XVIII Encontro Baiano de Educação Matemática A sala de aula de Matemática e suas vertentes UESC, Ilhéus, Bahia de 03 a 06 de julho de 2019 QUAL O NÚMERO DO SEU CALÇADO? :VIVENCIANDO UMA ATIVIDADE DE ESTATISTICA NO 4º ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL Flávia Batista Santos Universidade de Lisboa Flaviab2801@gmail.com Resumo: O presente trabalho apresenta um relato de experiência de uma aula de Matemática do 4º ano do Ensino Fundamental I de uma escola localizada no município de Entre Rios (Ba). Partimos do planejamento prévio da aula num grupo colaborativo onde os estudos versavam sobre os tópicos de Probabilidade e Estatística para o referido ano escolar e do Letramento Estatístico proposto por Gal(2002). Nesta tarefa Qual o número do seu calçado? especificamente, os estudantes coletaram, representaram e analisaram os dados para responderem perguntas e hipóteses criadas por eles. Durante o desenvolvimento das atividades foram observadas diferentes representações dos estudantes que, ao serem questionados pela Professora, puderam discutir, criar novas hipóteses e atuarem como protagonistas na construção do próprio conhecimento. Temos ainda como objetivo, compartilhar com outros professores uma experiência exitosa nos anos iniciais com tópicos de Probabilidade e Estatística. Palavras-chave: Educação Estatística; Gráficos e tabelas; Média aritmética; Anos Iniciais do Ensino INTRODUÇÃO A importância da Estatística está ligada ao reconhecimento de que esta apresenta-se constantemente na vida de qualquer indivíduo, no seu dia-a-dia através dos meios de comunicação e exige dos cidadãos a compreensão de informações por meio de tabelas, SANTOS, F.B.. Qual o número do seu calçado? :vivenciando uma atividade de Estatística no 4º ano do ensino fundamental. 2019. In: Anais do XVIII Encontro Baiano de Educação Matemática. Ilhéus, Bahia. XVIII EBEM.
gráficos e outras representações, para a consequente tomada de decisões e interpretação da realidade. As exigências da atual sociedade contemporânea tem atribuído um papel relevante no ensino e aprendizagem de Estatística na educação do cidadão e a forma de possibilitar o contato com a Estatística desde os anos iniciais da educação básica afim de permitir que as crianças tornem-se cidadãos capazes de fazer leituras críticas das informações que recebem tem sido bastante discutidas nos últimos anos. Contudo, com as representações gráficas não devem ter como foco apenas a leitura e interpretação aluno e os processos de investigação (Dias e Silva;2017). Ponte e Fonseca (2001) revelam que em sua prática ainda existem poucos professores que incluem esse tópico de estatísticas em suas aulas, enquanto Batanero (2001) que em outros casos, o inserem de forma excessivamente formalizada, visando o ensino através do treinamento com uso de fórmulas. Durante as sessões do trabalho colaborativo no ano letivo de 2018 atentamos para a necessidade de trabalhar com variáveis numéricas com os estudantes e elaboramos o planejamento da tarefa Qual o número do seu calçado? que contemplasse a representação de gráficos e tabelas de modo que os estudantes pudessem interagir de modo que a professora F.S. pudesse incentivar e socializar as respostas, aprender a valorizar os seus trabalhos e dos outros estudantes, conforme Lopes (2008). O planejamento da tarefa teve como objetivo desenvolver o letramento estatístico dos estudantes tomando como referência Gal (2002). Para este autor o letramento estatístico refere-se ao desenvolvimento da competência para interpretar e avaliar criticamente uma informação estatística, considerando que os dados devem estar inseridos num contexto relevante e também refere-se à competência para discutir ou comunicar a compreensão das informações estatísticas. Com isso, como afirma Coutinho (2014), o papel do professor é o de selecionar e conduzir tarefas de maneira a permitir que os estudantes construam conceitos. DESENVOLVIMENTO DA PROPOSTA O presente trabalho trata de um estudo qualitativo, realizado numa escola municipal da cidade de Entre Rios-BA, na qual foi desenvolvida a atividade Número do calçado, numa turma de 4º ano do Ensino Fundamental I, cujo objetivo era elaboração de gráficos e/ou
tabelas e cálculo da média aritmética. A turma era constituída por 25 alunos, dos quais 10 são meninas e 15 meninos e foi dividida em grupos, no primeiro momento, por gênero meninos e meninas em grupos separados. A professora então fez o questionamento inicial: será que as meninas tem o número do calçado menor (ou maior) que o dos meninos? A partir daí os estudantes foram criando várias hipóteses sobre tal questão e chegando a várias conclusões, incluindo novos questionamentos como: Será que quanto maior a altura do indivíduo maior o pé? Após este momento, disponibilizamos para cada grupo uma cartolina e papeis adesivos para que os alunos fizessem a representação do número de calçados livremente. Os estudantes optaram por fazer a representação, inicialmente em utilizando os números em uma sequência aleatória ou seguindo a ordem crescente (Figura 1). Figura 1:Representação número do calçado por gênero Fonte: Professora F.S. Quando questionados pela professora sobre a representação feita, os estudantes tiveram dúvidas e resolveram representar os dados numa tabela justificando que seria mais fácil que construir um gráfico. Após a representação, realizou-se a apresentação oral da tarefa pelos estudantes, para que socializassem seus trabalhos e assim pudessem confrontar suas respostas. Segundo Lopes (2008) isto se faz necessário, pois ao socializarem suas soluções, eles aprendem a ouvir críticas e a valorizar seus próprios trabalhos e dos colegas. Em relação ao cálculo da média aritmética, embora tenham identificando a média do seu grupo ao comparar com o outro grupo, os estudantes ainda tinham dificuldades em responder a pergunta inicial e mesmo representar o dados de modo adequado. A professora ao observar a representação do grupo pergunta: [ªProfª.]: Como vocês fizeram? [Estudante]:A gente fez uma tabela. [ªProfª.]: Isso ai é uma tabela? [Estudante]:Sim.
[ªProfª.]: Isso ai é uma tabela. Assim, verificamos que as crianças se desestabilizaram um pouco, mas continuaram afirmando que haviam construído uma tabela embora houvessem utilizado o material (Post it) numa apresentação dos números dos calçados a partir de uma sequência numérica. Quando questionados sobre o cálculo da média relataram passo-a passo os cálculos que realizaram. Como afirma Lopes (2004) vivenciar o processo de tratamento dos dados é importante para o desenvolvimento do pensamento estatístico dos estudantes. Em seguida, partimos para segunda etapa da tarefa em que os grupos foram formados seguindo o critério da idade para que os estudantes investigassem a seguinte questão: será que idade interfere no número do calçado? Neste momento, a turma reuniu meninos e meninas da mesma idade num mesmo grupo para representar os dados relativo ao números de seus calçados. Como na atividade anterior, a professora solicitou que cada estudante identificasse num papel adesivo o número do seu calçado e nome, colando em seguida na cartolina de modo a responder a questão. Após finalizar esta etapa da tarefa a professora, ao interagir com os estudantes chamava a atenção de todos para elementos importantes que deveriam estar presentes no gráfico ou tabela, considerando que estes já estavam bastante familiarizados com estes tópicos. É importante ressaltar que atividades com construção e interpretação de gráficos já havia sido trabalhadas com estes estudantes em outros momentos desde o início do ano letivo. Observamos questionamentos se voltaram então, para o significado da média aritmética e ficou perceptível que a maioria dos estudantes conseguiu calcular a média do número de calçados do seu grupo e, ao comparar com a média dos outros grupos que iam se apresentando conseguiam responder as questões e ampliaram intuitivamente a média do número do calçado para toda a turma, considerando a idade e o gênero. crianças Ao término da aula a professora relata de sua percepção da condução da tarefa com as Realizar uma investigação através de coleta de dados é um processo demorado, trabalhoso e cansativo porém, são gratificantes as descobertas e constatações no decorrer dos estudos e desenrolar dos fatos. As indagações e conclusões em que as crianças chegaram foram surpreendentes, principalmente na explanação e demonstração do que foi construído. Neste momento ficou ratificado como nós professores, muitas vezes, invertemos os papeis e aprendemos com a devolutiva que o aluno traz. Os objetivos foram realizados superando as
expectativas, emocionando e validando o que foi construído juntamente aluno e professor. (Professora F.S.) Assim, ao se envolver com tarefas estatísticas a professora pode refletir sobre sua prática, ao mesmo tempo em que possibilitou novas experiências aos estudantes para resolução de problemas. CONSIDERAÇÕES FINAIS A atividade desenvolvida foi bastante exitosa e o modo como a professora conduziu a tarefa contribui para o envolvimento dos alunos na resolução do problema. Ficou evidente que os estudantes se apropriaram do conceito de média de forma intuitiva, a partir das problematizações propostas pela professora e nas discussões em grupo. A forma de representar as informações, por ter ficado à escolha do grupo oportunizou ainda que os estudantes discutissem à respeito. Percebemos também os estudantes tiveram a oportunidade de discutir e comunicar suas conclusões, após interpretar e avaliar as informações que dispunham, em consonância com o modelo de letramento estatístico de Gal (2002). Porém, nesta atividade não pudemos avaliar o nível de letramento dado que, este é processo é individual e o desenvolvimento da mesma ocorreu de forma coletiva,o que tornou essa avaliação de difícil percepção. REFERÊNCIAS BATANERO, C. Didáctica de la estadística. Grupo de Investigación en Educación Estadística, Departamento de Didáctica de la Matemática. Granada: Universidad de Granada, 2001. COUTINHO, C. Q. S. Educação estatística e os livros didáticos para o Ensino Médio. Revista Educação Matemática em Foco. In:I Encuentro Colombiano de Educación Estocástica La enseñanza y aprendizaje de la probabilidad y la estadística. 2014. DIAS, F.; SILVA, G.C.;SANTOS,G.J. A Educação Estatística nos anos iniciais do Ensino Fundamental no Brasil: uma análise curricular. Revista Thema. v.14,n. 2, p. 122 a 136, 2017.
GAL, I. Adult s Statistical Literacy: Meanings, Components, Responsabilities. International Statistical Review, 70, 1, 1-51;2002. LOPES, C.E..O ensino da estatística e da probabilidade na educação básica e a formação dos professores.cad. Cedes, Campinas, v. 28, n. 74, p. 57-73, jan./abr. 2008. PONTE, J. P.; FONSECA, H. (2001). Orientações curriculares para o ensino da Estatística: Análise comparativa de três países. Quadrante