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PROF. JOSEVAL MARTINS VIANA. Aula n. 79 Pós-Graduação em Direito Médico e da Saúde Recursos nas ações em Direito Médico e da Saúde

: MIN. DIAS TOFFOLI SÃO PAULO

Transcrição:

RECURSO ESPECIAL Nº 1.323.679 - DF (2012/0101219-9) RELATORA RECORRENTE ADVOGADA RECORRIDO ADVOGADO : MINISTRA MARIA ISABEL GALLOTTI : EUGÊNIO DE OLIVEIRA PASSOS : REGINA CÉLIA SILVA MOREIRA E OUTRO(S) - DF006598 : ODYSSEFS ATHANASIS TERZIS : FRANCISCO GOMES DOS SANTOS FILHO - DF004299 DECISÃO Trata-se de recurso especial interposto por Eugênio de Oliveira Passos com fundamento no art. 105, inciso III, alíneas "a" e "c", da Constituição Federal, contra acórdão do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios. Consta dos autos que Odyssefs Athanasis Terzis, ora recorrido, ajuizou ação de reintegração de posse com pedido de liminar em face do recorrente. Alegou ter celebrado contrato de comodato de imóvel pelo prazo de cinco anos, pelo qual o recorrente teria se obrigado a administrar o terreno e nele construir uma casa. Findo o prazo, o bem não foi devolvido, o que caracterizaria o esbulho. Em resposta, o recorrente afirmou que o recorrido alterou a verdade dos fatos; o comodato não existiria e a proteção possessória deveria ser reconhecida em seu favor, ou ao menos deveria ser garantida a retenção por benfeitorias. Os autos foram remetidos à Vara da Fazenda Pública do DF, a fim de que a Terracap - Companhia Imobiliária de Brasília - fosse ouvida sobre a lide. A empresa pública afirmou não ter interesse no feito, razão pela qual os autos retornaram ao Juízo da 20ª Vara Cível da Circunscrição Especial Judiciária de Brasília. O pedido de reintegração foi julgado procedente. A despeito de entender não ter havido comodato - porque o acordo não era gratuito - o Juízo de Primeiro Grau constatou ter havido posse injusta, já que a coisa estava em poder do réu por abuso de confiança e além do prazo combinado para o término da relação que originou sua posse. O recorrente interpôs apelação, à qual o Tribunal negou provimento nos termos da seguinte ementa (e-stj fl. 538): Documento: 67909024 - Despacho / Decisão - Site certificado - DJe: 01/02/2017 Página 1 de 7

AÇÃO DE REINTEGRAÇÃO DE POSSE - POSSIBILIDADE JURÍDICA DO PEDIDO - EXISTÊNCIA - COMODATO - PRAZO ULTRAPASSADO - REINTEGRAÇÃO CABÍVEL - PAGAMENTO DE ALUGUÉIS PELA OCUPAÇÃO INDEVIDA - NECESSIDADE - ACESSÕES - INEXISTÊNCIA DO DIREITO À RETENÇÃO - SENTENÇA MANTIDA. 1) Afasta-se a preliminar de impossibilidade jurídica do pedido, pois, ainda que público o imóvel, ao particular não pode ser negado o direito aos interditos possessórios quando houver turbação cometida por outro particular. 2) Ultrapassado o prazo de ocupação do imóvel fixado em contrato, cabível a reintegração, restando configurada a posse precária do ocupante. 3) Cabível o pagamento de aluguéis pelo tempo de ocupação indevida, conforme previsão do ajuste firmado. 4) Não há direito à retenção pelas acessões quando foram realizadas em contrapartida pelo uso do bem. 5) Recurso conhecido e não provido. Preliminar rejeitada. Em suas razões de recurso especial, o recorrente alega violação dos arts. 267, IV, 926, 927 do Código de Processo Civil (1973); 1196, 1208 e 1219 do Código Civil, além de dissídio jurisprudencial. Argumenta que o recorrido não tem posse do bem recorrido, mas mera detenção, já que se trata de bem público. Desse modo, o feito deveria ter sido extinto sem resolução do mérito. Sustenta, também, que a posse alegada pelo recorrido não está provada, até mesmo porque não teria condição de fazê-lo, dada a inviabilidade de se possuir bem público. O recorrido apresentou as contrarrazões de fls. 572/578. Afirma que a matéria não está prequestionada e, além disso, sua discussão não dispensaria o reexame de cláusulas contratuais e de prova, razão pela qual deveriam ser aplicadas ao caso as Súmulas 5 e 7 do STJ, bem como 282 e 356 do STF. A par disso, o dissídio jurisprudencial não estaria demonstrado. No mérito, afirma ser falacioso o argumento de que não se trata de posse, mas mera tolerância do Poder Público, pois o próprio Distrito Federal, por meio da Terracap e apoiado em Leis Federais e Distritais, está regularizando a ocupação da terra ora em litígio. Documento: 67909024 - Despacho / Decisão - Site certificado - DJe: 01/02/2017 Página 2 de 7

Assim delimitada a controvérsia, passo a decidir. Inicialmente, destaco que a decisão recorrida foi publicada antes da entrada em vigor da Lei n. 13.105 de 2015, estando o recurso sujeito aos requisitos de admissibilidade do Código de Processo Civil de 1973, conforme Enunciado Administrativo 2/2016 desta Corte. Esclareço que os artigos tidos por violados - arts. 267, IV, 926, 927 do Código de Processo Civil; 1196, 1208 e 1219 do Código Civil - estão prequestionados. Tais dispositivos cuidam do tema em discussão e foram debatidos pelo acórdão recorrido, que cuidou tanto da possibilidade jurídica do pedido quanto da questão da posse propriamente dita. Rejeito, pois, a alegação feita em contrarrazões a respeito da aplicabilidade ao caso dos enunciados 282 e 356 da Súmula do STF. Quanto à possibilidade jurídica do pedido, tem-se que o Tribunal de origem afirmou o seguinte (e-stj fl. 539): Evidente que sobre os imóveis públicos não se pode constituir posse. Entretanto, pode acontecer de um particular exercer poder de fato sobre um imóvel público, como temos constantemente no Distrito Federal e a este particular não pode ser negado o direito aos interditos possessórios quando houver turbação cometida por outro particular. O direito do Poder Público não estará em julgamento, já que a eficácia da sentença da ação possessória atingirá apenas as partes, não sendo oponível ao titular do domínio do bem, ao Poder Público. Nessa linha, concluiu o Tribunal de origem ser juridicamente possível o pedido de proteção possessória sobre imóvel público, desde que a lide seja travada entre particulares. Assim decidida a questão, o acórdão recorrido harmoniza-se com precedentes desta Corte sobre o tema: PROCESSUAL CIVIL. ÁREAS PÚBLICAS DISPUTADAS ENTRE PARTICULARES. POSSIBILIDADE DO SOCORRO ÀS DEMANDAS POSSESSÓRIAS. 1. A ocupação de área pública, sem autorização expressa e legítima do titular do domínio, não pode ser confundida com a mera Documento: 67909024 - Despacho / Decisão - Site certificado - DJe: 01/02/2017 Página 3 de 7

detenção. 2. Aquele que invade terras e nela constrói sua moradia jamais exercerá a posse em nome alheio. Não há entre ele e o proprietário ou quem assim possa ser qualificado como o que ostenta jus possidendi uma relação de dependência ou subordinação. 3. Ainda que a posse não possa ser oposta ao ente público senhor da propriedade do bem, ela pode ser oposta contra outros particulares, tornando admissíveis as ações possessórias entre invasores. 4. Recurso especial não provido. (REsp 1484304/DF, Rel. Ministro MOURA RIBEIRO, TERCEIRA TURMA, julgado em 10/03/2016, DJe 15/03/2016) RECURSO ESPECIAL. POSSE. DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. BEM PÚBLICO DOMINICAL. LITÍGIO ENTRE PARTICULARES. INTERDITO POSSESSÓRIO. POSSIBILIDADE. FUNÇÃO SOCIAL. OCORRÊNCIA. 1. Na ocupação de bem público, duas situações devem ter tratamentos distintos: i) aquela em que o particular invade imóvel público e almeja proteção possessória ou indenização/retenção em face do ente estatal e ii) as contendas possessórias entre particulares no tocante a imóvel situado em terras públicas. 2. A posse deve ser protegida como um fim em si mesma, exercendo o particular o poder fático sobre a res e garantindo sua função social, sendo que o critério para aferir se há posse ou detenção não é o estrutural e sim o funcional. É a afetação do bem a uma finalidade pública que dirá se pode ou não ser objeto de atos possessórias por um particular. 3. A jurisprudência do STJ é sedimentada no sentido de que o particular tem apenas detenção em relação ao Poder Público, não se cogitando de proteção possessória. 4. É possível o manejo de interditos possessórios em litígio entre particulares sobre bem público dominical, pois entre ambos a disputa será relativa à posse. 5. À luz do texto constitucional e da inteligência do novo Código Civil, a função social é base normativa para a solução dos conflitos atinentes à posse, dando-se efetividade ao bem comum, com escopo nos princípios da igualdade e da dignidade da pessoa humana. 6. Nos bens do patrimônio disponível do Estado (dominicais), despojados de destinação pública, permite-se a proteção possessória pelos ocupantes da terra pública que venham a lhe dar função social. Documento: 67909024 - Despacho / Decisão - Site certificado - DJe: 01/02/2017 Página 4 de 7

7. A ocupação por particular de um bem público abandonado/desafetado - isto é, sem destinação ao uso público em geral ou a uma atividade administrativa -, confere justamente a função social da qual o bem está carente em sua essência. 8. A exegese que reconhece a posse nos bens dominicais deve ser conciliada com a regra que veda o reconhecimento da usucapião nos bens públicos (STF, Súm 340; CF, arts. 183, 3 ; e 192; CC, art. 102); um dos efeitos jurídicos da posse - a usucapião - será limitado, devendo ser mantido, no entanto, a possibilidade de invocação dos interditos possessórios pelo particular. 9. Recurso especial não provido. (REsp 1296964/DF, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em 18/10/2016, DJe 07/12/2016) De fato, segundo as teorias consagradas em nosso direito e que influenciaram a legislação, a posse consiste no poder que alguém exerce sobre determinada coisa, com o propósito de tê-la para si - animus domini - (teoria subjetiva, defendida por Savigny) ou a exteriorização da propriedade, de modo que o possuidor é aquele que exerce sobre a coisa poderes de fato inerentes à propriedade, sem necessidade de se indagar sobre sua intenção de dono (teoria objetiva, proposta por Ihering). Tanto no Código Civil de 1916 quanto no atual, é possível encontrar traços tanto de uma teoria quanto da outra, de modo que os estudiosos divergem sobre qual delas foi adotada no Brasil. Seja qual for o pensamento que se adote sobre a questão, fato é que a posse se verifica como o domínio fático que se tem sobre determinada coisa. Trata-se de fato corriqueiro, ao qual o direito não pode negar consequências. Assim, independentemente da qualidade da coisa e nas mais variadas circunstâncias, é possível ocorrer poder de fato sobre algo a merecer proteção jurídica. Um imóvel, então, pode ser público ou privado e, em ambos os casos pode se cogitar de situação em que o particular exerça poderes de fato sobre ele. Obviamente, as consequências jurídicas seriam diversas. Tem-se, por exemplo, que em se tratando de bem público, o particular não pode alegar determinadas posições jurídicas contra o proprietário; o uso do imóvel fica condicionado aos termos da outorga do título jurídico pelo Poder Público, como, por exemplo, permissão, licença, concessão etc. Nesse contexto, o pedido de manutenção ou reintegração de posse ajuizado pelo particular que ocupa imóvel irregularmente contra o ente público Documento: 67909024 - Despacho / Decisão - Site certificado - DJe: 01/02/2017 Página 5 de 7

senhor do bem não seria mesmo cabível. Outro entendimento, porém, dá-se na hipótese de ocupação regular do bem público, caso em que a administração pública deve respeitar os termos do que ela mesma pactuou, o que faria possível admitir - e o exame do caso concreto é que poderia dizer - a proteção possessória até mesmo contra o ente público. Outro, ainda, é o caso de ajuizamento de ação possessória por particular em face de outro particular, independentemente da natureza pública ou privada do bem. No presente caso, ainda que o recorrente alegue que a ocupação do imóvel em litígio pelo recorrido ocorre por mera tolerância estatal - no caso, o Distrito Federal - não se pode negar a proteção possessória. Caso se admitisse o contrário, não haveria como arbitrar o conflito entre particulares. Em situação hipotética: Como seriam tutelados os interesses daquele que, embora invasor de terra pública, fosse dela retirado por ato injusto e arbitrário de outro particular? Tenho que nessa hipótese não caberia ao último invocar as qualidades do bem público para refutar a pretensão do particular expulso e permanecer no imóvel; ficaria até mesmo caracterizada a situação de venire contra factum proprium. A indagação também vale para o caso concreto. Segundo os autos, o recorrido tem poder sobre o imóvel há muitos anos. Não há por que não se falar em posse. O próprio Tribunal de origem inicialmente evitou o termo, mas posteriormente dele se valeu para dizer que a posse estava provada. E, embora não tenha como ser alegada contra o ente público proprietário, não se desnatura e pode ser oposta a outro particular. Não se desconhece, além disso, que no Brasil e, especialmente, no Distrito Federal, é corriqueira a ocupação irregular de áreas públicas. São muitos os "condomínios" nelas estabelecidos, de modo que se reclamam providências do Poder Público, seja promovendo a desocupação, seja reconhecendo fato consumado a sugerir que a atitude menos prejudicial deva ser a regularização dos empreendimentos. Nesse contexto, não admitir o ajuizamento da ação possessória entre particulares é negar prestação jurisdicional garantida pela Constituição da República. E, recentemente, em assentada de 18 de outubro do corrente ano, a Quarta Turma voltou a apreciar a questão e, por unanimidade, acompanhou o voto do Relator Ministro Luís Felipe Salomão. Considerando que a construção do conceito de posse deve levar em conta o direito social primário à moradia e o acesso aos bens vitais mínimos, afirmou o douto Relator que a disputa entre particulares relativa a bem público enseja o manejo das ações possessórias. Documento: 67909024 - Despacho / Decisão - Site certificado - DJe: 01/02/2017 Página 6 de 7

Não se pode olvidar que o recorrente celebrou um contrato cujo cumprimento se reclama. Conforme as cláusulas pactuadas, o recorrido transferiu a posse do bem - ou o domínio fático, ou a detenção, ou como quer que se chame o poder que tinha sobre a coisa - para o recorrente, esperando contraprestação. Poderia o último ter se recusado a assinar o acordo com base na mesma tese que ora defende, qual seja, a de que o bem é público e sua ocupação indevida, o que persiste apenas por tolerância do Distrito Federal. Por tudo quanto acima dito, tenho ser cabível a ação de reintegração de posse e juridicamente possível o pedido. Não há, portanto, que se falar em contrariedade ao art. 267, IV, do Código de Processo Civil. No que tange ao fato da posse propriamente dita, o acolhimento das alegações feitas no recurso especial não dispensa o reexame de prova. O recorrente, como relatado, afirma não estar demonstrada a posse. Sobre isso, consta do acórdão o seguinte (e-stj fl. 542): A posse também é confirmada pela documentação juntada às fls. 30/41, a Certidão de Levantamento de Ocupação lavrada pela Administração Regional do Lago Norte (fls. 358) e as contas de luz de fls. 359/369. Além disso, "não se desincumbiu o recorrente de comprovar que o contrato não expressa a realidade, como prevê o art. 333, inciso II, do Código de Processo Civil" (e-stj fl. 543). Afastar essas conclusões é inviável em recurso especial, consoante dispõe a Súmula 7 do STJ. O dissídio jurisprudencial não ficou caracterizado, pois não destacadas as circunstâncias que assemelhassem os casos confrontados, o que, diante da incidência do enunciado citado, seria mesmo inviável. Em face do exposto, nego provimento ao recurso especial. Intimem-se. Brasília (DF), 19 de dezembro de 2016. MINISTRA MARIA ISABEL GALLOTTI Relatora Documento: 67909024 - Despacho / Decisão - Site certificado - DJe: 01/02/2017 Página 7 de 7