TEXTO PARA DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA 19 BRASIL 2014: DESAFIOS E OPORTUNIDADES Daniela Gorayeb Beatriz Bertasso Rodrigo Sabbatini Thatiana Marjorie Lazzaretti Darci Pereira Corsi Campinas, janeiro de 2019 1
Ficha Catalográfica Elaborada pela Biblioteca da Facamp B736 Brasil 2014: desafios e oportunidades / Daniela Gorayeb [et al.]. Campinas: [s.n.], 2017. 9 p. Texto para Divulgação Científica n. 19 Faculdades de Campinas. 1. Brasil. 2. Economia brasileira. I. Bertasso, Beatriz. II. Sabbatini, Rodrigo. III. Lazzaretti, Thatiana Marjorie. IV. Corsi, Darcy Pereira. V. Faculdades de Campinas. VI. Título. CDD 330.981 2
BRASIL 2014: DESAFIOS E OPORTUNIDADES Daniela Gorayeb Beatriz Bertasso Rodrigo Sabbatini Thatiana Marjorie Lazzaretti Darci Pereira Corsi Vamos começar descrevendo as características mais gerais da economia do Brasil, vamos situa-la no mundo. Podemos começar falando sobre o tamanho da economia. Avaliada em termos do PIB, isto é, do total de bens e serviços produzidos anualmente, a economia brasileira é hoje a sétima do mundo. Em dólares de hoje, o valor de todos os bens e serviços produzidos no Brasil chegam a 3 trilhões. 18 16 14 12 10 8 6 4 2 PIB (US$ tri) 17 16 4 3 EUA China Alemanha Brasil Fonte: Banco Mundial. Dados calculados com base na Paridade do Poder de Compra. É verdade, mas em termos de renda per capita, ou seja, de renda por habitante, o Brasil está mal situado no ranking dos países. Em termos da 3
renda per capita, o Brasil ocupa a 65ª posição no mundo com 15.000 dólares por habitante. A distribuição de renda também é muito ruim, apesar das melhorias observadas nos últimos anos. $65.000 $55.000 $45.000 PIB Per Capita, Países Selecionados, 2013 (US$) 65.000 53.000 43.000 $35.000 $25.000 $15.000 21.000 15.000 $5.000 Noruega EUA Alemanha Chile Brasil Fonte: Banco Mundial. Dados calculados com base na Paridade do Poder de Compra. Vamos falar agora sobre o Brasil e a globalização. Você acha que o Brasil melhorou nos últimos anos seu padrão de integração à economia mundial? Eu diria que não muito. A participação do Brasil nas exportações globais praticamente não evoluiu nos últimos anos. As exportações cresceram mas não conseguiram acompanhar o ritmo de crescimento das exportações globais. Cresceram pouco acima da média mundial e muito abaixo, por exemplo das exportações da China. 4
Brasil e China: Participação no comercio exterior mundial, 2010-2013 (em %) 14,0 China Brasil 12,0 10,0 11,8 8,0 6,0 4,0 2,0 0,0 8,7 3,9 1,1 0,9 1,3 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 Fonte: OMC Sim, mas é importante lembrar que, mesmo assim, o Brasil reforçou sua condição de liderança na exportação de vários produtos, como minério de ferro, açúcar, soja, carnes, café, entre outros. E este sucesso exportador em commodities agrícolas e minerais se deu não apenas vendendo para a China, mas também para outras regiões. O Brasil tem a seu favor a condição de global trader, isto é, manter relações comerciais com todas as áreas do planeta. Produto Participação do Brasil nas Exportações Mundiais Ranking Brasil nas Exportações Mundiais Soja 40% 1º Açúcar 38% 1º Carne de Frango 27% 1º Minério de Ferro 23% 2º Carne Bovina 21% 1º Café 16% 1º Celulose 11% 3º Fonte: OMC 5
Mas muita gente está preocupada com a especialização do Brasil na exportação de commodities agrícolas e minerais e, principalmente, com a enxurrada de produtos industriais chineses que provoca muitos danos à indústria brasileira, não é verdade? Sim. A indústria brasileira vem sofrendo muito com o dólar barato e com a concorrência dos produtos industriais chineses em todos os setores. Frequentemente as diferenças de preço entre produtos chineses e brasileiros chegam a 40% ou 50%. Os chineses se especializaram na produção em grande escala, o que permite produzir com máquinas mais eficientes, menos trabalhadores e fábricas maiores. O valor baixo do dólar no Brasil ajuda ainda mais a chamada competitividade chinesa, tornando as importações ainda mais baratas, tornando a concorrência insuportável para a indústria nacional. Muitos economistas estão preocupados com o destino da indústria brasileira. Estão alarmados com a possibilidade do avanço do processo de desindustrialização. Desindustrialização não significa apenas a perda de elos na cadeia de produção, como por exemplo, o desaparecimento das indústrias que produzem peças e componentes eletrônicos, para a indústria de computadores ou mesmo autopeças para as montadoras. Ficou muito mais barato comprar fora do Brasil, justamente porque o dólar ficou mais barato. Por isso quase todos os setores da indústria compram mais de fora do que exportam. Veja o gráfico. 6
Brasil: Balança comercial de produtos manufaturados, 2005-2013 (em US$ bilhões) 20,0 0,0 8,6 5,1-20,0-9,2-40,0-60,0-39,8-36,5-80,0-100,0-120,0-71,2-92,5-94,1-105,0 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 Fonte: Ministério do Desenvolvimento Realmente, a desindustrialização significa também a não incorporação de setores novos, novas tecnologias, setores que avançam rapidamente no resto do mundo. Nós vamos assim perdendo o passo no avanço tecnológico da indústria. A distância em relação a países como a China vai ficando cada vez maior. E este é um desafio muito grande para a economia brasileira nos próximos anos. Há quem entenda que os problemas de competitividade da indústria estão ligados às deficiências da infraestrutura no Brasil. Este é um problemas sério que vale a pena ser discutido. Nos anos 80 e 90 houve um colapso dos investimentos em infraestrutura. Neste período, não foi construída nenhuma estrada nova, nenhuma hidroelétrica de grande porte foi inaugurada e o transporte público teve investimentos muito abaixo do seria necessário. 7
Isto para não falar dos portos e aeroportos que não tiveram qualquer expansão ou modernização neste período. Por que isto ocorreu? São várias as causas. Nos anos 80 o Estado foi golpeado pela crise da dívida externa. Tanto o governo central quanto as empresas estatais, afundaram em dívidas, não puderam continuar liderando o planejamento e os gastos com investimentos em infraestrutura. As empresas privadas não tiveram capacidade financeira para suprir a lacuna deixada pelo Estado. Apesar da privatização dos anos 90 pretender trazer a iniciativa privada para o centro das decisões de investimento em infraestrutura, pouca coisa aconteceu. Os investimentos realizados não foram suficientes para atender as necessidades do aumento do consumo de energia, as demandas nascidas da expansão da produção extraordinária do agronegócio. Os portos ficaram congestionados, a rede ferroviária ficou obsoleta e as estradas foram se deteriorando rapidamente. A iniciativa privada foi eficiente no agronegócio, mas fica claro que o Estado precisa voltar a oferecer as condições para que o setor privado possa avançar ainda mais. A infraestrutura exige uma forte cooperação entre o Estado que planeja e financia e o setor privado que constrói e opera. Veja o que aconteceu recentemente nas concessões dos novos terminais aeroportuários. Os prazos foram cumpridos e as novas instalações acomodaram perfeitamente o aumento de fluxo de passageiros. 8
Portanto, é preciso continuar avançando nessa direção para superar os desafios impostos pela perda de competitividade da indústria e pelas carências da infraestrutura que requerem ainda muitos investimentos. 9