Gestão. Basileia II Como funciona?



Documentos relacionados
Norma Interpretativa 2 Uso de Técnicas de Valor Presente para mensurar o Valor de Uso

Ainda Mais Próximo dos Clientes. Empresas. 10 de Novembro de 2010

INSTRUTIVO N.º02/2015 de 14 de Janeiro

Manual do Revisor Oficial de Contas IAS 7 (1) NORMA INTERNACIONAL DE CONTABILIDADE IAS 7 (REVISTA EM 1992) Demonstrações de Fluxos de Caixa

B. Qualidade de Crédito dos Investimentos das Empresas de Seguros e dos Fundos de Pensões. 1. Introdução. 2. Âmbito

NORMA CONTABILISTICA E DE RELATO FINANCEIRO 1 ESTRUTURA E CONTEÚDO DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS

ANEXO I DESRECONHECIMENTO

RISCO DE CRÉDITO E FUNDOS PRÓPRIOS Miguel A. Ferreira. Seminário ASFAC-APELEASE Novembro 2003

Sumário. 1 Introdução. Demonstrações Contábeis Decifradas. Aprendendo Teoria

Definições (parágrafo 9) 9 Os termos que se seguem são usados nesta Norma com os significados

NORMA CONTABILISTICA E DE RELATO FINANCEIRO 14 CONCENTRAÇÕES DE ACTIVIDADES EMPRESARIAIS. Objectivo ( 1) 1 Âmbito ( 2 a 8) 2

ANEXO REGULAMENTO DELEGADO (UE) N.º /..DA COMISSÃO

PROJECTO DE CARTA-CIRCULAR SOBRE POLÍTICA DE REMUNERAÇÃO DAS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS

Publicado no Diário da República, I série, nº 221, de 17 de Dezembro AVISO N.º 11/2014 ASSUNTO: REQUISITOS ESPECÍFICOS PARA OPERAÇÕES DE CRÉDITO

Banco de Portugal. Tratamento das Exposições de Retalho no Novo Acordo de Capital (Basileia II) Seminário APELEASE/ASFAC

OTOC - Ordem dos Técnicos Oficiais de Contas

(a) Propriedade detida por locatários que seja contabilizada como propriedade de investimento (ver NCRF 11 - Propriedades de Investimento);

Norma contabilística e de relato financeiro 27

ANEXO À INSTRUÇÃO N.º 28/2013 (BO n.º 12, ) MERCADOS Mercados Monetários

RESOLUÇÃO Nº R E S O L V E U :

Norma contabilística e de relato financeiro 9. e divulgações apropriadas a aplicar em relação a locações financeiras e operacionais.

NCRF 19 Contratos de construção

POC 13 - NORMAS DE CONSOLIDAÇÃO DE CONTAS

SEGURO UNIT LINKED CA INVESTIMENTO -1ª SÉRIE (Não Normalizado)

ASSUNTO: Processo de Auto-avaliação da Adequação do Capital Interno (ICAAP)

Documento SGS. PLANO DE TRANSIÇÃO da SGS ICS ISO 9001:2008. PTD v Pág 1 de 6

Avaliação Distribuída 2º Mini-Teste (30 de Abril de h00) Os telemóveis deverão ser desligados e guardados antes do início do teste.

1 Introdução. futuras, que são as relevantes para descontar os fluxos de caixa.

Instrumentos Financeiros

ANÁLISE DE FLUXOS A DEMONSTRAÇÃO DO FLUXO DE CAIXA

IFRS TESTE DE RECUPERABILIDADE CPC 01 / IAS 36

MINISTÉRIO DAS OBRAS PÚBLICAS, TRANSPORTES E COMUNICAÇÕES

DOCUMENTO INFORMATIVO (RECTIFICAÇÃO) BES CRESCIMENTO OUTUBRO 2009 PRODUTO FINANCEIRO COMPLEXO

FICHA DOUTRINÁRIA. Diploma: CIVA. Artigo: 9º; 18º. Assunto:

DIRECTRIZ CONTABILÍSTICA N.º 17 CONTRATOS DE FUTUROS

Relatório da Estrutura de Gerenciamento Centralizado de Riscos e de Capital do Sistema de Cooperativas de Crédito do Brasil (Sicoob) Ano 2015

Prospeto Informativo Depósito Indexado Empresas Inovadoras BBVA

Decreto-Lei nº 103/2009, de 12 de Maio

Fundação Denise Lester

IV Fórum do Sector Segurador e Fundos de Pensões. Lisboa, 15 de Abril de 2009

CAPITAL DE GIRO: ESSÊNCIA DA VIDA EMPRESARIAL

Norma Interpretativa 2 (NI2) - Uso de Técnicas de Valor Presente para mensurar o Valor de Uso.

newsletter Nº 86 MARÇO / 2014

OS LEILÕES COMO INSTRUMENTOS DE REGULAÇÃO ECONÓMICA * Novembro, 2004.

C N INTERPRETAÇÃO TÉCNICA Nº 2. Assunto: RESERVA FISCAL PARA INVESTIMENTO Cumprimento das obrigações contabilísticas I. QUESTÃO

Informações Fundamentais ao Investidor PRODUTO FINANCEIRO COMPLEXO

ASSUNTO: Reservas Mínimas do SEBC a partir de 1/01/1999

ANEXO. Prestação de Contas 2011

NCRF 25 Impostos sobre o rendimento

Em termos acumulados, desde 1999, a carteira teve um custo total anualizado de 3,61%, superior ao do benchmark em 1,4 pontos base.

Boletim. Contabilidade Internacional. Manual de Procedimentos

PPP. Registro de passivos e Limites

RELATÓRIO DE GERENCIAMENTO DE RISCOS CONGLOMERADO FINANCEIRO PETRA 1º Tri 2014 gr

REGIME EXTRAORDINÁRIO DE PROTECÇÃO DE DEVEDORES DE CRÉDITO À HABITAÇÃO EM SITUAÇÃO ECONÓMICA MUITO DIFÍCIL

Avisos do Banco de Portugal. Aviso do Banco de Portugal nº 2/2010

Modelo de Avaliação de Docentes do IST

ACEF/1112/20967 Relatório final da CAE

Fundo de Investimento Imobiliário Aberto. ES LOGISTICA (CMVM nº 1024)

Portaria n.º 92-A/2011, de 28 de Fevereiro - 41 SÉRIE I, 1º SUPLEMENTO

MUNICÍPIO DO PORTO SANTO RELATÓRIO DE GESTÃO CONSOLIDADO

PRODUTO FINANCEIRO COMPLEXO

Jornal Oficial da União Europeia

Preçário BANCO MILLENNIUM ATLÂNTICO, S.A. INSTITUIÇÃO FINANCEIRA BANCÁRIA. TABELA DE TAXAS DE JURO Data de Entrada em vigor: 17 de Junho 2016

Risco operacional Revisão das abordagens mais simplificadas. Documento consultivo Basel Committe on Banking Supervision

Procedimento dos Défices Excessivos (2ª Notificação de 2014)

Análise de Projectos ESAPL / IPVC. Estrutura e Processo de Elaboração do Cash-Flow

Demonstrações Financeiras & Anexo. 31 Dezembro 2012

COMITÊ DE PRONUNCIAMENTOS CONTÁBEIS PRONUNCIAMENTO TÉCNICO CPC 07. Subvenção e Assistência Governamentais

Os riscos do INVESTIMENTO ACTIVO MAIS, produto financeiro complexo, dependem dos riscos individuais associados a cada um dos produtos que o compõem.

AVISO OBRIGAÇÕES. recomendação de investimento. O investimento em obrigações comporta riscos e pode levar, no. qualquer decisão de investimento.

PRODUTO FINANCEIRO COMPLEXO DOCUMENTO INFORMATIVO. BES PORTUGAL DEZEMBRO NOTES Credit Linked Notes

CC- 1 INTRODUÇÃO AO CUSTO DE CAPITAL

PARECER DE ORIENTAÇÃO CVM Nº 17, DE 15 DE FEVEREIRO DE 1989.

MANUAL DE CORPORATE GOVERNANCE Conselho Fiscal. Pág. 1. OBJECTIVO DO DOCUMENTO 2 2. COMPOSIÇÃO 2 3. COMPETÊNCIAS 3 4. DEVERES 4 5.

DIRECTRIZ DE REVISÃO/AUDITORIA 872

Orientações relativas à avaliação interna do risco e da solvência

Implicações da alteração da Taxa de Juro nas Provisões Matemáticas do Seguro de Vida

MELHORES PRÁTICAS DA OCDE

ADAPTAÇÃO DAS REGRAS DO IRC ÀS NIC

POLÍTICA DE REMUNERAÇÃO DOS MEMBROS DOS ÓRGÃOS DE ADMINISTRAÇÃOE DE FISCALIZAÇÃO DA CAIXA ECONÓMICA MONTEPIO GERAL

COMITÊ DE PRONUNCIAMENTOS CONTÁBEIS ORIENTAÇÃO OCPC 01 (R1) Entidades de Incorporação Imobiliária

Circular nº 24/2015. Lei nº. 41/2015, de 3 de Junho. 17 de Junho Caros Associados,

EGEA ESAPL - IPVC. Orçamentos Anuais Parciais de Actividade

DOCUMENTO DE CONSULTA PÚBLICA

SEMINÁRIO OPORTUNIDADES E SOLUÇÕES PARA AS EMPRESAS INOVAÇÃO E COMPETITIVIDADE FINANCIAMENTO DAS EMPRESAS OPORTUNIDADES E SOLUÇÕES

Manual do Revisor Oficial de Contas. Projecto de Directriz de Revisão/Auditoria 860

IV - 2. LISTA E ÂMBITO DAS CONTAS CLASSE 9 CONTAS EXTRAPATRIMONIAIS

CIRCULAR Nº 3.635, DE 4 DE MARÇO DE 2013

RESOLUÇÃO CFC Nº /09. O CONSELHO FEDERAL DE CONTABILIDADE, no exercício de suas atribuições legais e regimentais,

COMITÊ DE PRONUNCIAMENTOS CONTÁBEIS PRONUNCIAMENTO TÉCNICO CPC 06. Operações de Arrendamento Mercantil

Que tipos de seguro/operações são explorados no ramo vida? Os seguros e operações do ramo Vida são:

Consistência da aplicação das recomendações de Basileia III. RCAP Basel Committee on Banking Supervision Dezembro/2.013

Ficha de Informação Geral

AVALIAÇÃO DOS REQUISITOS DE CAPITAL SOB BASILEIA II: O CASO PORTUGUÊS*

DOCUMENTO DE TRABALHO DOS SERVIÇOS DA COMISSÃO RESUMO DA AVALIAÇÃO DE IMPACTO. que acompanha a. Proposta de

Fundos de Investimento

Prova de Macroeconomia

Transcrição:

Basileia II Como funciona? O tema Basileia não é novo, mas continua a merecer cada vez mais destaque. Para os Bancos que optaram pelo Foundation Internal Ratings-Based Approach (IRB Simples) a implementação ocorre em 2007. Já para os que optaram pelo Advanced Internal Ratings- -Based Approach (IRB Avançado) 2008 é o ano de todas as decisões. Sendo certo que o 1.º Acordo, assinado em 1988, revolucionou o panorama financeiro dos países aderentes, a verdade é que o impacto de Basileia II não foi menos sentido. Contudo, por parte dos intervenientes e, sobretudo por parte das empresas, há ainda muitas dúvidas. O tema não é fácil e as fórmulas envolvidas são algo complexas. As próximas linhas tentarão abor- 56 REVISORES AUDITORES OUT/DEZ 2007

Cláudia Queirós Gestão dar, de forma simples, alguns dos factores presentes nos cálculos subjacentes à atribuição do grau de risco às Empresas. Basileia II é ainda mais sensível ao risco, permite métodos alternativos para cálculo dos requisitos mínimos de capital em função da realidade de cada Banco e introduz o Risco Operacional como grande novidade enquanto factor a ter em conta no cálculo dos requisitos mínimos, a par do Risco de Crédito e Risco de Mercado. O MÉTODO DO IRB SIMPLES O Método de Ratings Internos (Internal Ratings-Based Approach) é um dos métodos que possibilita a adequação das exigências de capital ao risco de crédito a que o Banco está exposto, medido pelas características do devedor e especificidade da transacção. Uma carteira de crédito de menor qualidade exigirá capital superior, enquanto que uma de maior qualidade originará um custo menor. São duas as abordagens possíveis ao Método IRB: a Simples e a Avançada. A primeira é aplicável a bancos que cumpram as exigências mínimas em termos de Sistema Interno de Rating, processo de gestão de risco e capacidade de previsão de componentes de risco. Todos os componentes do modelo são definidos pela Entidade Supervisora, à excepção de Probability of Default (PD) que pode ser definido internamente, após aprovação pela entidade competente. Por outro lado, a Abordagem Avançada possibilita às entidades financeiras a utilização das suas próprias avaliações de componentes de risco internos. A sua utilização obriga, no entanto, a um conjunto adicional de exigências específicas para a quantificação dos componentes de risco. Estando o IRB Simples na ordem do dia será este o tema objecto de estudo deste artigo. O MÉTODO DO IRB SIMPLES - PARÂMETROS-CHAVE Para estimar os riscos de crédito são imprescindíveis quatro parâmetros-chave: Probabilidade de Incumprimento (Probability of Default-PD), Perda Esperada em caso de Incumprimento (Loss Given Default-LGD), Exposição à data do Incumprimento (Exposure at Default-EAD) e Maturidade (Maturity- M). Probability of Default (PD) corresponde à probabilidade de incumprimento por parte de um devedor no horizonte temporal de um ano. Loss Given Default (LGD) é a medida de perda média esperada por unidade de exposição em caso de falha da contraparte, enquanto que Loss Given Default (LGD) é a medida de perda média esperada por unidade de exposição em caso de falha da contraparte. A Maturidade (M) corresponde ao prazo de vencimento das operações. Os cálculos do PD, LGD e M são desenvolvidos separadamente e usados como componentes para cálculo dos respectivos ponderadores de risco. A PD resulta da avaliação do risco do cliente e da notação de risco que lhe é atribuída. Já para cál- OUT/DEZ 2007 REVISORES AUDITORES 57

culo da LGD são tidos em conta os colaterais e o nível de protecção encontrado em cada um deles, enquanto que o tipo de operação em causa assume primordial importância no EAD. Ao calcular o risco ponderado dos activos, os bancos multiplicam os ponderadores de risco pela exposição assumida (EAD), adicionando os valores daí resultantes pelo portfolio. Posteriormente, poderá ser aplicado um factor de ajustamento ao risco total ponderado dos activos, sob a forma de um índice standard de supervisão, para reflectir a granularidade da carteira do banco para além do retalho. Ponderadores de Risco dos Activos = Ponderadores de Risco x EAD O risco de crédito será então atenuado por colaterais, garantias, derivados de crédito e pela situação patrimonial líquida do devedor, de que resulta um relevante impacto no cálculo de PD, LGD e EAD. ASPECTOS A TER EM CONTA NOS PARÂMETROS-CHAVE Probability of Default (PD) Para cada classe de devedor deve ser estimada a probabilidade de incumprimento baseada em médias históricas, representativas do valor médio de PD a longo prazo e apoiada em evidências empíricas. O seu valor corresponderá à probabilidade de incumprimento atribuída internamente ao Mutuário, não podendo porém ser inferior a 0,03%. Ao ser atribuída pelo Banco uma PD média a cada classe, garante-se que os Mutuários enquadrados numa mesma categoria são tratados como tendo a mesma probabilidade de incumprimento. Um ano será o horizonte temporal a considerar, pois é o prazo típico dos inputs dos sistemas de alocação de capital interno e coincide não só com o período de relatório financeiro, mas também com a frequência mínima de revisão interna de ratings. 58 REVISORES AUDITORES OUT/DEZ 2007

Cláudia Queirós Gestão Os Sistemas de Rating devem permitir a distinção entre Mutuários livres de risco dos que têm maior propensão para o incumprimento. Devem possuir, desejavelmente, entre 6 a 9 classes de Mutuários em função da sua actuação, e um mínimo de 2 classes para os não classificados. De realçar que as exposições brutas não deverão recair em mais de 30% numa única classe de Mutuário. Reveste-se de particular importância a intervenção de entidade isenta devidamente habilitada e reconhecida para o efeito na apreciação e validação final dos ratings, por forma a assegurar a sua independência e imparcialidade. Os cálculos da PD são apoiados em período histórico de, pelo menos, cinco anos, podendo a sua estimativa basear-se na experiência de incumprimento do Banco, esquema de dados externos ou modelos estatísticos de incumprimento. Em operações confortadas com garantias adicionais, a PD Efectiva (PD*) a considerar é calculada com recurso à PD não apenas do Devedor, mas também atendendo às características do Garante, com as devidas ponderações. PD* = w x PDB + (1-w) x PDG Em que w é o ponderador da transacção (0,15 para garantias e derivados creditícios reconhecidos ou 0 se o garante é Soberano, Instituição Bancária ou Banco Central); PDB a Probabilidade de Incumprimento do Devedor e PDG a Probabilidade de Incumprimento do Garante. À parte não coberta da exposição será atribuída a PD da classe do Mutuário. Em situações de cobertura parcial ou de diferenças de moedas entre a obrigação subjacente e a garantia, é necessário proceder à separação da parte coberta e da não coberta. Na situação de cobertura proporcional, a parte garantida da exposição (GA) corresponde ao nominal da garantia ajustado pela diferença de moedas. OUT/DEZ 2007 REVISORES AUDITORES 59

LGD Aplicada GA = Gnominal / (1-Hfx) A parte não garantida da exposição corresponderá ao total de exposição (E) deduzido da parte garantida. E* = E - GA Loss Given Default (LGD) As perdas são influenciadas pelas características do Mutuário (dimensão do seu activo, país e sector de actividade) e da transacção (quantia em causa, existência e natureza do colateral e covenants aplicados ao empréstimo). Desta forma, a diferentes exposições de um Mutuário poderão corresponder diferentes perfis de LGD. No IRB Avançado o banco determina o LGD a aplicar a cada exposição, com base em dados e análises passíveis de validação, não só a nível interno, mas sobretudo pelos Supervisores. O colateral será ajustado pelos componentes de risco do próprio colateral, da exposição e da diferença de moedas. Transacção Principal sem Garantia 50% Créditos Subordinados sem Garantia 75% Transacção sem Colateral Financeiro Elevado até ao ponto em que a transacção está garantida, utilizando o Método Haircut Transacção Com Colateral Qualificado Conjunto separado valores LGD e regras de reconhecimento Se o valor da exposição for superior ao valor ajustado do colateral, a LGD Efectiva será LGD* = LGD x [1 - (1-w) x (C A /E)], em que w é factor limite aplicado à parte garantida da transacção, C A o colateral ajustado e E a parte da exposição sem colateral. Caso contrário, LGD* = w x LGD. Nos casos em que o Banco aceita colaterais em imóveis comerciais (CRE) ou residenciais (RRE), a metodologia para determinar LGD* baseia-se no peso do colateral em relação à exposição (rácio C/E). 60 REVISORES AUDITORES OUT/DEZ 2007

Cláudia Queirós Gestão Condição LGDph* EXPOSURE AT DEFAULT (EAD) C/E <=30% 50% 1 C/E>140% 40% 30%<C/E <=140% (1-(0.2 x (C/E)/140%)) x 50% Nas situações em que as exposições são garantidas por ambos os Colaterais (Financeiro e Físico), LGD* = [(E-Eph) x LGDfi* + Eph x LGDph*] / E. E = Efi+Eph; Efi é a exposição com colateral financeiro; Eph corresponde à exposição com colateral físico; LGDfi* representa a LGD* com colateral financeiro; LGDph* será a LGD* com colateral físico. Condição LGDph* para exposição reduzida Cph / Eph <= 30% 50% Cph / Eph < 140% 40% 30% < Cph / Eph <= 140% {1-[0,2x(Cph/Eph)/140%]}x50% Tenderá a igualar o montante inicialmente contratado, sendo que, no caso concreto dos extrapatrimoniais, incluirá uma estimativa de futuros empréstimos/utilizações anteriores ao incumprimento. Ora, no caso do IRB Simples a EAD é estimada de acordo com as regras impostas pela Entidade Supervisora. Já no caso do IRB Avançado, o banco terá autonomia para determinar o valor apropriado a cada exposição, de acordo com bases de dados e análises adequadas, previamente aceites pela entidade competente. Para as transacções do Balanço, a EAD é idêntica à quantia nominal da exposição, podendo no entanto a situação patrimonial líquida reduzir a EAD estimada, desde que asseguradas determinadas condições que terão que ser previamente delineadas. Para os itens Extra-Patrimoniais há que distinguir transacções com activação futura incerta (tais como os compromissos e créditos revolving) e os derivados OTC 2 (intercâmbio exterior, taxa de juro e contratos de capital derivados). 1 - se houver um empréstimo subordinado e assegurado por Colateral, a LGD Efectiva seria baseada na LGD de Empréstimos Subordinados (ou seja, 75%). 2 - Over The Counter - Mercado de Balcão OUT/DEZ 2007 REVISORES AUDITORES 61

Todas as estimativas de EAD são calculadas líquidas de provisões específicas, a cuja criação o Banco possa vir a ser obrigado. No que concerne aos compromissos e créditos revolving, a EAD deverá corresponder a 75% do valor Extra-Patrimonial. Contudo, quando o cálculo incidir sobre as quantias utilizadas e por utilizar, a EAD a aplicar deverá ser de 100% da quantia utilizada, acrescida de 75% do valor não utilizado. A título de exemplo, para uma linha de crédito de 100, utilizada em 40%, a EAD corresponderia a 85 ( 40 + [75%(100-40)] ). Dito de forma simples, 75% não é mais do que uma estimativa do valor que poderá ser activado antes do incumprimento ocorrer, independentemente da qualidade do Mutuário e da Maturidade do compromisso. As linhas de compromisso imediata e incondicionalmente canceláveis pelos Mutuários, assim como as linhas sem compromisso, cuja disponibilização não se encontra assegurada pelo Banco, têm um factor de conversão de crédito com valor zero. É muito importante que a aplicação dos factores de conversão seja a mais adequada à gestão creditícia do Banco. Em transacções de derivados OTC, o risco de crédito que um Banco terá de enfrentar em caso de incumprimento é, normalmente, apenas uma pequena percentagem do valor nominal da transacção, estando o risco de crédito limitado ao custo potencial de reposição de fluxo de caixa. Extra-patrimoniais Factores Conversão Crédito 1. Substitutos directos de crédito 100% 2. Certos itens contingentes relacionados com a transacção 50% 3. Curto-prazo, contingências associadas a transacções comerciais internacionais auto-liquidáveis 20% 4. Acordos de venda e recompra e vendas de activo com recurso onde o risco de crédito permanece no banco 100% 5. Compras de activo futuras, depósitos futuros, acções parcialmente pagas e títulos que representam compromissos com uma determinada activação 100% 6. Emissão de obrigações e dívida revolving 50% 62 REVISORES AUDITORES OUT/DEZ 2007

Cláudia Queirós Gestão Assim, os valores de risco de crédito nestes contratos resultam do custo de substituição da transacção (Mark-to-Market positivo) e dos acréscimos específicos que resultam do tipo de transacção e maturidade residual que reflectem a Exposição Potencial Futura (PFE), expressos como uma percentagem no intervalo entre 9% e 15% do valor hipotético. MATURIDADE (M) A incorporação directa de M no cálculo da adequação do capital para o Risco de Crédito será vantajosa na medida em que o cálculo do capital terá maior sensibilidade ao risco (consistente com os desempenhos adoptados) e práticas de gestão de risco da maioria das Instituições Financeiras (consistentes com o preçário de risco de crédito nos mercados financeiros). Ceteris paribus, a reduzida maturidade corresponderá menor risco de crédito. Todavia, os financiamentos de longo prazo distinguem-se como elementos estabilizadores, devido à previsibilidade de pagamentos por longos períodos, reduzindo a vulnerabilidade dos Mutuários às variações nas taxas de juro. Como tal, a concessão de empréstimos a longo prazo não é necessariamente um factor penalizador. Se todas as exposições fossem tratadas como tendo uma M média de 3 anos o ponderador de risco de uma exposição dependeria apenas de PD e LGD. A definição proposta de Maturidade Efectiva (M*) permite reduzir a complexidade, quer para os Bancos, quer para os Supervisores, embora com algum sacrifício em termos de precisão. A M* é então definida como sendo o maior dos seguintes valores: 1 ano; prazo máximo remanescente que o Mutuário terá para liquidar totalmente a sua obrigação contratual (principal, juros e comissões); Maturidade ponderada = tpt Pt, para um instrumento sujeito a um programa pré- -definido de amortização mínima, em que Pt não é mais do que a quantia mínima do principal contratualmente amortizável em t meses futuros. Como excepção, e para qualquer activo, a M* medida estaria coberta pelo prazo de 7 anos, tendo em conta as implicações das condições anteriores. Esta definição aplicar-se-ia a empréstimos utilizados e compromissos extra-patrimoniais. Excepto em circunstâncias claramente controladas e delineadas (Segunda Condição), a M* seria medida como o maior dos valores entre um ano e o tempo remanescente imediatamente antes de o Mutuário ser obrigado a honrar o compromisso assumido, dentro do prazo acordado (conforme a Primeira Condição). Para além dos 7 anos, a única excepção à Primeira Condição refere-se à amortização de exposições. Os empréstimos amortizáveis são, geralmente, reembolsados mais rapidamente que empréstimos não amortizáveis e, como tal, acarretam menor risco de crédito. À medida que M se estende além dos 7 anos, os estudos sugerem que o impacto de M no capital económico para o risco de crédito se torna significativamente exagerado. Para activos com prazo muito longo, a proposta conduziria a uma medida conservadora de M na determinação de requisitos de capital, dado que: Primeiro, não reconheceria reduções na M* inferiores a um ano. Ao ser fixado o limite de um ano, são atenuados os incentivos e oportunidades de arbitragem no ajustamento de M no Método IRB; Segundo, tal definição resultaria em medidas de M* tão abrangentes quanto as normas padrão dos mercados financeiros para atribuição de pricing e spreads aplicáveis a empréstimos. OUT/DEZ 2007 REVISORES AUDITORES 63

PONDERADORES DE RISCO Para cada classe de exposições, os ponderadores de risco derivam de uma função específica e contínua. Risco Ponderado do Activo = Ponderador Risco Transação x Exposição Transacção O Total de Risco Ponderado dos Activos (RWA) resulta da soma dos RWA de todas as transacções. No caso concreto das Exposições Empresariais, e onde não exista dimensão de M explícita na Abordagem Simples, será atribuído um Ponderador de Risco (RWc) dependente de PD e LGD. A M média de todas as exposições é assumida como sendo três anos. RWc será expresso em função de PD e LGD, de acordo com a seguinte fórmula: BRWc (PD) corresponde ao ponderador de risco empresarial de referência associado à PD facultada. CONCLUSÃO Tal como referido inicialmente, não se pretende com o presente artigo abordar de forma exaustiva o tema Basileia II. O tema é demasiado complexo para que seja viável aprofundá-lo num artigo desta natureza. Basileia II exige que os Bancos conheçam os riscos a que estão expostos, o que lhes permite uma afectação de capitais mais correcta e aplicação de mais justo, de acordo com o nível de risco do mutuário e do tipo de operação. Com este artigo pretendeu-se apresentar os factores-chave do Acordo por forma a divulgar a quem está do lado da procura de financiamento as ideias chave e os conceitos que o rodeiam e os cálculos intrínsecos a que o mesmo obriga com o objectivo principal de dar um primeiro passo para o esclarecimento do tema e das suas implicações e envolventes. RWc = [(LGD/50 x BRWc (PD)] ou 12.50 x LGD (sendo considerado o menor resultado) 64 REVISORES AUDITORES OUT/DEZ 2007