GENE X: UMA ANÁLISE SEMIÓTICA DAS HISTÓRIAS EM QUADRINHOS DOS X-MEN EM REVISTA



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Profa. Ma. Adriana Rosa

Transcrição:

1 UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA UNIR Flávio Vinícius Godoi da Silva GENE X: UMA ANÁLISE SEMIÓTICA DAS HISTÓRIAS EM QUADRINHOS DOS X-MEN EM REVISTA Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Comunicação Social Habilitação em Jornalismo da Universidade Federal de Rondônia Unir, sob orientação do profº Juliano José de Araújo, como parte da avaliação para obtenção de título de bacharel em Jornalismo. VILHENA RONDÔNIA 2011

2 UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA UNIR Flávio Vinícius Godoi da Silva GENE X: UMA ANÁLISE SEMIÓTICA DAS HISTÓRIAS EM QUADRINHOS DOS X-MEN EM REVISTA VILHENA RONDÔNIA 2011

3 Flávio Vinícius Godoi da Silva GENE X: UMA ANÁLISE SEMIÓTICA DAS HISTÓRIAS EM QUADRINHOS DOS X-MEN EM REVISTA Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Comunicação Social Habilitação em Jornalismo da Universidade Federal de Rondônia Unir, sob orientação do profº Juliano José de Araújo, como parte da avaliação para obtenção de título de bacharel em Jornalismo. Data: Resultado: BANCA EXAMINADORA Prof. Assinatura: Prof. Assinatura: Prof. Assinatura:

4 Dedico este trabalho, aos meus avôs, Maria do Carmo da Silva e Natalício Godoi da Silva que sempre acreditaram em mim, mas, não estão mais presentes neste mundo em matéria, entretanto, sei que estão vendo as minhas conquistas.

5 AGRADECIMENTOS Aos professores, Juliano de Araújo e Lilian Reichert pelas orientações e conselhos. Aos meus amigos de curso, que juntos enfrentamos os altos e baixos da monografia, em especial à Andréia Machado. À minha família, em especial minha mãe, Maria Aparecida da Silva e meu tio, José Godoi da Silva que me proporcionaram condições financeiras de concluir minha formação superior.

6 RESUMO A dissertação mostra como as histórias em quadrinhos dos X-Men tratam a questão da diversidade cultural e social existentes no mundo não-ficcional. Buscou-se analisar como os textos e imagens da publicação são construídos para que o fator ficcional da trama (mutação) se assemelhe ideologicamente com as discussões contemporâneas sobre diversidade. A metodologia adotada é a semiótica de Greimas, também conhecida como semiótica francesa. É a partir da teoria greimasiana que são discutidas as relações entre linguagens e imagem, ângulos e formas, cores e tamanhos, entre outros. A análise principal é formada por 13 capítulos que compõem a saga Complexo de Messias, publicada em 2009. Palavras-chave: quadrinhos, X-Men, semiótica, diversidade, Greimas. ABSTRACT The study shows the stories in the X-Men s comic books deals with the questions of cultural and social diversities that exist even in a non-fictional world. It analized how the publication of texts and images are built to the fictional factor of the plot (mutation) resembles ideologically with the comteporary discussion about diversity. The methodology adopted is the Greimas Semiotcs (semiótica de Greimas), also known as French semiotics (semiótica francesa). It is based on the greimasiana theory that we discuss the relation between language and images, angles and shapes, colors and sizes, among others. The main analysis is formed by 13 chapters that compose the saga Messiah Complex, published in 2009. Key-words: Comic books, X-Men, semiotics, diversity, Greimas

7 LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura 1 Exemplo de imagens sequenciais 22 Figura 2 Exemplo de disposição dos quadrinhos 22 Figura 3 Comunicação visual nos quadrinhos 23 Figura 4 Comunicação visual nos quadrinhos 23 Figura 5 Batalha entre Lanterna Verde e o Surfista Prateado 24 Figura 6 Tirinha do Cebolinha 25 Figura 7 Exemplo de Sarjeta 25 Figura 8 Tirinha do Cebolinha 27 Figura 9 Tirinha da Turma da Mônica 28 Figura 10 Cartum autônomo 32 Figura 11 Charge do ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva 32 Figura 12 Tirinha seriada autônoma 32 Figura 13 Mangá Sailor Monn 32 Figura 14 Capa da graphic novel Watchman 32 Figura 15 Capa da revista Action Comics 32 Figura 16 Jean Grey 39 Figura 17 Capa da revista The X-Men 41 Figura 18 Wolverine 42 Figura 19 Colossus 42 Figura 20 Tempestade 42 Figura 21 Noturno 42 Figura 22 Banshee 42 Figura 23 Solares 42 Figura 24 Tamara 42 Figura 25 - Capa da revista Uncanny X-Men 43 Figura 26 Capa da revista que iniciou a saga A Fênix Negra 44 Figura 27 Foto de um Homem 69 Figura 28 Desenho de um homem 69

8 Figura 29 Homem Aranha salta sobre prédios 70 Figura 30 Capitão América se submete à experiências científicas 70 Figura 31 Superman 70 Figura 32 Mulher Maravilha 70 Figura 33 Stargirl 70 Figura 34 Bandeira dos Estados Unidos da América 71 Figura 35 Tirinha autônoma 71 Figura 36 - Capa da revista Homem Borracha 72 Figura 37 Salomão Ventura 79 Figura 38 Luta dos membros d A Cooporação 80 Figura 39 Diálogo entre membros d A Cooporação 81 Figura 40 Fazenda próxima de uma cidade 82 Figura 41 Batalha no aeroporto do Rio de Janeiro 82 Figura 42 Chegada do X-Men à Cooperstown 93 Figura 43 Mulher se aproxima dos X-Men 94 Figura 44 Mulher carrega criança morta nos braços 95 Figura 45 Pássaro Negro decola 95 Figura 46 Cidade de Washington D.C. 96 Figura 47 Igreja dos Purificadores 97 Figura 48 Rictor 97 Figura 49 Cidade de Nova York no futuro 98 Figura 50 Imagem do campo de concentração mutante 99 Figura 51 James Madrox interroga um guarda 100 Figura 52 James Madrox é levado para o campo de concentração 100 Figura 53 James Madrox é tatuado no rosto 101 Figura 54 Lucas Bishop no campo de concentração 103 Figura 55 Lucas Bichop 103 Figura 56 Professor Charles Xavier é morto 103 Figura 57 Página negra 105 Figura 58 Cable chega ao futuro 106

9 SUMÁRIO INTRODUÇÃO...10 CAPÍTULO I: HQS: ORIGEM, TRAÇOS E MUTANTES 1. Os Estudos Científicos...13 2. Histórico e Características Elementos da Linguagem...18 2.1. HQ Como Gênero Literário e Científico...30 2.2. Características Ideológicas: Era de Ouro, Prata e Bronze...33 3. Dos Quadrinhos Para o Cinema...37 4. Conhecendo os X-Men...39 4.1. O Apocalipse da Era Moderna...44 4.2. Complexo de Messias...46 CAPÍTULO II: DIVERSIDADE: GÊNERO, ORIENTAÇÃO SEXUAL, COR E DEFICIÊNCIA FÍSICA 1. A Minoria que é Maioria...48 2. Gênero e Orientação Sexual...51 3. Discriminação Racial...57 4. Deficientes Físicos...60 4.1. Breve Conceito de Deficiência Física...62 4.2. Deficiência Médica e Social...63 CAPÍTULO III: DO MÉTODO DE ANÁLISE 1. A Semiótica Greimasiana...66 1.1. Plano da Expressão...68 1.2. Plano do Conteúdo...72 1.2.1. O Nível Fundamental...74 1.2.2. O Nível Narrativo...75 1.2.3. O Nível Discursivo...78 CAPÍTULO IV: A ANÁLISE SEMIÓTICA 1. A Saga...85 2. A Análise do Conteúdo...86 3. A Análise da Expressão...93 4. Plano da Expressão e Relações Com o Plano do Conteúdo...106 CONSIDERAÇÕES FINAIS...110 BIBLIOGRAFIA...112

10 INTRODUÇÃO A revista em quadrinhos de X-Men é uma das mais vendidas no mundo e se mantém com fôlego após quase cinquenta anos da criação. Há uma quantidade considerável de pessoas em todos os países que, diante de suas páginas coloridas, se identifica com os inúmeros personagens do enredo. Criado nos anos 1960 por Stan Lee e Jack Kirby, os X-Men (Homens-X) trouxeram, pela primeira vez, heróis que não vinham de outros planetas ou universos paralelos. Tanto os mocinhos quando os bandidos eram pessoas comuns que se descobriam portadores de habilidades sobre-humanas, sendo os primeiros seres da evolução da espécie humana (Homo Sapiens); e os últimos, os mutantes (Homo Superior). A diferença dos mutantes para os humanos está na presença do gene X. que causa a mutação diferente em cada indivíduo, que pode ser interna ou externa. Apesar de ter os humanos como os maiores vilões, os mutantes lutam entre si por razões de ideologias diferentes. Os X-Men são liderados pelo telepata Charles Xavier, conhecido como Professor X que, em sua escola de estudos para mutantes, o Instituto Xavier para Jovens Super Dotados, ensina os novos mutantes a controlarem e entenderem os seus poderes, usando-os de forma pacífica. O Instituto Xavier abriga centenas de mutantes e, dentre os principais, estão Wolverine, Tempestade, Ciclope e Jean Grey. Em oposição aos X-Men de Charles Xavier existe a irmandade, um grupo de mutantes que prega o extermínio da raça humana e domínio do Homo superior, liderados pelo mutante Eric, conhecido como Magneto. Dentre os membros da irmandade destacam-se Mística, Avalanche, Grôchu e Pyro. Este universo fictício se assemelha e se desenvolve baseado no mundo não-ficcional, pois os mutantes são inspirados nas minorias de nossa sociedade, em outras palavras, os excluídos por motivos preconceituosos, seja pela orientação sexual, religião, cor, deficiência, gênero, etc.

11 Esta pesquisa analisa a narrativa dos X-Men chamada Complexo de Messias, publicada em 2009, que foi escolhida por ser uma das sagas mais recentes lançadas, além de possuir importantes acontecimentos, pois vários personagens têm seus destinos mudados completamente. A ideologia dos textos da saga será comparada com os elementos de preconceitos da sociedade atual para evidenciar como o texto da série em questão emprega ideias de aceitação do ser que é diferente. Nosso projeto será iniciado por uma apresentação geral da origem das histórias em quadrinhos (HQs), que, como veremos, não possui uma data exata. Os estudos científicos dedicados ao gênero HQ também estão presentes no primeiro capítulo, trazendo alguns conceitos pensados pela comunidade científica a partir da publicação das obras Mitologias, de Rolando Barthes, em 1957, e Apocalípticos e Integrados de Umberto Eco, em 1962. Estas obras deram o início aos estudos de quadrinhos não só como efeitos da cultura e da comunicação de massa, mas, como presentes também em áreas do conhecimento como psicologia, sociologia, economia, história, filosofia, medicina e etc. Para que o estudo de quadrinhos pudesse ser feito de modo a atingir diferentes níveis do comportamento humano foi necessário uma padronização das técnicas de elaboração das histórias em quadrinhos, este efeito é chamado de arte sequencial. Autores como Bakthin defendem que as HQs, como arte seqüencial, fazem parte do gênero discursivo secundário, já outros como Canclini veem os quadrinhos como gênero impuro, o certo é que histórias em quadrinhos são compostas por textos e imagens muitas vezes de maneira única na comunicação abrangendo desde o uso de traços, cores, forma e disposição dos quadros, balões de fala, escrita dentre outras. O processo de evolução das HQs tanto na questão técnica quanto narrativa levou este produto a ganhar um divisão classificatória/ideológica pelos estudiosos da área. Qualquer revista em quadrinhos atualmente é categorizada como pertencente ou a Era de Ouro, de Prata, de Bronze ou Moderna. Estes grupos representam estilos e tendências de cada geração a partir de 1938 (surgimento da revista Superman) até os dias de hoje. Paralelo às transformações de estilo e narração das revistas em quadrinhos, os personagens que surgiram em cada uma das eras citadas começaram a deixar

12 as páginas das HQs e ganharem as telas do cinema. Conforme aponta Smee (2008), a tendência de adaptar roteiros de super-heróis dos quadrinhos para a sétima arte se intensificou a partir dos atentados terrorista de 11 de setembro onde a figura dos heróis passou a servir de símbolo de esperança e calmaria para uma população assustada. O medo daquilo que é novo ou simplesmente diferente ocasiona o surgimento dos estereótipos, o segundo capítulo trata da questão da diversidade cultural e social. Em seu desenrolar, primeiramente, é apresentado o que é diversidade cultural sob o ponto de vista do estigma, marca visível determina grupos sociais, e, a concepção de minoria, que, como será visto não se refere à quantidade de indivíduos. Após apresentados estas definições, o capítulo foca em quatro categorias que mais apresentam os chamados problemas por serem minorias sociais: gênero, orientação sexual, cor e deficiência física. Os quatro grupos possuem históricos de discriminação e tentativas de conseguir voz ativa perante a maioria social. Desta forma, todos os grupos injustiçados pela ótica da diversidade se unem de modo a afetar o interesse coletivo. O terceiro capítulo foi dedicado à metodologia empregada neste projeto para evidenciar sua proposta (como as HQ s dos X-Men refletem a questão da diversidade cultural da realidade). A teoria empregada é a semiótica francesa a partir do estudo do plano do conteúdo e do plano da expressão das HQs. Quanto ao plano do conteúdo, consideraremos a aplicação do percurso gerativo do sentido, em seus três níveis (discursivo, narrativo e profundo), às HQs, procurando evidenciar como o sentido desse texto foi construído. Em seguida, contemplaremos também em nosso trabalho o estudo do plano da expressão das HQs, considerando os formantes plásticos, presentes no plano da expressão, os quais são categorizados, segundo Greimas (1984), nas categorias topológicas (referente à distribuição espacial superior/inferior, central/periférico), cromáticas (referente às cores escuro/claro, brilhoso/ofusco) e eidéticas (referente às formas reto/curvado, redondo/quadrado). O quarto capítulo traz a análise do objeto, embasada na metodologia apresentada no capítulo III, a semiótica greimasiana. Para tanto, alguns trechos da saga Complexo de Messias, objeto de estudo selecionado, foram destrinchados conforme exige a metodologia. Os trechos escolhidos tratam de diálogos e imagens. Para o primeiro (diálogos) foi aplicado o percurso gerativo do sentido; para o

13 segundo (imagens), foram empregados os conceitos para análise do plano da expressão. CAPÍTULO I HQS: ORIGEM, TRAÇOS E MUTANTES 1. OS ESTUDOS CIENTÍFICOS Dentre as ferramentas utilizadas para a comunicação de massa, pouco se estudou sobre a atuação e os efeitos das histórias em quadrinhos (HQs), populares entre crianças, jovens e adultos, na formação do raciocínio humano, conforme aponta Ramos (2007), que, em pesquisa, constatou o advento do estudo das HQs no início dos anos 1970 e sua retomada na segunda metade da década de 1990 tendo em vista, segundo o autor que, em meados da década de 1980, as pesquisas relacionadas às HQs foram praticamente esquecidas pelo fato da comunidade científica não as reconhecer como dignas de estudo no meio acadêmico. No final dos anos 1950 e início dos anos 1960, duas obras que abordavam, de forma inédita, as histórias em quadrinhos como elementos da cultura de massa e da comunicação foram publicadas, sendo elas Mitologias, de Roland Barthes, em 1957, e Apocalípticos e Integrados, de Umberto Eco, em 1962. As duas publicações expuseram a construção da imagem dos super-heróis como seres mitológicos da sociedade contemporânea. Barthes fez uso das concepções de Ferdinand Saussure sobre significado, significante e signo para analisar a presença do mito nas situações e pessoas do cotidiano como um lutador de catch (luta livre), foto de um político, a inteligência de um cientista, um streaptease, etc. O mito, em sua obra, é compreendido como endeusamento de uma imagem, de um personagem, criado para o consumo de massa, que passa a ser adorado e reverenciado no pedestal em que é posto. Sua divindade e poder de atrair seguidores, na concepção de Barthes, vai além da imagem apresentada, ou seja, vai além do signo, que seria o mito propriamente dito. O endeusamento do mito é rebuscado pelos valores de significado e significante, que podem variar de acordo com a cultura da sociedade. Neste sentido, Barthes é categórico ao afirmar que o mito é uma fala usada para o homem expressar seus símbolos e ele deve tratar do

14 mesmo modo a escrita e a imagem: o que ele delas retém é que ambas são signos, ambas chegam ao limiar do mito dotadas da mesma função significante; tanto uma como a outra constituem uma linguagem objeto. (BARTHES, 2001, p. 137). Umberto Eco também observa o endeusamento mitológico dos heróis modernos, mas, dentro do universo das HQs, enxerga os super-heróis como possuidores de destino incerto, exatamente como os mortais. Em outras palavras, a imutabilidade do mito não se aplicaria aos super-heróis de quadrinhos, pois estes não são reconhecidos por apenas um ato, mas uma série de eventos intermináveis de heroísmo. A personagem do mito encarna uma lei, uma exigência universal, e deve, numa certa medida, ser, portanto, previsível, não pode reservar-nos surpresas; a personagem do romance, pelo contrário, quer ser gente como todos nós, e o que lhe poderá acontecer é tão imprevisível quanto o que nos poderia acontecer (ECO, 2001, p. 248). Para exemplificar seu raciocínio, Eco cita exemplos de roteiristas de quadrinhos que tiveram de dar explicações públicas aos fãs inconformados com a morte de determinado personagem, exatamente como se fazia nos folhetins do início do século XX, quando os leitores indagavam os autores sobre os rumos das tramas. [...] aqui assistimos à participação popular de um repertório mitológico claramente instituído de cima, isto é, criado por uma indústria jornalística, porém particularmente sensível aos caprichos do seu público, cuja exigência precisa enfrentar (ECO, 2001, p. 243). Este exemplo mostra que os personagens de quadrinhos não são aceitos apenas como detentores de uma única ação, mas de um legado que os fãs querem continuar acompanhando, uma espécie de mito/romance. Após a publicação destas análises, que englobavam as características das HQs em suas pesquisas, no final dos anos 1960, Groensteen (apud Vergueiro e Santos, 2006) observa que o mundo acadêmico começou a dar atenção aos quadrinhos depois que as artes plásticas passaram a utilizar recursos das HQs em suas obras - como aconteceu com os trabalhos de Andy Warhol e Roy Lichtenstein -, e que nomes respeitados do mundo artístico se confessassem influenciados pelas histórias em quadrinhos como Orson Welles, Luiz Buñuel, Federico Fellini, entre

15 outros. Nesse sentido, também colaborou a ousadia de alguns intelectuais europeus, que ousaram utilizar os quadrinhos como objeto de pesquisa, principalmente no âmbito da lingüística e da semiologia. (Vergueiro e Santos, 2006, p. 04). Nota-se, porém, que os estudos das histórias em quadrinhos atingiram diversas áreas do conhecimento como estruturalista, psicanalítica, marxista, dos estudos culturais, pós-modernista e pós-estruturalista. (VERGUEIRO E SANTOS, 2006, p. 04). Uma formulação mais aprofundada dos campos de estudos dos quadrinhos foi feita em meados da década de 1980 por pesquisadores da Comic Art Research Group, da Temple University, Estados Unidos, que criaram aspectos de diferentes níveis acadêmicos cobrados pela comunidade científica que começava a relutar a aceitação de pesquisas sobre histórias em quadrinhos quais sejam. (...) nível temático, nível da perspectiva (psicológica, sociológica, estética, econômica, histórica, filosófica e médica) e o nível técnico (análises semiótica, do discurso, literária, retórica, de conteúdo, histórica, bem como estudo de caso, entrevista, aplicação de questionários e experimentação). (VERGUEIRO E SANTOS, 2006, p. 04). No caso do Brasil, segundo Ramos (2007), há, pelo menos, duas razões pela retomada dos estudos dedicados às HQs na década de 1990: 1) a presença dos quadrinhos nos exames vestibulares, em especial no da Universidade Estadual de Campinas; 2) a inclusão da linguagem nas práticas pedagógicas dos Parâmetros Curriculares Nacionais, elaborados pelo governo federal (2007, p. 03). Os autores Vergueiro e Santos (2006) citam também, em termos de Brasil, o aparecimento de grupos de pesquisadores e interessados em geral que passaram a realizar encontros regulares com o objetivo de discutir quadrinhos nos níveis de conhecimentos citados, sobretudo na comunicação, a partir de 1990. Esses encontros foram difundidos nacionalmente com o auxílio da Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares de Comunicação (Intercom). No âmbito das ciências da comunicação, a pesquisa em quadrinhos ocorreu nas diversas universidades ou instituições isoladas em que alguns pesquisadores se debruçaram sobre eles destacando-se, neste aspecto, as universidades de São Paulo e Federal Fluminense -, mas também no das associações científicas da área; neste último espaço, ocupou papel de destaque no país a INTERCOM

16 Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares de Comunicação. Nesta associação, desde meados da década de 1990, um diversificado grupo de pesquisadores, alunos e interessados em geral reuniu-se anualmente durante os Congressos Anuais da sociedade, constituindo inicialmente o Grupo de Trabalho Humor e Quadrinhos, depois denominado Núcleo de Pesquisa de Histórias em Quadrinhos, em que eram apresentadas reflexões e discutidos os resultados de pesquisas sobre histórias em quadrinhos desenvolvidas nas várias universidades brasileiras. (VERGUEIRO E SANTOS, 2006, p. 02). Para exemplificar o interesse por estudos de quadrinhos no Brasil, Vergueiro e Santos (2006) apresentam uma tabela, onde aparece a quantidade de dissertações e teses realizadas por discentes e docentes da Universidade de São Paulo (USP) dos anos de 1970 a 2005, separados por décadas. Na tabela é possível perceber o surgimento na década de 1970, e a pouca evolução, nos 1980, com um crescimento de apenas 3,4%. A retomada acontece a partir da década de 1990 quando as pesquisas de histórias em quadrinhos na USP passaram a representar 33,3% do total, chegando aos anos 2000 com quase a metade das dissertações. Antes de prosseguir com os valores científicos e acadêmicos dos estudos das HQs, é relevante apontar sua história de surgimento e algumas características que as distinguem das outras formas de comunicação. 2. HISTÓRICO E CARACTERÍSTICAS ELEMENTOS DA LINGUAGEM

17 Assim como um roteiro de televisão, rádio ou cinema, a linguagem das HQs é construída de forma a obter um efeito de sentido de oralidade e coloquialidade em sua composição quadro a quadro, regida pelo discurso direto, conforme aponta Marinho (2004). Não se sabe exatamente em que data e em que local surgiram as primeiras histórias em quadrinhos, mas, conforme demonstra McCloud (1995), a origem pode estar ligada ao Antigo Egito, com a descoberta de gravuras que retratam cenas sequenciais datadas de 1.300 a. C. Mas, as histórias em quadrinhos modernas, tais como as conhecemos, ainda segundo o autor, teriam sido criadas em meados do século XIX, pelo suíço Rodolph Töpffer. Partindo de Töpffer, é possível traçar uma linha cronológica1 com alguns dos principais quadrinistas mundiais que tiveram seus personagens e obras inseridos na cultura urbana mundial. ANO 1827 1889 1895 1897 1905 1907 1912 1913 1919 1923 1929 1929 1929 1929 1929 1931 1932 1932 1934 1934 1934 1936 1937 1 QUADRINISTA Rudolf Töpffer Georges Colomb Richard Felton Outcault Rudolph Dirks Winsor McCay Bud Fischer William Hearst George Herriman Frank King Pat Sullivan Walt Disney Hergé E. C. Segar Philip Francis Nowlan Hal Foster Max Fleischer Norman Pett Carl Anderson Al Capp Lee Falk Alex Raymond Lee Falk Hal Foster PERSONAGEM/OBRA M.Vieux-Bois A Família Fenouillard The Yellow Kid (O Menino Amarelo) Os Sobrinhos do Capitão Little Nemo in Slumberland Mutt e Jeff King Features Syndicate Krazy Kat Gasoline Alley O Gato Félix Mickey Mouse Tintin Popeye Buck Rogers Tarzan Betty Boop Jane Pinduca Ferdinando Mandrake Flash Gordon Fantasma O Príncipe Valente Quadro baseado nas informações do site: http://estudiorafelipe.blogspot.com/2011/01/historia-das-historias-emquadrinhos-2a.html - Acessado em 05/09/2011.

18 1938 1939 1940 1946 1948 1950 1959 1961 1962 1962 1962 1963 1964 1965 1965 1967 1970 1973 1978 1980 1980 1982 1984 1985 1985 1986 1986 1988 1988 1991 1993 1994 1995 1996 1996 1998 1998 2003 2005 2007 2008 2009 2009 2010 Joe Shuster e Jerry Siegel Bob Kane Will Eisner M. Bevère e R. Goscinny Walt Kelly Charles Schulz Maurício de Sousa Stan Lee Stan Lee Stan Lee Jean-Claude Forest Stan Lee Quino Guido Crepax Robert Crumb Freak Brothers Hugo Pratt Dik Browne Jim Davis Kazuo Koike Ziraldo Art Spiegelman Bill Watterson Frank Miller Neil Gaiman Katsushiro Otomo Stan Sakai Alan Moore Frank Miller Will Eisner Ralph König Jim Lee Kurt Busiek Frank Miller Jeff Smith David Laphan Paul Auster Brian K. Vaughan Frank Quietly Obata Takeshi David Petersen Craig Thompson Chris Ware Brian K. Vaughan Super-Homem Batman The Spirit Lucky Luke Pogo Minduim A Turma da Mônica Quarteto Fantástico Homem-Aranha Hulk Barbarella X-Men Mafalda Valentina Fritz the Cat Gilbert Shelton Corto Maltese O Horrível Garfield Lobo Solitário O Menino Maluquinho Maus Calvin Cavaleiro das Trevas Sandman Akira Usagi Yojimbo Watchmen Os 300 de Esparta No Coração da Tempestade O Homem Ideal Wild C.A.T.S. Marvels Sin City Bone Balas Perdidas Cidade de Vidro Leões de Bagdá WE3 Instinto de Sobrevivência Death Note Os Pequenos Guardiões Retalhos Jimmy Corrigan Y - O Último Homem

19 Apesar de ser uma forma de comunicação cujos primeiros indícios surgiram séculos antes de Cristo, as HQs sempre foram tratadas com desconfiança por comunicólogos. Os próprios profissionais da área, até três décadas atrás, preferiam ser chamados de ilustradores, artistas comerciais ou cartunistas, ao invés de artista de quadrinhos. A expressão história em quadrinhos teve conotações tão negativas que muitos profissionais preferem ser conhecidos como ilustradores, artistas comerciais [...] cartunistas. (MCCLOUD, 1995, p. 18). De forma simplificada, as HQs, como as conhecemos hoje, possuem palavras e figuras ordenadas de forma sequencial lado a lado. Na trama de uma história em quadrinhos, as técnicas da linguagem escrita e falada se misturam, estruturando um diálogo direto, como em uma conversa filmada ou cena gravada em uma película. [...] as estratégias de organização de um texto falado são utilizadas na construção da história em quadrinhos, que possui em seu texto escrito, características próximas a uma conversação face a face, além de apresentar elementos visuais complementadores à compreensão. (MARINHO, 2009. p. 01) Logo, as histórias em quadrinhos são consideradas um gênero discursivo secundário, de acordo com a concepção de Bakthin (1997), que compreende os gêneros discursivos como primários e secundários. O gênero primário do discurso, segundo Bakthin (1997), abrange toda forma de comunicação simples, como uma conversa do cotidiano com um amigo, uma carta, um bilhete, etc. Já o gênero discursivo secundário refere-se a uma comunicação complexa da qual fazem partes roteiros de peças de teatro, artigos científicos, revistas, etc. [...] aparecem em circunstâncias de uma comunicação cultural mais complexa e relativamente mais evoluída (BAKTHIN, 1997, p. 281). Costa (2009) compreende as HQs considerando a classificação de Bakthin, como pertencente ao gênero discursivo secundário. Compreenderemos as HQs, [...] como um gênero secundário complexo e contemporâneo do discurso, visto que são uma manifestação social produzida em condições sociais específicas. A importância de entendermos as HQs como um gênero discursivo secundário vai além de uma ação classificatória; compreendemos que as HQs se constroem em situações de práticas sociais complexas, demandando que os seus leitores possuam certo conhecimento prévio desse gênero para bem conseguir lê-las. (2009, p. 07)

20 Já Canclini (apud D OLIVEIRA, 2004, p.80) avalia a HQ como gênero impuro por ter a capacidade de transitar entre a imagem e a palavra, entre o erudito e o impuro, reunindo características do artesanal e da produção de massa. A junção de imagem e escrita, citada por Canclini, atribui à última, em se tratando de quadrinhos, elementos da oralidade, que são facilmente perceptíveis. Na linguagem escrita, o signo é representado pela letra e é construído com determinado cuidado em sua estrutura. O enredo das HQs e ordenação das palavras é planejado previamente, criando suspense para repassar a mensagem, conforme defendido por Marinho (2004). Quando se trata da oralidade, o signo é representado pelo fonema. Numa HQ, os elementos da linguagem falada são representados também pelas interjeições, onomatopéias e expressões comuns em uma comunicação cotidiana verbal, apontadas por Marcuschi (apud MARINHO, 2004, p. 03). Além da comunicação verbal, nas HQs é encontrada também a comunicação visual, já que são (as HQs) formadas de textos e imagens. Em alguns casos, o texto pode não ter valor algum para a compreensão de um quadrinho quando a imagem manifesta o sentido. McCloud (1995) classifica este tipo de quadrinho, formado apenas por imagens sequenciais, como dignificantes. As figuras sequenciais finalmente estão sendo reconhecidas como uma excelente ferramenta de comunicação, mas ninguém se refere a elas como quadrinhos [...] soa mais como dignificantes (MCCLOUD, 1995, p. 20). A ausência dos diálogos, segundo Eisner (1985), atua como uma forma de extrair do leitor suas experiências do senso comum que vão ao encontro com as do autor, formando o sentido do enredo. As imagens sem palavras, embora aparentemente representem uma forma mais primitiva de narrativa gráfica, na verdade exigem certo refinamento por parte do leitor (ou espectador). A experiência comum e um histórico de observação são necessários para interpretar os sentimentos mais profundos do autor (Eisner, 1985, p. 24). Essencialmente, histórias em quadrinhos nada mais são do que imagens sequenciais. De acordo com McCloud (1995), o termo foi usado pela primeira vez por Will Eisner, que definiu os quadrinhos de uma maneira neutra em questão de

21 estilo, qualidade ou assunto. O autor aborda exemplos de imagens sequenciais na figura abaixo: Figura 1 Fonte: McCloud (1995, p. 05) Logo, sobre as imagens sequenciais, McCloud define: Tomadas individuais, as figuras (...) não passam disso. No entanto, quando são partes de uma sequencia, mesmo de uma sequencia só de duas, a arte da imagem é transformada em algo mais: A arte das histórias em quadrinhos! (1995, p. 05). A sequencialidade de leituras das HQs, como define McCloud (1995, p. 86), é algo complexo e planejado, que até os profissionais mais experientes, às vezes, se atrapalham. Vejamos abaixo um exemplo de como podem ser dispostos os quadrinhos de uma página: