Equipe de Saúde da Família para População em Situação de Rua



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Transcrição:

Equipe de Saúde da Família para População em Situação de Rua II Mostra Nacional de produção de Saúde de Família Autores Ana Dilma Neres dos Santos (Gerente do Centro de Saúde Carlos Chagas); Cláudio Candiani (Generalista); Maria das Graças Santos (Enfermeira); Angélica Silveira (Assistente Social); Derli Juliana Canuto e Cesarina da Silva (Auxiliares de Enfermagem); Amir Eduardo Issa Ferreira (ACS); Fotos: Mara Mércia Fonseca

INTRODUÇÃO Censo realizado em BH em 1998 estimou 916 pessoas em situação de rua. A estratégia de implantação do Programa de Saúde da Família no município dificultou ainda mais o acesso dessa população às ações básicas de saúde. A falta de cadastro pelo IBGE, assim como moradia fixa, foram fatores que impossibilitaram adscrição e vinculação dessa clientela às unidades e equipes específicas.

Localizado na região central da cidade, área de maior concentração dessa população, o Centro de Saúde Carlos Chagas torna-se, portanto, referência para atendimento da mesma. Em maio/ 2002 implanta-se o programa e credencia-se equipe específica para o atendimento desses usuários. Objetivo Geral

Garantir direito de cidadania, proporcionando o acesso dessa população as ações básicas de saúde, assim como, a outros níveis de assistência, objetivando a integralidade da assistência Objetivos Específicos

Garantia de acesso imediato às ações de saúde, através do acolhimento. Intervenções junto a outros níveis de assistência no sentido de garantir a linha do cuidado à saúde. Desenvolver ações de vigilância à saúde. Busca de ações conjuntas, possibilitando a intersetorialidade das ações, em especial com a Secretaria Municipal de Assistência Social. Promover ações interdisciplinares com as equipes de apoio da unidade, possibilitando a integralidade da assistência. Fortalecimento da rede social visando a inserção dessa população nas políticas públicas. Metodologia

- Discussão com representantes da Coordenação Municipal de Políticas Sociais - Levantamento de índices quantitativos e de vulnerabilidade à saúde da população - Elaboração e aprovação do projeto a ser implantado - Avaliação e seleção de técnicos - Capacitação da equipe - Estabelecimento de parcerias e garantia de serviços de apoio - Planejamento em equipe com atuação interdisciplinar Perfil da população atendida

Tipo de Consultas Médicas realizadas pela Equipe da Pop de Rua.Maio/2002 a dezembro/2003. Urgência 5% 1º vez 17% Subsequente 78% Fonte: SIA - SUS - GEREPI CS ABRIL/2004 Distribuição da população de rua atendida, nas consultas médicas, por sexo.maio de 2002 a dezembro de 2003. Feminino 32% Masculino 68% Fonte: SIA - SUS - GEREPI CS ABRIL/2004

Distribuição da população de rua atendida, nas consultas médicas, por faixa etária.maio de 2002 a dezembro de 2003. 50 a 59 a 15% 60 e + a 5% 40 a 49 a 29% < 10 a 0% 10 a 19 a 3% 20 a 39 a 48% Fonte: SIA - SUS - GEREPI CS ABRIL/2004 Distribuição das consultas médicas realizadas pelas equipe de pop. de rua, por motivo de atendimento. Maio de 2002 a Dez de 2003. 1000 900 912 800 700 600 500 400 300 200 100 0 135 69 26 109 79 71 27 38 19 141 Motivo da Consulta Fonte: SIA - SUS - GEREPI CS ABRIL/2004

PERFIL DO PÚBLICO composta por homens entre 20 e 39 anos ATENDIDO: Trata-se de uma população basicamente adulta residem nas ruas ou em albergues e abrigos 40% da população atendida não é de BH, mas já está na cidade há mais de 6 meses não têm documentos não trabalham ou têm sub-emprego são semi-analfabetos estão com a vacinação atrasada não usam ou usam esporadicamente preservativos o etilismo, o tabagismo e o uso de drogas estão quase sempre presentes Do total de 1.246 usuários atendidos no C.S. Carlos Chagas, no período de maio de 2002 a março de 2004,: 70% é do sexo masculino e 30% é do sexo feminino. Nos atendimentos, predomina a faixa etária de 20 a 39 anos correspondendo 48% do total; sendo que 3% são crianças ou adolescentes e 20% são maiores de 49 anos.

Entre os principais motivos de atendimento, destacamos:.vícios (álcool, cigarro, drogas).doenças infecciosas (tuberculose, DST s, infecções de pele, exoparasitas).transtornos mentais (esquizofrenia, depressão).traumas (acidentes, agressões).saúde oral precária Produtos, resultados qualitativos e quantitativos

- Cadastramento, adscrição, vinculação e responsabilização - Garantia de atendimento espontâneo ou programado desta população - Intervenções técnicas de caráter imediato e resolutivo - Impacto na cadeia de transmissão de doenças - Participação da população no controle social - Desenvolvimento de ações intersetoriais e interdisciplinares Atingir um público de 1.246 usuários, cujos atendimentos foram realizados pela equipe interdisciplinar, estão identificados no item 4 Perfil do público atendido. Sensibilização dos gestores, nos diversos níveis de gerenciamento. Inclusão da população de rua nos projetos desenvolvidos pela SMSA-BH. Criação de vínculo da PSR com a equipe da unidade. Garantia de acesso dessa população às ações de saúde. Desenvolvimento de ações interdisciplinares da equipe, potencializando os resultados alcançados.

Intervenção na cadeia de transmissão de doenças infectocontagiosas, exemplificamos o controle de TBC e vacinação, através das ações: - Tratamento dos doentes - Sensibilização dos profissionais dos equipamentos onde os casos foram detectados. - Isolamento de baciliferos - vacinação de rotina individual e coletiva dessa clientela Melhoria da qualidade da assistência prestada Estabelecimento de um fluxo específico com o SAMU para atendimento dessa população. A visível transformação da consciência do usuário relativa ao auto cuidado na manutenção de sua saúde.

Ampliação da rede de atendimento, intersetorial. Reativar o fórum de população de rua, possibilitando a participação mais efetiva do usuário. Manutenção do acompanhamento da clientela vinculada, mesmo que ocorra adscrição da mesma a algum território(moradia), objetivando manter as ações de vigilância e agravos à saúde. Lições aprendidas

Facilidades - Ações intersetoriais possibilitam melhor resultado do trabalho - Planejamento, controle e avaliação das ações implicam melhoria na qualidade da assistência prestada Dificuldades - Condições de infra estrutura da unidade - Descontinuidade na linha de cuidado em especial serviços de urgência e emergência - Autonomização do usuário referente aos cuidados de saúde - Vinculação e responsabilização do usuário à equipe - Formação de uma rede resolutiva de atendimento dessa população - Busca ativa dos usuários.

Recomendações - Efetivação da eqüanimidade como garantia de direito de cidadania - Necessidade de implantação de políticas para populações específicas

Percebo, nesta avenida Um inocente seguido pelas crianças...admiro também este pobre diabo; Este pobre louco;que pretende fazer com tantos farrapos?... Michel Foucault