Poesia 2ª fase Carlos Drummond de Andrade
O poeta mais importante da segunda fase da poesia modernista brasileira (1930-1945) é Carlos Drummond de Andrade. Alguns críticos consideram o escritor o maior poeta do século XX em língua portuguesa. Em 1928, o autor mineiro causou polêmica ao publicar na Revista de Antropofagia o poema No meio do caminho. Gauche, crítico social feroz, lírico, reflexivo, pessimista, investigador do fazer poético, Drummond trilhou muitos caminhos em sua vasta produção literária. Sua poesia caminhou de Itabira do Mato Dentro, sua cidade natal, localizada nas Minas Gerais, às ilhas Fidji, na Oceania.
Drummond (1902-1987) tem sua origem ligada a uma família de fazendeiros de Minas Gerais. Cedo, o poeta saiu de Itabira, mas sua poesia, em maior ou menor grau, sempre retomou as origens do escritor. Aproximou-se da literatura em 1916 quando se mudou para Belo Horizonte e conheceu o ensaísta e crítico literário Afonso Arinos e o político Gustavo Capanema. Ingressou, em 1918, no Colégio Nova Friburgo, no estado do Rio de Janeiro, de onde mais tarde foi expulso. De volta a Belo Horizonte, Drummond conheceu aqueles que seriam mais tarde importantes figuras do Modernismo brasileiro: os escritores e intelectuais Aníbal Machado, João Alphonsus, Emílio Moura e Pedro Navas.
Em 1924, Drummond travou contato com o escritor Oswald de Andrade, a pintora Tarsila do Amaral e com seu confidente por correspondência, o escritor Mário de Andrade. Em 1925, fundou A Revista, importante veículo modernista mineiro. Daí para frente, o escritor nunca mais parou de produzir, conciliando sua vida de funcionário público com sua extensa produção literária. Em 1934, o poeta transferiu-se para o Rio de Janeiro e, até 1945, ocupou o cargo de chefe de gabinete do Ministro da Educação e Saúde Gustavo Capanema. Paralelamente à carreira pública, Drummond dedicouse ao jornalismo, colaborando no Correio da Manhã.
Drummond: sujeito em descompasso (o gauche)
O primeiro livro do autor, Alguma poesia (1930), e mais tarde Brejo das almas (1934), revelam um eu lírico em descompasso com o mundo, um gauche (palavra francesa que significa esquerdo, diferente, desajeitado).
São constantes nas obras dessa primeira fase: reminiscências familiares do poeta; lembranças da cidade natal de Drummond, Itabira domato Dentro; poemas-piada; metalinguagem; ironias e humor; pessimismo; coloquialismo; desencanto com a existência;
inexperiência do sofrimento (nas palavras do próprio poeta); sensação de isolamento; reificação da sociedade burguesa; impossibilidade de comunicação.
Drummond: preocupações sociais
Com a publicação de Sentimento do mundo (1940), há uma mudança na obra do poeta e suas preocupações sociais tomam corpo. Em 1945, com a publicação de A rosa do povo, Drummond, de fato, coloca em segundo plano seu gauchismo inicial para abordar temas emergenciais da época: nazismo e fascismo; Segunda Guerra e ditadura de Getúlio Vargas; alienação das elites; comunismo; necessidade de união.
Nessa fase social do poeta, interessa a ele abordar o presente sem, entretanto, abandonar a discussão metalinguística tão comum em toda sua obra literária. Pertence ainda a essa fase a coletânea José (1942).
Drummond: metafísico
Em Claro enigma (1951), Fazendeiro do ar (1955) e Vida passada a limpo (1959), Drummond passa a enfocar em sua obra questões metafísicas como a morte, o tempo, o amor, utilizando em seus poemas recursos clássicos (sonetos e versos regulares). Nas palavras do professor e crítico literário Alcides Villaça, Drummond encontra-se, no contexto da Guerra Fria, esvaziado da utopia presente na fase social.
Drummond: experimentação
Muitas experimentações formais são feitas pelo poeta na obra Lição de coisas (1962). Alguns especialistas associam essa faceta de Drummond às propostas concretistas de 1950 e 1960.
Drummond: passado revivido
Nas obras publicadas nos décadas de 1970 e 1980, o poeta retoma suas reminiscências da infância e das experiências vividas em sua cidade natal, reinterpretando seu passado. Boitempo (1968), As impurezas do branco (1973), A paixão medida (1980), Corpo novos poemas (1984) são algumas das obras publicadas nessa fase.
Drummond: erotismo
Na publicação póstuma O amor natural (1992), Drummond apresenta uma visão erotizada do amor. Muitos dos poemas da coletânea foram compostos pelo autor antes mesmo da década de 1970. Em toda a obra de Drummond a temática erótica aparece de forma sutil, mas em O amor natural esse aspecto surge de maneira explícita e associado ao amor e ao místico.