sustentável Crescimento A população urbana aumenta de forma significativa, e gestores têm o desafio de buscar soluções criativas e inovadoras para financiar a infraestrutura necessária a esse contingente 6
Especialistas acreditam que as cidades ideais terão seu planejamento sustentado por uma abordagem holística, que contemple os principais desafios do crescimento de forma integrada Shutterstock/ Sean Pavone E scassez de recursos naturais, falta de espaço, desemprego, sistema de saúde altamente deficitário, tecnologia obsoleta. Esses são alguns riscos que os países correm com a ausência de medidas sustentáveis para lidar com a forte tendência prevista para os próximos anos: o crescimento da população urbana mundial em 66% até 2050. De acordo com a edição de 2014 do relatório Perspectivas da População Mundial, da Organização das Nações Unidas (ONU), atualmente 54% da população já vive nos aglomerados urbanos, e a estimativa é de que o processo migratório, associado ao aumento demográfico, acrescente pelo menos mais 2,5 bilhões de pessoas a esses espaços. Diante desse processo, a demanda por infraestrutura será considerável, e o assunto permeia muitas discussões entre líderes das nações, organizações afins e a sociedade de uma forma geral. No Brasil, especificamente, esse investimento ainda é considerado aquém do ideal, conforme mostra a pesquisa The Global Competitiveness Report 2013/2014, realizada pelo Fórum Econômico Mundial. Segundo o documento, o Brasil ocupa a 114ª posição em um ranking de 144 países em investimentos de infraestrutura. O país gasta cerca de 2% do PIB, ficando bastante atrás de outras nações, que chegam a aplicar até 10%. Com uma qualidade de infraestrutura abaixo da média mundial, seria necessário o Brasil investir, no mínimo, 4% para garantir um patamar desejável de desenvolvimento, analisa Mauricio Endo, sócio-líder de Governo & Infraestrutura da KPMG no Brasil. Essa necessidade de grandes investimentos é uma questão que desafia as nações a buscar soluções rentáveis e inovadoras, e que não estejam necessariamente nas mãos e no bolso do poder público. No Brasil, um marco importante nesse processo aconteceu com a publicação da Lei 11.079, em 2004. A lei das Parcerias Público-Privadas (PPPs) trouxe normas que permitiram aos governos assinar contratos de concessão subsidiados nos setores de água, infraestrutura social e transportes. A cada ano, as PPPs estão aumentando no Brasil, e o que se espera é que essas parcerias possam melhorar a realidade das cidades, afirma Endo. Os governos estaduais passaram a implementar projetos em setores como saúde e presídios, estádios da Copa, saneamento e transportes, e devem gerar novas oportunidades nessas duas últimas áreas, assim como nas de resíduos sólidos e iluminação pública. O governo federal, por sua vez, já vem apontando para a utilização das PPPs nas áreas de defesa e de transportes. 7
Para garantir a continuidade desse processo de investimentos e a aplicação efetiva do conceito de cidade inteligente, três medidas merecem maior atenção dos governos, de acordo com Charles Schramm, sócio-líder de Cidades da KPMG no Brasil: implementar meios sustentáveis de planos econômicos de longo prazo, em detrimento de medidas puramente populares; melhorar o profissionalismo e a capacidade dos programas de infraestrutura, com programas claros, transparentes e bem geridos para atrair os investidores; e focar o mercado de financiamento. Schramm explica que a maioria dos projetos tem sido financiada pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), mas ele acredita que os bancos privados, sofre concorrência global na atração de empresas e investidores. Não há tempo a perder, pois as ações tomadas hoje influenciarão as próximas décadas, diz. Mobilidade e ocupação do solo Atrelado à necessidade de busca de soluções financeiras adequadas às cidades, está o desafio de se planejar e implantar toda essa infraestrutura de forma sustentável. Um dos principais problemas urbanos que os planejadores necessitam equalizar é a mobilidade. Isso porque há um elo muito importante entre o transporte, a produtividade e a qualidade de vida. Caminhar com tranquilidade, utilizar meios alternativos e menos poluentes como as bicicletas, por exemplo, deslocar-se rapidamente e com conforto KPMG Global, Desmond Kuek, CEO da SMRT, maior empresa de transporte de Singapura, afirma que não se trata apenas de levar as pessoas do ponto A ao B, mas também da importância de se ter um sistema de transporte eficiente, que combine acesso, conveniência, conforto, confiabilidade, segurança e acessibilidade. Cada vez mais as pessoas querem melhorar a qualidade de vida em suas cidades, o que muitas vezes significa melhorar o meio ambiente. Como resultado, temos visto o transporte público na agenda do governo como uma forma mais limpa e mais eficiente para mover pessoas e bens ao redor, diz. Outra questão que já é consenso entre os planejadores urbanos diz respeito à combinação de meios de transporte diferentes para os Shutterstock/ Doin Oakenhelm o mercado de capitais e os fundos de investimento devem ser mais incentivados a conceder ajuda financeira para que seja possível acelerar a implementação das infraestruturas e dos serviços públicos. Não podemos esquecer que vivemos na era globalizada da informação, ou seja, qualquer tipo de projeto, inclusive de PPP, em vários tipos de transporte coletivos, ter conectividade entre municípios e redução dos custos com automóveis são alguns dos desejos de quem vive nas cidades. Em entrevista à edição especial sobre população da revista Insight, publicação sobre infraestrutura produzida pela deslocamentos, de modo que a infraestrutura de transportes esteja preparada para esse tipo de integração. Ainda de acordo com a Insight, quando se trata de fornecer infraestrutura suficiente e adequada para cumprir as necessidades de locomoção 8
das populações, os governos têm essencialmente duas opções: aumentar a quantidade de novas infraestruturas ou melhorar a eficiência da infraestrutura existente. E como os orçamentos estão sob constante pressão, a tecnologia tem se tornado um importante aliado nesse aspecto. O relatório exemplifica o caso do Reino Unido, que tem investido no desenvolvimento de tecnologias para alta velocidade em ferrovias, melhorando essencialmente a produtividade e a eficiência da malha ferroviária. Ainda com relação ao transporte, a tecnologia exerce papel não só na melhoria da qualidade de vida, mas também na redução do consumo energético, de emissões e de custo. 50 anos, apenas 20% são investidos no projeto e na construção, enquanto os 80% restantes são gastos durante todo o ciclo de vida em atividades como operações e manutenção. Dessa forma, novas tecnologias iriam desempenhar um papel importante na equação da sustentabilidade, com sistemas e soluções inteligentes de economia energética. Um conjunto de ferramentas e tecnologias também poderia analisar problemas complexos de uso e ocupação do solo, de modo a gerar, em tempo real, informações sobre o que é mais adequado para os espaços e diretrizes para o crescimento das cidades. A ocupação urbana, aliás, é outro fator que impõe sérios desafios. O KPMG Business Magazine 33 completamente diferentes em termos de ritmo de inovação, uso do solo e prioridades de planejamento, de modo que as vias para formar esse tripé dependem do contexto de cada município. A tecnologia também pode ser aplicada a muitos outros problemas, ajudando a mitigar desafios sociais criados por maciços deslocamentos demográficos, como, por exemplo, o impacto do aumento do desemprego na população jovem urbana. Treinamentos a distância e comunidades virtuais para a busca de emprego são mais algumas das soluções possíveis para esse turbilhão de mudanças previstas para os próximos anos. Integração do transporte coletivo com outros sistemas de mobilidade pode conferir maior conforto e velocidade nos deslocamentos, melhorando a qualidade de vida Essas e outras questões no topo da agenda de planejamento das cidades podem ser conferidas na publicação especial sobre população da Insight Magazine. A diminuição do consumo de energia também deve influenciar de forma significativa outras medidas de sustentabilidade. A publicação da KPMG Global cita uma pesquisa realizada pela Siemens sobre os gastos energéticos de um edifício. Considerando a vida útil da edificação em um período de relatório aponta que muitas cidades de países desenvolvidos e emergentes estão intensamente focadas em alcançar um nível de sustentabilidade em que o crescimento econômico, a qualidade de vida e a proteção do meio ambiente formem um tripé central de desenvolvimento. Porém, todas são Acesse o QR Code para consultar a revista. 9
aspectos sobre infraestrutura e população urbana 1 4 O poder público terá de tomar difíceis decisões para obter equilíbrio nos financiamentos. Nesse aspecto, o setor privado poderia apoiar soluções potenciais. Os governos devem comprometer investimentos e se preparar para gerenciar o programa de trabalho necessário antes do efetivo aumento da demanda. 3 2 Alavancar o desenvolvimento econômico vai custar muito caro. Em contrapartida, os mercados emergentes continuam na mira dos investidores. A área de desenvolvimento de novos modelos de infraestrutura deve despender significativa atenção no reconhecimento de objetivos a longo prazo. 5 O desenvolvimento de medidas para acelerar a fase de aprovação de projetos é um grande desafio. 8 6 Fonte: Insight Magazine O debate sobre infraestrutura se ampliou a partir do conceito de cidades inteligentes que aliem tecnologia, habitação viável e oportunidades de emprego. O conceito de propriedade está se modificando com o surgimento de investidores, fundos de infraestrutura e de outros modelos de negócios para alavancagem do setor. 9 7 A guerra por talentos será cada vez mais pronunciada, e os países devem ser mais proativos no apoio ao desenvolvimento de habilidades para essa nova realidade. Com investimentos cada vez mais conduzidos pelo custo e pela economia, os governos passam a apoiar a ideia de um mix de fontes de energia. 10 O combate Shutterstock/ Criaderia à fraude e à corrupção é um dos principais desafios que os governos, os investidores e seus conselheiros enfrentam hoje. 10
Como alimentar o mundo? A agricultura, a pecuária e a capacidade de abastecimento de água são velhas preocupações mundiais que se intensificam diante das perspectivas de crescimento populacional. A Insight Magazine aponta, basicamente, dois problemas de condução de alimentos na agenda: a primeira é que a população mundial continua a crescer e os governos estão reconhecendo que, de alguma forma, terão de alimentar todas essas pessoas se quiserem evitar fome em massa ou insegurança política; ao mesmo tempo, há uma crescente sofisticação na dieta das pessoas que se deslocam para fora da pobreza, com preferência para as proteínas animais. Além do aumento da produção, o setor agrícola tem a missão de melhorar seus sistemas de colheita, armazenamento e transporte, para evitar desperdícios e dar conta da demanda Shutterstock/ brickrena O problema é que a criação de proteínas animais requer uma cadeia de fornecimento bastante complexa e entradas significativas de grãos e proteínas vegetais, o que só aumenta a pressão sobre o sistema agrícola. No entanto, segundo especialistas, a preocupação não deverá estar apenas focada no aumento da produção agrícola. Também será necessário melhorar a eficiência das instalações de colheita, armazenamento e transporte dos alimentos para aumentar a capacidade global de produção. Isso porque, de acordo com a Organização para a Alimentação e Agricultura das Nações Unidas, cerca de um terço de todos os alimentos produzidos para consumo humano é desperdiçado. 11