Poder Judiciário da União TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO DISTRITO FEDERAL E DOS TERRITÓRIOS Órgão 6ª Turma Cível Processo N. APELAÇÃO 0724377-29.2017.8.07.0001 APELANTE(S) SEGURADORA LIDER DOS CONSORCIOS DO SEGURO DPVAT S.A. APELADO(S) SAMUEL VENANCIO DA SILVA Relator Desembargador ESDRAS NEVES Acórdão Nº 1096894 EMENTA CIVIL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO. SEGURO OBRIGATÓRIO DPVAT. DEBILIDADE PERMANENTE PARCIAL INCOMPLETA. LEI Nº 6.194/1974, COM ALTERAÇÕES DA LEI Nº 11.945/2009. PAGAMENTO PROPORCIONAL. Aplica-se ao caso a Lei nº 6.194/74, que dispõe sobre o Seguro Obrigatório de Danos Pessoais causados por veículos automotores de via terrestre, ou por sua carga, a pessoas transportadas ou não, pois o autor sofreu acidente automobilístico. Nos termos do artigo 3º, 1º, II, da Lei nº 6.194/74, a perda anatômica ou funcional do autor deve ser enquadrada em um dos segmentos constantes da tabela anexa ao referido normativo, acrescentada pela Lei nº 11.945/2009, para, em seguida, ser procedida à redução proporcional da indenização correspondente ao percentual devido em razão do grau da lesão. Havendo debilidade permanente parcial incompleta, o pagamento da indenização do seguro DPVAT deve ser proporcional à incapacidade, nos termos da Súmula nº 474, do Superior Tribunal de Justiça. ACÓRDÃO Acordam os Senhores Desembargadores do(a) 6ª Turma Cível do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios, ESDRAS NEVES - Relator, ALFEU MACHADO - 1º Vogal e CARLOS RODRIGUES - 2º Vogal, sob a Presidência do Senhor Desembargador ALFEU MACHADO, em proferir a seguinte decisão: CONHECIDO. DESPROVIDO. UNÂNIME., de acordo com a ata do julgamento e notas taquigráficas. Brasília (DF), 16 de Maio de 2018 Desembargador ESDRAS NEVES Relator
RELATÓRIO Cuida-se de recurso de APELAÇÃO CÍVEL interposto por SEGURADORA LÍDER DO CONSÓRCIO DO SEGURO DPVAT S.A. em face da sentença proferida pelo Juízo da Vigésima Primeira Vara Cível de Brasília, que, nos autos da ação de indenização, proposta por SAMUEL VENÂNCIO DA SILVA, julgou parcialmente procedente o pedido inicial, para condenar a requerida ao pagamento do valor de R$1.687,50, a título de indenização de seguro DPVAT, a ser acrescido de juros de mora, a partir da citação, e de correção monetária, desde o evento danoso. Em face da sucumbência recíproca, condenou as partes ao pagamento das custas processuais e honorários advocatícios, fixados em 10% sobre a diferença entre o valor da causa e o valor da condenação, repartidos na proporção de 50% para cada, observado o disposto no artigo 98, 3º, do Código de Processo Civil, por ser o autor beneficiário da gratuidade de justiça (ID 3774118). Em suas razões recursais (ID 3774120), a ré/apelante sustenta, em síntese, que a sentença deve ser reformada, ao fundamento de que não foi comprovada a invalidez permanente do autor, pois o expert consignou, na perícia médica realizada no curso da instrução processual, a possibilidade de recuperação, o que impede o pagamento da indenização pretendida. Cita o disposto no artigo 3º, da Lei nº 6.194/74 e requer a reforma da sentença, para que o pedido inicial seja julgado improcedente, por inexistência de respaldo legal para o pagamento da indenização do seguro DPVAT quando não há invalidez permanentemente incapacitante, embasada em perícia oficial. Pede, ainda, a expressa manifestação sobre o artigo 3º, da Lei nº 6.194/74, destacando o intuito de prequestionamento. Preparo efetuado (ID 3774121). Contrarrazões apresentadas (ID 3774125), pelo desprovimento do recurso. É relatório. VOTOS O Senhor Desembargador ESDRAS NEVES - Relator Conheço do recurso, porquanto estão presentes os pressupostos de admissibilidade. A ação de cobrança foi proposta por SAMUEL VENÂNCIO DA SILVA em desfavor de SEGURADORA LÍDER DO CONSÓRCIO DO SEGURO DPVAT S.A., objetivando o pagamento de indenização do seguro DPVAT, no valor de R$12.825,00, ao fundamento de que foi vítima de acidente de trânsito em 27/6/2016, que lhe causou lesão no punho direito, comprometendo a função da mão, importando em invalidez parcial, consubstanciada em perda da mobilidade de um dos punhos e perda anatômica e/ou funcional de uma das mãos. Afirma que requereu o pagamento de indenização pelo seguro DPVAT administrativamente, mas o pedido foi negado. Sem razão a recorrente. Do exame dos autos, verifica-se ser incontroverso que o autor sofreu acidente automobilístico em 27/6/2016, nos termos do boletim de ocorrência ID 3774085, de que lhe resultou pequena fratura avulsão de escafóide punho direito, conforme prontuário médico juntado aos autos (ID 3774086
pág. 2). Por determinação do Juízo de origem, foi designada audiência de conciliação (ID 3774089) e o autor foi submetido à Avaliação Médica pelo Centro Judiciário de Solução de Conflitos e Cidadania de Brasília CEJUSC (ID 3774112), em que se constatou que, em decorrência do acidente sofrido com veículo automotor, ele é portador de lesão permanente no punho direito. O médico perito destacou, ainda, que o autor apresenta dano parcial incompleto, com grau de incapacidade definitiva avaliado no percentual de 50%. Por outro lado, o Laudo de Exame de Corpo de Delito nº 13901/17, do Instituto de Medicina Legal (ID 3774102) concluiu que o autor é portador de debilidade leve permanente de punho direito. Com efeito, aplica-se ao presente caso a Lei nº 6.194/74, que dispõe sobre o Seguro Obrigatório de Danos Pessoais causados por veículos automotores de via terrestre, ou por sua carga, a pessoas transportadas ou não, com as alterações introduzidas pela Lei nº 11.945/2009. Em decorrência da lesão sofrida, o autor/apelado foi enquadrado no artigo 3º, 1º, inciso II, da Lei nº 6.194/74, para fins de percepção do seguro DPVAT, o qual dispõe que: Art. 3º Os danos pessoais cobertos pelo seguro estabelecido no art. 2º desta Lei compreendem as indenizações por morte, por invalidez permanente, total ou parcial, e por despesas de assistência médica e suplementares, nos valores e conforme as regras que se seguem, por pessoa vitimada: (...) I - R$ 13.500,00 (treze mil e quinhentos reais) - no caso de morte; II - até R$ 13.500,00 (treze mil e quinhentos reais) - no caso de invalidez permanente; e III - até R$ 2.700,00 (dois mil e setecentos reais) - como reembolso à vítima - no caso de despesas de assistência médica e suplementares devidamente comprovadas. 1º No caso da cobertura de que trata o inciso II do caput deste artigo, deverão ser enquadradas na tabela anexa a esta Lei as lesões diretamente decorrentes de acidente e que não sejam suscetíveis de amenização proporcionada por qualquer medida terapêutica, classificando-se a invalidez permanente como total ou parcial, subdividindo-se a invalidez permanente parcial em completa e incompleta, conforme a extensão das perdas anatômicas ou funcionais, observado o disposto abaixo: I - quando se tratar de invalidez permanente parcial completa, a perda anatômica ou funcional será diretamente enquadrada em um dos segmentos orgânicos ou corporais previstos na tabela anexa, correspondendo a indenização ao valor resultante da aplicação do percentual ali estabelecido ao valor máximo da cobertura; e II - quando se tratar de invalidez permanente parcial incompleta, será efetuado o enquadramento da perda anatômica ou funcional na forma prevista no inciso I deste parágrafo, procedendo-se, em seguida, à redução proporcional da indenização que corresponderá a 75% (setenta e cinco por cento) para as perdas de repercussão intensa, 50% (cinquenta por cento) para as de média repercussão, 25% (vinte e cinco por cento) para as de leve repercussão, adotando-se ainda o percentual de 10% (dez por cento), nos casos de sequelas residuais. A controvérsia cinge-se, portanto, à forma como foi apurado o valor a ser pago a título de Seguro Obrigatório DPVAT.
Como visto, o autor é portador de lesão permanente no punho direito, apresentando, nos termos do laudo do médico perito, dano parcial incompleto, com grau de incapacidade definitiva avaliado no percentual de 50% (ID 3774112). Assim, nos termos do inciso II, do 1º, do artigo 3º, da Lei nº 6.194/74, acima citado, a perda anatômica ou funcional do autor deve ser enquadrada em um dos segmentos constantes da tabela anexa ao referido normativo, acrescentada pela Lei nº 11.945/2009, e, em seguida, deverá ser observada a redução proporcional da indenização, no percentual devido. A referida tabela prevê percentual de perda de 100% para danos corporais totais com repercussão na íntegra do patrimônio físico, percentuais de perda de 70, 50, 25 e 10% para danos corporais segmentares parciais com repercussões em partes de membros superiores e inferiores e percentuais de perda de 50, 25 e 10% para danos corporais segmentares parciais com outras repercussões em órgãos e estruturas corporais. Conforme a mencionada tabela, a lesão do autor corresponde, portanto, à perda completa da mobilidade de um dos punhos, cujo percentual de perda é estipulado em 25%. Dessa forma, calcula-se 25% sobre o valor máximo de cobertura, que é de R$13.500,00, alcançando a quantia de R$3.375,00. Em seguida, deve ser promovida a redução proporcional desse valor para o percentual de 50% em razão do grau da lesão apresentada, nos termos do inciso II, do 1º, do artigo 3º, da Lei nº 6.194/74, pois o perito judicial estimou sua incapacidade definitiva como de média repercussão (ID 3774112). O valor da indenização do seguro DPVAT devido é, portanto, de R$1.687,50. Por oportuno, vale o destaque da Súmula 474 do Superior Tribunal de Justiça, com a seguinte redação: A indenização do seguro DPVAT, em caso de invalidez parcial do beneficiário, será paga de forma proporcional ao grau da invalidez. Ressalte-se, ainda, que o Superior Tribunal de Justiça, em julgamento submetido ao rito dos recursos repetitivos, assim decidiu: RECURSO ESPECIAL REPETITIVO. JULGAMENTO NOS MOLDES DO ART. 543-C DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL. DPVAT. SEGURO OBRIGATÓRIO. INVALIDEZ PARCIAL. INDENIZAÇÃO A SER FIXADA DE ACORDO COM A PROPORCIONALIDADE DA INVALIDEZ. SÚMULA N.º 474/STJ. 1. Para efeitos do art. 543-C do Código de Processo Civil: A indenização do seguro DPVAT, em caso de invalidez parcial permanente do beneficiário, será paga de forma proporcional ao grau da invalidez (Súmula n.º 474/STJ). 2. RECURSO ESPECIAL PROVIDO. (REsp 1246432/RS, Rel. Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 22/05/2013, DJe 27/05/2013) Sobre o tema, confiram-se os seguintes julgados desta Sexta Turma Cível: DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. SEGURO OBRIGATÓRIO (DPVAT). DEBILIDADE PERMANENTE PARCIAL INCOMPLETA. PERDA COMPLETA DA MOBILIDADE DO TORNOZELO. LESÃO DE MÉDIA REPERCUSSÃO. VALOR PROPORCIONAL À INVALIDEZ. INCIDÊNCIA DA LEI Nº 6.194/74. INDENIZAÇÃO. ATUALIZAÇÃO MONETÁRIA. TERMO A QUO. RECURSO ESPECIAL REPETITIVO. DATA DO EVENTO DANOSO. 1. O seguro DPVAT é regulamentado pela Lei 6.194/1974, e o artigo 5º da lei estabelece que o pagamento da indenização
será efetuado mediante simples prova do acidente e do dano decorrente, independentemente da existência de culpa, haja ou não resseguro, abolida qualquer franquia de responsabilidade do segurado. 2. Considerada a lesão permanente parcial incompleta, a indenização deve ser fixada em percentual sobre o percentual previsto para a perda total das funções do órgão ou do membro. Inteligência do art. 3º, 1º, II, da Lei 6.194 de1974. 3. O valor da indenização do Seguro Obrigatório DPVAT deve ser atualizado, como meio de recompor o valor da moeda, a partir do evento danoso, momento em que o direito subjetivo da vítima se originou e não a contar da data do requerimento administrativo conforme postula o apelante. 4. (...) Para os fins do art. 543-C do CPC: A incidência de atualização monetária nas indenizações por morte ou invalidez do seguro DPVAT, prevista no 7º do art. 5º da Lei n. 6194/74, redação dada pela Lei n. 11.482/2007, opera-se desde a data do evento danoso. 5. Aplicação da tese ao caso concreto para estabelecer como termo inicial da correção monetária a data do evento danoso. 6. Recurso especial provido". (Resp 1483620/SC, rel. Ministro Paulo de Tarso Sanseverino, segunda seção, DJE 02/06/2015). 5. Recurso conhecido e parcialmente provido. (Acórdão n.1073182, 07048335520178070001, Relator: CARLOS RODRIGUES 6ª Turma Cível, Data de Julgamento: 07/02/2018, Publicado no DJE: 16/02/2018) Seguro obrigatório (DPVAT). Valor da indenização. Invalidez permanente parcial incompleta. 1 - A L. 6.194/74, com as alterações trazidas pela L. 11.945/09, vigente à época do evento danoso (23.6.14), prevê a forma de cálculo da indenização em caso de invalidez decorrente de acidente automobilístico. 2 - Se a invalidez permanente for parcial incompleta enquadrar-se-á na perda anatômica ou funcional da invalidez parcial completa, procedendo-se, em seguida, à redução proporcional da indenização que corresponderá a: 70% para as perdas de repercussão intensa, 50% para as de média repercussão e 25% para a modalidade leve, adotando-se, ainda, o percentual de 10%, nos casos de sequelas residuais (art. 3º, 1º, II, L. 6.194/74). (...) (Acórdão n.999896, 20150110510868APC, Relator: JAIR SOARES 6ª TURMA CÍVEL, Data de Julgamento: 15/02/2017, Publicado no DJE: 07/03/2017. Pág.: 511/532) Registre-se que, apesar de o perito haver anotado, no item 4 do laudo, a expectativa de recuperação, certo é que não enquadrou sua incapacidade como temporária e não apresentou resposta afirmativa quanto ao item 5, referente à necessidade de realização de exame complementar. Portanto, tendo o autor sofrido lesão permanente parcial incompleta no punho direito, avaliada pelo médico perito no percentual de 50% (ID 3774112), correta a sentença que fixou a indenização em R$1.687,50, atualizados monetariamente, desde a data do acidente, e acrescidos de juros de mora desde a citação. Por fim, cumpre observar que, conforme previsto no artigo 85, 11, do novo Código de Processo Civil, deverão ser fixados, nesta fase processual, os honorários de sucumbência recursais, diversos daqueles fixados em primeiro grau de jurisdição, que com eles serão acumulados, devido ao trabalho adicional realizado em segundo grau de jurisdição, observando-se os limites estabelecidos nos 2º e 3º do mesmo dispositivo legal. Ante o exposto, conheço do recurso interposto pela ré e a ele NEGO PROVIMENTO. A sentença condenou as partes, em face da sucumbência recíproca, ao pagamento das custas processuais e honorários advocatícios, fixados em 10% sobre a diferença entre o valor da causa e o valor da condenação, repartidos na proporção de 50% para cada, observado o disposto no artigo 98, 3º, do Código de Processo Civil, por ser o autor beneficiário da gratuidade de justiça. Nos termos do artigo 85, 11, do CPC, majoro os honorários advocatícios devidos pela ré de 10 para 11% sobre a diferença entre o valor da causa e o valor da condenação (R$11.137,50). É como voto.
O Senhor Desembargador ALFEU MACHADO - 1º Vogal Com o relator O Senhor Desembargador CARLOS RODRIGUES - 2º Vogal Com o relator DECISÃO CONHECIDO. DESPROVIDO. UNÂNIME.