Registro: 2012.0000548299 ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos estes autos do Agravo de Instrumento nº 0132285-40.2012.8.26.0000, da Comarca de Praia Grande, em que são agravantes MARCOS ANTONIO ALFERES e MARA ELIZABETH FERREIRA ALFERES, é agravado LYDIA ZORKA AZEVEDO. ACORDAM, em 8ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça de, proferir a seguinte decisão: "Deram provimento ao recurso. V. U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores CAETANO LAGRASTA (Presidente) e THEODURETO CAMARGO., 3 de outubro de 2012 PEDRO DE ALCÂNTARA RELATOR Assinatura Eletrônica
Agravo de Instrumento n : Agravante: Agravado: Comarca: 0132285-40.2012.8.26.0000 Marcos Antonio Alferes e outro Lydia Zorka Azevedo Praia Grande 2ª Vara Cível 1ª Instância: 477.01.2005.010322-4 Juiz: Renato Zanela Pandin e Cruz Gandini Voto nº 2.082 EMENTA. Liquidação por arbitramento. Não se trata de mero procedimento de avaliação de imóvel, mas sim, por definição legal, de prova pericial, por se tratar de liquidação por arbitramento, devendo ser aplicado o entendimento do art. 420 e seguintes do CPC. Nulidade da perícia. Art. 431-A. É nula a perícia produzida sem intimação das partes quanto ao dia e local de realização da prova. O não acompanhamento da perícia pode causar prejuízo às partes. Agravo provido. RELATÓRIO. Agravo de instrumento interposto contra decisão (fls. 149), que considerou desnecessária a intimação das partes para ciência de dia e horário de realização da avaliação do imóvel, por reputar não se tratar de produção de prova pericial, mas de mero procedimento de avaliação de imóvel penhorado, regulado pelos arts. 680 e 681 do CPC. Na sequência indeferiu dilação de prazo consignando: INDEFIRO dilação de prazo, vez que se trata de mera avaliação de imóvel constrito, não se justificando dilação de prazo por não haver complexidade. Ademais, prazo idêntico foi concedido à parte contrária, devendo haver igualdade de tratamento entre as partes, sendo evidente que o perito judicial não é parte, mas auxiliar do Agravo de Instrumento nº 0132285-40.2012.8.26.0000 - Praia Grande - VOTO Nº 2082 2/6
Juízo. Os agravantes requerem a reforma da r. decisão que indeferiu seu pedido de renovação da prova pericial para que seja realizada com a devida intimação dos réus para que acompanhem o início dos trabalhos, ou sucessivamente, de concessão de prazo suplementar de 15 dias ao assistente técnico por eles indicado para manifestação acerca do laudo produzido nos autos. Explicitam que, em razão do reconhecimento da nulidade de escritura de venda e compra de um imóvel, foram condenados a pagar a agravada uma indenização correspondente ao valor atual de mercado do terreno objeto da escritura declarada nula, sendo que tal valor seria apurado em liquidação por arbitramento. Destacam que a autora, ora agravada, juntou aos autos um laudo produzido por engenheira civil que baseado em pesquisas de mercados realizadas em imobiliárias da região do imóvel, apontou como valor de mercado da terra nua R$ 271.375,00. Discordando desse laudo, os agravantes contataram as imobiliárias mencionadas pela engenheira civil e obtiveram um valor médio de mercado da terra nua do imóvel no valor de R$ 194.026,25. Em razão da disparidade dos valores apurados o MM Juiz a quo determinou a realização de perícia, nomeando um avaliador, e os agravantes, tempestivamente, indicaram seu assistente técnico e formularam quesitos. Alegam que foram surpreendidos com a publicação que concedeu às partes prazo de apenas cinco dias para se manifestarem Agravo de Instrumento nº 0132285-40.2012.8.26.0000 - Praia Grande - VOTO Nº 2082 3/6
acerca do laudo que determinou como valor da terra nua do imóvel R$ 419.343,03. Entretanto, o parágrafo único do art. 475-D dispõe que: Apresentado o laudo, sobre o qual poderão as partes manifestar-se no prazo de dez dias, o juiz proferirá decisão ou designará, se necessário, audiência. Aduzem que a avaliação do imóvel objeto da lide não pode ser feita meramente com cálculos, dependendo de vistoria e trabalhos de campo com base em negócios realizados, e não meramente ofertados. Asseveram que o procedimento a ser seguido na liquidação por arbitramento é o da produção de prova pericial, regulado pelos artigos 420 e seguintes do CPC, e não o da avaliação de imóvel penhorado para garantia (art. 680 e seguintes do CPC), com as limitações à impugnação impostas pelo artigo 683, como determinou o MM. Juiz a quo na decisão agravada. Destarte, por força do art. 431-A do CPC, as partes terão ciência da data e local designados pelo juiz ou indicados pelo perito para ter início a produção da prova. Com base em tais argumentos, requereram a concessão do efeito suspensivo ativo e da antecipação dos efeitos da tutela pretendida, para que seja reconhecida a nulidade da perícia elaborada, bem como do laudo dela decorrente, e seja, determinada a realização de nova perícia com a correspondente intimação das partes para o acompanhamento da produção da prova em questão, nos termos do art. 431-A do CPC. FUNDAMENTOS. A r. sentença (fls. 53/58) determinou que o valor de mercado do terreno seria apurado em liquidação por arbitramento Agravo de Instrumento nº 0132285-40.2012.8.26.0000 - Praia Grande - VOTO Nº 2082 4/6
(artigos 475-C e 475-C do CPC). Não se trata, pois, de mero procedimento de avaliação de imóvel, mas sim de prova pericial a ser realizada nos termos do artigo 420 e seguintes do CPC. Dispõe o art. 431-A do CPC que as partes terão ciência da data e local designado pelo juiz ou indicados pelo perito para ter início a produção de prova. A realização da prova em afronta a esse dispositivo poderá causar prejuízo às partes, e tanto é assim que os valores de mercado do terreno apurados pela agravada (R$ 271.375,00), pelo agravante (R$ 194.026,25) e pelo perito (R$ 419.343,03) apresentam enorme discrepância. Destarte, assiste razão aos agravantes, quando afirmam que não foi observado o art. 431-A do CPC. E, com efeito, o trabalho pericial não é limitado a realização de cálculos matemática, onde eventuais discordâncias metodológicas podem ser levantadas e impugnadas quando da manifestação das partes e do parecer dos assistentes técnicos. Aqui, perito, partes e assistentes técnicos apurarão, in loco, o valor de mercado do terreno, sendo que a não intimação das partes e seus assistentes técnicos para acompanhamento dos trabalhos periciais, em afronta ao art. 431-A do CPC poderá causar prejuízos diante da conclusão pericial. Anotem-se as lições de THEOTONIO NEGRÃO: Art. 431-A: 2. A ausência de comunicação da parte quanto à data da realização da perícia implica a realização de nova prova pericial. (RT 827/287). É nula a perícia produzida sem intimação das partes quanto ao dia e local de realização da prova (STJ-3ª T., Agravo de Instrumento nº 0132285-40.2012.8.26.0000 - Praia Grande - VOTO Nº 2082 5/6
REsp 806.266, Min. Gomes de Barros, j. 18/10.07, DJU 31.10.07) No mesmo sentido: STJ-2ª T., REsp 1.070.733-AgRg, Min. Humberto Martins, j. 18.12.08, DJ 16.2.09; Bol. AASP 2.695 (TJRJ, AI 2009.002.02518-RJ: bem fundamentado). (in Código de Processo Civil e legislação processual em vigor, 44ª edição, Editora Saraiva, 2012, pág. 508). Portanto, reformo a decisão agravada para anular o laudo pericial, para que nova perícia seja realizada com a devida intimação das partes para acompanhamento da produção da prova, nos termos do art. 431-A do CPC. DISPOSITIVO. recurso. Ante o exposto, pelo meu voto, dou provimento ao Pedro de Alcântara da Silva Leme Filho Relator Agravo de Instrumento nº 0132285-40.2012.8.26.0000 - Praia Grande - VOTO Nº 2082 6/6