O USO DE DOCUMENTOS DIVERSIFICADOS NAS SÉRIES INICIAIS PARA RECRIAÇÃO DOS CONHECIMENTOS PRÉVIOS



Documentos relacionados
ROTINA DIDÁTICO-PEDAGÓGICA: INSERÇÃO DA CRIANÇA AUTISTA NO CONTEXTO ESCOLAR.

PARTE 1 Identificação da Experiência

III ENCONTRO PROGRAMA DE BOLSA AUXÍLIO RESULTADO QUESTIONÁRIO BOLSISTAS

Autovaliação em Práticas de Linguagem: uma reflexão sobre o planejamento de textos

A ÁLGEBRA NO ENSINO FUNDAMENTAL: RELATO DE UMA EXPERIÊNCIA DE INTERVENÇÃO

Modelo de Projetos Internacionais Conhecer para preservar: animais em extinção Faixa etária: 11 a 14 anos (Ensino Fundamental II) Duração: 2 meses

Curso: Diagnóstico Comunitário Participativo.

Realizado de 25 a 31 de julho de Porto Alegre - RS, ISBN

ÁLBUM DE FOTOGRAFIA: A PRÁTICA DO LETRAMENTO NA EDUCAÇÃO INFANTIL 59. Elaine Leal Fernandes elfleal@ig.com.br. Apresentação

PROJETO: CASA DE BRINQUEDO 1 RELATO DO PROCESSO

Projeto Pedagógico. por Anésia Gilio

O céu. Aquela semana tinha sido uma trabalheira!

Palavras-chave: Ambiente de aprendizagem. Sala de aula. Percepção dos acadêmicos.

ESTATÍSTICA BÁSICA NO CURSO DE TÉCNICO INTEGRADO DE SEGURANÇA DO TRABALHO

Copos e trava-línguas: materiais sonoros para a composição na aula de música

Ficha de Reflexão Individual :: Ano Letivo: 2011/2012

Relação professor-aluno(s) em sala de aula: alguns aspectos que promovem a interação.

Lógicas de Supervisão Pedagógica em Contexto de Avaliação de Desempenho Docente. ENTREVISTA - Professor Avaliado - E 5

MANUAL DO ALUNO GRADUAÇÃO MODALIDADE SEMIPRESENCIAL

AS TICs NA EDUCAÇÃO DO CAMPO

Clientes apoiam greve dos bancários e cobram melhoria dos serviços - FETRACONSPAR

RESUMO Sobre o que trata a série?

ações de cidadania Atendimento direto ECE-SP recebe a comunidade com equipe qualificada e atividades orientadas Revista Linha Direta

Instituto de Educação Marista Nossa Senhora das Graças Viamão RS USBEE União Sul Brasileira de Educação e Ensino. Tecnologias para Aprender e Ensinar

Disciplina: Matemática Data da realização: 24/8/2015

II Congresso Nacional de Formação de Professores XII Congresso Estadual Paulista sobre Formação de Educadores

ESCOLA ESTADUAL BRAZ SINIGÁGLIA PROJETO: PAÍSES DO VELHO CONTINENTE

Autor(es) PAULA CRISTINA MARSON. Co-Autor(es) FERNANDA TORQUETTI WINGETER LIMA THAIS MELEGA TOMÉ. Orientador(es) LEDA R.

Universidade Estadual de Londrina

Fundo de Apoio a Projetos do Escravo, nem pensar!

Pesquisa de Impacto Social. Aprendizagem COMBEMI

Papo com a Especialista

AS CONTRIBUIÇÕES DO CURRÍCULO E DE MATERIAS MANIPULATIVOS NA FORMAÇÃO CONTINUADA EM MATEMÁTICA DE PROFESSORES DOS ANOS INICIAS DO ENSINO FUNDAMENTAL

12 DE JUNHO, DIA DE COMBATE A EXPLORAÇÃO DO TRABALHO INFANTIL: RELATO DE EXPERIÊNCIA NO PIBID DE GEOGRAFIA

PESQUISA DATAPOPULAR: PERCEPÇÃO SOBRE A QUALIDADE DA EDUCAÇÃO NAS ESCOLAS ESTADUAIS DE SÃO PAULO

OS SABERES PROFISSIONAIS PARA O USO DE RECURSOS TECNOLÓGICOS NA ESCOLA

Gráfico 1 Jovens matriculados no ProJovem Urbano - Edição Fatia 3;

Escola Bilíngüe. O texto que se segue pretende descrever a escola bilíngüe com base nas

CONSTRUÇÃO DE QUADRINHOS ATRELADOS A EPISÓDIOS HISTÓRICOS PARA O ENSINO DA MATEMÁTICA RESUMO

DOENÇAS VIRAIS: UM DIÁLOGO SOBRE A AIDS NO PROEJA

UTILIZANDO BLOG PARA DIVULGAÇÃO DO PROJETO MAPEAMENTO DE PLANTAS MEDICINAIS RESUMO

LEITURA E ESCRITA NO ENSINO FUNDAMENTAL: UMA PROPOSTA DE APRENDIZAGEM COM LUDICIDADE

XI Encontro de Iniciação à Docência

5 Considerações finais

Belos desenhos, letras cuidadosamente

compreensão ampla do texto, o que se faz necessário para o desenvolvimento das habilidades para as quais essa prática apresentou poder explicativo.

Aula 05 - Compromissos

HORTA NA EDUCAÇÃO INFANTIL: UMA PROPOSTA METODOLÓGICA

PRATICANDO O RCNEI NO ENSINO DE CIÊNCIAS - A CHUVA EM NOSSA VIDA! RESUMO

AÇÃO INTEGRADA NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS A PARTIR DE UM PROJETO DE SAÚDE. Adriana Noviski Manso - PUCPR

UTILIZAÇÃO DA PLATAFORMA MOODLE PARA O ENSINO DE MATRIZES E DETERMINANTES

A inclusão das Línguas Estrangeiras Modernas no Programa Nacional do Livro Didático (PNLD) Por Ana Paula Seixas Vial e Jonathan Zotti da Silva

ESCOLAS PIBIDIANAS NO TEATRO

ATIVIDADES INVESTIGATIVAS NO ENSINO DE MATEMÁTICA: RELATO DE UMA EXPERIÊNCIA

Cais da Leitura: leitura em ação

Ensino Fundamental I Regra de Jogo. Gêneros Textuais. Links para os conteúdos sugeridos neste plano estão disponíveis na aba Saiba Mais.

OLIMPIADAS DE MATEMÁTICA E O DESPERTAR PELO PRAZER DE ESTUDAR MATEMÁTICA

C406. Ensino e aprendizagem com TIC na educação pré-escolar e no 1º ciclo do Ensino Básico

5. Considerações Finais

Gêneros discursivos no ciclo da alfabetização 1º ao 3º ano do ensino fundamental

X Encontro Nacional de Educação Matemática Educação Matemática, Cultura e Diversidade Salvador BA, 7 a 9 de Julho de 2010

MODELAGEM MATEMÁTICA E INTERDISCIPLINARIDADE NA CORREÇÃO DE FLUXO EM ITAJAÍ/SC

ISSN PROJETO LUDICIDADE NA ESCOLA DA INFÂNCIA

Disciplina: Alfabetização

Investigação sobre o uso do ambiente Moodle pelos professores de uma instituição de ensino superior pública

OS MEMORIAIS DE FORMAÇÃO COMO UMA POSSIBILIDADE DE COMPREENSÃO DA PRÁTICA DE PROFESSORES ACERCA DA EDUCAÇÃO (MATEMÁTICA) INCLUSIVA.

RESUMO. Autora: Juliana da Cruz Guilherme Coautor: Prof. Dr. Saulo Cesar Paulino e Silva COMUNICAÇÃO CIENTÍFICA

Meu nome é Rosângela Gera. Sou médica e mãe de uma garotinha de sete anos que é cega.

podres mecanismo de seleção no acesso às escolas municipais de alto prestígio da cidade do Rio de Janeiro (CHAMARELLI, 2007a). Vale destacar que um

Educação Patrimonial Centro de Memória

PEDAGOGIA EM AÇÃO: O USO DE PRÁTICAS PEDAGÓGICAS COMO ELEMENTO INDISPENSÁVEL PARA A TRANSFORMAÇÃO DA CONSCIÊNCIA AMBIENTAL

FATORES INOVADORES NA PRODUÇÃO TEXTUAL DE LÍNGUA ESPANHOLA

Motivos de transferência do negócio por parte dos franqueados

CURIOSOS E PESQUISADORES: POSSIBILIDADES NO CONTEXTO DA EDUCAÇÃO BÁSICA

SIGNIFICADOS ATRIBUÍDOS ÀS AÇÕES DE FORMAÇÃO CONTINUADA DA REDE MUNICIPAL DE ENSINO DO RECIFE/PE

Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios

Dentre os temas apresentados para serem trabalhados nos Atendimentos Volantes Coletivos destacamos os que seguem:

Narrativa reflexiva sobre planejamento de aulas

COMUNIDADE AQUÁTICA: EXTENSÃO EM NATAÇÃO E ATENÇÃO AO DESEMPENHO ESCOLAR EM JATAÍ-GO.

PROBLEMATIZANDO ATIVIDADES EXPERIMENTAIS NA FORMAÇÃO INICIAL DE PROFESSORES/AS

LUZ, CÂMERA, AÇÃO: NOVAS EXPERIENCIAS, NOVOS APRENDIZADOS

II MOSTRA CULTURAL E CIENTÍFICA LÉO KOHLER 50 ANOS CONSTRUINDO HISTÓRIA

03. Não transcreva, em sua redação, nenhuma citação, nem mesmo dos textos ou fragmentos contidos nas

Resumo da dissertação de mestrado do Professor César Vicente da Costa. Da Escola Estadual Padre Ezequiel Ramin, Juina-MT.

18/11/2005. Discurso do Presidente da República

Anelise de Brito Turela Ferrão Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP. Edição de um filme a partir de fotografias

Biodanza. Para Crianças e Jovens. Manuela Mestre Robert

Educação Infantil - Ensino Fundamental - Ensino Médio. Atividade: Reflexão sobre Bullying e Uso consciente da internet

PROVA BRASIL E PRÁTICAS PEDAGÓGICAS

Experiência na formação de estudantes do curso profissionalizante normal

PEDAGOGIA ENADE 2005 PADRÃO DE RESPOSTAS - QUESTÕES DISCURSIVAS COMPONENTE ESPECÍFICO

UTILIZANDO O BARCO POP POP COMO UM EXPERIMENTO PROBLEMATIZADOR PARA O ENSINO DE FÍSICA

Coleta de Dados: a) Questionário

Desafios de um prefeito: promessas de campanha e a Lei de Responsabilidade Fiscal 1

LUDICIDADE: INTRODUÇÃO, CONCEITO E HISTÓRIA

II Congreso Internacional sobre profesorado principiante e inserción profesional a la docencia

MEDIADORES TECNOLÓGICOS E FORMAÇÃO DE PROFESSORES. CARTOGRAFIA DE UM CASO FRENTE AOS DESAFIOS NO CONTEXTO AMAZÔNICO

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ. Relatório referente ao encontro realizado no Departamento de educação física (03/06/2015)

EDUCAÇÃO FISCAL É LIÇÃO DE CIDADANIA E DE MATEMÁTICA PLANO DE AULA EDUCAÇÃO FISCAL

O professor que ensina matemática no 5º ano do Ensino Fundamental e a organização do ensino

Transcrição:

O USO DE DOCUMENTOS DIVERSIFICADOS NAS SÉRIES INICIAIS PARA RECRIAÇÃO DOS CONHECIMENTOS PRÉVIOS Sandra do Rocio Cordeiro de Lima O trabalho apresentado é o relato de uma prática pedagógica desenvolvida nas aulas de História, com alunos da 1ª série do Ensino Fundamental da Escola Municipal Professora Maria Aparecida Saliba Torres, no município de Araucária Paraná, no ano de 2004. A professora Maria Auxiliadora Schmidt, da Universidade Federal do Paraná, em parceria com a Secretaria Municipal de Educação mantém um projeto de ensino, extensão e pesquisa para professores da rede pública que tem como objetivo incentivar a utilização de documentos históricos em sala de aula e o desenvolvimento profissional do professor como investigador de sua própria prática pedagógica (SCHMIDT e GARCIA, 2000, p. 230) 1. Participando, pela primeira vez, do grupo fui orientada a buscar metodologias que visassem a investigação histórica tanto para mim, quanto para os alunos. Durante os encontros com o grupo, além da questão do uso de documentos históricos, muito se debateu a respeito dos conhecimentos prévios dos alunos e das articulações que eram feitas (ou não) entre eles e os conteúdos escolares pelos professores e alunos. Sendo assim, busquei em Aisenberg o apoio para o desenvolvimento dos trabalhos Para lograr una articulación es preciso que en el proceso de planificación y conducción de la enseñanza tengamos muy claro, en primer lugar, qué es lo que queremos ensenar y para qué. Y en segundo lugar que planteemos el desafío del cómo.. (1994, p. 154) 2 Sendo o conteúdo para aquele momento o Trabalho Infantil iniciei as aulas questionando os alunos qual era o conceito que tinham sobre trabalho, os que responderam procuraram exemplificar com funções exercidas por parentes e conhecidos (doméstica, caminhoneiro, motorista, pedreiro...), negaram trabalhar e disseram não conhecer crianças que trabalhassem. 1

A negação inicial dos alunos à existência do Trabalho Infantil me surpreendeu, pois trabalhando há alguns anos na comunidade na qual a escola está inserida, pude perceber que os irmãos mais velhos costumam tomar conta dos mais jovens e de suas casas, enquanto os pais e outros responsáveis trabalham ou procuram emprego. Também muitos jovens costumam ser contratados para serviços domésticos ou mesmo como auxiliares em construções civis e no comércio local. Mesmo assim, conforme planejado, li e procurei explicar para os alunos o seguinte texto: 3 Revolução industrial na Inglaterra A invenção de teares e máquinas de fiar, movidos a vapor, na segunda metade do século XVIII, proporcionou condições para a concentração de operários em grandes edifícios onde trabalhavam em longas horas em péssimas condições higiênicas. A aglomeração de trabalho nas novas cidades industriais, sem melhoramentos sanitários, ocasionou epidemias terríveis. O Parlamento Britânico ordenou investigações sobre a situação do operariado, das quais resultaram relatórios como dos Comissários de Trabalho Infantil, em 1833 (...). Condições de trabalho no Relatório dos Comissários do Trabalho Infantil O presente inquérito reuniu, também, uma grande quantidades de provas sobre os diversos aspectos das condições das fábricas, que exercem importante influência na saúde dos trabalhadores, adultos e crianças. Nas fábricas antigas e pequenas o relato uniforme é: suja; mal ventilada; mal drenada; sem banheiros ou vestiários; sem exaustores para a poeira; maquinaria solta; passagens muito estreitas; alguns tetos são tão baixos que se torna difícil ficar em pé no centro da sala. Disto resulta: que as crianças empregadas em todos os ramos de manufatura do Reino trabalham o mesmo número de horas que os adultos; que os efeitos de trabalho tão prolongados são: a deterioração permanente da constituição física; a aquisição de doenças incuráveis; a exclusão (por excesso de fadiga) dos meios de obtenção de educação adequada; que, na idade em que as crianças sofrem prejuízos com o trabalho, elas ainda não são emancipadas, sendo alugadas e seus salários recebidos pelos pais ou responsáveis. 2

No decorrer e após a leitura do texto os alunos demonstraram espanto e descrença, negando firmemente acreditar que uma criança pudesse trabalhar nas condições relatadas. Entretanto, ao serem orientados para os trabalhos de registro, manifestaram o conhecimento que negavam, desenharam e escreveram (com poucas palavras) crianças em situações de trabalho: algumas recolhendo papéis, plásticos e latas para vender, outras fazendo serviços domésticos em suas próprias casas ou auxiliando os pais em seus trabalhos, uma vendendo sorvete e uma ilustrou o estudo como forma de trabalho. Buscando demonstrar que o Trabalho Infantil é uma realidade próxima aos alunos, utilizei, em um segundo momento, a música Pivete de Chico Buarque principalmente os primeiros versos que relatam os trabalhos realizados próximos a semáforos e, uma parte do grupo recordou já ter visto crianças exercendo funções parecidas às da música. Ao serem questionados quais seriam os motivos pelos quais essas crianças trabalham, responderam: Porque elas são pobres.. Resumindo a questão do Trabalho Infantil a falta de condições econômicas para a sobrevivência. Negaram ter assistido alguma reportagem sobre o assunto, o que pode ser explicado tanto pelo fato de dormirem cedo, uma vez que estudam pela manhã, quanto pelos fatos que alguns pertencem a religiões que não aprovam a televisão e outros a família não ter o hábito de assistir noticiários. Diante da situação, elaborei para os pais e responsáveis um questionário, buscando saber o que pensavam a respeito do Trabalho Infantil. Recebi dezessete dos vinte e cinco questionários enviados, sendo que quatorze foram respondidos por mulheres (mães e avós) e três por homens (pais). Em relação ao questionário, apresentarei alguns dos resultados que considerei importantes. Quando era criança você trabalhava? Quais os trabalhos que fazia? NÃO TRABALHAVA AGRICULTURA SERVIÇOS EM CASA OUTROS 02 08 04 03 3

Quais os trabalhos que uma criança deve ajudar a fazer? SERVIÇOS EM CASA ESTUDAR HORTA NENHUM 13 02 01 01 Qual a sua opinião sobre o trabalho infantil? CONTRA QUALQUER TIPO FAVORÁVEIS ALGUMAS VEZES JULGA DE TRABALHO NECESSÁRIO 12 04 01 Após a análise dos questionário, junto com a classe, fiquei com o questionamento de que a as contradições apresentadas pelos alunos durante a investigação, talvez não fossem resultado somente do fato de não saberem, ainda, relacionar a realidade na qual estão incluídos com o conteúdo que estava sendo trabalhado, mas, sim, por influência dos pais que muitas vezes não percebem a ação exploratória do Trabalho Infantil. Sentindo, então, necessidade de aprofundar a investigação, uma vez que Nuestra tarea es precisamente intentar disminuir al máximo sus distorsiones, para lograr una comprensión lo más objetiva posible., (AISENBERG, 1994, p. 149) 4 busquei imagens na internet que mostrassem crianças em situações de trabalho. Ao utilizar a primeira transparência, questionei o que aquelas crianças estariam fazendo em cima de um caminhão, cercadas por caixas de tomates. Recebi como resposta que elas estavam brincando e, provavelmente, brincando de esconder. Conversei com eles, dizendo tratar-se de uma fotografia de crianças que trabalhavam tanto na colheita, quanto no processo de encaixotar os tomates e que as outras transparências também trariam imagens de crianças trabalhando. Durante a amostra das outras transparências, limitei-me a relatar qual era o trabalho realizado e a idade das crianças envolvidas. Muito senti falta de uma filmadora para registrar o silêncio, a atenção e mesmo o espanto que os alunos demostraram. Ao final, busquei saber o que sentiram ao ver as imagens. Um deles chegou a dizer: Fiquei com medo de ter de trabalhar assim! e um outro aluno contou-me depois que tinha ido para casa 4

triste por ver aquelas imagens. Porém, interessante foi o fato de que vários disseram não acreditar que aquilo pudesse ser verdade e que nenhuma criança trabalharia daquela forma. Percebendo a resistência dos alunos em acreditarem em uma realidade diferente daquela a qual estavam habituados busquei no livro Serafina e a criança que trabalha 5 um novo documento para apoiar as aulas. Lendo os relatos e mostrando a eles as fotos pude notar que os alunos passaram a perceber a seriedade da exploração do Trabalho Infantil. Decidi, para finalizar, introduzir a questão dos direitos das crianças lendo com os alunos Os Princípios da Declaração Universal dos Direitos da Criança. Depois de lidos os direitos, um a um fomos verificando quais deles eram cumpridos em nosso município e quais cada um dos alunos considerava como sendo o mais importante. Para avaliar os alunos no decorrer das aulas, eles foram orientados a registrarem com desenhos e escrita as suas impressões, crenças e reflexões e para concluir os trabalhos foram organizados grupos que confeccionaram cartazes a respeito dos direitos das crianças e elaboraram ilustrações com frases objetivando fazer uma campanha contrária ao Trabalho Infantil. O objetivo de socializar minha experiência foi o de mostrar que o uso de documentos diversificados, certamente, diminui as dificuldades para se ensinar conteúdos necessários e que não são objetivos para os alunos. Porém, é a opção por incluir as idéias expressas pelos alunos das séries iniciais no planejamento e desenvolvimento da metodologia do trabalho que permite tornar mais fácil conhecer as distorções a que eles estão expostos e que muitas vezes dificultam a compreensão e o aprendizado. 1 SHIMIDT, M. A.; GARCIA, T. B. O trabalho histórico na sala de aula. In. História e Ensino, Londrina: Ed. UEL v. 9. Out. 2003 2 AISENBERG, B. Para que y como trabajar en el aula com los conocimientos previos de los alumnos: un aporte de la psicologia genetica a la didáctica de estudios sociales para la escuela primaria. In: ALDEROQUI, S. e AISENBERG, B. (org.) Didáctica de lãs Ciências Sociales. Aporte e Reflexiones. Buenos Aires: Paidós, 1994 3 O Relatório, feito em 1832, foi publicado nos Parliamentary Papers (Documentos Parlamentares Ingleses) de 1833, v.20. transcrito de São Paulo, 1979, p. 88 4 AISENBERG, B. Para que y como trabajar en el aula com los conocimientos previos de los alumnos: un aporte de la psicologia genetica a la didáctica de estudios sociales para la escuela primaria. In: ALDEROQUI, S. e AISENBERG, B. (org.) Didáctica de lãs Ciências Sociales. Aporte e Reflexiones. Buenos Aires: Paidós, 1994 5 AZEVEDO, J. ; HUZAK, I. Serafina e a criança que trabalha. 12ª edição. São Paulo: Ática, 1996 5