FLEBOTOMÍNEOS - VETORES DA LEISHMANIOSE TEGUMENTAR AMERICANA - NO ASSENTAMENTO DE REFORMA AGRÁRIA BOM JARDIM, NO MUNICÍPIO DE ARAGUARI MG



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Transcrição:

CONVÊNIOS CNPq/UFU & FAPEMIG/UFU Universidade Federal de Uberlândia Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação DIRETORIA DE PESQUISA COMISSÃO INSTITUCIONAL DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA 2008 UFU 30 anos FLEBOTOMÍNEOS - VETORES DA LEISHMANIOSE TEGUMENTAR AMERICANA - NO ASSENTAMENTO DE REFORMA AGRÁRIA BOM JARDIM, NO MUNICÍPIO DE ARAGUARI MG 1 Elaine Aparecida Borges Universidade Federal de Uberlândia. Endereço: Av. João Naves D Ávila, n 2121. E-mail: eab8284@yahoo.com.br 2 Jureth Couto Lemos Universidade Federal de Uberlândia jclemos@ufu.br RESUMO: Este trabalho teve como objetivo realizar visitas aos lotes do assentamento para capturar flebotomíneos para uma possível classificação da nova espécie do inseto. Esta pesquisa foi realizada no período de agosto de 2007 a julho de 2008, no Assentamento de Reforma Agrária Bom Jardim, no Município de Araguari-MG. Para capturar os flebotomíneos utilizou-se uma armadilha do tipo Shannon e três armadilhas CDC (Center on Disease Control). Ao final da pesquisa foram capturados e identificados 41 flebotomíneos, sendo 13 Lutzomyia lenti, 13 Lutzomyia whitmani, sete Lutzomyia pessoai, três Lutzomyia cortelezzii, dois Lutzomyia sp, um Lutzomyia longipenis, um Brumptomyia avelari e um Lutzomyia termitophila. O número de exemplares capturados não é expressivo, contudo duas das espécies encontradas no assentamento são responsáveis pela transmissão de Leishmanias ao homem - Lutzomyia pessoai e Lutzomyia whitmani, isso demonstra que os assentados correm o risco de contrair a doença. Diante disso, considera-se que foi de suma importância à realização do trabalho de esclarecimento e prevenção da doença realizada junto à população do assentamento e que as pesquisas devem continuar como forma de vigilância em saúde. Palavras chave: Leishmaniose Tegumentar Americana, Flebotomíneos, Reforma Agrária. 1. INTRODUÇÃO Os vetores responsáveis por transmitir as Leishmanias causadoras da Leishmaniose Tegumentar Americana - LTA são os flebotomíneos, os quais pertencem ao Filo Arthropoda, da Classe Insecta, da Ordem Diptera, da Subordem Nematocera, da Família Psychodidae, da subfamília Phlebotominae, do gênero Lutzomyia, subdivido em vários subgêneros e grupos de espécies que compreendem a maioria das espécies e quase todas aquelas cujas fêmeas picam o homem (IGLÉSIAS, 1997; MARCONDES, 2001). Os flebotomíneos são insetos pequenos cujo tamanho varia de 1,5 a 3mm, olhos grandes, muito pilosos e de cor palha e castanho-claro, facilmente reconhecíveis pela atitude que adotam 1 Acadêmica do Curso de Geografia da Universidade Federal de Uberlândia. 2 Profa. Dra. da Escola Técnica de Saúde da Universidade Federal de Uberlândia ESTES/UFU

quando pousados, pois as asas permanecem entreabertas e ligeiramente levantadas. Por isso, este inseto também é conhecido como cangalha, cangalhinha, asa dura, orelha-de-veado, palha, birigüi, tatuíra, bererê, tatuquira, murutinga, escangalhado e asa branca (BRASIL, 1997; REY, 1992; MARZOCHI, SCHUBACH; MARZOCHI, 1999). No mundo, segundo Aguiar e Medeiros (2003) são conhecidas aproximadamente, 800 espécies de flebotomíneos, das quais, 60% na região Neotropical. No Brasil, tem-se conhecimento de 229 espécies, o que representa 28,6% do total e 47,7% das que ocorre na Região Neotropical. Estes autores mostram que das 229 espécies encontradas no Brasil, segundo os seus hábitos, 147 espécies são de habitats essencialmente silvestres, ficando o contato com o ser humano restrito quando este penetra no ambiente natural para realizar atividades ligadas à agricultura, silvicultura, mineração, construções de rodovias e hidrelétricas e, as 82 espécies restantes, além de habitarem o ambiente florestal habitam também áreas marginais, anexos de animais domésticos e paredes dos domicílios humanos. Segundo Brazil e Brazil (2003), o ciclo biológico de flebotomíneos do gênero Lutzomyia se processa no ambiente terrestre e compreende quatro fases de desenvolvimento: ovo, larva, pupa e adulto (cf. FIGURA 1). Após a cópula as fêmeas colocam seus ovos sobre um substrato úmido, no solo, e com alto teor de matéria orgânica, para garantir a alimentação das larvas. Do desenvolvimento do ovo ao inseto adulto decorre um período de aproximadamente 30 a 40 dias de acordo com a temperatura. Apenas as fêmeas são hematófagas obrigatórias, sua longevidade é estimada em média de 20 dias. Elas apresentam hábitos ecléticos, o que possibilita realizar o repasto sangüíneo em várias espécies de animais vertebrados, inclusive nos seres humanos. Em áreas urbanas, o cão demonstra ser a principal fonte de alimentação no ambiente doméstico (MARCONDES, 2001; REY, 2001). A transmissão das Leishmanias se dá quando as fêmeas dos flebotomíneos ao sugarem o sangue infectado de animais mamíferos silvestres, domésticos ou do homem, ingerem macrófagos parasitados por formas amastigotas. Após a infecção do vetor, as fêmeas infectantes ao realizarem um novo repasto sangüíneo em um hospedeiro vertebrado liberam as formas promastigotas metacíclicas juntamente a sua saliva. Os flebotomíneos apresentam hábitos crepusculares e noturnos e podem ser encontrados em tocas de animais, currais, chiqueiros, podendo invadir residências e abrigar-se em locais mais escuros. Seus vôos são curtos e baixos caracterizando-se por um aspecto saltitante em um raio de ação não superior a 200 metros (REY, 1992; IGLÉSIAS, 1997; MARZOCHI, SCHUBACH; MARZOCHI, 1999). 2

Figura 1 - ciclo biológico de flebotomíneos do gênero Lutzomyia. Fonte: BRAZIL; BRAZIL, (2003). Os flebotomíneos responsáveis pela transmissão das Leishmanias ao homem e aos animais no Brasil, segundo Young e Duncan (1994), Marcondes (2001) e Aguiar e Medeiros (2003) são: L. anduzei Rozeboom, 1942, Lutzomyia antunesi Coutinho, 1939, Lutzomyia ayrozai Barretto e Coutinho, 1940, Lutzomyia flaviscutellata Mangabeira, 1042a, Lutzomyia gomezi Nitzulescu, 1931, Lutzomyia intermedia Lutz e Neiva, 1912, Lutzomyia migonei França, 1920, Lutzomyia neivai, Pinto, 1926, revalidado Marcondes, 1996, Lutzomyia olmeca bicolor Fairchild e Theodor, 1971 Lutzomyia olmeca nociva Young e Arias, 1982, Lutzomyia paraensis Costa Lima, 1941 Lutzomyia pessoai Coutinho e Barretto, 1940, Lutzomyia quamiventris squamiventris Lutz e Neiva, 1912, Lutzomyia tuberculata Mangabeira, 1941d, Lutzomyia ubiquitallis Mangabeira 1042a, Lutzomyia umbratilis Ward e Fraiha, 1977, Lutzomyia wellcomi Fraiha, Shaw e Lainson, 1971 e Lutzomyia whitmani Antunes e Coutinho, 1939. Os Lutzomyia da LVA são: Lutzomyia longipalpis Lutz e Neiva, 1912 e Lutzomyia cruzi Mangabeira, 1938. Rangel e Lainson (2003b) consideram que aproximadamente 40 espécies são consideradas suspeitas ou já foram comprovadas como vetores das Leishmanioses. 3

Conforme Lainson e Shaw (2005), os agentes patogênicos causadores da Leishmaniose Tegumentar Americana no país são: Leishmania (Leishmania) amazonensis (Lainson e Shaw, 1972); Leishamnia (Viannia) guyanensis (Floch, 1954) e Leishmania (Viannia) brasiliensis (Vianna, 1991). Casagrande et al. (2006) em pesquisas realizadas em 12 lotes do Assentamento de Reforma Agrária Bom Jardim em estudo capturaram-se e identificaram-se 71 flebotomíneos em nível de sexo e gênero. Quanto à espécie foram identificados apenas 52, ficando 19 lâminas como Lutzomyia indeterminada, isto porque esta espécie ainda não está catalogada. Das 18 espécies de flebotomíneos responsáveis pela transmissão da LTA, duas foram encontradas no Assentamento, a Lutzomyia pessoai e a Lutzomyia whitmani. A leishmaniose tegumentar é uma antiga doença do homem, isto porque há relatos de descrições da leishmaniose cutânea, encontradas no primeiro século d.c., na Ásia Central. De acordo com as regiões que ocorriam os casos recebia uma denominação diferente como: ferida de Balkh, nome de uma cidade do Afeganistão, botão de Aleppo, na Síria e botão de Bagdá, no Iraque (REY, 1992; GENARO, 2004). As primeiras descrições clínicas datam do século XVI, que referiam uma doença que destruía o nariz e as cavidades bucais de índios na encosta da Cordilheira dos Andes, nos vales quentes e úmidos onde cultivavam a coca. Em 1764 foram publicados trabalhos mostrando que no Peru, a leishmaniose cutânea ou Uta era transmitida pela picada de flebotomíneos (REY, 1992; GENARO, 2004). No Brasil, a leishmaniose é conhecida desde 1855, quando do encontro de lesões de pele similares ao botão-do-oriente. Em 1908, durante a construção da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil, em São Paulo, ocorreram numerosos casos, principalmente na cidade de Bauru, ficando conhecida por úlcera-de-baurú. A doença chegou a ser classificada como associada à ocupação profissional porque atingiu os trabalhadores durante esta obra. Em 1909 foram identificados parasitos na úlcera-de-baurú, os quais foram denominados em 1911, como Leishmania brasiliensis, que produz a forma mucosa. Mas somente em 1922 foi observado, pela primeira vez, o papel dos flebotomíneos na transmissão da LTA (BRASIL, 2002). A LTA é uma das afecções dermatológicas que merece maior atenção, devido à magnitude da doença, assim como pelo risco de ocorrência de deformidades que pode produzir no homem, como também pelo envolvimento psicológico do doente, com reflexos no campo social e econômico, uma vez que, na maioria dos casos, pode ser considerada uma doença ocupacional. Nos últimos anos, o Ministério da Saúde registrou média anual de 35 mil novos casos de LTA no país, estando presente em todos os estados brasileiros (BRASIL, 2002). 4

Diante do exposto concluiu-se que se fazia necessária uma pesquisa entomológica no Assentamento de Reforma Agrária Bom Jardim, a qual teve como objetivo realizar visitas aos lotes do assentamento para capturar flebotomíneos para uma possível classificação da nova espécie do inseto. 2. MATERIAIS E MÉTODOS 2.1 Área de Estudo Segundo Brasil (2003), o assentamento de Reforma Agrária Bom Jardim está localizado no Município de Araguari MG. O acesso ao mesmo é feito partindo-se de Araguari, do trevo da BR 050, no sentido Indianópolis (rodovia MG 748) (cf. MAPA 1). Este assentamento foi criado em 23 de dezembro 1999, onde foram assentadas 44 famílias. A vegetação original do assentamento pertence ao domínio do Cerrado e, subdivide-se em três fitofisionomias que são: campos sujo, cerrado e cerradão, sendo a área mais extensa encontrada dentro do assentamento. O clima da região é Tropical de Altitude, com duas estações bem definidas, sendo uma úmida e outra seca. 18 5' 18 50' 18 45' 18 40' 18 35' 18 30' 18 25' 18 20' 18 15' 48 40' 48 35' 48 30' 48 25' 48 20' 48 15' 48 10' 48 5' 48 00' 47 55' 47 50' 18 5' 18 50' 18 45' 18 40' 18 35' 18 30' 18 25' 18 20' 18 15' BRASIL N Assentamento de Reforma Agrária Bom Jardim, Araguari - Minas Gerais/Brasil - 2006. MINAS GERAIS % 48 40' 48 35' 48 30' 48 25' 48 20' 48 15' 48 10' 48 5' 48 00' 47 55' 47 50' ARAGUARI LEGENDA Limites do Assentamento de Reforma Agrária Bom Jardim Limite municipal % Sede municipal Rodovias pavimentadas Rodovias sem pavimentação 5 0 5 10 Kilometers Quilômetros Fonte: www.geominas.mg.gov.br; Laboratório de Cartografia e Sensoriamneto Remoto - IG/UFU. Organizado por: CASAGRANDE, B. 2006. Mapa 1 - Localização do assentamento de Reforma Agrária Bom Jardim As formas de relevo no Assentamento de Reforma Agrária Bom Jardim se distribuem da seguinte forma: 20% suave ondulado, 50% ondulado e 30% forte ondulado. Os solos em sua maioria são latossolos, porém encontram-se solos podzólicos e litólicos. BR-050 MG-223 5

2.2 Procedimentos Metodológicos Esta pesquisa foi realizada de agosto de 2007 a julho de 2008, com visitas a 37 lotes do Assentamento de Reforma Agrária Bom Jardim, para capturar flebotomíneos. Para capturar os flebotomíneos foi utilizada uma armadilha do tipo Shannon (SHANNON, 1939), instalada no peridomicílio e 3 armadilhas luminosas do tipo CDC (Center on Disease Control) (SUDIA; CHAMBERLAIN, 1962), instaladas nos abrigos de animais domésticos (galinheiro, chiqueiro, curral), e tubo de sucção capturador de Castro (BRASIL, 1996). Ao capturar os insetos estes eram expirados para potes plásticos. Após as capturas os potes plásticos e os puçás das armadilhas de CDC com os flebotomíneos eram levados para o Laboratório da Escola Técnica de Saúde para serem preparados e posteriormente identificados. A preparação se deu por meio de imersão em produtos químicos seguidos da montagem em lâminas (AGUIAR; SOUCASAUX, 1984; BRASIL, 19- -; GALATI, 2003). 3. RESULTADOS E DISCUSSÕES O Assentamento Bom Jardim foi dividido em 44 lotes na sua criação. Com a necessidade da presença de Área de Preservação Permanente (APP), dois lotes foram destinados à área de reserva. Dos 42 lotes três estão sem moradores e em dois lotes, os moradores não participam de projetos e atividades realizadas no assentamento, por estarem em conflito com o INCRA. Dessa forma, as capturas foram realizadas em 37 lotes. Durante o período de pesquisa foram capturados 41 flebotomíneos nas armadilhas tipo Shannon e CDC, do total 16 são machos e 25 fêmeas, sendo 13 Lutzomyia lenti (31,7%), 13 Lutzomyia whitmani (31,7%), sete Lutzomyia pessoai (17,0%), três Lutzomyia cortelezzii (7,3%), dois Lutzomyia sp (4,8%), um Lutzomyia longipenis (2,5%), um Brumptomyia avelari (2,5%) e um Lutzomyia termitophila (2,5%) (cf. TABELA 1). Tabela 1 - Flebotomíneos capturados em 37 Lotes do Assentamento de Reforma Agrária Bom Jardim, Araguari MG, de agosto de 2007 a julho de 2008. Espécies Macho Fêmea Total Lutzomyia lenti 04 09 13 Lutzomyia whitmani 03 10 13 Lutzomyia pessoai 06 01 07 Lutzomyia cortelezzii 02 01 03 Lutzomyia sp 01 01 02 Lutzomyia longipenis -- 01 01 Brumptomyia avelari -- 01 01 Lutzomyia termitophila -- 01 01 Total 16 25 41 6

A tabela 1 mostra que não houve diferença significativa entre as espécies encontradas nesta pesquisa com os resultados de Casagrande et al. (2006), e que mais uma vez ficou comprovada a presença de duas espécies incriminadas na transmissão de agentes patogênicos causadores da LTA - Lutzomyia whitmani e Lutzomyia pessoai. Nos peridomicílios onde foi instalada a armadilha do tipo Shannon, a presença de matéria orgânica era inexpressiva, pois os quintais, em sua maioria, estavam limpos. No entanto, como já foi mencionado, os flebotomíneos voam cerca de 200m em busca de alimentos o que justifica tê-los capturados em ambiente com ausência de matéria orgânica em decomposição. Enquanto que nos locais próximos aos abrigos dos animais domésticos, onde foram instaladas as armadilhas do tipo CDC, a presença de matéria orgânica em decomposição era bastante expressiva, uma vez que os animais destes abrigos produzem resíduos. 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS Neste trabalho não foi possível identificar de forma mais detalhada a espécie que havia sido considerada como indeterminada. Contudo, é relevante destacar a importância do trabalho realizado pelos pesquisadores junto aos assentados acerca do reconhecimento do vetor, seus hábitos bem como os principais sintomas da LTA, de modo a possibilitar aos assentados identificarem a presença da enfermidade em sua fase inicial e mesmo se prevenirem de uma possível contaminação. A partir das observações realizadas durante os trabalhos de campo foi possível verificar que os assentados precisam receber mais informações acerca dos vetores de importância sanitária, bem como sobre qualidade ambiental, para que dessa forma possam executar ações em seus lotes que não coloquem em risco sua saúde, como por exemplo, a disposição e acúmulo de matéria orgânica próxima às residências, evitando dessa forma, que os vetores das leishmanioses se desenvolvam em seus peridomicílios facilitando assim o contato com os mesmos. 5. REFERÊNCIAS AFONSO CARDOSO, S. R. et al. Leishmaniose tegumentar canina no município de Uberlândia, Minas Gerais - diagnóstico clínico e sorológico de cães naturalmente infectados. Revista do Centro de Ciências Biomédicas, Universidade Federal de Uberlândia, v. 5 n. 1, p. 14-21, 1989..AGUIAR, G. M. de; MEDEIROS, W. M. de. Distribuição e habitats. In: RANGEL, E. F.; LAINSON, R. (org.). Flebotomíneos do Brasil. Rio de Janeiro: FIOCRUZ, 2003. 368 p. 207-255. AGUIAR, G. M. de; SOUCASAUX, T. Aspectos da ecologia dos flebótomos do Parque Nacional da Serra dos Órgãos, Rio de Janeiro. I Freqüência mensal em isca humana (Diptera, Psychodidae, Phlebotominae). Memórias do Instituto Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, v. 79, n. 2, p. 197-209, abr./jun. 1984 7

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