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Transcrição:

Midiatização no cotidiano de fotógrafas e fotógrafos profissionais 1 Mediatization on professional photographer s everyday life Palavras-chave: Midiatização transmidial; Apropriação; Fotografia. Emanuelly Vargas Este trabalho tem como propósito refletir sobre o processo de midiatização no cotidiano de fotógrafas e fotógrafos profissionais através da apropriação de diferentes mídias e de como isso configura os diferente mundos midiatizados destas e destes sujeitos. Procuramos compreender como acontece a apropriação de diferentes mídias e como elas são incorporadas no cotidiano das e dos profissionais, buscamos identificar diferentes configurações comunicativas (HEPP, 2014). As apropriações feitas diariamente das mídias não está alheia ao contexto e as estruturas que com as quais as fotógrafas e fotógrafos coexistem. Estas estruturas moldam e são moldadas pelas formas de compreender e apreender estes objetos. Assim, parece intuitivo aliar perspectivas das teorias da midiatização e da apropriação para entender fenômenos com os quais nos deparamos no campo da pesquisa em comunicação. A principal questão que move este trabalho é compreender: como se configuram os mundos midiatizados das e dos profissionais da fotografia? Ao delimitar tal grupo, profissionais da fotografia, buscamos compreender como funciona o processo de configurar-se um mundo midiatizado (HEPP, 2014) em uma profissão que está ligada de forma tão evidente com o processo de midiatização. 1 Trabalho apresentado ao III Seminário Internacional de Pesquisas em Midiatização e Processos Sociais. PPGCC-Unisinos. São Leopoldo, RS 6 a 10 de maio de 2019. 1

Entendemos que ao delimitar este grupo estamos lidando com uma camada a mais de complexidade. Visto que não é uma tarefa simples apontar como se configura um mundo midiatizado, onde elementos da mídia são tão presentes. Poderíamos nos perguntar, por exemplo, se seria possível apontar como esse processo acontece com a profissão de padeiras e padeiros, uma vez que a profissão de fazer pães não pressupõe elementos midiáticos desde a sua fundação. A fotografia, por sua vez, tem em seu fundamento fotografar o mundo e assim transportar algo do seu tempo e espaço, sendo assim um processo de midiatização, como podemos pensar através de Verón (2014). Para meus entrevistados, é também sua prática profissional que é transpassada por outros processos de midiatização, acrescentando assim diversas camadas que tornam o trabalho de compreensão mais complexo. O primeiro desafio a este trabalho constitui então como pensar a midiatização em intersecção com a apropriação. Assim como primeiro passo é preciso fazer um esforço teórico para compreender como a midiatização pode nos ajudar a pensar esse fenômeno. Em seu texto As configurações comunicativas de mundos midiatizados: pesquisa da midiatização na era da mediação de tudo, Hepp (2014) propõe que repensemos alguns aspectos acerca da midiatização, especialmente no que diz respeito à forma como a percebemos e fazemos uso do conceito para compreender o mundo. O autor faz uma retomada da história do conceito da midiatização e propõe que classificações como corrente institucionalista e socioconstrutivista são limitadas se entendermos uma em oposição e excludente à outra. De acordo com o autor, para compreender melhor os fenômenos devemos considerar as forças de moldagem da mídia não como algo simples e determinista, mas como algo que muda de acordo com o contexto e sempre apresenta alguma relevância. Para discutir a questão da força de moldagem da mídia, Hepp (2014) nos lembra das palavras de Lundby: não é viável falar de uma lógica geral da mídia; é necessário 2

especificar como as variadas capacidades da mídia são utilizadas em diversos padrões de interações sociais (LUNDBY, 2009b, p. 115 apud HEPP, 2014, p. 50). Ao escolher uma temática para este trabalho, em alguns momentos me questionei sobre a pertinência dessa experimentação para a temática do evento. Por inicialmente não estar familiarizada com as teorias da midiatização, me parecia que o trabalho não se encaixava. Mas como Hepp (2014) propõe pensar, a midiatização é também pensar como se configuram os mundos midiatizados: Os mundos midiatizados são o nível no qual a midiatização se torna concreta e pode ser analisada empiricamente. Por exemplo, apesar de ser impossível pesquisar a midiatização de uma cultura ou de uma sociedade como um todo, podemos investigar o mundo midiatizado das negociações da bolsa de valores, das escolas, do lar e assim por diante. (HEPP, 2014, p. 53) Escolher fotógrafas e fotógrafos como grupo para ser estudado e buscar entender como se configuram seus mundos midiatizados, então, passa a fazer mais sentido quando pensamos dessa forma. Pois, como sugere Elias (apud HEPP, 2014), as estruturas que formam a sociedade são formadas por indivíduos, que carregam em si mesmos as marcas da sociedade onde vivem, ainda que a estrutura seja externa a eles. Uma forma possível para observar tais estruturas, as configurações comunicativas, pode ser através da forma que as fotógrafas e fotógrafos se apropriam das mídias em seu cotidiano. Para Proulx (2016), podemos traçar uma trajetória da apropriação: E podemos, então, falar de uma trajetória de apropriação; podemos fazer hipóteses sobre as relações de meninos e meninas com a técnica e tentar observar em que medida essas relações diferenciadas entre meninos e meninas podem ter repercussões depois, quanto à natureza da apropriação dos objetos técnicos durante a vida toda. (PROULX, 2016, p. 45) 3

Assim como podemos traçar a trajetória de apropriação de uma ou um indivíduo, também podemos traçar a trajetória de apropriação de um grupo específico, como fotógrafas e fotógrafos. Isso não significa fazer um trabalho necessariamente diacrônico, como descrito por Hepp (2014), pois o que podemos acompanhar é justamente a emergência de novas práticas entre este grupo. Proulx (2016) afirma que para estudar a apropriação é preciso considerar alguns elementos além do uso. De acordo com ele, o uso se refere a aquisição de determinado elemento e às formas como a pessoa usa, de acordo com o propósito ao qual foi planejado. Enquanto para a apropriação é necessário considerar a integração no cotidianos, as mudanças que as pessoas fazem nesses objetos e as inovações e novidades que as pessoas trazem para aquele elemento, objeto ou mídia. Proulx (2016, p. 55) ainda nos fala sobre as características prescritivas que todo objeto técnico tem. São características que estão presentes na forma e que recomendam um certo tipo de uso, exigindo um esforço ativo para que outro uso seja feito. Tal elemento pode ser relacionado à ideia de forças de moldagem da mídia. Para desenvolver este trabalho empiricamente, escolhi pela técnica de entrevista. Se o ponto desta reflexão é observar como se configuram os mundos midiatizados que as e os profissionais da fotografia vivenciam, é lógico começar perguntando a elas e eles como essa vivência acontece. No entanto, como nos aponta Queiroz (1991), a narrativa da pessoa entrevistada não exatamente corresponde a expectativa e tão pouco dá a resposta que a pesquisadora ou pesquisador pretende chegar. Mais tarde, ao utilizar o relato, o pesquisador o fará de acordo com suas preocupações e não com as intenções do narrador; isto é, as intenções do narrador serão forçosamente sacrificadas. Assim o propósito deste último fica sempre em segundo plano, desde o início da coleta de dados. Em primeiro lugar, porque nunca coincide inteiramente com os propósitos do pesquisador; foram os desejos deste que deslancharam o relato, sendo então predominantes sobre o intento do narrador. Em segundo lugar, porque o pesquisador utilizará em seu trabalho as partes do relato que sirvam aos objetivos fixados, 4

destacando os tópicos que considerará úteis e desprezando os demais. (QUEIROZ, 1991, p. 4) Isto acontece pois cabe à pesquisadora ou pesquisador, a partir do relato colhido, destacar as partes que fazem sentido à sua problemática, e assim elaborar uma resposta. E ainda, de forma mais adequada, elaborar uma reflexão acerca do que foi coletado. Para coletar as narrativas para este trabalho, foi selecionado um grupo de seis fotógrafas e fotógrafos, até a data da submissão deste resumo apenas 4 das entrevistas foram realizadas, transcritas e analisadas. O grupo de entrevistadas e entrevistados foi selecionado a partir de uma lista, onde pedi para que colegas de faculdade indicassem fotógrafas e fotógrafos que acreditassem que eu não tinha nenhum tipo de vínculo. É preciso observar que, como pesquisadora na área da comunicação e tendo formação nessa área, seria fácil encontrar profissionais dispostas e dispostos a dar entrevista entre minhas conhecidas e conhecidos. Evitei fazer esse caminho, pois julguei que algum afastamento da entrevistada ou entrevistado me daria a oportunidade de ter um estranhamento com sua prática profissional. Tal estranhamento não ocorreria com pessoas as quais eu já conhecia o trabalho e até me relacionava mesmo que superficialmente. Aqui, aconteceu algo que é surpreendente: ao pedir para diferentes conhecidas e conhecidos me enviarem contatos de fotógrafas e fotógrafos, não especifiquei se gostaria de contatos telefônicos, e-mail ou endereço etc. Mesmo sem tal especificação, a maioria das indicações eram de perfis no Instagram, exceto um, que indicou uma página no Facebook. O destaque do Instagram como meio de contato prevaleceu mais tarde, no conteúdo das entrevistas. Às fotógrafas e fotógrafos que retornaram meu contato, pedi que escolhessem uma data e um local para realizarmos a entrevista. Assim, três das entrevistas aconteceram em um café da cidade, em dias diferentes, e uma aconteceu na casa do fotógrafo onde ele mantinha também um estúdio. 5

Quanto ao direcionamento da entrevista, escolhi por uma entrevista do tipo aberta, que, de acordo com Duarte (2005), traz uma gama maior de possibilidades de aproximação com as e os interlocutores quando nos aproximamos pela primeira vez de um grupo específico. A princípio, um roteiro fechado de entrevista pode parecer útil quando estamos entrando em contato com as interlocutoras ou interlocutores, pois nos daria uma direção pela qual seguir no momento em que estamos receosos. No entanto, como o autor alerta, é importante esse grande número de possibilidades para que possamos explorar devidamente o campo onde estamos nos inserindo. Os formulários mais rígidos devem servir apenas onde buscamos confirmar itens já encontrados, o que não era o caso. Escolher uma entrevista de tipo aberta indica um acentuado protagonismo do narrador ou narradora. No entanto, a entrevista aberta só existe por causa da pesquisadora ou pesquisador, é preciso que esta ou este dê alguns eixos para que a entrevistada ou entrevistado possa discorrer. No caso deste trabalho, foram estabelecidos três eixos. O primeiro diz respeito a seleção de referências para o trabalho da ou do profissional. O segundo diz respeito a aproximação e escolha dos equipamentos que a fotografa ou fotografo usa. E o terceiro diz respeito ao contato com as e os clientes. A ordem destas questões não foi estabelecida propositalmente, ou pelo menos não de forma consciente em um primeiro momento. É preciso dizer que das quatro entrevistas, nenhuma seguiu exatamente esta ordem e em algumas a ordem até mesmo se inverteu. Fazendo uma análise posterior, talvez eu tenha organizado-as assim por estar mais familiarizada com outros fluxos de trabalho. Ao pedir que as e os entrevistados narrassem sua aproximação com a fotografia, todos fizeram uma narrativa semelhante. Sua aproximação aconteceu a partir do interesse pelas fotografias de outras fotógrafas e fotógrafos ou pela curiosidade com relação à câmera. 6

Até o momento, a questão que mais chama atenção nas entrevistas foi a centralidade do Instagram para as fotógrafas e fotógrafos. Apesar de ser uma rede social direcionada a fotografia, o Instagram não é essencialmente necessário para a prática da fotografia profissional, entretanto, todos os entrevistados tratam a plataforma com muita importância e naturalidade, como se deixassem de perceber que ela é uma entre outras plataformas possíveis. Assim, tais mídias se integram ao cotidiano das e dos fotógrafos ao ponto de tornarem-se invisíveis, as estruturas que configuram os mundos midiatizados destas e destes indivíduos. Referências bibliográficas DUARTE, J. Entrevista em profundidade. In: DUARTE, J.; BARROS, A. (orgs.). Métodos e técnicas de pesquisa em comunicação. São Paulo: Atlas, 2005. HEPP, A. As configurações comunicativas de mundos midiatizados: pesquisa da midiatização na era da mediação de tudo. Matrizes, São Paulo, v. 8, n. 1, 2014. Disponível em: <http://dx.doi.org/10.11606/issn.1982-8160.v8i1p45-64>. Acesso em: 20 jan. 2019. PROULX, S. Paradigmas para Pensar os Usos dos Objetos Comunicacionais. In: PROULX, S.; FERREIRA, J.; ROSA, A. P. (Orgs.). Midiatização e Redes Digitais: os Usos e as Apropriações Entre a Dádiva e os Mercados. Santa Maria: FACOS-UFSM, 2016. p. 41-58. QUEIROZ, M. I. P. Variações sobre a técnica de gravador no registro da informação viva. São Paulo: T. A. Queiroz, 1991. VERÓN, E. Teoria da midiatização: uma perspectiva semioantropológica e algumas de suas consequências. Matrizes, v. 8, n. 1, p. 13-19, 2014. Disponível em: <http://dx.doi.org/10.11606/issn.1982-8160.v8i1p13-19>. Acesso em: 20 jan. 2019. 7