ILMA SRA. PROMOTORA DE JUSTIÇA CÍVEL DA COMARCA DE SANTOS DRA. MARISOL LOPES MOUTA CABRAL GARCIA



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Transcrição:

ILMA SRA. PROMOTORA DE JUSTIÇA CÍVEL DA COMARCA DE SANTOS DRA. MARISOL LOPES MOUTA CABRAL GARCIA Ref.: Manifestação em Inquérito Civil Público nº 14.0426.0000332/10-7 MP- PJCS - DCC A AÇÃO EDUCATIVA ASSESSORIA, PESQUISA E INFORMAÇÃO, entidade que compõe o Fórum Estadual de Educação de Jovens e Adultos de São Paulo articulação social que propôs o presente procedimento, já qualificados no inquérito supramencionado, promovido em face do Estado de São Paulo e do Município de Santos, vêm, por seus representantes, tomando em conta as informações oficiais prestadas às fls. 274 e ss., bem como os recentes dados sobre a matrícula no município, apresentar a seguinte MANIFESTAÇÃO, o que faz nos termos que se seguem: 1. Censo Escolar 2011 demonstra continuidade na queda das matrículas em EJA no Estado de São Paulo e na cidade de Santos. Responsabilidade compartilhada que não vem sendo observada na oferta de EJA. Recentemente foram divulgados os dados preliminares do Censo Escolar 2011 1, demonstrando a continuidade da queda no número de matrículas na modalidade EJA (Educação de Jovens e Adultos), conforme demonstrado no presente Inquérito. 1 Os dados podem ser visualizados em: http://portal.inep.gov.br/basica-censo-escolar-matricula

2 De acordo com os dados preliminares, o total de matrículas presenciais em Educação de Jovens e Adultos no Estado de São Paulo 2 foi reduzida de 488.632 em 2010 para atuais 430.267, uma queda na ordem de 11,94%, o que demonstra que a tendência de diminuição de oportunidades educacionais para esta população permanece. Deste total de matriculados, 247.015 foram registradas na rede estadual e 183.252 nas redes municipais; o que em termos de comparação, equivale a uma queda de 13,38% na rede estadual em relação ao ano de 2010, e 9,93% nas redes municipais em relação ao mesmo ano (ver dados já apresentados na representação inicial). Assim, reiteramos nossa preocupação com relação à adequação das políticas públicas voltadas para a população jovem e adulta não escolarizada ou com pouca escolaridade, especialmente se considerarmos que os representantes dos governos Estadual e Municipal ainda não apresentaram justificativa adequada no que diz respeito à diminuição das matrículas apontada pelo Censo Escolar 2010. Em relação especificamente ao ensino médio na modalidade EJA rede estadual, segundo os mesmos dados preliminares do Censo Escolar 2011, a situação é ainda mais preocupante: a queda no número de estudantes chega a aproximadamente 24,82% entre 2010 e 2011 - tínhamos 227.896 estudantes matriculados em 2010, passando aos atuais 195.527 em 2011. Em Santos a situação se reproduz: em 2010 foram 2.023 matrículas de ensino médio presencial na rede estadual, caindo para 1.521 matrículas em 2011. Em relação ao ensino fundamental, se por um lado as matrículas de EJA na rede municipal registraram leve aumento de 1.689 em 2010 para as atuais 1.871, por outro, a rede estadual sequer oferece vagas presenciais de EJA - ensino fundamental no Município. Não bastasse, também houve redução significativa nas vagas EJA - ensino fundamental de oferta semipresencial, do Estado de São Paulo: a queda registrada no período 2010-2011 atinge 14,06%, isto é, no ano passado as matrículas somavam 2.184 estudantes, e passaram para os atuais 1.877 (Censo Escolar MEC/INEP 2011). Mesmo a ampliação de vagas ocorrida na rede municipal de Santos é amplamente insuficiente para o atendimento da demanda municipal, mesmo quando considerados os números identificados no levantamento promovido pela Secretaria de Educação junto a pais de alunos e 2 Incluindo a EJA Integrada à Educação Profissional

3 funcionários escolares, realizada ainda em 2010, e que totalizou 7.114 adultos com baixa escolaridade com interesse em ser imediatamente atendidos. Complementando este quadro, a grande queda na oferta de ensino médio (de responsabilidade do Estado) já referida, considerando o fluxo potencial, evidencia uma contradição entre o pequeno aumento do número de matrículas no ensino fundamental por parte do município e a diminuição de oportunidades no ensino médio, indicando uma crescente demanda potencial não atendida. A despeito do que estabelece a Constituição Federal de 1988, desde 2005, o Estado de São Paulo não oferece a modalidade presencial da EJA - Ensino Fundamental na cidade de Santos, contando atualmente com o total de seu quadro de alunos matriculados na modalidade semipresencial deixando à Municipalidade a responsabilidade do atendimento da demanda presencial direta, exclusivamente no ensino fundamental. Como se percebe, a despeito das justificativas dos representantes do Poder Público, todos os dados de diminuição das matrículas em EJA na cidade de Santos estão acima da média estadual, e representam grave tendência, que precisa ser urgentemente revertida. Não obstante, convém mais uma vez relembrar que não cabe qualquer dúvida quanto à exigibilidade do direito à educação de jovens e adultos, e também não se pode contestar que sua oferta, na etapa fundamental, foi expressamente atribuída a Estados e Municípios, em regime de colaboração (CF/88, art.211, 1 ). Após mais de duas décadas de promulgação da Constituição Cidadã, que ordena a oferta da Educação Básica a todos/as, inclusive para aqueles que não tiveram a oportunidade de escolarização na idade apropriada (art.208, I); é inadmissível qualquer conduta omissiva do Estado diante do dever de promoção da Educação, conditio sine qua non para o cumprimento dos objetivos da República tão claramente delineados; obrigação esta que se realiza sob responsabilidade concorrente de Estados e Municípios. A verdade é que, mesmo nos diálogos que as organizações do Fórum tentam estabelecer com o Estado, há relutância do ente público em reconhecer seu papel na promoção do direito à

4 educação para os jovens e adultos com baixa escolaridade. Frise-se, é o que a Constituição prevê: a promoção do direito à educação. Não obstante, convém relembrar que a queda de matrículas na rede estadual não se dá mediante mera opção dos demandantes pela rede municipal, numa simples inversão de papéis, principalmente se considerarmos que a Municipalidade sequer oferece a EJA Ensino Médio dada a sua limitação de competência, cabendo ao Estado a oferta dessa etapa. 2. Sobre a insuficiência das medidas adotadas pelo Município de Santos e a omissão do Estado de São Paulo. Instada por meio de ofício encaminhado por esta Promotoria, a Municipalidade de Santos trouxe aos autos uma série de informações sobre medidas que visam reverter o quadro crítico de oferta e atendimento na modalidade EJA, aferido por meio dos dados inicialmente apresentados pelo Fórum. Dentre as medidas apontadas podemos destacar: (i) chamamento público e divulgação de cartazes; (ii)o encaminhamento de Cartas Abertas às unidades de ensino e outras instituições, distribuídas juntamente com o cartazes, para cadastro de munícipes interessados em estudar, a fim de que as unidades entrem em contato com tais pessoas para futura matrícula; (iii) realização de uma pesquisa de baixa escolaridade entre pais de alunos e funcionários escolares, para levantamento de demanda e possível implantação de classes de EJA nas unidades; (iv) flexibilização do acesso, possibilitando matrículas a qualquer tempo nas unidades e nos postos de alfabetização; (v) lançamento, em abril de 2011, da campanha Seja da EJA, que articularia mobilização da comunidade e adequação do atendimento; dentre outras medidas indicadas (fls. 275 e 276). Anexou ainda aos autos toda a documentação, inclusive os dados identificados pela própria Municipalidade, colhidos na pesquisa de identificação da demanda por EJA junto a pais de alunos e funcionários escolares, realizada ainda em 2010. Tal levantamento junto às escolas, segundo as informações, identificou 667 não-alfabetizados, 3.731 com a primeira etapa do ensino fundamental inconcluso e 2.716 com a segunda etapa inconclusa, totalizando 7.114 adultos com baixa escolaridade identificados e que manifestaram interesse em ser imediatamente atendidos.

5 Ou seja, mesmo diante das limitações desse levantamento restrito às unidades de ensino que já apontamos em manifestação anterior do Fórum EJA -, há muito mais pessoas interessadas em EJA do que a própria municipalidade supunha e, principalmente, muito mais do que ofertou em termos de vagas em 2011. Também como já ressaltado em manifestação anterior, embora louvável, a iniciativa da municipalidade de Santos não atende aos requisitos legais, sobretudo por dois aspectos: seu limitado alcance, uma vez que esteve restrita às unidades municipais de ensino; e por também estar limitada ao ensino fundamental, além de não envolver a participação do estado de São Paulo, responsável pela oferta do ensino médio na modalidade EJA. Merece destaque e reconhecimento, ainda, por parte da Municipalidade, a criação da Campanha Seja da EJA em 2011, através da qual, por meio de uma série de mecanismos, o Poder Público buscou incentivar a matrícula no ensino fundamental também pela realização de parcerias com a sociedade civil, e a confecção de camisetas, cartazes e folders para ampla divulgação das iniciativas. Não há, no entanto, dentro da referida campanha, nenhuma iniciativa no sentido de realizar um efetivo recenseamento da demanda, nos termos que determina o próprio Plano Municipal de Educação de Santos (Lei n 2.681/2010) fls. 365 e ss. Considerando as possibilidades e limites das ações realizadas pelo Município, acreditamos que essas medidas devem ser entendidas como um primeiro passo no sentido de reverter a queda das matrículas e de cumprir o direito à educação da população jovem e adulta. Isso porque embora louvável as iniciativas da Municipalidade estão aquém da especificidade do recenseamento da demanda, expressamente previsto na legislação, inclusive na própria lei municipal. Como dito, a obrigação de realizar o censo não se confunde com a obrigação, também decorrente da Constituição e da Lei, de registrar e matricular as pessoas que, em todas as idades, buscam o atendimento escolar nos equipamentos públicos. Esta, assim como a primeira, constitui parte integrante, porém autônoma, do dever do Estado com a educação. Se as ações do município de Santos são consideradas insuficientes para atender ao determinado na legislação, no caso do Estado de São Paulo há verdadeira omissão. Este insiste em justificar a queda de matrículas invocando o argumento demográfico do ajustamento da distorção idade-

6 série, o que resta refutado nos documentos já apresentados e no próprio levantamento do Município. Cabe notar que o Estado de São Paulo também se mostra evasivo no que concerne à realização do recenseamento e da chamada pública, revelando-se igualmente resistente à colaboração com a Municipalidade, a despeito das altas taxas de queda das matrículas já demonstradas. Destacamos que em nenhum momento do presente inquérito, a despeito do que nosso ordenamento jurídico preceitua, restou demonstrada a colaboração do Estado de São Paulo nas ações realizadas pela Municipalidade, especialmente no que diz respeito ao ensino fundamental, campo de atuação de ambos. Ao mesmo tempo, a redução da oferta de ensino médio sua atribuição legal específica deixa os concluintes do ensino fundamental sem perspectivas de continuidade de estudos, o que certamente contribui com a desmobilização da demanda potencial. A respeito do posicionamento do estado de São Paulo, também merece ser elucidada uma questão conceitual importante do ponto de vista do direito e do planejamento das políticas educacionais: a confusão entre o recenseamento da população a ser potencialmente atendida por políticas de educação de jovens e adultos, que é objeto da presente investigação e que está determinado na Constituição Federal, art. 208, 3 ; e LDB (Lei n 9.394/1996), art.5, 1, incisos I e II; e as políticas censitárias de competência da União estipuladas no art.21, inciso XV, da Constituição; e art. 9, inciso V, da LDB. Este último dispositivo, em termos especificamente educacionais, prevê: Art.9. A União incumbir-se-á de: ( ) V coletar, analisar e disseminar informações sobre a educação;. Esses levantamentos e estudos estatísticos gerais, de fato, já vem sendo realizados pela União federal, especificamente o Censo Escolar, utilizado como base de dados no que tange às matrículas realizadas e não a demanda potencial, o Censo Demográfico e a Pesquisa Nacional por Amostra em Domicílio (PNAD), estes últimos realizados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) autarquia federal vinculada ao Ministério do Planejamento. No entanto, tais instrumentos, realizados em âmbito nacional, têm objetivo diverso do levantamento que é requerido cuja competência é atribuída especificamente a Estados e Municípios, no âmbito de sua atribuição educacional - razão pela qual estão previstos tanto na Constituição como na LDB em dispositivos diversos.

7 O Censo Escolar (INEP/MEC) cumpre o disposto na LDB (art.9, V), pois recolhe dados somente a respeito da população matriculada nas redes de ensino, não sendo contabilizada ou identificada a população excluída da escola. Já o Censo Demográfico e a PNAD, ambos do IBGE, realizados em cumprimento ao art. 21, inciso XV, da Constituição, são fundamentais para retratar a situação educacional do país, pois não se restringem ao universo escolar, fotografando os movimentos de escolarização e exclusão da população nos territórios pesquisados. No entanto, por sua natureza estatística, não identificam pessoalmente os jovens e adultos que não tiveram suas oportunidades educacionais asseguradas, seja por inadequação da oferta, seja por ausência de vagas na rede pública. Ou seja, tais levantamentos, apesar de cumprirem funções específicas e relevantes no ordenamento das políticas públicas em geral e educacionais, não dão conta das obrigações inscritas na Constituição e na LDB, sobretudo no conhecimento da situação dos historicamente excluídos dos processos educativos. O próprio Plano Nacional de Educação (Lei n 10.172/2001),determina (...) um mapeamento, por meio de censo educacional, nos termos do art.5º, 1º da LDB, da população analfabeta, por bairro ou distrito das residências e/ou locais de trabalho, visando localizar e induzir a demanda e programar a oferta de educação de jovens e adultos para essa população ; e ainda em Parecer CNE/CEB n 11/2000, aprovado pela Resolução CNE/CEB 01/2000, o Conselho Nacional de Educação reconhece a necessidade premente de tal levantamento como forma de enfrentar os gravíssimos índices de exclusão educacional do País. Tomando em conta sua finalidade e definição legal, no planejamento e realização do recenseamento específico devem ser observados os pressupostos de cobertura universal do levantamento e a identificação nominal do público-alvo. Pois, se o objetivo legal do censo é universalizar o acesso à educação, nada mais óbvio que o levantamento que embasará tal universalização também seja universal, cobrindo todo o território municipal e toda a população potencialmente beneficiária, e identificando pessoalmente os cidadãos a serem atendidos pela política pública educacional. Tal posição vai ao encontro das orientações do MEC no documento Subsídios para o planejamento da rede escolar com base na experiência em Minicenso Educacional (MEC/SEB, 2005).

8 Com base em tais pressupostos jurídico-metodológicos, caberá ao Ministério Público observar a adequação e a legalidade das medidas a serem adotadas por Estado e Município a título de cumprimento da legislação vigente, promovendo tanto a adequação das políticas atuais ao determinado na legislação específica como a reversão das graves omissões identificadas. Nesse sentido, trazemos aos autos o exemplo do Inquérito Civil Público nº 66/10, instaurado pela Promotoria de Justiça da Infância e Juventude de Diadema face às autoridades educacionais daquela comarca. Com efeito, a Prefeitura daquela cidade se pronunciou no sentido de justificar a queda de matrículas apontada pelo Fórum Estadual de Educação de Jovens e Adultos, argumentando que a redução se deve aos maciços investimentos que o Governo Municipal vem fazendo nessa área, confundindo o Censo Escolar realizado anualmente pelo Ministério da Educação e que constata as matrículas realizadas, com o recenseamento da demanda de jovens e adultos não escolarizados. Questionada sobre a realização do recenseamento e da chamada pública, confirmou-se a omissão da Municipalidade, o que levou o Promotor de Justiça responsável - Ilmo. Dr. Marcelo Vieira de Mello a ajuizar Ação Civil Pública na Vara da Infância e Juventude de Diadema (ANEXO 1). De acordo com a Promotoria a inércia municipal impede investigar o conteúdo da representação (ou seja, o real motivo da grande diminuição de vagas públicas no município), destacando que: Sem a realização do recenseamento, não há como acreditar na verossimilhança do alegado pelo Município quando se defende sob o argumento de que houve diminuição da demanda. Como o Município não realiza o recenseamento determinado na lei, não tem como comprovar a diminuição da demanda em detrimento da suspeita de diminuição das vagas. (ANEXO 1) Nesse contexto, espera-se que o Município de Santos e o Estado de São Paulo, além de oferecer informações genéricas sobre escolaridade da população e oferta registrada nos dados do MEC/INEP, venham a reconhecer o dever de realização do recenseamento e da chamada pública previstos na legislação, assegurando oferta adequada e de qualidade a todos os jovens, adultos e idosos que pretendam iniciar ou retomar os estudos de educação básica. Como há responsabilidade constitucional compartilhada entre Estado e Município na oferta de ensino

9 fundamental, espera-se que tais iniciativas sejam adotadas em colaboração, suprindo-se as posturas omissivas e reconhecendo seu dever de promoção do direito à educação. Ainda uma vez, relembramos que, passados mais de 23 anos de promulgação da Constituição Cidadã, é inadmissível que o poder público se omita em suas obrigações elementares para a realização dos objetivos de nossa República. Diante do acima exposto e das informações prestadas, vimos reiterar os pedidos iniciais e REQUERER: 1 Que sejam requeridas informações específicas ao Município de Santos acerca de como pretende atender a demanda identificada pela pesquisa de baixa escolaridade realizada pela própria Municipalidade de acordo com as informações prestadas aos autos do presente Inquérito; 2 - Que sejam requeridas informações específicas ao Estado de São Paulo acerca da realização da chamada pública prevista em lei, na cidade de Santos, bem como suas ações para garantir a oferta de vagas em 2012; 3 Que sejam requeridas informações ao Município de Santos e ao Estado de São Paulo sobre a possibilidade de realização de recenseamento de demanda e chamada pública regular, em regime de colaboração, nos termos da legislação específica, abrangendo-se toda a rede de ensino e a demanda de jovens e adultos por ensinos fundamental e médio no prazo de 6 (seis) meses ou outro prazo estipulado por esta Promotoria; 4 Que, nos termos da legislação própria, seja tomado Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) com Município de Santos e o Estado de São Paulo, firmando-se o compromisso de realização, em prazo a ser estipulado, do recenseamento da demanda em todo o território do Município, contemplando-se as etapas de ensino fundamental e médio, bem como a chamada pública a ser realizada ao menos 2 (duas) vezes a cada ano, a abertura permanente às matrículas na rede pública, além de outros pontos, comunicando-se ao MP a demanda cadastrada e medidas adotadas para assegurar sua inclusão na rede pública de ensino;

10 5 Que sejam requeridas informações ao Estado de São Paulo e ao Município de Santos sobre a possibilidade de abertura de matrículas, de forma permanente em todas as unidades, realização de campanhas e pesquisas objetivando a identificação da demanda potencial em todas as unidades públicas de ensino e não apenas naquelas que atualmente ofertam a modalidade; 6 - Que sejam ouvidos, nos termos do presente Inquérito, diretores e demais gestores de unidades escolares sobre a política de EJA adotada pelo Estado de São Paulo e pelo Município de Santos; 7 Que, tomando-se em conta a resposta aos pedidos anteriores, sejam adotadas medidas judiciais no sentido de compelir os representados a realizarem o recenseamento da demanda por EJA e a chamada pública de novos estudantes, nos termos da legislação; vedando-se o fechamento de novas turmas e escolas até que tais deveres sejam cumpridos e os dados sejam publicados; Aguardamos pronto atendimento e reiteramos votos de estima e respeito. São Paulo, 17 de novembro de 2011. Salomão Barros Ximenes Ester Gammardella Rizzi OAB/SP n 270.496 OAB/SP n 276.545 Ação Educativa Ação Educativa Paulo Ricardo Barbosa de Lima Estagiário de Direito