Avaliação econômica da produção de trigo no Estado do Paraná, para a safra 2010



Documentos relacionados
CUSTO DE PRODUÇÃO DE GRÃOS EM LONDRINA-PR

XXIX CONGRESSO NACIONAL DE MILHO E SORGO - Águas de Lindóia - 26 a 30 de Agosto de 2012

ALGODÃO 2ª SAFRA NA SAFRA 14/15 DEZEMBRO - ANO 6 - EDIÇÃO 67

INVESTIMENTO A LONGO PRAZO 1. Princípios de Fluxo de Caixa para Orçamento de Capital

Avaliação do desempenho econômicofinanceiro da produção de soja nos estados do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina, para a safra 2010/11

Viabilidade Econômica da Cultura do Trigo, em Mato Grosso do Sul, na Safra 2012

de inverno que viraram opção para o pecuarista da região para conseguir ter pasto na época da seca.

Alta do dólar eleva preços, atrasa aquisições de insumos e reduz poder de compra

METODOLOGIA E RESULTADOS DO LEVANTAMENTO DE CUSTO DE PRODUÇÃO DE ARROZ IRRIGADO

ORIENTAÇÕES SOBRE SEGURO, PROAGRO E RENEGOCIAÇÃO DE DÍVIDAS

RELATÓRIO TÈCNICO. Técnico: João Adolfo Kasper. Período de Viagem:19/06/2005 á 25/06/2005

Circular. Técnica. GestFrut_Pêssego: Sistema para Avaliações Econômico-financeiras da Produção de Pêssego. Apresentação Geral do Sistema.

Tabela 01 Mundo Soja Área, produção e produtividade Safra 2009/10 a 2013/14

Índices Zootécnicos Taxa de mortalidade 1,0% Idade de abate do boi gordo ou venda do animal Taxa de desfrute 38,34%

CUSTO DE PRODUÇÃO DE BOVINOCULTURA DE CORTE EM LONDRINA/PR

Avaliação econômica da produção de trigo no Estado do Paraná, para a safra 2011

Unidade: Decisão de Investimento de Longo Prazo. Unidade I:

XI CONGRESSO BRASILEIRO DE SOCIOLOGIA

ASPECTOS CONCEITUAIS OBJETIVOS planejamento tomada de decisão

Avaliação do desempenho econômicofinanceiro da produção de soja no Estado do Paraná, para a safra 2010/11

2.2 - SÃO PAULO, PARANÁ, ESPÍRITO SANTO, BAHIA E RONDÔNIA.

Sumário. 1 Introdução. 2 O Conceito de Provisão. Demonstrações Contábeis Decifradas. Aprendendo Teoria

Plano de Negócio - Agronegócio Atividade Individual em aula 3,0 pontos

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS» ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA «

DESTAQUES. Assembléia Geral Extraordinária Pré-Assembléia Semestral de Balanço. Normas e Procedimentos Safra 2010/2011

Introdução à Administração Financeira

INOVAÇÕES TECNOLÓGICAS NO CULTIVO DA CANOLA NO BRASIL E IMPACTOS NO CUSTO DE PRODUÇÃO E NA RENTABILIDADE.

O QUE É ATIVO INTANGÍVEL?

Índices Zootécnicos Taxa de mortalidade 1,0% Idade de abate do boi gordo ou venda do animal Taxa de desfrute 45,81%

150 ISSN Sete Lagoas, MG Dezembro, 2007

Análise de cenários para a produção de trigo para a safra 2010: um estudo de caso para a região de Londrina, no Estado do Paraná.

CAP. 4b INFLUÊNCIA DO IMPOSTO DE RENDA

Cálculo Simpli cado do Custo de Produção do Integrado. Suínos e Frangos de Corte

RESOLUCAO IV - os recursos do Funcafé repassados às instituições financeiras devem ser remunerados:

Aplicação de Nitrogênio em Cobertura no Feijoeiro Irrigado*

Custo de Produção da Cultura da Soja Safra 2011/2012

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO SÓCIO ECONÔMICO FACULDADE DE CIÊNCIAS CONTÁBEIS ANA RUTH MESQUITA DOS SANTOS

Inovação Tecnológica

Boletim Informativo - 18/09 - Edição: 17

UTILIZAÇÃO DE FERRAMENTAS GERENCIAIS EM PEQUENAS PROPRIEDADES RURAIS DO MUNICÍPIO DE DILERMANDO DE AGUIAR/RS

A necessidade do profissional em projetos de recuperação de áreas degradadas

Linhas de Financiamento

PROJETO CAMPO FUTURO CUSTO DE PRODUÇÃO DO CAFÉ EM LUÍS EDUARDO MAGALHÃES-BA

CUSTO DE PRODUÇÃO DE SOJA - SAFRA 2014/2015 MATO GROSSO - Novembro/2013

O MERCADO DE SOJA 1. INTRODUÇÃO

CUSTO DE PRODUÇÃO DE SOJA - SAFRA 2013/14 MATO GROSSO - Outubro/2012

Boletim Ativos do Café - Edição 15 / Dezembro 2013 Preços do café intensificam a descapitalização na cafeicultura brasileira em 2013

Unidade III FUNDAMENTOS DA GESTÃO FINANCEIRA


CPF DO CANDIDATO (A): DATA: 17/11/2014. NOME DO CANDIDATO (A): PROVA ESCRITA

Adm., M.Sc., Embrapa Agropecuária Oeste, Caixa Postal 661, Dourados, MS. 2

DEMONSTRAÇÃO DO VALOR ADICIONADO

CUSTO DE PRODUÇÃO DE MILHO - SAFRA 2014/2015 MATO GROSSO - Janeiro/2014

METODOLOGIA PARA CONTROLE E ANÁLISE DE CUSTO DA PRODUÇÃO DE LEITE1.

TERMO DE REFERÊNCIA PARA A AUDITORIA DE DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS DO PRODAF

ANÁLISE AVANÇADA DO PONTO DE EQUILÍBRIO DE UMA EMPRESA

PLANTIOS FLORESTAIS E SISTEMAS AGROFLORESTAIS: ALTERNATIVAS PARA O AUMENTO O DE EMPREGO E RENDA NA PROPRIEDADE RURAL RESUMO

DETERMINAÇÃO DO PREÇO NA EMPRESA

GLOSSÁRIO DE TERMOS CONTÁBEIS

2. São grupos, respectivamente, de crédito na Conta 1 (PIB) e débito na Conta 2 (RNDB) das Contas Nacionais:

COMITÊ DE PRONUNCIAMENTOS CONTÁBEIS PRONUNCIAMENTO TÉCNICO CPC 07. Subvenção e Assistência Governamentais

Instituto Odeon - Filial Demonstrações financeiras em 31 de dezembro de 2012 e relatório de revisão dos auditores independentes

A IMPORTÂNCIA DA CONTABILIDADE GERENCIAL PARA UMA EMPRESA RURAL SITUADA NA REGIÃO DE GUARAPUAVA-PR

TÉCNICAS DE AVALIAÇÃO ECONÔMICA. comunicação técnica do CETEM Avaliação Econômica de Projetos Prof. Raul Oliveira Neto

Contabilidade. Demonstrações Contábeis. Curso: Adm. Geral. Estrutura de Capital, Alavancagem e Ponto de Equilíbrio. Prof. Marcelo dos Santos

CONTABILIDADE RURAL: IMPORTÂNCIA DA GESTÃO DE CUSTOS PARA AS EMPRESAS RURAIS. Palavras-chave: Contabilidade rural, Empresas rurais, Gestão de custos.

Custo de Produção do Milho Safrinha 2012

TÓPICO ESPECIAL DE CONTABILIDADE : IMOBILIZADO E DEPRECIAÇÃO - PARTE II

UNIDADE IV : ANÁLISE DE INVESTIMENTOS (A.I.) (ENGENHARIA ECONÔMICA) CONCEITO:

METODOLOGIA PARA DECISÕES DE INVESTIMENTOS E DIMENSIONAMENTO DOS FLUXOS DE CAIXA

INFORME AGROECONÔMICO ESTIMATIVA DOS CUSTOS DE RECEPÇÃO, SECAGEM E LIMPEZA.

! Revisão de conceitos importantes! Fluxo com VRG diluído! Fluxo com VRG no final do contrato! Comparação com outras alternativas de financiamento

Pesquisa sobre bens a serem ativados Contabilizados no Ativo Imobilizado

E-learning para servidores públicos de nível médio

Planejamento Operacional: Orçamento

Ativo Não Circulante e Depreciação

CONTRIBUIÇÕES À AUDIÊNCIA PÚBLICA Nº 071/2014. Associação Brasileira de Geradores de Energia - ABRAGE AGÊNCIA NACIONAL DE ENERGIA ELÉTRICA ANEEL

FUNDAÇÃO DE APOIO AO COMITÊ DE PRONUNCIAMENTOS CONTÁBEIS FACPC. Relatório dos auditores independentes

Importância dos Fluxos de Caixa na Avaliação Econômica

Unidade III. Existe uma técnica própria para a construção de padrões para a Análise de Balanços, e tal se encontra neste capítulo.

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

7 etapas para construir um Projeto Integrado de Negócios Sustentáveis de sucesso

Depreciação, um item importante a se considerar!

CURSO. Master in Business Economics 1. vire aqui

CAPITAL DE GIRO: ESSÊNCIA DA VIDA EMPRESARIAL

Ponto de Equilíbrio Contábil

Avaliação econômica da produção de soja no Estado do Paraná, para a safra 2009/10

AGROMENSAL CEPEA/ESALQ Informações de Mercado

Neste contexto, o Fluxo de Caixa torna-se ferramenta indispensável para planejamento e controle dos recursos financeiros de uma organização.

Avaliação econômica da produção de soja nos estados do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina, para a safra 2009/10

REGIONAL CENTRO-OESTE

2. IOF na determinação do custo do bem importado.

UNOCHAPECÓ Programação Econômica e Financeira

7.3.1 Receitas a Serem Reconhecidas Proporcionalmente a Certo Período Contábil Decorrido

ESCO COMO INSTRUMENTO DE FOMENTO A EFICIÊNCIA ENERGÉTICA

Sumário. 1 Introdução. Demonstrações Contábeis Decifradas. Aprendendo Teoria

FTAD - Formação técnica em Administração Módulo - Contabilidade e Finanças. Prof. Moab Aurélio

INDICAÇÃO N o, DE 2015

5 Plano Financeiro. Investimento total. investimentos fixos; capital de giro; investimentos pré-operacionais. 5.1 Estimativa dos investimentos fixos

Transcrição:

ISSN 2176-2864, Versão Eletrônica Avaliação econômica da produção de trigo no Estado do Paraná, para a safra 2010 75 As estimativas dos custos e lucros de produção de uma determinada atividade agropecuária são ferramentas essenciais para o processo decisório no curto prazo, porque permitem vislumbrar o contexto atual e avaliar a viabilidade econômica de diversos tipos de atividades agropecuárias. Com a grande instabilidade do mercado de commodities, para que o produtor possa maximizar seu desempenho econômico-financeiro, torna-se primordial a gestão eficiente do negócio agropecuário, que tem como princípios fundamentais a minimização de custos, a otimização da utilização do espaço produtivo e o aumento dos níveis de produtividade. No Brasil, na safra 2009, o cultivo de trigo foi prejudicado por condições climáticas desfavoráveis, que ocasionaram queda de produção e principalmente perda da qualidade do grão. Além disso, os preços internacionais da commodity recuaram devido ao alto nível de oferta, causado em grande parte pela elevação no nível dos estoques. Como conseqüência, no Paraná, maior produtor nacional, de acordo com a SEAB (2010) os preços nominais do trigo apresentaram uma retração de 17,39% entre fevereiro de 2009 e janeiro de 2010. Londrina, PR Março, 2010 Autores Marcelo Hiroshi Hirakuri Cientista da Computação e Administrador, Mestre em Ciência da Computação Embrapa Soja hirakuri@cnpso.embrapa.br Joelsio José Lazzarotto Veterinário, Doutor em Economia Embrapa Soja joelsio@cnpso.embrapa.br Para realizar uma análise econômica e financeira da produção de trigo, é preciso avaliar o lucro da atividade. Para que isso seja feito é necessário estimar receitas e custos. O objetivo deste estudo foi avaliar os custos e lucros da produção de trigo no Paraná, para a safra 2010, para diferentes tendências de mercado. Metodologia para a avaliação econômica Para a avaliação econômica da produção de trigo, foi utilizada a metodologia desenvolvida pela equipe de economia, administração e sociologia rural da Embrapa Soja, a qual utiliza planilhas desenvolvidas no Microsoft Excel para a realização dos cálculos. Cabe destacar que as estimativas dos custos e dos lucros vinculados com a produção de trigo nas regiões analisadas, poderão apresentar algumas diferenças em relação àquelas obtidas pelos produtores. Isso pode ocorrer em função de diferenças, sobretudo, nos sistemas de produção e nos níveis tecnológicos e gestão das propriedades rurais (Hirakuri, 2008; Richetti, 2008). As informações sobre tecnologias, preços dos insumos e serviços agrícolas utilizados em cada região, para a safra 2010, foram obtidas por meio de levantamentos junto a instituições locais, em janeiro e fevereiro de 2010. As produtividades esperadas para cada região também foram determinadas mediante a utilização de informações obtidas em instituições locais. Para avaliar distintos cenários de mercado afetando os resultados econômicos, para cada local estudado, foram considerados três preços de venda do trigo, determinados com base no acompanhamento e nas perspectivas de preços de diversas instituições e empresas atuantes no agronegócio do trigo. Para as análises, foram escolhidas microrregiões representativas das produções da commodity no Paraná.

2 Avaliação econômica da produção de trigo no Estado do Paraná, para a safra 2010 Procedimentos para estimar os custos da produção A determinação e a atualização dos itens de custo de produção, relacionados com a metodologia utilizada, são feitas a partir de informações obtidas, sobretudo, junto a cooperativas agropecuárias, revendas de insumos e escritórios de assistência técnica. A elaboração e a atualização da metodologia visam a facilitar a realização de avaliações, permitindo chegar a um diagnóstico sobre o desempenho econômico da produção da cultura estudada em determinada região ou estado produtor. Com relação à questão monetária, os custos de produção do trigo podem ser divididos em duas categorias: a. custos com desembolso monetário - os valores desembolsados pelos produtores podem ser mensurados monetariamente, de acordo com taxas e preços praticados no mercado. Dentro dessa categoria, estão os custos com insumos, combustíveis, lubrificantes, mão-de-obra, manutenção e seguro de máquinas, taxas, juros e serviços contratados; e b. custos sem desembolso monetário - os valores depreciados dos bens de capital, que não são desembolsados pelos produtores, são mensurados tendo como base informações sobre as vidas úteis e as taxas residuais dos bens avaliados. Fazem parte dessa categoria, as depreciações de máquinas, equipamentos e benfeitorias. Para avaliar os custos de produção do trigo sob um ponto de vista mais contábil e, também, ter melhor visualização do processo de produção agrícola, neste estudo, os custos foram divididos em variável, fixo e total. O custo variável (CV) engloba componentes que participam do processo produtivo, ou seja, aqueles que ocorrem somente se houver produção. Dentro do CV, têm-se as despesas com insumos, mão-de-obra, combustíveis, lubrificantes, taxas, juros e serviços contratados. O custo fixo (CF) agrupa gastos que o produtor rural adquire independente de produzir ou do volume de sua produção. Dentro dessa classe, estão as depreciações, seguros e manutenções de bens de capital. Neste estudo, o método utilizado para calcular as depreciações foi o linear, que considera a depreciação como função linear da idade do bem, variando uniformemente ao longo da vida útil. Enquanto para o cálculo das depreciações de máquinas e equipamentos foram consideradas as horas trabalhadas no processo de produção, para estimar as depreciações de benfeitorias foram consideradas suas dimensões e taxas de utilização para atender ao processo produtivo. Finalmente, o custo total (CT) é representado pelo somatório dos custos variável e fixo. Procedimentos para estimar os lucros da produção Para determinar o lucro associado com a produção de trigo, foram utilizadas estimativas de variáveis de receita e custos de produção, destacadas a seguir: 1. receita bruta por hectare (RB ha ) - corresponde à receita esperada, decorrente da venda da produção por hectare ao preço regional do trigo (1). RB ha = Y x P (1) onde Y e P representam, respectivamente, a produtividade por hectare (em sacas de 60 kg) e o preço de venda do trigo (R$/sc). 2. custo total por hectare (CT ha ) - representa a soma do custos variável e fixo por hectare (2). CT ha = CV ha + CF ha (2) 3. lucro total por hectare (LT ha ) - é a diferença entre a receita bruta e o custo total por hectare (3). LT ha = RB ha CT ha (3) Com base nas estimativas das variáveis apresentadas nas expressões (1, 2 e 3), foi possível estimar alguns importantes indicadores de desempenho econômico, dentre os quais: ponto de equilíbrio, lucratividade e ponto de equilíbrio de viabilidade. O ponto de equilíbrio por hectare (PE ha ) corresponde ao nível de produção onde o lucro econômico é zero, ou seja, é o ponto onde a receita bruta se iguala ao custo total. Para um dado custo

Avaliação econômica da produção de trigo no Estado do Paraná, para a safra 2010 3 de produção, o PE ha indica a produção mínima, por hectare, necessária para cobrir o CT, a um determinado preço de venda unitário do produto. A lucratividade por hectare (L ha ), pelo fato de ser o indicador que representa a razão entre lucro e receita bruta, permite avaliar, para o curto prazo, o nível de retorno econômico que pode ser obtido em determinado sistema de produção (4). L ha LT RB ha ha 100 (4) Quanto ao ponto de equilíbrio de viabilidade por hectare (PEV ha ), ele indica o nível de produção onde o lucro se iguala ao custo de oportunidade (CO ha ), tratado em detalhes no item a seguir. Essa medida foi criada para indicar a produtividade mínima que, considerando também os custos do capital e da terra, torna o negócio agrícola viável economicamente. Procedimentos para estimar o custo de oportunidade Para a teoria econômica, o custo de oportunidade surge quando o gestor decide por uma determinada alternativa de investimento em detrimento de outras mutuamente exclusivas. Dessa forma, o custo de oportunidade representa a renúncia a outros investimentos, ou seja, o quanto se deixou de ganhar com outras opções de investimentos. Na contabilidade, geralmente, o custo de oportunidade é utilizado no reconhecimento e estimativa dos juros sobre o capital próprio das empresas (DENARDIN, 2004). Um produtor de grãos, com relação a uma determinada safra de verão ou inverno, pode optar por realizar ou não a produção vegetal. Se o produtor decidir pela produção de determinado grão, terá gastos com a aquisição de matéria-prima e operações mecanizadas. Para cobrir esses gastos pré-colheita, o produtor pode utilizar o capital que ele tem disponível, adquirir financiamentos, ou ambos. Este estudo considerou que o capital disponível do produtor propiciou o pagamento de parte desses gastos, enquanto a outra foi coberta por meio de financiamento, sobre o qual incidiu os juros de custeio. Neste estudo, o custo de oportunidade é formado pelo somatório dos custos do capital e da terra. O custo de capital consiste no retorno que seria obtido se o do produtor, ao invés de produzir trigo, investisse seu capital disponível 1 em outra alternativa (por exemplo, mercado financeiro), enquanto o custo da terra é representado pelo valor do arrendamento, pois, o triticultor, nesse caso, também poderia arrendar a terra para outro produtor. Em termos operacionais, para estimar o custo do capital, foi aplicada a média da taxa de juros Selic, do período de junho de 2009 a janeiro de 2010, sobre o capital disponível. Para calcular o custo da terra, utilizou-se uma taxa de arrendamento correspondente a 13% do valor da produção. Resultados Os gastos mais significativos com a produção de trigo estão relacionados aos insumos. Individualmente, os itens que mais devem onerar o custo total de produção, para a safra 2010, são os fertilizantes, as sementes e os fungicidas. Para a produção de trigo, considerando as produtividades esperadas, os custos totais, representados nas tabelas 1 e 3, para uma cotação de R$ 28,00, foram estimados em R$ 1.287,43/ ha e R$ 1.121,71/ha, respectivamente, para as microrregiões de Guarapuava e Londrina. Para o preço da saca a R$ 25,00, os custos totais foram de R$ 1.269,38/ha e R$ 1.105,60/ ha, respectivamente, para as microrregiões de Guarapuava e Londrina, enquanto que, para uma cotação de R$ 22,00, os custos totais das respectivas regiões foram de R$ 1.251,32/ha e R$ 1.089,49/ha. As estimativas de variáveis com importância econômica, para cada microrregião avaliada, tendo como base os três preços de referência, estão ilustradas nas tabelas 2 e 4. Considerando as produtividades esperadas locais, para a saca do trigo cotada a R$ 28,00, a atividade, no curto prazo, se mostrou viável economicamente nas duas microrregiões avaliadas, pois os lucros estimados superaram os custos de oportunidade. 1 Não foram consideradas despesas financeiras, como impostos e taxas administrativas. Além disso, considerando que a decisão de não realizar a produção de grãos não libera o produtor da incidência de determinados custos fixos e com mão-de-obra permanente, tais custos foram deduzidos para calcular o custo do capital.

4 Avaliação econômica da produção de trigo no Estado do Paraná, para a safra 2010 Com a saca de trigo a R$ 25,00, estimou-se um lucro bastante reduzido para a microrregião de Guarapuava, significativamente inferior ao custo de oportunidade, apontando para a inviabilidade econômica da atividade na microrregião. Para a microrregião de Londrina, o lucro estimado foi levemente inferior ao custo de oportunidade, necessitando de um incremento de produtividade de 0,15% para se tornar viável economicamente. Com a saca do trigo cotada a R$ 22,00, a atividade deve ser altamente inviável economicamente, pois, nas duas regiões avaliadas, as estimativas apontam que a produção de trigo trará prejuízos. As rotações e sucessões de culturas são essenciais para que a atividade agropecuária comercial transcorra de forma contínua, pois estratégias de manejo adotadas em uma atividade possivelmente terão impactos na atividade sucessora. Outra questão importante é que o mercado de commodities é extremamente volátil, sendo suas flutuações um grande fator impeditivo para sucessivas safras de verão e inverno viáveis economicamente. Considerando os dois fatores acima citados, para que o processo de tomada de decisão seja mais eficiente, é mais importante, por exemplo, avaliar a viabilidade econômica de um sistema de sucessão soja-trigo, do que de cada atividade individualmente. Uma vez que os custos com adubação continuam altamente representativos na prática agrícola, estratégias de adubação que permitam maximizar o desempenho econômico-ambiental do sistema de sucessão de culturas adotado tornam-se altamente interessantes. No caso da cultura do trigo, a mesma é muito dependente do nível de adubação utilizado e a cultura posterior por exemplo, a soja pode aproveitar a adubação residual do trigo, conforme já foi demonstrado em trabalhos de pesquisa de logo prazo conduzidos na Embrapa soja (LANTMANN et al., 1996; Tecnologias...,2008).

Avaliação econômica da produção de trigo no Estado do Paraná, para a safra 2010 5 Tabela 1. Estimativa do custo de produção do trigo, por hectare, na microrregião de Guarapuava, PR, safra 2010. Preço da saca = R$ 28,00 Preço da saca = R$ 25,00 Preço da saca = R$ 22,00 Semente 0,00 237,00 237,00 18,41 Adubos 0,00 365,00 365,00 28,35 Herbicidas 0,00 21,59 21,59 1,68 Fungicidas 0,00 112,20 112,20 8,72 Inseticidas 0,00 3,30 3,30 0,26 Espalhante adesivo 0,00 7,80 7,80 0,61 Insumos 0,00 746,89 746,89 58,01 Operações e transporte 61,69 107,52 169,21 13,14 Outros 32,68 338,65 371,33 28,84 Custo Final 94,37 1.193,06 1.287,43 25,24 Representatividade (%) 7,3% 92,7% 100% Semente 0,00 237,00 237,00 18,67 Adubos 0,00 365,00 365,00 28,75 Herbicidas 0,00 21,59 21,59 1,70 Fungicidas 0,00 112,20 112,20 8,84 Inseticidas 0,00 3,30 3,30 0,26 Espalhante adesivo 0,00 7,80 7,80 0,61 Insumos 0,00 746,89 746,89 58,84 Operações e transporte 61,69 102,93 164,62 12,97 Outros 32,68 325,19 357,87 28,19 Custo Final 94,37 1.175,01 1.269,38 24,89 Representatividade (%) 7,4% 92,6% 100% Semente 0,00 237,00 237,00 18,94 Adubos 0,00 365,00 365,00 29,17 Herbicidas 0,00 21,59 21,59 1,73 Fungicidas 0,00 112,20 112,20 8,97 Inseticidas 0,00 3,30 3,30 0,26 Espalhante adesivo 0,00 7,80 7,80 0,62 Insumos 0,00 746,89 746,89 59,69 Operações e transporte 61,69 98,34 160,03 12,79 Outros 32,68 311,72 344,40 27,52 Custo Final 94,37 1.156,96 1.251,32 24,54 Representatividade (%) 7,5% 92,5% 100% esperada: esperada: 3.060 3.060 (51 sacas/ha). (51 sacas/ha).

6 Avaliação econômica da produção de trigo no Estado do Paraná, para a safra 2010 Tabela 2. Síntese econômica da produção do trigo, por hectare, na microrregião de Guarapuava, PR, safra 2010. Preço da saca = R$ 28,00 Preço da saca = R$ 25,00 Preço da saca = R$ 22,00 3.060,00 Receita Unitária / hectare (a) 1.428,00 Custo Total / hectare (b) 1.287,43 Lucro / hectare (a-b) 140,57 Custo de Oportunidade / hectare 72,78 Lucratividade (%) 9,84 Ponto de Equilíbrio (sacas / hectare) 45,07 Ponto de Equilíbrio (kg / hectare) 2.704,07 Ponto de Equilíbrio de viabilidade (sacas / hectare) 47,62 Ponto de Equilíbrio de viabilidade (kg / hectare) 2.857,21 3.060,00 Receita Unitária / hectare (a) 1.275,00 Custo Total / hectare (b) 1.269,38 Lucro / hectare (a-b) 5,62 Custo de Oportunidade / hectare 52,89 Lucratividade (%) 0,44 Ponto de Equilíbrio (sacas / hectare) 50,73 Ponto de Equilíbrio (kg / hectare) 3.043,98 Ponto de Equilíbrio de viabilidade (sacas / hectare) 53,66 Ponto de Equilíbrio de viabilidade (kg / hectare) 3.219,33 3.060,00 Receita Unitária / hectare (a) 1.122,00 Custo Total / hectare (b) 1.251,32 Lucro / hectare (a-b) -129,32 Custo de Oportunidade / hectare 33,00 Lucratividade (%) -11,53 Ponto de Equilíbrio (sacas / hectare) 58,03 Ponto de Equilíbrio (kg / hectare) 3.481,62 Ponto de Equilíbrio de viabilidade (sacas / hectare) 61,44 Ponto de Equilíbrio de viabilidade (kg / hectare) 3.686,57

Avaliação econômica da produção de trigo no Estado do Paraná, para a safra 2010 7 Tabela 3. Estimativa do custo de produção do trigo, por hectare, na microrregião de Londrina, PR, safra 2010. Tabela 3. Estimativa do custo de produção do trigo, por hectare, na microrregião de Londrina, PR, safra 2010. Preço da saca = R$ 28,00 Preço da saca = R$ 25,00 Preço da saca = R$ 22,00 Semente 0,00 174,40 174,40 15,55 Fungicida p/tratar sementes 0,00 11,95 11,95 1,07 Adubos 0,00 292,68 292,68 26,09 Herbicidas 0,00 43,43 43,43 3,87 Fungicidas 0,00 76,88 76,88 6,85 Inseticidas 0,00 14,41 14,41 1,28 Espalhante adesivo 0,00 3,23 3,23 0,29 Insumos 0,00 616,97 616,97 55,00 Operações e transporte 61,69 102,90 164,59 14,67 Outros 32,68 307,47 340,15 30,32 Custo Final 94,37 1.027,34 1.121,71 24,65 Representatividade (%) 8,4% 91,6% 100% Semente 0,00 174,40 174,40 15,77 Fungicida p/tratar sementes 0,00 11,95 11,95 1,08 Adubos 0,00 292,68 292,68 26,47 Herbicidas 0,00 43,43 43,43 3,93 Fungicidas 0,00 76,88 76,88 6,95 Inseticidas 0,00 14,41 14,41 1,30 Espalhante adesivo 0,00 3,23 3,23 0,29 Insumos 0,00 616,97 616,97 55,80 Operações e transporte 61,69 98,81 160,49 14,52 Outros 32,68 295,45 328,13 29,68 Custo Final 94,37 1.011,23 1.105,60 24,30 Representatividade (%) 8,5% 91,5% 100% Sementes 0,00 174,40 174,40 16,01 Fungicida p/tratar sementes 0,00 11,95 11,95 1,10 Adubos 0,00 292,68 292,68 26,86 Herbicidas 0,00 43,43 43,43 3,99 Fungicidas 0,00 76,88 76,88 7,06 Inseticidas 0,00 14,41 14,41 1,32 Espalhante adesivo 0,00 3,23 3,23 0,30 Insumos 0,00 616,97 616,97 56,63 Operações e transporte 61,69 94,71 156,40 14,36 Outros 32,68 283,44 316,12 29,02 Custo Final 94,37 995,12 1.089,49 23,94 Representatividade (%) 8,7% 91,3% 100% esperada: esperada: 3.2502.730 (54,17 sacas/ha). (45,50 sacas/ha).

8 Avaliação econômica da produção de trigo no Estado do Paraná, para a safra 2010 Tabela 4. Síntese econômica da produção do trigo, por hectare, na microrregião de Londrina, PR, safra 2010. Preço da saca = R$ 28,00 Preço da saca = R$ 25,00 Preço da saca = R$ 22,00 2.730,00 Receita Unitária / hectare (a) 1.274,00 Custo Total / hectare (d) = (b+c) 1.121,71 Lucro / hectare (e) = (a-d) 152,29 Custo de Oportunidade / hectare 50,87 Lucratividade (%) 11,95 Ponto de Equilíbrio (sacas / hectare) 39,07 Ponto de Equilíbrio (kg / hectare) 2.344,38 Ponto de Equilíbrio de viabilidade (sacas / hectare) 40,44 Ponto de Equilíbrio de viabilidade (kg / hectare) 2.426,59 2.730,00 Receita Unitária / hectare (a) 1.137,50 Custo Total / hectare (d) = (b+c) 1.105,60 Lucro / hectare (e) = (a-d) 31,90 Custo de Oportunidade / hectare 33,13 Lucratividade (%) 2,80 Ponto de Equilíbrio (sacas / hectare) 43,98 Ponto de Equilíbrio (kg / hectare) 2.639,07 Ponto de Equilíbrio de viabilidade (sacas / hectare) 45,57 Ponto de Equilíbrio de viabilidade (kg / hectare) 2.734,13 2.730,00 Receita Unitária / hectare (a) 1.001,00 Custo Total / hectare (d) = (b+c) 1.089,49 Lucro / hectare (e) = (a-d) -88,49 Custo de Oportunidade / hectare 15,38 Lucratividade (%) -8,84 Ponto de Equilíbrio (sacas / hectare) 50,31 Ponto de Equilíbrio (kg / hectare) 3.018,50 Ponto de Equilíbrio de viabilidade (sacas / hectare) 52,18 Ponto de Equilíbrio de viabilidade (kg / hectare) 3.130,96

Avaliação econômica da produção de trigo no Estado do Paraná, para a safra 2010 9 Referências DENARDIN, A. A. A Importância do custo de oportunidade para a avaliação de empreendimentos baseados na criação de valor econômico (Economic Value Added EVA). ConTexto, Porto Alegre, v. 4, n. 6, p. 3-6, 2004. HIRAKURI, M. H. Estimativa de custo de produção e lucratividade da soja, safra 2008/09, para o Paraná e Santa Catarina. Londrina: Embrapa Soja, 2008. 15 p. (Embrapa Soja. Circular Técnica, 65). LANTMANN, A.F.; ROESSING, A.C.; SFREDO, G.J.; OLIVEIRA, M.C.N. de. Adubação fosfatada e potássica para sucessão soja-trigo em latossolo roxo distrófico sob semeadura direta. Londrina: Embrapa Soja, 1996. 44 p. (Empraba Soja. Circular Técnica, 15). RICHETTI, A. Estimativa do custo de produção de soja, safra 2008/09, para Mato Grosso do Sul e Mato Grosso. Dourados: Embrapa Agropecuária Oeste, 2008. 13p. (Embrapa Agropecuária Oeste. Comunicado Técnico 148). SEAB - SECRETARIA DA AGRICULTURA E DO ABASTECIMENTO DO PARANÁ. Cotação diária de produtos agropecuários. Disponível em: <http:// celepar7.pr.gov.br/sima/>. Acesso em: 04 de março de 2010. TECNOLOGIAS de produção de soja região central do Brasil 2009 e 2010. Londrina : Embrapa Soja : Embrapa Cerrados : Embrapa Agropecuária Oeste, 2008. 262 p. (Embrapa Soja. Sistemas de Produção, 13). Anotações Circular Técnica, 75 Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento Governo Federal Exemplares desta edição podem ser adquiridos na: Embrapa Soja Rod. Carlos João Strass - Acesso Orlando Amaral Cx. Postal: 231 860001-970 Londrina - PR Fone: (43) 3371 6000 - Fax: 3371 6100 Home page: www.cnpso.embrapa.br e-mail: sac@cnpso.embrapa.br 1 a edição, Versão Eletrônica: 03/2010 Comitê de Publicações Expediente Presidente: José Renato Bouças Farias Secretária Executiva: Regina Maria Villas Bôas de Campos Leite Membros: Adeney de Freitas Bueno, Adilson de Oliveira Junior, Clara Beatriz Hoffmann Campo, Francismar Correa Marcelino, José de Barros França Neto, Maria Cristina Neves de Oliveira, Mariângela Hungria da Cunha, Norman Neumaier Coordenador de editoração: Odilon Ferreira Saraiva Normatizador bibliográfico: Ademir Benedito Alves de Lima Editoração eletrônica: Marisa Yuri Horikawa CGPE 8390