Abordagem do Paciente em Síndrome de Abstinência Alcóolica: Diagnóstico, avaliação e tratamento.

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Transcrição:

Abordagem do Paciente em Síndrome de Abstinência Alcóolica: Diagnóstico, avaliação e tratamento. 016 ESTABELECIDO EM 23/11/2007 ÚLTIMA REVISÃO EM 31/08/2009 NOME DO TEMA \\ Abordagem do Paciente em Síndrome de Abstinência Alcóolica : Diagnóstico, avaliação e tratamento. RESPONSÁVEIS UNIDADE \\ Dr. Hugo Alejandro C. Prais (HGV) Dr. Ednei Otávio Chagas E. Gomes (CMT) Dr. Helian Nunes de Oliveira (HE-IRS) COLABORADORES \\ Dr. Hélio Lauar de Barros (IRS) Dra. Maria Vilma S. de Faria (CMT) Dra. Zilda Maria Nuñez Campos (CHPB) Dra. Débora Corrêa Teixeira (HJXXIII)

INTRODUÇÃO / RACIONAL \\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\ Dados do Ministério da Saúde mostraram o alcoolismo no triênio 1995-96-97 ocupando o quarto lugar no grupo das doenças mais incapacitantes, contribuindo com custos elevados para o SUS. A Síndrome de Abstinência Alcóolica (SAA vide texto subsidiário) é um estigma da Síndrome de Dependência Alcóolica (SDA) (Bertolote,1997), sendo um indicador da existência de dependência, sinalizando consumo crônico e abusivo, desencadeada quando o indivíduo diminui ou cessa a ingestão abruptamente (Scivoletto & Andrade, 1997). Segundo Laranjeira et at. (2000), vários fatores influenciam o aparecimento e a evolução da SAA. Os sinais e sintomas mais comuns da SAA são: agitação, ansiedade, alterações de humor (irritabilidade, disforia), tremores, náuseas, vômitos, taquicardia, hipertensão arterial, entre outros. Ocorrem complicações como: alucinações, o Delirium Tremens (DT) e convulsões. O manejo da SAA é o primeiro passo no tratamento da dependência do álcool e representa um momento privilegiado para motivar o paciente a permanecer em seguimento. Considerando a heterogeneidade de condutas no tratamento da SAA no Brasil (muitas delas sem evidências científicas), contrastando com o sólido conhecimento internacional sobre o que fazer e o que não fazer na SAA, a Associação Brasileira de Psiquiatria, em 2000, (ABP) organizou o Consenso Brasileiro sobre a Síndrome de Abstinência Alcoólica (CBSAA). É baseado nesse consenso e em evidências científicas relevantes sobre o assunto que organizamos o presente protocolo. OBJETIVO \\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\ Orientar o profissional de saúde no diagnóstico, avaliação e tratamento da SAA e também das complicações clínicas e psiquiátricas associadas, contextualizando-o às necessidades da clientela dos hospitais da rede FHEMIG. MATERIAL / PESSOAL NECESSÁRIO \\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\ Médico e equipe de enfermagem; Psicólogo; Assistente Social; Leitos de observação; Equipamento e material para soroterapia; Psicofármacos, tiamina e outros sintomáticos conforme descritos no protocolo. ATIVIDADES ESSENCIAIS \\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\ As três etapas básicas para a abordagem do paciente na SAA são: 1. Diagnóstico da SAA e suas complicações clínicas e psiquiátricas; 2. Avaliação do paciente e encaminhamentos; 3. Tratamento da SAA e das complicações clínicas e psiquiátricas. DIAGNÓSTICO 1. Suspeitar da SAA em diversas situações clínicas e especialidades * pág. 244 \\ 16 \\ Abordagem do Paciente em Síndrome de Abstinência Alcóolica: Diagnóstico, avaliação e tratamento.

Critérios diagnósticos para síndrome de abstinência do álcool (SAA) ~ OMS Estado de abstinência A. Deve haver evidência clara de interrupção ou redução do uso de álcool, após uso repetido, usualmente prolongado e/ou em altas doses. B. Três dos sinais devem estar presentes: (1) tremores da língua, pálpebras ou das mãos quando estendidas; (2) sudorese; (3) náusea, ânsia de vômitos ou vômitos; (4) taquicardia ou hipertensão; (5) agitação psicomotora; (6) cefaleia; (7) insônia; (8) mal-estar ou fraqueza; (9) alucinações visuais, táteis ou auditivas transitórias; (10) convulsões tipo grande mal. Se o delirium está presente, o diagnóstico deve ser estado de abstinência alcoólica com delirium (delirium tremens) sem e com convulsões. 2. 3. 4. Fonte: Projeto Diretrizes, AMB/CFM, Volume II, pag 43, 2002. Lembrar das diversas co-morbidades e doenças crônicas causadas pelo álcool; Avaliar a interrelação entre elas; Avaliar a superposição de eventos de libação alcoólica, doenças agudas, agutização de doenças crônicas, síndrome de abstinência e diagnósticos diferenciais: Ambulatórios de atendimento primário quadros ansiedade, insônia, hiperventilação, sudorese, tremor, taquicardia, hipertensão arterial, náuseas, refluxo gastro-esofágico, diarreias; Enfermarias pacientes em observação por doenças várias pneumonias, pancreatite aguda, pós-cirúrgicos; Emergências Médicas: *Clínica Médica: Crise hipertensiva, taquiarritimias fibrilação atrial paroxística, vômitos, dor abdominal e cefaleia; Neurologia: Convulsões após período de libação, crise isolada, sem complicações; Convulsões durante evolução da síndrome de abstinência, complicada com disautonomia, distúrbios hidroeletrolíticos, hipertensão grave, rabdomiólise AVC s, tremores, TCE s; Psiquiatria Ansiedade, crises de pânico, alucinose, alucinações, paranoia, delírios e agitação psicomotora; Ortopedia Fraturas por quedas durante intoxicação aguda, com evolução subsequente Abordagem do Paciente em Síndrome de Abstinência Alcóolica: Diagnóstico, avaliação e tratamento. \\ 16 \\ pág. 245

para SAA; quedas por convulsão, já durante síndrome de abstinência alcoólica em desenvolvimento; Cirurgia buco-maxilo-facial Fraturas de face Cirurgia Geral Quedas, contusões, lesões cortantes, queda-da-própria-altura (convulsões são causa frequente); Toxicologia CLASSIFICAÇÃO DA SALA CLASSIFICAÇÃO SEGUNDO A ESCALA DO CIWAR (ANEXO1) 5 Diagnóstico da SAA CID - 10 SAA sem DT F10.3 SAA sem DT F10.4 SAA não-complicada F10.30 SAA não-complicada F10.31 O CIWA considera as categorias de valores considera para cada um. A nota máxima é 67 pontos. SAA leve abaixo de 8 SAA moderada de 8 a 15 SAA grave maior que 15 Valores mais altos são preditivos de convulsões e delírios. pág. 246 \\ 16 \\ Abordagem do Paciente em Síndrome de Abstinência Alcóolica: Diagnóstico, avaliação e tratamento.

AVALIAÇÃO DA SAA Avaliação do paciente em SAA SAA não-complicada Histórico do consumo. Data da interrupção ou diminuição do consumo de álcool SAA com convulções ou SAA com DT Comorbidades clínicas e ou psiquiátricas Encaminhamento às Unidades Especializadas Clínicas - Psiquiátricas Tratamento hospitalar Tratamento ambulatorial Pronto-atendimento clínico H. dia ou observação CMT / HGV / IRS Internação clínica TRATAMENTO BASES FISIOPATOLÓGICAS DA SÍNDROME DE ABSTINÊNCIA ALCOÓLICA Fonte: Projeto Diretrizes, AMB/CFN, V. II p. 44, 2002. Hipoatividade GABAérgica. Ansiedade, convulsão, hiper-estimulação glutamatérgica Hipoatividade dopaminérgica Reforço negativo, disforia Hipoatividade Noradrenergica. Efeitos cardiovasculares, náuseas, vômitos, piloereção, midríase, tremores, aumento da temperatura SAA Hiperatividade glutamatérgica. Confusão mental, alucinação e convulsões Aumento da densidade dos canais de cálcio tipo L. Aumento da atividade elétrica generalizada potencializando o efeito dos neurotransmissores contribuindo para os sintomas da SAA OBJETIVOS DO TRATAMENTO: \\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\ 1. Aliviar os sintomas existentes; 2. Previnir o agravamento do quadro com convulsões e delirium; 3. Vincular o paciente ao tratamento da dependência propriamente dito; 4. Previnir a ocorrência de síndromes mais graves no futuro. Abordagem do Paciente em Síndrome de Abstinência Alcóolica: Diagnóstico, avaliação e tratamento. \\ 16 \\ pág. 247

TRATAMENTO NÃO FARMACOLÓGICO: Atitude receptiva, sem julgamento moral, acolhedora; Tranquilização do paciente, evitar gestos ameaçadores; oferecer local de segurança cadeira, maca com proteção lateral, maca com cabeceira elevada ou mesmo o chão, para evitar quedas; Manutenção de ambiente iluminado, evitar ruídos; Manutenção de hidratação adequada e correção de distúrbios hidroeletrolíticos; História da dependência, tratamentos anteriores, crises de abstinência anteriores e a gravidade destas; Suporte do serviço social e psicologia; Aplicação do questionário CIWA-Ar (recomendação A); Quadros clíncos leves a moderados podem ser tratados ambulatorialmente (recomendação A). Tratamento Farmacológico Medicamentos Administração Finalidade Observação Soro fisiológico 0,9% 500ml Associar a cada frasco de soro fisiológico: 40 ml de soro glicosa do 50% 10 ml de Cloreto de EV em casos de vômitos ou desidratação. Hidratação, Reposição de Glicose e Eletrolíticos. Não usar na SAA leve. Avaliar risco de hipervolemia em cardiopatas. Medir glicemia capilar (idosos, história de Diabetes mellitus, pancreatite). Não administrar glicose sem uso concomitante de tiamina. Potássio 10% Sulfato de magnésio 8 a 48 meq/dia, em infusões de 2 a 4 ml de sulfato de magnésio a 50% ampolas de 10 ml. Corrigir a hipomagnesemia dosada ou presumida nos casos de vômitos, diarreia e desidratação, com tremores, com ou sem convulsão. Contraindicações: hipermagnesemia e insuficiência renal. Tiamina vitamina B1(ampolas de 100 mg). Comprimidos de 100 mg. 1 a 2 ampolas IM ao iniciar a injeção de glicose. ** Funciona como uma isoenzima que promove o aproveitamento da glicose pelas células. Manter as injeções por 2 a 3 dias, dependendo da gravidade do caso. Em caso de bom funcionamento do trato gastrintestinal, as doses subsequentes podem ser por VO. pág. 248 \\ 16 \\ Abordagem do Paciente em Síndrome de Abstinência Alcóolica: Diagnóstico, avaliação e tratamento.

Benzodiazepínicos (recomendação A) Uso oral Diazepam: 10mg, 2 a 3 vezes ao dia. Clordiazepóxido: 50 mg até de 6/6 h. Lorazepan: 2mg, 2 a 3 vezes ao dia em caso de hepatopatia grave. Uso parenteral Clordiazepóxido: 100 mg IM (dose inicial) ou Diazepam: 10 a 20 mg EV Em casos graves sob observação estrita. Trata a ansiedade, os sintomas autonômicos e as crises convulsivas. Diazepam e clordiazepóxido ação longa. Lorazepan ação curta. O tempo de prescrição deverá ser estabelecido caso a caso, na menor duração possível pelo risco de dependência química. Uso endovenoso de Diazepam deve ser feito com retaguarda para tratamento de parada respiratória. Carbamazepina 200 mg VO 2 a 4 vezes ao dia. Tratamento e prevenção de crises convulsivas. Auxílio no controle da SAA e retirada do benzodiazepínico oral. Redução na compulsão à ingestão de álcool. Metoclopramida (10 mg) 01 ampola IM ou EV diluída em 10 ml de de água destilada. Para náuseas e vômitos. Ranitidina comprimidos de 150 mg ampolas (50 mg) 01 a 02 comprimidos via oral ou 1 ampola EV diluída em 10 ml de água destilada. Para a irritação Gastrintestinal. Haloperidol 1 a 2 mg VO ou IM Para alucinações e delírios. Usar doses baixas devido a efeitos extrapiramidais em pacientes debilitados. Propranolol 20 a 40 mg VO Metoprolol e atenolol podem ser usados. Para taquicardia importante, tremores e hipertensão arterial. O medicamento Bloqueador está contraindicado para pacientes asmáticos e enfisematosos. Abordagem do Paciente em Síndrome de Abstinência Alcóolica: Diagnóstico, avaliação e tratamento. \\ 16 \\ pág. 249

Captopril 25 mg Nifedipina VO de acordo com o ajuste feito pelo médico. VO de acordo com o ajuste feito pelo médico. Clonidina 0,100 a 0,150 mg 3 a 4vezes ao dia VO. Em caso de hipertensão arterial sistêmica agravada pela SAA. Tratamento da hipertensão arterial sistêmica. Hipertensão arterial de difícil controle. Não usar sublingual pelo risco de hipotensão arterial grave. Monitoramento clínico. ** A dose de tiamina na SAA não está definida na literatura médica por evidência conclusiva.- 100 mg/dia IM inicial (máximo 200 mg/dia)3 (Cochrane Database of Systematic Reviews 2004) Manter esse esquema por até 2 ou 3 dias com ajuste das doses dos medicamentos prescritos. ESTRATÉGIAS PARA USO DE BENZODIAZEPÍNICOS NA SAA (modificado da ref. 5) 1. 2. 3. Esquema de doses fixas (ex: 50 a 100 mg de clordiazepóxido de 6/6 horas), com diminuição das doses de 4 a 7 dias; Esquema com dose de ataque moderada a alta com benzodiazepínico de ação longa (ex: 20 mg de diazepam) para sedação, havendo queda do nível sérico através do metabolismo; Esquema baseado na gravidade dos sintomas: para pacientes com escore da escala CIWA-Ar maior ou igual a 8, iniciar com 5 mg de diazepam. Reavaliar escore após 1 hora, e depois de 8/8 horas. A dose de diazepam (5 ou 10 mg de 8/8 horas) é ajustada de acordo com a gravidade dos sintomas. Outras recomendações: ABORDAGEM FARMACOLÓGICA: Benzodiazepínicos: Prescrição baseada em sintomas. Avaliar de 1/1 hora (aplicar escala CIWA- Ar). Pontuação: Maior que 8 ou 10: Diazepam: 10 a 20 mg VO de 1/1 hora ou parenteral se necessário Clordiazepóxido 50 100 mg VO de 1/1 hora. Hepatopatias graves: Lorazepam 2-4 mg VO de 1/1 hora. Reduzir os benzodiazepínicos gradualmente de acordo com quadro clínico, pois sua manutenção acarreta riscos: Perigo de tolerância cruzada com álcool; Risco de desenvolvimento de dependência e/ou uso abusivo alternado com uso do álcool; Agravamento dos transtornos ansiosos durante o acompanhamento ambulatorial. ITENS DE CONTROLE \\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\ 1. Percentual de pacientes com SAA em que foi aplicada a escala CIWA (Clinical Institute Withdrawal Assessment for Alcohol) para acompanhamento da respág. 250 \\ 16 \\ Abordagem do Paciente em Síndrome de Abstinência Alcóolica: Diagnóstico, avaliação e tratamento.

2. 3. posta ao tratamento (ANEXO I); Número de pacientes tratados, indicados para internação hospitalar/ Número de pacientes atendidos no ambulatório; Número de pacientes reinternados. SIGLAS \\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\ ABP Associação Brasileira de Psiquiatria BDZ Benzodiazepínicos CIWA ar Clinical Institute Withdrawal Assessment for Alcohol CBSAA Consenso Brasileiro sobre a Síndrome de Abstinência Alcóolica DT Delirium Tremens SAA Síndrome de Abstinência Alcoólica SDA Síndrome de Dependência Alcoólica SNC Sistema Nervoso Central REFERÊNCIAS\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\ GRAU DE RECOMENDAÇÃO / NÍVEL DE EVIDÊNCIA 1. Laranjeira, R. et at. Consenso sobre a Síndrome de Abstinência do Álcool (SAA) e o seu tratamento. Rev. Bras. Psiquiatr. v.22 n.2 São Paulo Jun. 2000 2. Trzepacz, Paula. Tratamento de pacientes com delirium. In: American Psychiatric Association. Porto Alegre: Artmed, 2005. p. 33-56. 3. Day E., Bentham P, Callaghan R, et at. Thiamine for Wernicke- Korsakoff Syndrome in people at risk from alcohol abuse. Cochrane Database of Systematic Reviews 2004. D D B ANEXO I \\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\ ESCALA CIWA-AR CLINICAL INSTITUTE WITHDRAWAL ASSESSMENT FOR ALCOHOL, REVISED (CIWA-AR) Escala pode ser consultada em www.projetodiretrizes.org.br volume 2, p. 12. ANEXO II \\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\ TEXTO SUBSIDIÁRIO INTRODUÇÃO Segundo dados do Ministério da Saúde, o alcoolismo ocupou, no triênio 1995-96-97, o quarto lugar no grupo das doenças mais incapacitantes, considerando a prevalência global, tendo o custo total de gastos relativos a internações decorrentes do abuso e dependência do álcool e outras drogas ultrapassado R$ 310 milhões (Seibel, 2001). A Síndrome de Abstinência Alcoólica (SAA) constitui uma complicação do alcoolismo, sendo seu aparecimento ainda que de maneira discreta e sutil a confirmação da Síndrome de Dependência Alcóolica (SDA) (Bertolote, 1997). A SAA é considerada, muitas vezes, como o principal indicador da existência da dependência, pois para que esta se desenvolva, é necessário, na maioria dos casos, que o indivíduo consuma cronicamente o álcool, geralmente em grandes quantidades, e tenha diminuído ou cessado a ingestão abruptamente (Scivoletto & Andrade, 1997). Abordagem do Paciente em Síndrome de Abstinência Alcóolica: Diagnóstico, avaliação e tratamento. \\ 16 \\ pág. 251

Para Laranjeira et at. (2000), uma série de fatores influenciam o aparecimento e a evolução da SAA, entre eles: a vulnerabilidade genética, o gênero, o padrão de consumo de álcool, as características individuais biológicas e psicológicas e os fatores socioculturais. Os sintomas e sinais variam também quanto à intensidade e à gravidade, podendo aparecer após uma redução parcial ou total da dose usualmente utilizada, voluntária ou não, como, por exemplo, em indivíduos que são hospitalizados para tratamento clínico ou cirúrgico. Os sinais e sintomas mais comuns da SAA são: agitação, ansiedade, alterações de humor (irritabilidade, disforia), tremores, náuseas, vômitos, taquicardia, hipertensão arterial, entre outros. Ocorrem complicações como: alucinações, o Delirium Tremens (DT) e convulsões. Os sintomas psicopatológicos presentes na SAA, geralmente acompanhados de sinais e sintomas neurológicos agudos, possuem algumas características que, de início, já os diferenciam dos quadros psicopatológicos mais crônicos: seu início súbito, a rápida evolução e modificação dos sintomas psíquicos e a resposta favorável e rápida ao tratamento farmacológico (Scivoletto & Andrade, 1997). Além disso, segundo Laranjeira et at. (2000), o manejo da SAA é o primeiro passo no tratamento da dependência do álcool e representa um momento privilegiado para motivar o paciente seguir em tratamento. Considerando a heterogeneidade de condutas no tratamento da SAA no Brasil (muitas delas sem evidências científicas), contrastando com o sólido conhecimento internacional sobre o que fazer, e o que não fazer, na SAA; a Associação Brasileira de Psiquiatria, em 2000, (ABP) organizou o Consenso Brasileiro sobre a Síndrome de Abstinência Alcoólica (CBSAA). É baseado nesse consenso que organizamos o presente protocolo. BIBLIOGRAFIA ADICIONAL RECOMENDADA \\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\ 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. Zaleski M, Laranjeira RR, Marques AC, Ratto L, Romano M, Alves HN, Soares MB, Abelardino V, Kessler F, Brasiliano S, Nicastri S, Hochgraf PB, Gigliotti Ade P, Lemos T; Brazilian Association of Studies on Alcohol and Other Drugs. [Guidelines of the Brazilian Association of Studies on Alcohol and Other Drugs (ABEAD) for diagnoses and treatment of psychiatric comorbidity with alcohol and other drugs dependence]. Rev Bras Psiquiatr. 2006 Jun;28(2):142-8. Epub 2006 Jun 26. Portuguese. Laranjeira R, Duailibi SM, Pinsky I. [Alcohol and violence: psychiatry and public health] Rev Bras Psiquiatr. 2005 Sep;27(3):176-7. Epub 2005 Oct 4. Portuguese. Laranjeira R, Romano M. [Brazilian consensus on public policies on alcohol]rev Bras Psiquiatr. 2004 May;26 Suppl 1:S68-77. Epub 2005 Jan Portuguese. Pinsky I, Laranjeira R. Alcohol in Brazil: recent public health aspects. Addiction. 2004 Apr;99(4):524. No abstract available. Erratum in: Addiction. 2005 Feb;100(2):264. BAYARD, MAX; MCINTYRE, JONAH; HILL, KEITH R. AND WOODSIDE JR, JACK. Alcohol Withdrawal Syndrome. Journal of the American of Family Physicians, 2004; 69:1443-50 http://www.aafp.org/afp/20040315/1443.html. BJORKQVIST SE, ISOHANNI M, MAKELA R, MALINEN L. Ambulant treatment of alcohol withdrawal symptoms with carbamazepine: a formal multicentre double-blind comparison with placebo. Acta Psychiatr Scand 1976;53:333-42. HOES M. J. A. J. M. B-vitamins and magnesium in delirium tremens and alcoholism. In: Clin Psychiatry, 40(11): 476-9 3-2, Nov. 1979. HOLBROOK AM, CROWTHER R, LOTTER A, CHENG C, KING D. Meta-analysis of benzodiazepine use in the treatment of acute alcohol withdrawal. CMAJ 1999;160:649-55. KOSTEN TR, O CONNOR PG. Management of drug and alcohol withdrawal. N pág. 252 \\ 16 \\ Abordagem do Paciente em Síndrome de Abstinência Alcóolica: Diagnóstico, avaliação e tratamento.

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