A HEGEMONIA DA LÍNGUA INGLESA NA CONSTITUIÇÃO DA IDENTIDADE DO ADOLESCENTE:



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Transcrição:

A HEGEMONIA DA LÍNGUA INGLESA NA CONSTITUIÇÃO DA IDENTIDADE DO ADOLESCENTE: fatores políticos, econômicos e culturais que fundamentam os discursos dos pais DOMINGOS CAXINGUE GONGA UNIVERSIDADE ESTADUAL DO NORTE FLUMINENSE DARCY RIBEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DO HOMEM PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM COGNIÇÃO E LINGUAGEM CAMPOS DOS GOYTACAZES/RJ JUNHO - 2012

DOMINGOS CAXINGUE GONGA A HEGEMONIA DA LÍNGUA INGLESA NA CONSTITUIÇÃO DA IDENTIDADE DO ADOLESCENTE: fatores políticos, econômicos e culturais que fundamentam os discursos dos pais Dissertação apresentada ao Programa de Pós- Graduação em Cognição e Linguagem do Centro de Ciências do Homem, da Universidade Estadual do Norte Fluminense, como parte das exigências para a obtenção do título de Mestre em Cognição e Linguagem. Orientador: Prof. Dr. Sérgio Arruda de Moura Coorientador: Profª. Drª. Eliana Crispim França Luquetti CAMPOS DOS GOYTACAZES/RJ JUNHO - 2012

FICHA CATALOGRÁFICA Gonga, Domingos Caxingue A hegemonia da língua inglesa na constituição da identidade de adolescentes em fase escolar: fatores políticos, econômicos e culturais que fundamentam os discursos dos pais/domingos Caxingue Gonga Campos dos Goytacazes, RJ, 2012. 130 f. Orientador: Sérgio Arruda de Moura Dissertação (Mestrado em Cognição e Linguagem) Universidade Estadual Fluminense, Centro de Ciência do Homem, 2012-06-22. Bibliografia: f. 130 1. Identidade. 2. Discurso. 3. Ideologia. 4. Língua Inglesa. 5. Hegemonia. 6. Cultural Global. 2. Universidade Estadual do Norte Fluminense. Centro de Ciências do Homem. CDD

DOMINGOS CAXINGUE GONGA A HEGEMONIA DA LÍNGUA INGLESA NA CONSTITUIÇÃO DA IDENTIDADE DO ADOLESCENTE: Fatores políticos, econômicos e culturais que fundamentam os discursos dos pais Dissertação apresentada ao Programa de Pós- Graduação em Cognição e Linguagem do Centro de Ciências do Homem, da Universidade Estadual do Norte Fluminense, como parte das exigências para a obtenção do título de Mestre em Cognição e Linguagem. APROVADA: 22 de junho de 2012. BANCA EXAMINADORA: Profª. Sílvia Lúcia dos Santos Barreto (Doutora em Comunicação) Instituto Federal Fluminense campus Campos dos Goytacazes/RJ Prof. Carlos Henrique Medeiros de Souza (Doutor em Comunicação e Mídia) Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro UENF Profª. Eliana Crispim França Luquetti (Doutora em Linguística Aplicada) Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro UENF (Coorientadora) Prof. Sérgio Arruda de Moura (Doutor em Literatura Comparada) Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro UENF (Orientador)

AGRADECIMENTOS Toda honra e toda glória seja dada a Ti Ó Deus. Não existe o acaso. Se consegui terminar o mestrado é porque a Sua graça se superabundou em mim, pois se assim não fosse, não teria conseguido. Mesmo em meio às adversidades da vida Tu sempre estiveste ao meu lado, motivando-me e ensinando-me a fórmula do próximo passo. Mesmo quando tudo parecia perdido. Ao orientador Sérgio Arruda de Moura, agradeço pela compreensão e apoio para que este trabalho se concretizasse. À CAPES, pelo investimento, e oportunidade que me permitiu chegar ao fim desta pesquisa. À minha eterna amiga Adriana (minha mãezona), ao seu marido Lidinei e ao seu filho Vítor, à Edda Maria, Carla Cardoso, Ingrid Ribeiro, Karine Castelano, Solange, Drª Lilia Sauge, Maria Cristina, Arlete Sendra, Analice, Beth Braith, Sílvia Lúcia dos Santos Bastos, Eliana Crispim França Luquetti, Dr. Carlos Henrique Medeiros de Souza e, aos médicos, Drª Lúcia Regina, Eliane Casarsa e ao Dr. Rafael Barreto. Meus sinceiros agradecimentos pela compreensão, comprometimento e incentivo. A todos os amigos que, de alguma forma, contribuíram para a constituição de valores em minha vida.

RESUMO O presente estudo teve como objetivo discutir a hegemonia da língua inglesa, em detrimento de outras línguas, no discurso dos pais de adolescentes cujos filhos escolheram fazer curso de inglês devido às exigências de mercado, à ascensão social e ao domínio cultural. Nesse sentido, buscamos, nesta pesquisa, abordar o domínio hegemônico e sem fronteiras da língua inglesa na constituição da identidade destes adolescentes em fase escolar, levando em consideração fatores políticos, econômicos e culturais, que configuram os discursos dos pais desses estudantes. Para a realização deste estudo, constituímos uma amostra de falas de pais e de estudantes da cidade Campos dos Goytacazes/RJ, de onze escolas/cursos de língua inglesa, totalizando vinte entrevistas, sendo quinze de pais e quinze de alunos. Além disso, preparamos amostras de anúncios e propagandas dos onze cursos selecionados. Utilizamos alguns teóricos da Análise do Discurso, da Sociologia, da Antropologia e outros especialistas da área temática desse estudo, como Gramsci (1975), Althusser (1976), Nowles (1999), Philipson (2001), Calvet (2002), Graddal (2006), Fairclough (2008) e Van Diijk et al. (2010).

ABSTRACT This study aims at discussing the hegemony of the English language at the expense of other languages, in speech of parents of teenagers, whose children have chosen to study English course, due to the demands of the market, rising social and cultural sphere. Accordingly, we seek, in this research, addressing the hegemonic dominance and without frontiers of English language in the formation of identity of adolescents in school phase, taking into account political, economic and cultural factors, which set the parental discourse of these students. To perform this study, we have a sample sound clips of parents and students of the city of Campos dos Goytacazes, eleven schools/english language courses, for a total of twenty interviews, being ten of parents and ten students. In addition, we have prepared some samples of announcements and advertisements of the eleven selected courses. We use some theorists of Discourse Analysis, Sociology, Anthropology, and other experts in the thematic area of study, such as: Gramsci (1975), Althusser (1976), Nowles (1999), Philipson (2001), Calvet (2002), Graddal (2006), Fairclough (2008), Van Dijk et al. (2010), among others.

SUMÁRIO CONSIDERAÇÕES INICIAIS...9 1 UM POUCO DE HISTÓRIA E CARACTERIZAÇÃO DO ENSINO DE LÍNGUA INGLESA...14 1.1 Breve história da língua inglesa...14 1.2 A solidificação da língua inglesa no mundo...29 1.3 A língua inglesa nos países emergentes...39 1.4 O ensino de língua inglesa no Brasil...45 1.5 Cursos livres de inglês...47 2 A CONSTITUIÇÃO DA ALTERIDADE NO DISCURSO DO SUJEITO...52 2.1 O desaparecimento do ethos e o aparecimento do outro: globalização o meio da constituição da identidade híbrida...53 2.2 As facetas da identidade...54 2.3 A ideologia da língua inglesa como gênese das ideias que fundamentam a encenação do adolescente...60 3 METODOLOGIA...65 4 ANÁLISE DOS DADOS...66 4.1 As propagandas: a encenação do sujeito...68 4.2 Os discursos dos pais...78 4.3 O discurso dos filhos...84 CONSIDERAÇÕES FINAIS...90 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...93 APÊNDICES...97 ANEXOS...111

9 CONSIDERAÇÕES INICIAIS Nos grandes e médios centros urbanos, há uma profusão de escolas que oferecem cursos de inglês, valendo-se das mais diferentes formas de apelo e convencimento de sua clientela potencial sobre os benefícios de aprendizado desta língua. Tendo isso em vista, buscamos, nesta pesquisa, abordar o domínio hegemônico e sem fronteiras da língua inglesa na constituição da identidade de adolescentes em fase escolar, ou seja, os fatores políticos, econômicos e culturais que fundamentam os discursos dos pais. Estes veem no aprendizado do idioma britânico, oportunidades profissionais e sociais que permitirão que os filhos conquistem um futuro de sucesso e realizações. Compreendemos o aprendizado de língua inglesa como um vasto campo de constituição de identidades, pautado na ideologia da necessidade da formação profissional. Analisando a revolução tecnológica no campo informacional, verificamos o estreitamento dos territórios. Imerso na aldeia global do ciberespaço, o mundo tornou-se menor. Nesse novo cenário, um idioma foi eleito para ser o principal código de acesso: a língua inglesa. Assim, a preocupação em aprender o idioma inglês foi ampliada e os pais, temerosos de que seus filhos fiquem à margem da nova sociedade que se desenha, veem nos cursos de idiomas uma possibilidade de prepara-los para o mercado de trabalho. Ressaltamos que a língua inglesa está presente em diversos setores da sociedade, como propagandas televisivas, impressas, outdoors, rótulos de produtos alimentícios, cosméticos, vestuário, entre outros. Assim, entende-se que a língua inglesa é um veículo de comunicação de grande valia e sem fronteiras, permeando todas as áreas dos saberes, estreitando os laços culturais e facilitando a comunicação entre cidadãos dos quatro cantos do mundo. Em um território cada vez mais dominado pelo idioma inglês, é importante que sejam discutidas as relações entre língua e poder, dominantes e dominados. Para as propostas de discussões, buscamos o entendimento do porquê de a língua inglesa ter se tornado internacionalmente dominante. Compreendemos que o aprendizado de língua inglesa é considerado de suma importância para os estudantes de modo geral, pois estes acreditam que com a aquisição de conhecimento ascenderão sociopolítico-economicamente. Assim, podemos verificar que essa concepção contribui também para a constituição da identidade desses jovens.

10 Problema Fatores políticos, sociais, culturais e econômicos formam uma resistente rede de discurso que se estabelece nos setores da vida pública e privada. Esse discurso, que referenda cotidianamente suas práticas, privilegia o inglês como língua de vasto reconhecimento utilitário e social. Nessa perspectiva, cabe questionar se as práticas cotidianas de discurso publicitário (os folhetos das propagandas dos cursos de inglês), aliadas ao discurso dos pais e da escola, referendam esse status de que goza a língua inglesa. Hipótese Acreditamos que os fatores políticos, econômicos e culturais fundamentam o discurso dos pais, que, por sua vez, incentivam os filhos a estudarem a língua inglesa. Esta prática demonstra e caracteriza a hegemonia deste idioma em diversas culturas no mundo. Além disso, consideramos que esta hegemonia possui um papel marcante na construção da identidade do adolescente nos cursos onde estudam a língua, não somente em Campos dos Goytacazes/RJ, cidade onde desenvolvemos este estudo, mas em boa parte da extremidade global. Objetivos Esta pesquisa tem como objetivo geral investigar de que maneira as práticas cotidianas de discurso publicitário (os folhetos das propagandas dos cursos de inglês), aliadas ao discurso dos pais e da escola, referendam esse status de que goza a língua inglesa. Especificamente, pretendemos: a) Identificar os fatores políticos, econômicos e culturais, em suas diversas vertentes, que fundamentam o discurso de pais cujos filhos estudam a língua inglesa, reforçando a alteridade nos sujeitos em questão; b) Definir como se dá a influência da hegemonia da língua inglesa no discurso dos pais; c) Analisar o discurso, o sujeito, a ideologia, a constituição do discurso, os frames, os scripts, o saber enciclopédico que elaboram o discurso dos pais, da escola, da educação, quando se tratam de adolescentes; e

11 d) Analisar a ideologia da língua inglesa presente em propagandas publicitárias de onze cursos de idiomas, cujas funções são assegurar e engodar a atenção dos pais na conquista do sucesso para os seus filhos. Justificativa A proposta deste estudo é promover uma discussão sobre a hegemonia da língua inglesa em detrimento de outras línguas. Vários foram os fatores que motivaram o desenvolvimento desta dissertação, dentre eles, podemos relatar a experiência do mestrando com a língua inglesa. Ele desempenha a função de professor deste idioma e busca sempre estratégias e abordagens de se ensinar a língua, enfatizando a cultura e a sua importância na sociedade atual. Outro fator motivador foi as inúmeras leituras realizadas, como por exemplo, de Philipson (1992), que considera a difusão da cultura inglesa fora da Inglaterra como um problema de reconstrução pós-guerra. Essa temática fundamentou-se com base na mcdonalização tipografada na sociedade brasileira; uma organização fundada na década de 1930 para difundir o inglês e se opor à difusão das línguas de governos fascistas, criando, assim, um esquema de formação de profissão mundial para professores de inglês. Engendrando-se no início de 1950, desde então, vem se difundindo nos quatro cantos do mundo e como principal aliado dos norte-americanos, investindo nos países de Terceiro Mundo para expandir o que hoje chamamos de second language (ou segunda língua). Assim sendo, ter um diploma de proficiência internacional em língua inglesa seria como ter um status supranacional. Segundo Philipson (1992), o imperialismo linguístico do inglês é um domínio mantido pelo estabelecimento e pela reconstituição contínua das desigualdades estruturais e culturais entre o inglês e outras línguas. Tsuda (1994), por sua vez, representa cuidadosamente as muitas das dimensões da atual política linguística americana, fazendo paralelo a dois paradigmas: Paradigma 1: difusão do inglês Difusão americana que leva em consideração o capitalismo, a ciência e a tecnologia, a modernização, o monolinguismo, a globalização e a internacionalização ideológica, a transnacionalização, a americanização, a homogeneização da cultura mundial, o imperialismo linguístico cultural e midiático; e

12 Paradigma 2: ecologia das línguas Considerando o ponto de vista que diz respeito aos direitos humanos, igualdade na comunicação, multilinguismo, preservação da língua e culturas, proteção da soberania nacional, incentivo ao aprendizado de línguas estrangeiras. Outro aspecto motivador para a realização desta pesquisa foi a relação do pósgraduando, de origem angolana, com a língua inglesa na sua infância. Ele, desde sua tenra idade, sempre ouvia falar da língua inglesa e de sua importância para a ascensão social. Muitas vezes, o autor e os seus amigos se esforçavam para aprendê-la, memorizando frases prontas, principalmente de músicas e trechos de filmes na expectativa de aprendê-la. Desse modo, ele buscava, cada vez mais, conhecer esse idioma a fim de mostrar que podia assimilar e possuir domínio eficiente do mesmo. Por vezes, fingia que cantava em inglês para impressionar as garotas e os outros, promovendo uma sensação de engrandecimento e sentimento de ser diferente de todos. Então, cresceu almejando ser parecido com os jovens afro-americanos, porque, sendo igual a estes, constituiria um futuro promissor para sua vida. Aos seus quinze anos, acreditava que lhe faltavam apenas três anos para começar a trabalhar e, consequentemente, gozar de seu sonho, uma vez que tivesse aprendido a língua inglesa. Devido aos domínios econômicos, políticos, linguísticos e culturais americanos, quase todo adolescente angolano, na década de 1990, aspirava a viver nos EUA e aprender a língua inglesa. Além de sua política cosmopolita, percebe-se que a década de 1990 foi o auge da música pop. A música fazia parte da vida do adolescente angolano e, muitas vezes, esta lhe servia de aporte para os grandes dilemas da vida rotineira. Ícones como Michael Jackson, Whitney Houston, Madonna, Mariah Carey, entre outros, levavam milhares de jovens angolanos a se recrearem nas diferentes formas de perceber a vida e, principalmente, no meio musical. Com essa convulsão meteórica da música pop e das grandes inovações de Michael Jackson, por exemplo, todos os adolescentes angolanos queriam ser iguais na capacidade de dançar, cantar, falar inglês e se vestir. Isso porque as melhores músicas eram as americanas e a língua inglesa se encontrava no boom de sua expansão em todo o planeta. Já na década de 1990, a cultura americana apresentava-se na mente do jovem angolano como a única e mais eficaz. Na realidade, muitos destes jovens não tinham pais e nem instrução escolar, viviam à procura de transformarem a incerteza em certeza, da vida que levavam.

13 Conforme o autor, naquela época, o seu país ainda encontrava-se no auge da Guerra Fria. Como resultado, muitos adolescentes eram criados sem pais e, alguns, sem família nenhuma. Assim, muitos deles eram expostos a esses conjuntos de ideologias, apresentados por meio da cultura musical. Ao mesmo tempo em que a música lhes servia de alívio do sofrimento trazido pela Guerra, esta lhes trazia, também, uma sensação agradável ao invés da dor da ausência de cultura. Tudo isso porque, com a Guerra, muitos dos jovens procuravam um lugar seguro, mesmo sem saber aonde ir, ou sem ter amigos ou familiares nos países europeus ou americanos, buscando estudar a língua inglesa. Somente hoje, aos seus trinta anos, o pós-graduando foi capaz de decifrar o que sempre esteve por detrás deste grande fenômeno chamado língua inglesa, quais são os aportes que fazem com que esta transcenda as barreiras do tempo. Ela se encontra totalmente estruturada e com aliados muito mais fortes, como a tecnologia, que trouxe consigo as novas tecnologias da comunicação. Estas, por sua vez, transformaram o pensar e o calcular do homem. Mesmo que algumas línguas tenham se reerguido, a língua inglesa sempre é apresentada como alternativa para as melhores ocasiões, assim como no mundo acadêmico quase em todas as áreas em que os melhores artigos são aqueles escritos em inglês. Por essa razão, vemos que a língua inglesa é simplesmente sem fronteira, porque, mesmo em países europeus como Barcelona cujas raízes de todas as línguas são estritamente oriundas do latim, os grandes congressos são apresentados na língua inglesa. Diante desses apontamentos, desenvolvemos esta dissertação em três partes, a saber: caracterização da Língua Inglesa no Mundo, A constituição da Alteridade no Discurso do Sujeito e Análise de Dados. No primeiro, procuramos caracterizar a língua inglesa, assim como seu ensino e suas projeções na sociedade. Já na segunda parte, realizamos uma explicitação dos pressupostos teóricos a serem utilizados nessa abordagem. No terceiro capítulo, propomos uma análise das amostras constituídas a fim de evidenciar o nosso objeto de estudo.

14 1 UM POUCO DE HISTÓRIA E CARACTERIZAÇÃO DO ENSINO DE LÍNGUA INGLESA Neste capítulo, buscamos abordar a história da língua inglesa, bem como sua decadência, ascensão e difusão global. Desse modo, procuramos também ressaltar a importância desta língua no âmbito da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), que é evidenciada na integração de Códigos e Linguagens e Tecnologias como áreas indissociáveis e necessárias ao desenvolvimento do educando. Assim, os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) apresentam de que forma devem ser abordadas no processo de ensino-aprendizagem das mesmas na escola e os cursos livres de inglês buscam esses princípios em suas metodologias pedagógicas. Para isso, trabalhamos principalmente com as bases teóricas de Knowles (1999), Philipson (2001), Graddol (2006) e Harmer (2008), que estudaram a respeito do processo English language teaching (ELT). 1.1 Breve história da língua inglesa Verificamos que Graddol (2006), em seu estudo intitulado English Next, argumenta que a história da língua inglesa é compreendida em três períodos distintos. Porém, cada período é composto de novos traços, novas tendências, novas ideologias e, consequentemente, de novas concepções linguísticas. Assim, de acordo com o autor, a estrutura da língua inglesa nos chama atenção para três determinados eventos que mudaram sua história. Segundo Knowles (1999), o primeiro deles foi curto, após a Conquista normanda, e é conhecido como inglês antigo. O período da dominação francesa foi o segundo, chamado de inglês médio, e, finalmente, o momento da introdução da impressão, quando a língua torna-se reconhecidamente semelhante à língua inglesa moderna. Em especial, a invasão Normanda, que anunciou a rápida frenchification 1 da língua inglesa e, mais tarde, a constelação de evoluções políticas, religiosas e econômicas que circundam o surgimento da Grã-Bretanha como um novo e moderno Estado-nação. Segundo Graddol (2006), há, no entanto, um risco se simplesmentente acrescentarmos um novo período histórico e constituirmos a língua inglesa como a nova língua global sem considerarmos as mudanças ocorridas no século XIX igualmente como ensinado em todos 1 Franchification é designador aplicado a uma série de políticas de assimilação étnica implementada pelas autoridades francesas na Revolução Francesa para hoje em dia. O ato de se tornar francês em aparência ou comportamento, entre outros.

15 os principais livros. De acordo com o autor, alguns arqueólogos e historiadores ainda argumentam que a compreensão da vida medieval no mundo contemporâneo foi deturpada pelas lentes do século XIX. Consequentemente, muitos arqueólogos e historiadores buscam uma reavaliação do estudo desta. Assim, percebemos que a tradicional história da língua inglesa no mundo contemporâneo é construída como uma grande narrativa. Na verdade, a história da língua inglesa nos fornece um grande mito sobre sua origem nacional, porque, muitas vezes, é apresentada como um conto popular de trapos à riqueza e que emerge de origens humildes e obscuras no tempo antigo. Isso ocorre por se tratar de uma língua literária, como a fundação de uma nova consciência política de anglo-saxão (prenunciando o papel do inglês no estabelecimento de uma identidade nacional futura). Ainda segundo Graddol (2006), na história das grandes narrativas da língua inglesa, o francês sempre se posicionou como o vilão com quem a língua inglesa batalhava e, eventualmente, triunfava. Dessa forma, comprendemos que, com a invasão Normanda, a integridade cultural e linguística da língua inglesa é totalmente destruída, não pela Relexification 2 do francês, mas devido a todos os seus negócios de recriação como uma língua literária e identidade nacional. Assim, conforme o autor, a nova era da língua inglesa toma forma no século XVI e, de igual modo, é consolidado o triunfo final deste idioma no mundo. Com esse triunfo, a língua inglesa supera o seu arquivilão histórico e reemerge como uma língua nacional completa, com novas literaturas provindas de grandes escritores dramaturgos como Dryden e Shakespeare e, já no século XVII, nas escritas científicas de Isaac Newton e seus contemporâneos das Sociedades Reais. Logo, no século seguinte, a língua inglesa aparece com aparatos de regulamentação provindos do primeiro dicionário compilado por Samuel Johnson. Por fim, no século XIX, acontece a compilação do maior monumento histórico, o chamado Oxford Dictionary. Segundo Graddol (2006), considerando as perspectivas europeias, a história da humanidade vivenciou três grandes eventos: o prémodernismo, o modernismo e o pós-modernismo. No entanto, percebemos que cada período tinha aspectos diferentes em relação à organização econômica e social, às crenças, às ideias e à forma de conceber o mundo. Com isso, o marco da modernidade referente a cada um dos períodos se espalhou em toda esfera terrestre, podendo seus desenvolvimentos serem descritos pelos séculos. 2 Relexification é um termo na linguística usado para descrever o mecanismo de mudança de idioma pelo qual este substitui muito ou todo seu léxico, incluindo o vocabulário básico, com o de outro idioma, sem mudança drástica a sua gramática. Ele é principalmente usado para descrever idiomas mistos, crioulos e pidgins. Relexification não é sinônimo de contração lexical, que descreve a situação onde uma língua meramente complementa seu vocabulário básico com palavras de outro idioma.

16 Consequentemente, com o aparecimento do capitalismo, a expansão do colonialismo, o protestantismo e o não conformismo no Nordeste Europeu, as guerras territoriais, o iluminismo, a Revolução Industrial e a era urbana no século XIX, a língua inglesa alcança o estágio de uma língua moderna. Ou seja, uma língua codificada, padronizada, simbólica e que contribui para a unificação da identidade. O surgimento da língua inglesa como língua moderna traz também a concepção de modernidade de novos falantes e de uma nova língua estrangeira. Por essa razão, asserveramos que os valores que permeiam a convencional história da língua inglesa são oriundos dos relatos do século XIX, incluindo os conceitos vitorianos de modernidade, e que tinha como discurso progresso e crescimento, bem como em relação a fatores relevantes para a construção da moderna identidade do Estado-Nação. No entanto, compreendemos que a modernidade linguística não era apenas uma questão de momentos nacionais para a linguagem. Com o surgimento do dicionário Oxford, a língua inglesa se tornaria um meio de suprir a necessidade do fardo que existia sobre os ombros dos falantes da língua inglesa que consideravam o idioma como uma força civilizada ao mais longíquo do império. Nessa perspectiva, surgiu um novo capítulo chamado de Inglês Global reflexo da visão modernista do século XIX, que contribui para a propagação da língua inglesa. Com isso, o idioma coopera para a transformação do mundo, sendo, também, transformado por ele. Entendemos que muitas das tendências apresentam mudanças rápidas e extraordinárias no mundo contemporâneo. Estas podem ser compreendidas como políticas antigas, oriundas da modernização que foi varrida por um novo movimento, igualmente poderoso, com suas estruturas, atitudes e a necessidade de modernidade. Estas resultam da Globalização, adjacente às novas tecnologias e, em especial, àquelas relacionadas às novas técnicas de comunicação e mudanças na forma demográfica do mundo. Consequentemente, no século XIX, ocorre o boom da comunicação, que transformou a forma de pensar e calcular do homem. Não obstante, todos os estudantes passaram a ser informados sobre os impactos e benefícios dessas tecnologias com o telégrafo eletrônico. Assim, com a grande procura, muitos já previam o advento do pós-modernismo que representaria a continuidade das novas ideias de inovações e novas tendências concomitantes na vida social. O aparecimento deste novo período é descrito como um novo padrão de mudanças nas ciências, assim, também contribuiriam, uma vez e para sempre, para o avanço das informações e para a constituição da língua inglesa como língua global. Assim, com o

17 aparecimento dessa nova era chamada de pós-modernidade, percebemos que o mundo mudou e nunca mais foi ou será o mesmo. Nos dias atuais, vemos um grande número de pessoas aprendendo inglês ao redor do mundo. Portanto, nota-se que a língua inglesa não é mais aprendida como língua moderna estrangeira, levando em consideração os fatores de poder hegemônicos dos falantes nativos, mas sim como a nova língua das ciências, das tecnologias e da globalização; logo, como a nova língua global. Percebemos, então, que a globalização adjacente às novas tecnologias trouxe mudanças nos setores políticos, econômicos, culturais e linguísticos, transformando o modo de pensar, calcular, bem como de se comunicar socialmente. E, por essa razão, compreendemos que o aprendizado da língua inglesa nos países considerados emergentes tornou-se sinônimo de modernidade e status para aqueles que detêm o domínio desta língua. Além disso, notamos que o sucesso linguístico da língua inglesa é descrito como o resultado da aspiração de grupos de estudiosos que ansiavam ter esse idioma como a língua de estudos, escritas e que, também, almejavam tirar o domínio da aristocracia para a classe média. Já Knowles (1999), em seu livro intitulado The cultural history of the english language, afirma que, desde o início do século V, uma língua semelhante ao inglês moderno já se encontrava em uso. Isto é, antes da retirada das legiões romanas na Grã-Bretanha, na costa leste da Inglaterra, já se encontrava invadida e sitiada pelos invasores saxões, do outro lado do Mar do Norte. Portanto, ao longo do século seguinte, os recém-chegados já estavam instalados definitivamente e bem alojados. De acordo com o autor supracitado, Bede, um monge de Jarrow, escrevendo no final do século VIII, declara que estes grupos pertenciam a três tribos: anglos, saxões e jutos. Hoje, essas pessoas são geralmente referidas como Anglo- Saxões, mas sua língua ainda é chamada de inglês. Esse povo conquistou a totalidade do que é hoje chamada de Inglaterra, e não obstante, a deslegitimação da língua celta que até então era falada pela maioria da população, a legitimação da língua inglesa como foi pelos Anglos-Saxões aos celtas. Os falantes da língua inglesa eram submetidos a novas incursões por meio do Mar do Norte, mas, desta vez, por dinamarqueses. Ainda segundo Knowles (1999), as primeiras incursões feitas por estes foram datadas em 797, e, por conseguinte, os dinamarqueses conquistaram uma grande parte do norte e leste da Inglaterra a partir da linha que ligava Chester a Thames. Não obstante, no tempo do rei Alfred, só a terra Sul e oeste desta linha permaneceram no domínio Anglo-saxão. Portanto, a invasão dinamarquesa e, subsequentemente, a instalação dos dinamarqueses,

18 trazem espantosamente grandes influências na língua inglesa e, com isso, muitas palavras são tomadas de empréstimo, especialmente, nos dialetos do norte. De igual modo, também ocorre a invasão normanda e, logo após, a conquista da Inglaterra, em 1066. Assim, a língua francesa torna-se a língua na discursividade da Aristocracia na Inglaterra, enquanto o latim é adotado como a principal língua da escrita. Entretanto, a língua inglesa continuava sendo falada por uma pequena camada da sociedade. Com isso, os escritos tradicionais desta eventualmente entraram em colapso, e poucos registros escritos da língua inglesa sobreviveram ao longo de 200 anos. Todavia, a língua francesa continuou em uso por 300 anos, até que esta foi gradualmente substituída pela língua inglesa, já em meados do século XIV. Assim, a nova língua inglesa que emerge desse processo é fortemente influenciada pela língua francesa, aderindo a uma grande quantia de vocabulários franceses. A influência da língua francesa poderia ser vista no discurso de Sir Geoffrey Chaucer, um poeta inglês e autor de uma das maiores obras da literatura inglesa, denominada The Canterbury Tales. Como consequência das diversas mundanças ocorridas em quase todos os setores, William Caxton introduz a impressão na Inglaterra. Isto é, já na década de 1470, os textos escritos tornam-se muito mais amplamente disponíveis do que antes. E, assim, a impressão torna-se o catalisador para as grandes convulsões do século XVI, que estavam ligadas nas várias atitudes do período Renascentista e da reforma protestante. De acordo com Knowles (1999), foi aproximadamente neste momento que os estudiosos começaram a escrever em inglês, ao invés do latim. Como resultado destas mudanças concomitantes em quase todos os setores, muitas palavras do latim foram tomadas por empréstimo pela língua inglesa. Não obstante, com todas estas mundanças também ocorre, no final do século XVI, o florescimento da Literatura inglesa, juntamente com a era Shakespeareana (1564-1616). Por conseguinte, ocorre a publicação da versão autorizada da Bíblia inglesa, em 1611. Entretanto, segundo Knowles (1999), o novo e moderno padrão da língua inglesa já podia ser rastreado a partir da era de Chaucer, pois ainda era muito pouco variável na ortografia, no uso das palavras e nos detalhes da estrutura gramátical. Após a restauração de Carlos II, em 1660, houve um grande interesse na definição da língua e, em 1712, Jonathan Swift propôs a configuração de uma academia para que, assim, pudesse ocorrer a definição da estrutura da língua inglesa. Logo, a responsabilidade de padronização desta língua foi entregue nas mãos dos estudiosos, que tinham a finalidade de decidir sobre quais vocabulários seriam ou não inclusos no novo inglês padrão.

19 Após o trabalho dos estudiosos surge, então, o Dicionário de Johnson de 1755, que contribui para padronizar as grafias e corrigir os significados das palavras. Com a padronização, diversas gramáticas foram produzidas, entre as mais influentes sendo a gramática de Lowth, de 1762. Portanto, desde 1760, houve também o interesse crescente para a definição de uma norma de pronúncia da língua inglesa, o que resultou na tradição de um dicionário de pronunciação, sendo o dicionário de Walker, de 1791, o mais influente. Além disso, Daniel Jones recebeu a pronúncia, adaptada pela BBC (British Broadcasting Corporation; em português, Corporação Britânica de Radiodifusão) na década de 1920 como a pronúncia padrão das transmissões. É necessário ressaltar que, a partir dessa estrutura de tópicos, torna-se claro que a história da língua inglesa foi definida de várias maneiras e por mudanças sociais. Embora estas tenham durado 1500 anos, a história da língua inglesa foi submetida a partir do padrão de mudança por pequenas escalas contínuas e interrompida pelos grandes eventos que trouxeram mudanças drásticas e súbitas a ela. Desse modo, são estas descontinuidades que nos permitem dividir a história da língua inglesa em convenientes períodos, que mudaram sua história, como já mencionado. É importante destacar que a conquista dos invasores estrangeiros é decisivamente seguida pela introdução das suas línguas, podendo assumir várias formas e funções, como no caso dos anglo-saxões, que tomaram posse da língua, ou dos dinamarqueses e normandos, que desistiram desse idioma. Portanto, no caso de várias línguas em uso ao mesmo tempo, elas podem ter diferentes funções. Após a conquista normanda, por exemplo, o inglês e o francês foram usados como vernáculos e, o latim, usado como língua de registro. Todavia, quando um idioma é cedido, seus usuários podem transferir alguns dos seus padrões para a nova língua. Dessa maneira, segundo Graddol (1999), a influência estrangeira atingiu seu ápice quando os dinamarqueses adotaram a língua anglo-saxônica e os burocratas começaram a usar o inglês no lugar do francês, e, além disso, quando os estudiosos começaram a escrever em inglês ao invés do latim. Logo, o processo de adoção de características de outro idioma é conhecido como empréstimo, sendo os vocábulos os itens mais prontamente utilizados para esse fim. Por isso, a língua inglesa contém milhares de vocábulos emprestadas do dinamarquês, do francês e do latim. Portanto, como resultado do contato do mercantilismo, do capitalismo, da expansão imperial e do processo da difusão da língua inglesa globalização adjacente ao boom tecnológico, o idioma toma como empréstimo vocábulos de todo o mundo. Assim, ao consideramos a origem da língua inglesa, o contato também deve ser levado em consideração.

20 Os vocabulários e as expressões da língua inglesa vêm de uma ampla gama de lugares, principalmente do latim, francês e germânico, mas também do hindi idioma húngaro e de nativos americanos e australianos. Por esse motivo, a pronúncia da língua inglesa é, em grande parte, anglo-saxônica, mas também dinamarquesa e francesa. A gramática da língua inglesa, por sua vez, é basicamente germânica, sendo influenciada pelo francês e latim (KNOWLES, 1999). 1.1.1 O latim e o inglês Os ecos das línguas celtas, apesar de terem repercurtido por toda a Europa, só ressoam hoje nas margens do Atlântico. Entretanto, segundo Walter (1997), nada permitia supor um destino excepcional para a língua daquele pequeno povo de agricultores estabelecidos nos povoados que, em meados do século VIII a.c., constituíram apenas um modesto lugar de passagem no coração do Lácio, no pantanoso vale do Tibre. Um destino cheio de contradições, pois, na forma euridita e escrita, o latim iria se tornar por vários séculos a língua da cultura ocidental. Esta era uma língua fixada para sempre na forma que tinha no tempo de Cícero e, portanto, quase uma língua morta. Já em sua forma familiar, e no início apenas oral, essa língua evoluiu e diversificou-se, permitindo o nascimento da grande família das línguas românicas: o italiano, o espanhol, o português, o francês, o romeno, mas também o catalão, o provincial, o languedociano, o romanche, o corso e ainda valão, o veneziano, o siciliano, entre outros. Ainda segundo Walter (1997), os historiadores concordam em remontar a fundação de Roma a - 753, data em que, no entanto, a situação da cidade parecia bem crítica, cercada entre as duas grandes potências que dominavam então a península italiana: de um lado a brilhante civilização etrusca e, de outro lado, no sul do país, a não menos prestigiosa colonização grega. Confrotado com essa situação geografica de desconfortável entre duas grandes potências que mantinham intensas relações comerciais. Roma via-se condenada a desaparecer ou desenvolver-se. Diante disso, no lugar em que o Tibre oferecia possibilidade de uma passagem, Roma finalmente conseguiu dominar seus incômodos vizinhos.