O RÁDIO EM ALAGOAS HOJE Carlos Eduardo de Moraes Dias Universidade Federal de Alagoas Resumo As primeiras experiências radiofônicas em Alagoas surgem na década de 30, com o diletantismo característico do início do desenvolvimento do rádio. Hoje, o governo do Estado possui duas emissoras, as demais pertencem ao sistema privado. A partir dessa realidade, este estudo pretende efetuar um balanço sobre as concessões dessas rádios; a programação; a linguagem; e a influência das redes nacionais;. Introdução As primeiras experiências radiofônicas em Alagoas surgem, de acordo com os registros históricos da década de 30, com o diletantismo característico do início do desenvolvimento do rádio, e de uma filosofia libertaria bastante semelhante à dos movimentos das rádios livres hoje - preocupação com a função social do veículo. De qualquer forma, não se pode esquecer de que: desde o governo de Getúlio Vargas, os critérios das concessões são eminentemente políticos; e que a primeira emissora oficialmente instalada no Estado de Alagoas foi a rádio Difusora, indo ao ar em 16 de setembro de 1948, prefixo ZY04, constituída com recursos oriundos do jogo do bicho, sob o olhar condescendente do governador Silvestre Péricles de Góes Monteiro, irmão do General do Exército Durval de Góes Monteiro, Nos dias atuais, o governo do Estado possui duas emissoras de rádio ( a Difusora AM e a Educativa FM ), as demais emissoras pertencem ao sistema de rádio privado. Nesse espectro, pretende-se efetuar um balanço sobre o formato, em termos de programação, da situação do radiojornalismo, da linguagem predominante dessas rádios.
Além de verificar a influência da entrada das redes nacionais ( satélite ), para as rádios locais; e, por fim, observar a quem pertence as atuais concessões das rádios em Maceió. Nesse sentido, indaga-se,: dentro de uma linha de globalização que norteia o mundo de hoje, como encontram-se essas emissoras frente à programação, à audiência, ao faturamento e ao compromisso social, inerente à função do rádio? 1. Trajetória das concessões do rádio em Maceió 1.1 O rádio estatal Hoje com quase cinqüenta anos de vida, a Rádio Difusora, é a referência histórica da radiodifusão alagoana. Da eficiência e do vanguardismo inicial, seus anos dourados até o início dos anos 60, passando pela explosão do empreguismo nos últimos trinta anos, - para se ter uma idéia da situação, nem a Secretária da Comunicação Social desconhece o número de funcionários que a emissora possui. A Rádio Difusora, até o final da década de 80, possuía um dos maiores departamentos de radiojornalismo do nordeste, com quase trinta jornalistas, sendo metade deles cobrindo a área esportiva - futebol quase que exclusivamente. Toda essa estrutura para produzir praticamente um jornal diário de trinta minutos. Só que grande parte era oriunda das agências de notícias nacionais e internacionais, - O Jornal da Integração Alagoana, transmitido em conjunto com uma rede de emissoras, cobrindo todo o interior do Estado, durante a programação, apresentava parte do material repetido, e complementava com a veiculação de releases advindos das Secretárias de Estado e autarquias. A direção geral da rádio é de indicação direta do governador, não passando pela esfera da Secretária de Comunicação Social, a qual é vinculada. Até o início do governo do bom moço, aquele de meio mandato (como governador e como presidente), a Difusora
tinha a maior audiência durante as transmissões de jogos esportivos do Estado, mas de repente os principais jornalistas esportivos da Difusora foram demitidos, e, logo em seguida, foram contratados por uma emissora privada, que - por coincidência - pertencia à família do senhor governador. É importante lembrar que, mesmo sendo uma emissora estatal, a Rádio Difusora, desde a sua criação, sempre teve um departamento comercial, ou seja, negociou espaços publicitários, além de receber verbas públicas. Em fevereiro de 1986, entra no ar a Rádio Educativa FM e a TV Educativa (retransmissora da TVE - Rio de Janeiro), vinculadas à Secretaria de Educação do Estado, emissoras concedidas inicialmente à Universidade Federal de Alagoas, que constituiu até uma diretoria com gratificação de representação, que nasceu e morreu no papel, pois nada produziu, só desfrutou financeiramente dos recursos públicos. Além do que, as concessões foram misteriosamente transferidas integralmente, sem a participação da Universidade. Entretanto, foi o grande marco da gestão do Secretário da Educação do Estado Douglas Apratto Tenório, curiosamente professor da Universidade. 1.2. Rádio Universitária FM A atual administração da Universidade Federal de Alagoas não tem medido esforços para recuperar os espaços perdidos no passado, chegou a propor parceria com o Estado, na Rádio Educativa FM, na Rádio Difusora ( AM ) e na TV Educativa, para produção de uma programação local. Diante da situação financeira caótica que encontra-se o Estado, com os funcionários do poder executivo com seis meses de salários atrasados, além de outras pendências, a Universidade propôs a transferência das emissoras de canal educativo ( Rádio Educativa FM e TV Educativa ), mas o Governo do Estado ignorou ambas as propostas.
Em vista desta situação, a Universidade Federal de Alagoas, está encaminhando um Projeto Técnico e de Programação, solicitando ao Ministério das Comunicações e para Fundação Roquette Pinto, a reserva do canal educativo, de Freqüência Modulada ( FM ), da cidade de Rio Largo, - situada a 27 Km da Capital, pertence à região da Grande Maceió. Esta já consta do Plano Básico de Distribuição de Canais do MinC. A emissora deverá ser instalada no Campi Delza Gitai, antigo Planalçucar, situado na mesma cidade. 1.3. As emissoras privadas A estrutura da radiodifusão em Alagoas, não foge às características da maior parte das cidades brasileiras, cujos beneficiados pelas concessões estão atrelados. Dito de outra forma, parece que o requisito - histórico e cultural - exigido, é ser/estar detentor do poder político. O Estado de Alagoas possui, de acordo com dados do Ministério das Comunicações, 15 emissoras de Amplitude Modulada ( AM ), 18 emissoras de Freqüência Modulada e 4 emissoras de Televisão. Todas elas muito bem distribuídas, como é o caso do ex-governador Geraldo Bulhões que possui seis emissoras de rádio, a família do bom moço, uma emissora de televisão e quatro emissoras de rádio, o Conselheiro do Tribunal de Contas Geraldo Sampaio, uma emissora de televisão e duas rádios, o nobre Senador Guilherme Palmeira, uma televisão e uma rádio isso para se citar alguns. Note-se que, muitas delas, foram concedidas durante o governo é dando que se recebe..., do expresidente e atual Senador representante do Estado de Roraima José Ribamar Sarney. Esta é uma pequena pincelada da estrutura da radiodifusão hoje, na historicamente conhecida Terra dos Marechais, e que ultimamente também passou a ser conhecida nacionalmente por República de Alagoas. 1.4. Rádio comunitária
No que se refere á comunicação alternativa, muitas experiências têm ocorrido no Estado. No que se refere ao rádio, todavia, todas tiveram vida efêmera, por falta de estrutura ou por denúncias aos órgãos estatais fiscalizadores. Entretanto, uma experiência muito interessante ocorreu durante o primeiro semestre de 97, foi a idealização e execução de uma rádio Comunitária no bairro de Benedito Bentes; nascido de um conjunto habitacional popular, financiado pela Caixa Econômica Federal, em meados da década de 80, construído numa região afastada do centro de Maceió, em decorrência de uma política de descentralização urbana, constitui hoje em um dos bairros mais populosos de Maceió, com uma população de aproximadamente 120 mil pessoas, quase vinte por cento da população da cidade. A Associação Rádio Comunitária do Benedito Bentes é uma emissora que operava, das 8 às 22 horas em Freqüência Modulada ( FM ), com transmissor de 10 watts de potência. Foi lacrada, no final de junho, pela Delegacia do Ministério das Comunicações/AL, sob a alegação que essas rádios podem ocasionar interferências no sistema de navegação das aeronaves que cruzam o espaço aéreo do Estado, além de interferirem na freqüência de outras emissoras de rádio e televisão, assegurou o delegado. Desde dezembro de 1996, repousa na Comissão de Constituição e Justiça e de redação, da Câmara Federal, parecer favorável do relator, ao projeto de lei que regulamenta as chamadas rádios comunitárias, quanto aos aspectos da constitucionalidade, legalidade, juridicidade e técnica legislativa. No entanto, continua em apreciação na referida Comissão, onde dois deputados - José Genuíno e Gerson Peres pediram vistas. 2. Programação e linguagem: aspectos gerais Nas Rádios de Amplitude Modulada, o principal formato dos programas, e de maiores audiências, são os de interatividade imediata. É pertinente mencionar que Alagoas, hoje, é o Estado mais pobre do nordeste, com alto índice de mortalidade infantil,
constituído de mais de 2/3 da população analfabeta ou alfabetizada funcional, com o menor índice de crescimento econômico da região, e um dos mais altos índices de desemprego do país Com todas essas características, o rádio continua sendo o veículo de maior audiência e penetração junto às camadas populares, pois é barato. A evolução tecnológica proporcionou que um maior número de ouvintes se incorporasse nesse universo, principalmente com a epidemia do walk men, e a utilização desse equipamento por pessoas de todas as idades, pois é de fácil locomoção, não atrapalhando uma outra atividade do ouvinte. A linguagem coloquial, descontraída, despojada, é característica do rádio de Amplitude Modulada ( AM ), e tenta ser o mais envolvente e estimulante possível, ao ser utilizada numa programação de entretenimento. Isso tudo, com a utilização cada vez mais intensiva do telefone pelo ouvinte. Já as emissoras de Freqüência Modulada de Alagoas se caracterizam por um estilo predominante musical. Mesmo a Rádio Educativa FM não foge à regra, com uma programação estritamente musical - e brasileira -, apresenta uma audiência bastante segmentada, contemplando as classes de maior poder aquisitivo. No que se refere ao radiojornalismo, as empresas, principalmente as emissoras de Freqüência Modulada ( FM ), ainda preferem utilizar as informações que saem nos jornais, muitas vezes notícias do dia anterior. Já nas emissoras de Amplitude Modulada ( AM ), de uma maneira geral, trabalhase um radiojornalismo mais estruturado, com viaturas móveis, celulares, redações informatizadas e interligadas. Essas características também são encontradas nas organizações e conglomerados de comunicação ( Jornal, Televisão e Rádio ). No Estado, o maior é a Organização Arnon de Mello - composto por uma gráfica, um jornal diário, quatro rádios e uma emissora de televisão ( coligada da rede Globo ). De qualquer forma, a
característica geral do radiojornalismo é a falta de combatividade e de crítica, e a falta de uma consciência social do rádio como meio de transformação, de educação e de uma consciência de cidadania. Essa situação não é privilégio de todas as emissoras. De uma maneira geral, falta infra-estrutura ( equipamentos ) na maioria das emissoras de rádio. Estas resistem em investir em avanços tecnológicos; na área de recursos humanos, cobram das universidades um perfil de profissional que interessa a elas, mas não investem em cursos de atualização e reciclagem dos próprios funcionários, nem se interessam em fazer parceria com a Universidade. Outra situação bastante peculiar do rádio alagoano, é referente ao noticiário local, que além de utilizar quase a totalidade dos releases (não como fonte, mas como matéria), para suprir a falta de infra-estrutura. É fato, também, que faturam, dado que cobram do governo. Isso significa dizer que os releases acabam sendo publicados como matéria paga, tornando-se um interessante meio de receita publicitária. Nos dias de hoje, os dois programas radiofônicos com maior audiência no rádio alagoano são: (1) Ronda Policial apresentado pelo radialista conhecido como Gonça Gonçalves, um ex-policial, que utiliza toda a linguagem característica do meio. Conta com o apoio de uma produção composta por três experientes jornalistas, tem linha direta com todas delegacias de polícia e prontos-socorros; e (2) O Ministério do Povo, apresentado pelo radialista França Moura, que utiliza uma linguagem coloquial mesclando um pouco com a popular, é um programa temático, abordando um assunto sempre atual e polêmico, com opiniões sempre conservadoras e moralistas. Esse Ministério se inicia e se encerra com mensagens religiosas. Este programa também é conhecido como defensor do funcionário público. Conta com participação ativa do ouvinte ( por meio do telefone.). Durante a programação, ocorre inserções de reportagens de rua - geral e prestação de serviço.
A característica principal desses programas é que ambos tentam identificar-se como donos da verdade, sendo que, o primeiro, acaba por simbolizar o justiceiro e, o segundo, configura-se como companheiro e amigo, destacando e valorizando valores morais e religiosos. O radio alagoano tem passado nos últimos anos por uma transformação, semelhante a outras regiões do país. Tem aumentado a participação de programas religiosos, que, até poucos anos atrás, eram no início ou final das programações das rádios. Hoje, são apresentados durante vários momentos da programação. Outro fato, significativo, é a aquisição de concessões de emissoras de rádio, principalmente as AM`s, por instituições religiosas, principalmente as evangélicas. 3. A entrada das redes Nos dias atuais, encontram-se instaladas quatro redes nacionais de rádio. Todas elas, em Freqüência Modulada ( FM ), operam fortemente no Estado de Alagoas. Três delas, são essencialmente musicais, como é o caso das redes: Antena 1, Transamérica e Jovem Pan, com uma linguagem descaracterizada, em termos de cor local. Isso significa dizer que, mesmos as gravações locais seguem a pronúncia vigente no eixo Rio-São Paulo. A quarta rede instalada, em Alagoas, é a CBN - Central Brasileira de Notícias, com noticiário 24 horas, trabalhando pelo sistema de esteira de notícias, reservando espaços para programações locais, na maior parte entrevistas e reportagens, seguindo a mesma linha da cabeça de rede. Um fato importante e muito significativo tem acontecido com a entrada dessas redes. Este estudo observou, nas emissoras de Alagoas, que os locutores das rádios de Freqüência Modulada ( FM ), principalmente, apresentam variação lingüistica, em termos de pronúncia, não coincidente com o uso regional. Este fato encontra eco numa realidade surpreendentemente de globalização: o aumento, cada vez mais significativo, do
surgimento de cursos, em Alagoas, de fonoaudiologia, de empostação vocal e de oratória. No entretanto, a grandissíssima maioria desses cursos estão voltados para uma pronúncia nada local. O incrível mesmo, são as placas para aulas particulares: Ensina-se paulista ou Ensina carioca. Considerações finais A radiodifusão no Brasil só começará a se modificar a partir da hora, que a sociedade conscientizar-se do seu direito de cidadã, direito à informação, através de um novo modelo de comunicação, que se sintonize com os seus anseios, como um instrumento de mudança social e cultural. Num país de tantas desigualdades regionais, o rádio deve ser, antes de tudo, um bem social e não um meio simplesmente mercadológico, de concentração de renda, e instrumento de dominação da sociedade. A mídia eletrônica em Alagoas está longe de se caracterizar como um eficiente meio de comunicação social. Para tanto, haveria necessidade, não só de uma alteração nas formações discursivas político-ideológicas, mas igualmente nas empreitadas de investimentos tecnológicos, na qualificação dos profissionais, em termos de produção e de programação e, principalmente, é imprescindível que se efetue uma revisão no que concerne ao constrangimento dos jornalistas. Bibliografia BARBEIRO, Heródoto Prefácio In: PRADO, Emilio. Estrutura da informação radiofônica. São Paulo: Summus, 1985. JORNAL DA AESP - Órgão Oficial da Associação das Emissoras de Rádio e
Televisão do Estado de São Paulo. São Paulo: Jornal Rádio - TV Notícias Ltda, Maio. 97. JORNAL GAZETA DE ALAGOAS - Associação vai brigar na justiça para abrir rádio, página A7, 26.06.97. Maceió, AL. MOREIRA, Sônia Vírginia - Jornalismo na Rádio Jornal do Brasil AM. In: ORTRIWANO, Gisela Swetlana (org.) - Radiojornalismo no Brasil: dez estudos regionais. São Paulo: COM-Arte, 1987. ORTRIWANO, Gisela Swetlana - A informação no rádio: os grupos de poder e a determinação dos conteúdos. São Paulo: Summus, 1985. Os (des)caminhos do radiojornalismo. Tese de Doutoramento defendida junto ao C.J.E da ECA-USP, 1990 (exemplar xerocopiado).