A C Ó R D Ã O 10ª TURMA PODER JUDICIÁRIO FEDERAL JUSTIÇA DO TRABALHO TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 1ª REGIÃO Gabinete do Desembargador Marcelo Antero de Carvalho Av. Presidente Antonio Carlos, 251 6º Andar - Gab.52 Castelo Rio de Janeiro 20020-010 RJ PROCESSO: 0001607-81.2012.5.01.0064 - RTOrd DIFERENÇAS SALARIAIS, ADPF 151- STF - PISO DO TÉCNICO EM RADIOLOGIA. Desde a promulgação da Lei n.º 7.394/85, o salário dos profissionais das técnicas radiológicas estava vinculado ao salário mínimo e era reajustado automaticamente. Todavia, o Supremo Tribunal Federal (STF) declarou, no julgamento da ADPF 151, que a base de cálculo era inconstitucional, ao passo que nenhum reajuste profissional poderia estar atrelado ao do salário mínimo. Contudo, no mesmo julgamento, ficou evidente que nenhum profissional poderia sofrer redução salarial. Devidas diferenças salariais, utilizando-se como parâmetro a data da decisão liminar proferida pelo STF (2/2/2011), atribuindo plena vigência anterior ao artigo 16 da lei 7.394/85. Recurso parcialmente provido. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos de recurso ordinário em que são partes: LEON DENIR DA SILVA, como recorrente, sendo recorrido RIO X SERVIÇOS RADIOLÓGICOS LTDA. O Excelentíssimo Juiz do Trabalho Marcelo José Duarte Raffaele, da MM. 64ª Vara do Rio de Janeiro, prolatou a r. sentença de fls. 53/55, mantida pela decisão de embargos de declaração de fls. 59/60, que julgou improcedente o feixe de pedidos. O reclamante, pelas razões de fls. 62/64, requerendo a reforma da decisão de primeiro grau no que tange à diferenças salariais em decorrência da aplicação do piso da categoria de técnico em radiologia. Embora regularmente notificada, fl.67, a reclamada não apresentou contrarrazões, conforme certificado à fl. 68. Os autos não foram remetidos ao respeitável Ministério Público do Trabalho, considerando-se a Lei Complementar nº 75/1993 e o Ofício PRT/1ª Região nº 27/08-GAB, de 15/01/2008. Este é o breve relatório. 3668 1
ADMISSIBILIDADE Uma vez satisfeitos os pressupostos processuais intrínsecos e extrínsecos de admissibilidade recursal, conheço do recurso. MÉRITO 1. DIFERENÇAS SALARIAIS. TÉCNICO EM RADIOLOGIA. O autor, admitido em 6/9/2010 como Técnico em Radiologia e dispensado sem justa causa em 15/8/2012, afirmou ser credor de diferenças salariais, uma vez que a Lei nº 7394/1985 fixa o piso profissional em 2 salários mínimos regionais, acrescidos de 40% de insalubridade. Contesta a ré alegando o correto pagamento do piso salarial, qual seja, 2 salários mínimos nacionalmente unificados. O pleito foi julgado improcedente, fl. 54:... O autor confunde salário mínimo com pisos salariais regionais fixados por leis estaduais para diversas categorias profissionais. Mas não é só....mesmo considerando que os pisos estaduais têm natureza de salário mínimo regional o que não nos parece correto, data vênia as leis de fixação destes pisos expressamente excluem do seu âmbito de aplicação as categorias (dentre outras) que tenham piso definido em lei federal, caso dos radiologistas. Inconformado o autor reafirma que o seu piso profissional é de 2 salários mínimos regionais, em razão do decidido na ADPF 151/STF. Analisa-se. A interpretação das normas deve ser feita de acordo com a contemporaneidade de sua vigência. A Lei nº 7.394/85 regula o Exercício da Profissão de Técnico em Radiologia, e dispõe em seu art. 16 o salário profissional aplicável: Art. 16 - O salário mínimo dos profissionais, que executam as técnicas definidas no Art. 1º desta Lei, será equivalente a 2 (dois) salários mínimos profissionais da região, incidindo sobre esses vencimentos 40% (quarenta por cento) de risco de vida e insalubridade." 3668 2
A Súmula nº 358/TST rege a matéria no sentido de que o salário profissional dos técnicos em radiologia é igual a dois salários mínimos. In verbis: RADIOLOGISTA. SALÁRIO PROFISSIONAL. LEI Nº 7.394, DE 29.10.1985 (mantida) - Res. 121/2003, DJ 19, 20 e 21.11.2003 O salário profissional dos técnicos em radiologia é igual a 2 (dois) salários mínimos e não a 4 (quatro). Inicialmente deve ser esclarecido que a expressão salário mínimo profissional da região referida pelo artigo 16 da Lei Nº 7.394/85 deve ser entendida como o salário mínimo nacionalmente unificado, previsto pelo artigo 7º, inciso IV, da CF, o que não se confunde com os pisos salariais regionais facultados pela Lei Complementar nº 103/2000, que regulamenta o piso salarial de que trata o inciso V do art. 7º da Constituição Federal. Ressalto ementa da decisão do Supremo Tribunal Federal nos autos da ADPF Nº 151, cuja arguente foi a: Confederação Nacional de Saúde, Hospitais e Estabelecimentos e Serviços CNS : ADPF 151 MC / DF - DISTRITO FEDERAL MEDIDA CAUTELAR NA ARGUIÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO FUNDAMENTAL Relator(a): Min. JOAQUIM BARBOSA Relator(a) p/ Acórdão: Min. GILMAR MENDES Julgamento: 02/02/2011 Órgão Julgador: Tribunal Pleno EMENTA- Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental. Direito do Trabalho. Art. 16 da Lei 7.394/1985. Piso salarial dos técnicos em radiologia. Adicional de insalubridade. Vinculação ao salário mínimo. Súmula Vinculante 4. Impossibilidade de fixação de piso salarial com base em múltiplos do salário mínimo. Precedentes: AI-AgR 357.477, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, Primeira Turma, DJ 14.10.2005; o AI-AgR 524.020, de minha relatoria, Segunda Turma, DJe 15.10.2010; e o AI-AgR 277.835, Rel. Min. Cezar Peluso, Segunda Turma, DJe 26.2.2010. 2. Ilegitimidade da norma. Nova base de cálculo. Impossibilidade de fixação pelo Poder Judiciário. Precedente: RE 565.714, Rel. Min. Cármen Lúcia, Tribunal Pleno, DJe 7.11.2008. Necessidade de manutenção dos critérios estabelecidos. O art. 16 da Lei 7.394/1985 deve ser declarado ilegítimo, por não recepção, mas os critérios estabelecidos pela referida lei devem continuar sendo aplicados, até que sobrevenha norma que fixe nova base de cálculo, seja lei federal, editada pelo Congresso Nacional, sejam convenções ou acordos coletivos de trabalho, ou, ainda, lei estadual, editada conforme delegação prevista na Lei Complementar 103/2000. 3. Congelamento da base de cálculo em questão, para que seja calculada de acordo com o valor de dois salários mínimos vigentes na data do trânsito em julgado desta decisão, de modo a desindexar o salário mínimo. Solução que, a um só tempo, repele do ordenamento jurídico lei incompatível com a Constituição atual, não deixe um vácuo legislativo que acabaria por eliminar direitos dos trabalhadores, mas 3668 3
também não esvazia o conteúdo da decisão proferida por este Supremo Tribunal Federal. 4. Medida cautelar deferida. (GRIFEI) Para início de análise convém mencionar que a decisão proferida como liminar em Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental é revestida de natureza cautelar, assemelhando-se à disciplina conferida à medida liminar em Ação Declaratória de Constitucionalidade, em conformidade com o artigo 21 da lei 9.868/99 e artigo 5º, parágrafo 3º da lei 9.882/99. Cabível, portanto, assim como na decisão definitiva de mérito, a determinação da eficácia no tempo, sopesando a segurança jurídica, as necessidades do Estado e o interesse social, de acordo com o Princípio da Ponderação de Interesses. Assim desde a promulgação da Lei n.º 7.394/85, o salário dos profissionais das técnicas radiológicas estava vinculado ao salário mínimo e era reajustado automaticamente. Todavia, o Supremo Tribunal Federal (STF) declarou, no julgamento da ADPF 151, que a base de cálculo era inconstitucional, ao passo que nenhum reajuste profissional poderia estar atrelado ao do salário mínimo. Contudo, no mesmo julgamento, ficou evidente que nenhum profissional poderia sofrer redução salarial. Na realidade, o Plenário do STF concedeu a liminar no julgamento da Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental - ADPF nº 151, mantendo o salário mínimo profissional dos Técnicos em Radiologia em 2 (dois) salários mínimos nacionais, levando em conta o valor do salário mínimo à época do transito em julgado da decisão (a partir de 2/2/2011), sendo seu ajuste desvinculado do salário mínimo, passando a ser reajustado anualmente, de acordo com os critérios gerais para ajuste salarial, incidindo sobre esses vencimentos 40% (quarenta por cento) de insalubridade. Por tal, em respeito aos Princípios Constitucionais da Proibição ao Retrocesso Social, Igualdade Salarial, Irredutibilidade e Intangibilidade do Salário, tendo sido superada a aparente inconstitucionalidade do art. 16 da Lei 7.394/85, consoante o Supremo Tribunal Federal ressaltou em sua decisão, a regra estabelecida pela decisão liminar da ADPF 151 valerá até o advento de nova lei federal, convenção ou acordo coletivo da categoria com seus empregadores, ou ainda, pela fixação em lei estadual, dentro dos critérios estabelecidos pela LC 103/2000. Ocorre que a legislação que institui pisos salariais no âmbito do Estado do Rio de Janeiro, Leis Estaduais nº 5267/2009 e 5950/2011, discriminam as categorias profissionais a que se aplicam e dentre elas não consta a categoria profissional do autor, como já esclarecido na decisão de primeiro grau. Por consequência, independentemente do teor da Circular Jurídico n 01/2011 da FEHERJ (Federação dos Estabelecimentos de Saúde do Estado do Rio de Janeiro) cabe respeitar o estabelecido pelo STF no julgamento da ADPF 151, considerando o restabelecimento da remuneração para a função de Técnico em Radiologia através do adimplemento de diferenças salariais do salário mínimo profissional da categoria referente a 2 salários mínimos regionais até a época do julgamento (2/2/2011), acrescido de 40% do adicional de insalubridade. 3668 4
Prevale o Princípio Protetor do Empregado. Dou Provimento parcial ao apelo para determinar o pagamento de diferenças salariais, com base em 2 salários salários mínimos regionais, até 2/2/2011, acrescido de 40%, com reflexo nas férias acrescidas do terço constitucional, aviso prévio, 13º salário, FGTS e multa de 40%. 2 HONORÁRIOS DE ADVOGADO Preenchidos os requisitos das Súmulas nº 219 e 329 do TST, haja vista a declaração de hipossuficiência de fl. 2 e a credencial sindical de fl. 7, devida a parcela. Dou provimento para condenar a ré ao pagamento de honorários advocatícios, na base de 15% sobre a condenação. Ante o exposto, conheço do recurso e, no mérito, dou-lhe provimento parcial para determinar o pagamento de diferenças salariais, com base 2 salários salários mínimos regionais, regionais até 2/2/2011, acrescido de 40%, com reflexo nas férias acrescidas do terço constitucional, aviso prévio, 13º salário, FGTS e multa de 40% e para condenar a ré ao pagamento de honorários advocatícios, na base de 15% sobre a condenação, nos termos da fundamentação supra. Valor provisório da condenação mantido em R$29.000,00 (vinte e nove mil reais). Custas de R$580,00 (quinhentos e oitenta reais) pela ré. A C O R D A M os Desembargadores da Décima Turma do Tribunal Regional do Trabalho da 1ª Região, por unanimidade, conhecer do recurso e, no mérito, dar-lhe provimento parcial para determinar o pagamento de diferenças salariais, com base 2 salários salários mínimos regionais, regionais até 2/2/2011, acrescido de 40%, com reflexo nas férias acrescidas do terço constitucional, aviso prévio, 13º salário, FGTS e multa de 40% e para condenar a ré ao pagamento de honorários advocatícios, na base de 15% sobre a condenação, nos termos do voto do Juiz Relator. Valor provisório da condenação mantido em R$29.000,00 (vinte e nove mil reais). Custas de R$580,00 (quinhentos e oitenta reais) pela ré. Rio de Janeiro, 02 de setembro de 2013. DESEMBARGADOR MARCELO ANTERO DE CARVALHO Relator 3668 5