e máscaras faciais para ventilação pulmonar (COREN-SP, 2009). O enfermeiro também pode atuar promovendo a educação permanente da equipe de enfermagem, alertando quanto à exposição aos gases e seus sintomas e orientando os demais profissionais quanto à possibilidade de procura do atendimento de saúde caso necessário. Pesquisa realizada com profissionais de enfermagem de um Centro Cirúrgico mostrou que 34,9% dos mesmos referem apresentar algum tipo de sintoma oriundo da exposição aos gases/substâncias inalatórias. No entanto, 27,9% desconhecem que trabalham sob exposição a estes gases (MERGULHÃO et al, 2010), portanto, podem estar sofrendo algum ônus laboral sem identificar a causa, o que reafirma a necessidade de educação permanente. Aponta-se ainda que o enfermeiro, enquanto gestor do serviço de enfermagem do Centro Cirúrgico e responsável pelas escalas de técnicos e auxiliares de enfermagem, deve atuar evitando a excessiva permanência desses profissionais nas Salas Operatórias (onde a exposição aos gases anestésicos é maior), organizando o trabalho de maneira que aja rotatividade dos profissionais entre o Bloco Cirúrgico e as Salas de Recuperação e mantendo nas Salas Operatórias um número mínimo necessário de profissionais de enfermagem. Diante do exposto, percebe-se que o ambiente físico do CC é relevante no que tange à segurança, conforto e bem estar da equipe. No entanto, faz-se necessário acrescentar que as questões ambientais desse espaço vão além dos limites físicos e materiais, atingindo, também, elementos do bem-estar psicológico e emocional e das relações de trabalho. O CC, por vezes, é um ambiente extremamente estressor para a equipe de enfermagem, em decorrência do ritmo e exigências do trabalho, da complexidade da assistência, das relações interpessoais entre os membros da equipe (que incluem muitas vezes disputas de poder entre diferentes profissionais, discordâncias quanto ao método da assistência e desavenças). Em razão disso, o meio ambiente que compreende o CC pode ser um elemento causador de adoecimento no trabalho. Em relação a isso, o enfermeiro pode estar desenvolvendo estratégias para minimizar tais tensões. Elas incluem diálogo com a equipe multiprofissional, buscando juntamente com os colegas meios de negociação e de convivência; sensibilidade e manejo na organização do trabalho da equipe de enfermagem, exercitando a liderança não impositiva, amparada no princípio do companheirismo e do trabalho em equipe, entre outros. Isso corrobora com Wagner et al (2009), segundos os quais o trabalho na área da saúde, em decorrência de suas singularidades e da força das relações interpessoais em sua 5

composição, tem na formação do acolhimento e do vínculo entre os pares (e entre esses e os pacientes) uma estratégia facilitadora para o processo do trabalhar. Portanto, percebeu-se com esta experiência acadêmica, que a liderança do enfermeiro e a colaboração da equipe de enfermagem constituem importantes ferramentas para a humanização do ambiente de trabalho e, consequentemente, para a otimização da saúde laboral. 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS O trabalho de enfermagem em Centro Cirúrgico é especializado, complexo e desgastante. O ambiente possui uma série de fatores estressores que são capazes de causar desconfortos, mal estar e até mesmo adoecimento no trabalho. Por este motivo, é necessário que sejam elaboradas estratégias para que os elementos estressores possam ser diminuídos, promovendo assim melhorias das condições de trabalho dos profissionais de enfermagem e, consequentemente, otimizando a qualidade da assistência prestada por eles. Nesse sentido, aponta-se para o enfermeiro enquanto um profissional com potencial e responsabilidade para agir junto aos demais trabalhadores, promovendo a humanização do CC e construindo alianças com a equipe, a fim de primar pela prevenção de agravos, adequabilidade do trabalho e otimização da assistência. REFERÊNCIAS BRASIL. Lei n 8080 de 19 de setembro de 1990(BR). Dispõe sobre as condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos serviços correspondentes e dá outras providências. Brasília: Diário Oficial da República Federativa do Brasil; 1990.. Ministério da Saúde. Secretaria de Políticas de Saúde. Departamento de Atenção Básica. Área Técnica de Saúde do Trabalhador. Saúde do trabalhador. Brasília: Ministério da Saúde, 2001.. Conselho Federal de Enfermagem. Lei nº 7.498/86. Dispõe sobre a regulamentação do exercício da Enfermagem e dá outras providências. [Internet]. Disponível em: http://site.portalcofen.gov.br/node/4161 COREN-SP. Norma Regulamentadora nº 32. Julho/2009. [Internet]. Disponível em: http://inter.corensp.gov.br/sites/default/files/nr-32.pdf 6

Distrito Federal (Brasil). Lei Distrital Nº 4.092, de 30 de janeiro de 2008 DODF de 01.02.2008 - republicação DODF de 12.03.2008. Dispõe sobre o controle da poluição sonora e os limites máximos de intensidade da emissão de sons e ruídos resultantes de atividades urbanas e rurais no Distrito Federal. Brasília: Câmara Distrital, 2008. GUEDES, Alexandre Almeida. Riscos profissionais em anestesiologia. Revista Médica de Minas Gerais 2011; 21(2 Supl 3): S40-S48. MERGULHÃO, Bruno Ribeiro de Rezende; ARAÚJO, Ednaldo Cavalcante de; VASCONCELOS, Eliane Maria Ribeiro de; BEZERRA, Simone Maria Muniz da Silva. Fatores de risco à saúde de profissionais de enfermagem relacionados com a condição de trabalho e ergonomia. Rev enferm UFPE on line. 2010 abr./jun.;4(2):577-86. OLIVEIRA, Carlos Rogério Degrandi; ARENAS, Gilberto Walter Nogueira. Exposição ocupacional a poluição sonora em anestesiologia. Rev Bras Anestesiol; 62 (2): 253-261. 2012. PASSOS, Juciane Brandão; SILVA, Elizamar Lima da; CARVALHO, Mércia Maria Costa de. Estresse no centro cirúrgico: uma realidade dos profissionais de enfermagem. Rev Pesq Saúde,11(2): 35-38, maio-ago, 2010. RODRIGUES, Marcelle Nolasco Gomes; CARVALHO, Greice Prata; MARQUES, Amanda Meneleu; SABÓIA, Vera Maria; RIBEIRO, Antônio Silva. Trabalhadores de enfermagem e qualidade de vida: uma reflexão sobre o viver e o adoecer desses profissionais. R. pesq.: cuid. fundam. online 2010. out/dez. 2(Ed. Supl.):832-835. SALA, Arnaldo; CARRO, Adriana Rosa Linhares; CORREA, Aniara Nascimento; SEIXAS, Paulo Henrique D Ângelo. Licenças médicas entre trabalhadores da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo no ano de 2004. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 25(10):2168-2178, out, 2009. SOUZA, Rosa Maria Nascimento. O trabalho no centro cirúrgico e as funções psicofisiológicas dos trabalhadores de enfermagem. Dissertação (Mestrado em Enfermagem) UFRJ / Escola de Enfermagem Anna Nery, Programa de Pós-Graduação em Enfermagem, 2009. ZAMBERLAN, Nelma Ellen; ICHISATO, Sueli Mutsumi Tsukuda; RODARTE, Milena domingos de Oliveira; FUJINAGA, Cristina Ide; HASS, Vanderlei José; SCOCHI, Carmen Gracinda Silvan. Ruído em uma unidade de cuidado intermediário neonatal de um hospital universitário. Cienc Cuid Saude 2008 Out/Dez; 7(4):431-438. 7