Instrumentos Económicos e Financeiros para a Gestão da Água



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Transcrição:

Mestrado Integrado em Engenharia do Ambiente Instrumentos Económicos e Financeiros para a Gestão da Água Políticas de Ambiente Docente: António Gonçalves Henriques Autores: Carolina Blayer nº52955 Filipe Paupério nº 54816

ÍNDICE RESUMO... 1 1. ENQUADRAMENTO LEGAL... 3 1.1. Directiva-Quadro da Água... 3 1.2. Lei da Água Nº 58/2005... 4 1.3. Decreto-lei nº 45/94 de 22 de Fevereiro... 6 1.3.1. Planos para a Água em Portugal... 6 2. ECONOMIA DA ÁGUA... 7 3. INSTRUMENTOS ECONÓMICO-FINANCEIROS... 11 4. TIPOS DE INSTRUMENTOS ECONÓMICO-FINANCEIROS... 14 5. LACUNAS DOS INSTRUMENTOS ECONÓMICO-FINANCEIRO... 15 6. CONCLUSÃO... 16 7. BIBLIOGRAFIA... 17 1

RESUMO Sendo a água um recurso natural que ao longo do tempo se tem vindo a degradar e a começar a haver em escassez devido a alterações ambientais, abuso de extracção e pela sua má gestão provenientes do Homem. Começou a haver uma maior preocupação por parte dos economistas e outros investigadores para uma melhor gestão deste recurso sendo um bem essencial e comum a todos. Para a sua preservação são tomadas medidas para que a sua gestão seja feita de um modo eficiente e sustentável. Neste trabalho temos como objectivo apresentar os instrumentos económicos e financeiros criados para este fim tais como as taxas, tarifas subsídios e empréstimos. Tendo como suporte de estudo a Directiva-Quadro da Água, a Lei da Água e o Plano Nacional da Água (PNA). Palavras-Chave: Directiva-Quadro da Água, Lei da Água, Plano Nacional da Água, gestão sustentável da água, instrumentos económicos e financeiros. 2

1. ENQUADRAMENTO LEGAL Com a necessidade de protecção da água, é preciso um modelo institucional de competência para a gestão da água e gestão dos sistemas associados a esse recurso como o abastecimento e o seu tratamento. É para isso necessário haver um quadro legal de referência a modo de permitir uma boa articulação entre as entidades essenciais na economia da água e a criação dos instrumentos que protegem os meios hídricos. 1.1. Directiva-Quadro da Água Uma das medidas mais importantes na política da água nos últimos anos foi a adopção pelo Parlamento Europeu e pelo Conselho da União Europeia, em Outubro do ano 2000, da Directiva Quadro da Água (Directiva 2000/60/CE). A União Europeia pretendeu estabelecer uma política da água com um enquadramento legal transparente, eficaz e coerente baseado num conjunto de princípios comuns (princípios da precaução e da acção preventiva, da correcção prioritariamente na fonte dos danos causados ao ambiente e do poluidorpagador). Como a própria designação indica esta norma estabelece um quadro de acção comunitária para a protecção das águas de superfície interiores, das águas de transição, das águas costeiras e das águas subterrâneas. Directiva estabelece 3 conjuntos de questões fundamentais na gestão da água: 1ª Os objectivos (art. 1º) 2ª Análise económica da utilização da água (art. 5º) 3ª Os preços da água ajustados à sua utilização eficiente (art. 9º) 1.1.1. Objectivos - Evitar a continua degradação da água, proteger e melhorar o estado dos ecossistemas aquáticos e os ecossistemas que dependem destes respeitando as suas necessidades. - Promover um consumo sustentável de água para uma protecção a longo prazo dos recursos hídricos disponíveis. - Dispor-se de uma protecção reforçada para melhorar o ambiente aquático, através de medidas específicas como a redução gradual das descargas, das emissões e perdas de substâncias prioritárias. Podendo estas serem reduzidas por extinção ou eliminação por fases das descargas, emissões e perdas das substâncias prioritárias; - Assegurar a redução gradual da poluição das águas subterrâneas para evitar a sua agravação. - Contribuir para mitigação dos efeitos das inundações e secas. 1.1.2. Análise económica da utilização da água A análise económica da utilização do uso da água consiste em realizar: - Uma análise das respectivas características, - Um estudo do impacto da actividade humana sobre o estado das águas de superfície e sobre as águas subterrâneas, - Uma análise económica da utilização da água, 3

Um dos desafios prioritários é, pois num prazo de 4 anos pretende-se usando uma metodologia harmonizada por todos os países incluídos nesta directiva, determinar o verdadeiro valor da água tendo em conta os investimentos, custo de manutenção e externalidades, 1.1.3. Preço da Água Na política dos preços da água a DQA pretende implementar um incentivo ao uso sustentável dos recursos hídricos, qualquer que seja a sua utilização. O Artigo 9º da presente directiva estabelece que os Estados-membros devem considerar o princípio da recuperação dos custos da exploração, manutenção e gestão dos empreendimentos, custos de investimentos, os custos ambientais e os custos de escassez do recurso no seu preço. Os Estados-membros devem assegurar até 2010 a implementação de tarifa da água. 1.1.4. Como adequar os preços da água Tendo em conta que a qualidade da água, desde a sua origem até ao receptor, nem sempre é da responsabilidade das entidades que fornecem o serviço da água, julga-se que a aproximação aos custos reais deveria ser feita a vários níveis conjugado de instrumentos jurídicos e instrumentos económico-financeiros para que, de uma forma integrada, se contribua a atingir os objectivos pretendidos. Nos serviços da água inclui-se o abastecimento, recolha e tratamento de águas residuais os instrumentos económico-financeiros, as concessões em fins múltiplos, a revisão da legislação sobre licenciamentos e contratos-programa. 1.2. Lei da Água Nº 58/2005 A Lei da Água e uma transposição da directiva quadro da água no entanto a lei apresenta uma especificidade maior pois explica em pormenor a aplicação da política dos preços da água. De facto os instrumentos financeiros são estabelecidos no capítulo VII desta lei, em 7 artigos diferentes, os quais especificam em pormenor os instrumentos económicofinanceiros. 1.2.1. Princípio da promoção da utilização sustentável dos recursos hídricos (artigo 77º) Este Artigo é uma reposição dos princípios estabelecidos no Artigo 9º da DQA. A lei é estabelecida de maneira a promover um uso eficiente dos recursos hídricos que nos diz que deve ser internalizado no preço da água: - Custos decorrentes de actividades susceptíveis de causar um impacte negativo no estado de qualidade e de quantidade de água e, em especial, através da aplicação do princípio do poluidor-pagador e do utilizador-pagador ; - Recuperação dos custos das prestações públicas que proporcionem vantagens aos utilizadores ou que envolvam a realização de despesas públicas, designadamente através das prestações dos serviços de fiscalização, planeamento e de protecção da quantidade e da qualidade das águas; - Recuperação dos custos dos serviços de águas, incluindo os custos de escassez. Porém este Artigo introduz uma novidade que não estava presente na DQA que admite uma diferenciação entre os utilizadores de recursos hídricos e utilizadores de serviços públicos 4

sendo os primeiros sujeitos a taxa de recursos hídricos e os segundos a uma tarifa dos serviços das águas. 1.2.2. Taxa de recursos Hídricos (artigo 78º) A taxa de recursos hídricos varia segundo o volume e o valor da água utilizada, a utilização privativa de bens do domínio público hídrico dando a devida atenção ao montante do bem público utilizado e do seu valor económico. Varia também segundo a actividade do utilizador, nomeadamente as actividades susceptíveis de causarem um impacte negativo significativo no estado de qualidade ou quantidade de água, internalizando os custos ambientais associados a tal impacte e à sua respectiva recuperação. E dependente também dos investimentos realizados para o abastecimento de água, como a utilização de obras de regularização de águas superficiais e subterrâneas realizadas pelo Estado, são pesados na incidência objectiva da TRH, proporcionando uma amortização do investimento e a cobertura dos respectivos custos de exploração e conservação, devendo ser progressivamente substituída por uma tarifa cobrada pelo correspondente serviço de água. 1.2.3. Aplicação da taxa de recursos hídricos (artigo 79º) As receitas obtidas com o produto desta taxa são aplicadas em financiamentos das actividades com objectivo de melhorar a eficiência do uso e qualidade da água, bem como dos ecossistemas adjacentes, em amortizações de investimentos e custos associados á sua exploração e cobrir os serviços de administração e de gestão dos recursos hídricos (utilização e protecção). A taxa é uma medida nova como tal a sua implementação será progressiva tendo como objectivo no ano 2010 estar totalmente aplicada quando a emissão dos títulos de utilização for implementado (Artigo 80º). 1.2.4. Tarifas dos serviços de Águas (artigo 82º). A tarifa dos serviços da água tem de assegurar os objectivos do serviço público que consiste em abastecer a água. O regime de tarifa tem de ser implementado pela empresa concessionária tendo em conta o princípio de utilizador-pagador permitindo um aumento de eficiência do uso da água pelos utilizadores. Para além de isso o preço tem de ser sustentável permitindo a concessionário: a) Assegurar tendencialmente e em prazo razoável a recuperação do investimento inicial e dos eventuais novos investimentos de expansão, modernização e substituição, deduzidos da percentagem das comparticipações e subsídios a fundo perdido; b) Assegurar a manutenção, reparação e renovação de todos os bens e equipamentos afectos ao serviço e o pagamento de outros encargos obrigatórios, onde se inclui nomeadamente a taxa de recursos hídricos; c) Assegurar a eficácia dos serviços num quadro de eficiência da utilização dos recursos necessários e tendo em atenção a existência de receitas não provenientes de tarifas. 5

1.2.5. Análise económica das utilizações da água (artigo 83º) Este artigo da LA é uma transposição do Artigo 5º da DQA que estabelece a análise económica da utilização da água de maneira a conter informação necessário, sobre os custos financeiros, ambientais e de escassez de cada região hidrográfica e respeitando o principio de poluidor-pagador e utilizador-pagador. No entanto o artigo 83º não é uma simples transposição da DQA, pois propõe-se uma análise mais profunda tendo em conta: - Melhor relação custo-eficácia para estabelecer os programas de medidas a incluir nos planos de gestão de bacia hidrográfica; A política de preços da água estabelece um contributo adequado dos diversos sectores económicos (separados em sector industrial, doméstico e agrícola) para a recuperação dos custos. 1.3. Decreto-lei nº 45/94 de 22 de Fevereiro Para uma correcta gestão dos recursos hídricos tem de haver uma política de planeamento adequada. Foi então no Decreto-Lei nº45/94 de 22 de Fevereiro que se aprovou o Planeamento de recursos hídricos. Os planos de recursos hídricos compreendem: a) O Plano Nacional da Água (PNA) b) Os planos de bacia hidrográfica (PBH) A alínea a) tem como base perspectivar a utilização dos recursos hídricos na óptica de gestão da procura, optimização de recursos e eficiência do tratamento e abastecimento do ciclo da água a nível nacional, pois a água é um bem económico e de sustentabilidade ambiental dos recursos hídrico além de ser um bem de consumo essencial. O meio hídrico, como ecossistema, reveste-se de enorme sensibilidade e requer a tomada de medidas específicas de salvaguarda das suas características biofísicas. O PNA é então um instrumento de planeamento que tem como objectivos a implementação de infra-estruturas básicas à instalação de redes de monitorização do meio hídrico como também abrange acções que se destinam ao melhor conhecimento dos recursos hídricos nacionais e dos fenómenos associados, em atenção nas medidas necessárias para a coordenação dos diferentes PBH Na alínea b) são integradas as mesmas perspectivas diferenciando-se na sua natureza mais restrita em termos espaciais sendo elas de orientação de protecção e conservação dos recursos existentes referentes ás bacias integradas do DL 45/94 de 22 de Fevereiro em comparação com o PNA apresentam uma maior desagregação para a resolução de problemas específicos. 1.3.1. Planos para a Água em Portugal 6

1.3.1.1. Plano Bacia Hidrográfica 1 Os planos das bacias hidrográficas devem conter inventários das disponibilidades dos recursos hídricos superficiais e subterrâneos, assim como a análise dos recursos hídricos (actuais e futuros) incluindo as suas fontes poluidoras como também o inventário das infra-estruturas hidráulicas e de saneamento básico existentes e projectadas, os sítios de interesse arqueológico e patrimonial. Deve também conter o balanço das disponibilidades e necessidades identificando as zonas e situações de carência. 1.3.1.2. Plano Nacional da água O Plano nacional da água tem como objectivos: Protecção recuperação e controle da qualidade dos meios hídricos, cumprindo a legislação nacional e satisfação dos compromissos internacionais assumidos pelo estado, através do tratamento e da redução das cargas poluentes e da poluição difusa para que a conservação da natureza e sua biodiversidade seja salvaguardada com a sua qualidade ecológica dos ecossistemas aquáticos e terrestres incluindo as espécies que dependem deste meio. Evitar a degradação do regime hidrológico assegurando o mínimo de impacte ambiental e compensação do mesmo garantindo o regime de caudais ambientais necessários a manutenção dos recursos hídricos. Aumento da produtividade da água e do seu uso racional, tendo em conta a sua bacia hidrográfica. Satisfação das necessidades das populações e do desenvolvimento económico e social do País nomeadamente as utilizações sectoriais da água (agricultura, indústrias, energéticos, abastecimento urbano e turismo). 2. ECONOMIA DA ÁGUA Para um maior conhecimento do que é proposto por lei e das medidas que estão a ser tomadas para melhorar a gestão do recurso água e melhor entender o mercado da água, é de grande importância introduzir um capítulo do Plano Nacional da Água, que trata a Economia da água. Para se entender o mercado da água tem de haver uma caracterização dos seus utilizadores, qual o uso que fazem e quais a entidades intervenientes neste sector. É imprescindível conhecer a procura além do abastecimento público. Para a água ter um valor económico tem de se ter atenção a alguns aspectos, nomeadamente, existir na natureza em condições que permitem o seu consumo imediato (pois sem ela a vida não é possível), existir para um fácil manuseamento e controle e se inserir num ciclo que permita a sua renovação. A água tem o maior peso na nossa sobrevivência assim sendo por se tratar de um bem público e por haver externalidades na sua produção ou consumo, tem de haver uma boa gestão deste recurso. 1 Apesar de estar a ser implementado o novo plano para a gestão das bacias hidrográficas (PGBH) que tem algumas diferenças para o PBH, fica em nota de rodapé como não foi esquecido mas como ainda não entrou em vigor, optou-se por não mencionar no trabalho. 7

2.1. Externalidades As externalidades são provocadas pela produção e utilização da água, estas podem ser positivas ou negativas, sendo as negativas quando existe uma alteração do seu estado natural provocado por entidades ou singulares com impacto em terceiros, nomeadamente os consumidores deste recurso. As externalidades positivas são quando uma entidade ou singular faz um bom manuseamento e utilização deste recurso recebendo benefícios pelas suas boas práticas o que pode ser monetariamente ou a custo nulo (que será reposto pelo preço sombra 2 ). No entanto a racionalidade financeira pode apresentar algumas contradições porque em certas situações pode levar a uma utilização sem limites. Essa utilização pode ser colmatada por aplicações de taxas elevadas permitindo num futuro existir uma maior receita face ao valor económico da água. A generalidade dos países europeus possuem uma cultura mais conservadora na gestão ambiental que analisa o problema das externalidades que refere-se ao estado como tendo um papel importante para a resolução deste problema. Pois é no estado que se aprova e elabora os métodos económicos para que essa gestão ambiental seja concisa, nomeadamente, os princípios do utilizador-pagador e do poluidor-pagador, estes métodos são descritos como uma influência aos agentes económicos para uma boa gestão do recurso água. Indo ao encontro do papel do Estado no ambiente que deve utilizar os meios que tem ao seu alcance para evitar o desperdício de água satisfazendo a procura. Apesar da economia ser uma ciência cada vez mais consolidada, deve-se ter em conta aqui o facto de que não depende só da economia da água a sua continua má utilização, devemos ter em conta o facto de haver agentes que por sua vez reconhecem o interesse de uma utilização racional deste recurso e da conservação da qualidade deste bem essencial. Contudo, o problema impõe-se quando estes agentes não adoptam essas medidas de conservação por pensarem que os outros também não a adoptam e não se sente incentivado para o fazer. 2.1.1. Critérios para avaliação económica do recurso Água Os estudos da economia da água avaliam este recurso segundo 2 vertentes: Financeira que trata a água com base numa perspectiva de sustentabilidade dos fornecedores de serviços de utilização de água. Onde se faz uma análise do equilíbrio entre as receitas (provenientes de taxas e tarifas cobradas aos utilizadores) e os custos suportados pelos fornecedores (manutenção, exploração e administrativos). Aqui neste ponto também são tratadas as questões como as fontes de financiamento dos preços e da capacidade orçamental da procura e dos custos administrativos suportados pelas entidades do Estado com intervenção total ou parcial no sector água. Económica trata a água como um bem económico onde a valorização não se esgota na recuperação dos custos, estes para permitir o mesmo nível de qualidade na oferta e incluídos os gastos com os benefícios. Porque o valor para os utilizadores é 2 Existe um conjunto de agentes que obtém benefícios com a água na maioria dos casos a custo nulo, mas que tem um determinado valor para a sociedade. 8

superior e suporta os gastos. E é neste ponto que são abordadas as questões como as externalidades. A implementação destes instrumentos económicos na gestão da água têm de ser graduais e prudentes, devido á insuficiência de estudos e pela variabilidade dos métodos de valorização económica. 2.2. Caracterização do mercado da água Deve-se porém dar uma devida importância á caracterização do mercado da água, para se poder ter uma perspectiva do que é preciso fazer. O mercado da água deve ser caracterizado tendo em conta 3 aspectos: A procura que é onde se identifica as necessidades da água como também os volumes de água consumidos nos vários sectores já referidos neste trabalho. A oferta que indica as disponibilidades hídricas afectadas (de origem superficial como subterrânea) aos vários sectores utilizadores. Custos de utilização deste recurso com destaque para os custos dos serviços de utilização deste bem e as receitas cobradas. No mercado da água os custos de utilização são uma das componentes mais importantes: Custos dos Serviços de Utilização Custos de Recursos ou de Escassez Custos Ambientais 2.2.1. Custos dos Serviços de Utilização Estes custos são necessários para a criação e exploração de um sistema, ou seja, todas as despesas efectuadas para a obtenção de certo serviço face ao uso deste serviço, com todas as suas características de qualidade e devolução ao meio ambiente. Estes custos dividem-se em custos de investimento, custos de exploração e operação e custos de manutenção e os custos de gestão e administração. 2.2.2. Custos de Recursos e Escassez Estes têm como base cobrir a degradação do recurso água contando com as suas utilizações num futuro e a relação entre os utilizadores. Tem-se em conta também os custos associados á sobre exploração dos recursos. 2.2.3. Custos Ambientais Nestes custos a base avaliar os efeitos externos negativos causados pela degradação do recurso estando associados aos custos que serão necessários para repor o seu estado natural, impingindo no meio hídrico uma boa qualidade ecológica. 2.3. Políticas de Preços Nas políticas de preços temos duas questões, o nível das receitas e os esquemas tarifários. O nível das receitas é tomado como a recuperação dos custos dos serviços de utilização água acima referidos, nomeadamente, os custos de utilização, custos de escassez e os 9

custos ambientais. Os esquemas tarifários têm como objectivo discriminar os preços por tipo de utilização e sinalizar os comportamentos de utilização racional e imparcial deste recurso. A discriminação dos preços vai também de acordo com os princípios já mencionados sendo eles o do utilizador-pagador e o poluidor-pagador, isto é, cada tipo de utilizador deve suportar os custos totais da utilização do recurso água em função do volume que utiliza ou da quantidade e tipo de poluição que produz. Os esquemas tarifários nem sempre possibilitam uma utilização racional e sustentável da água, dependendo da entidade responsável pelo fornecimento dos serviços de utilização, pública ou privada. Relativamente aos custos totais, ainda só se aplica a tarifa dos serviços de utilização da água aos sectores ligados a rede urbana e aos agricultores o que leve que as receitas não cobrem os custos gastos. Em Portugal, para que a aplicação do regime económico-financeiro fosse eficaz, isto é, as receitas suportarem ou ultrapassarem os custos seria necessário rever o conceito de externalidades, económicas e ambientais. Pois comparativamente a alguns países da União Europeia onde isto já acontece (os custos cobrirem o valor económico da água), podemos dizer que poderia ser feita uma diferente abordagem as metodologias actualmente aplicadas. Embora já se note uma notória evolução nestes últimos anos. 2.3.1. Elasticidade Procura-Preço Antes de entrar neste ponto, que tem um peso considerável no factor económico e financeiro, há que mencionar que as tarifas podem ser lineares ou não-lineares, sendo que nas tarifas não-lineares estão presentes as tarifas por partes sendo a mais praticada nos serviços de utilização de abastecimento de água á rede urbana que tendo assim uma devida importância na a introdução deste ponto. Assim sendo a elasticidade tem grande peso na construção uma tarifa esta não depende só dos custos pois para uma medida ser tomada há que ter em conta as características da procura. Ou seja se as tarifas forem baixas poderá não haver uma alteração significativa da procura, no caso das tarifas por partes uma componente fixa elevada pode provocar altos consumos por não haver um incentivo para uma utilização racional. No caso da água ser um factor de produção de uma actividade rentável tem de ser tida em atenção ao impacto que o aumento dos preços pode vir a trazer na viabilidade das empresas, ou seja ser rentável face aos investimentos. Embora não hajam ainda muitos estudos relativos ao cálculo da elasticidade em Portugal pode-se dizer que a elasticidade da procura é rígida, isto é, a variação proporcional ao preço é maior que a quantidade procurada. Por sua vez os preços actuais são baixos influenciando os mecanismos da procura não permitindo ainda a gestão sustentável da água. No factor elasticidade do preço-procura, existe ainda uma relação entre as tarifas e os rendimentos, isto é, a procura é influenciada consoante o rendimento dos utilizadores, tem-se assim uma relação entre as famílias mais desfavorecidas onde a elasticidade procura-rendimento mais baixas que as famílias com rendimentos mais elevados. 10

Resumindo este capítulo, que se refere as politicas de preços, temos assente que a construção das tarifas é independente da utilização e dependente dos custos totais e das características da procura, a procura-preço e procura-rendimento. O problema da não gestão sustentável da água deve-se ao facto das questões sociais económicas e ambientais, nomeadamente, os rendimentos das famílias, o impacto nas empresas agrícolas, industrias e serviços. Então conclui-se que o problema não está na formulação das tarifas mas sim ao baixo nível dos preços que não cobrem totalmente os custos dos serviços de utilização e os custos de escassez e ambientais. Terá de haver um equilíbrio entre os custos totais e os benefícios líquidos regulando economicamente para não haver abusos de posição referente aos utilizadores. 3. INSTRUMENTOS ECONÓMICO-FINANCEIROS 3.1. Aspectos gerais O Regime Económico-Financeiro para respeitar a DQA tem de ter em conta o princípio de utilizador-pagador e o uso sustentável do recurso hídrico. Isto é, garantir o melhor equilíbrio entre a necessidade de satisfação dos utilizadores e a sustentabilidade da renovação dos recursos utilizados. Para além de seguir estes princípios a boa gestão da água necessita de 4 factores para ter sucesso: 1) Devido a grande quantidade de players presentes na economia da agua e preciso esclarecer e definir juridicamente as competências claramente e as estruturas adequadas década entidade no sentido da garantia da melhor qualidade de serviço em sentido lato, 2) Regulação de um mercado tendencialmente monopolista 3) Parcerias público-privadas 4) Aplicação de diversos instrumentos económico-financeiros tais como taxa; tarifários; fiscalidade; financiamento Instrumentos financeiros que vão ser estudados aqui com maior uma profundidade. Em Portugal os instrumentos económicos ou financeiros dependem consoante: Tipo de utilização (agricultura tem uma aplicação diferente) Da presença de prestação de serviços (tarifas) O regime de propriedade sendo o regime privado (caso de aguas subterrâneas em propriedades privadas) não sujeita a pagamento de taxa A natureza de prestação de serviços. 3.2. Taxas As taxas são aplicadas quando há Utilização de Bens Públicos Relacionados com a Água Incluindo a Própria Água, seja para Fins Consumptivos ou Outros. O modelo jurídico prevê varias taxa que vão ser descritas de seguida no entanto a sua aplicação pode não estar ainda implementada. Estão previstos quatro tipos de taxa de utilização: 11

3.2.1. Taxa de Captação de Água Esta taxa incide sobre a captação de água do meio natural e é calculada com base em três factores distintos: Valor base a fixar pelo Governo Quantidade extraída em metros cúbicos Ponderação por factores de disponibilidade, de intensidade e segundo o sector económico utilizador. Sempre que não exista medição directa, será calculada a quantidade com base em coeficientes específicos de captação. Poderá ainda ser ponderada pelo coeficiente de restituição. 3.2.2. Taxa de Rejeição de Águas residuais Incide sobre a rejeição de águas residuais no domínio público hídrico. A sua formulação tem em conta 3 factores: A quantidade rejeitada O tipo de carga O custo de tratamento adequado dessa rejeição, com a melhor tecnologia disponível. Sempre que não existam dados suficientes para determinar a quantidade e a carga rejeitada, serão aplicados coeficientes específicos. Estes coeficientes são determinados tendo em conta as quantidades de produtos fabricados, a carga poluente tipicamente resultante 3.2.3. Taxa de Extracção de Materiais Inertes Incide sobre a quantidade de materiais inertes extraídos dos rios ou correntes naturais. É calculada em função da quantidade extraída (em m3) e do valor mínimo fixado no edital. Refira-se que esta taxa não corresponde a cobrança do valor efectivo de venda dos inertes (quantidade valor) mas apenas a 10% daquele produto. Representando uma cobrança adicional de 10%, talvez se devesse designar por sobretaxa. 3.2.4. Taxa de Ocupação de terrenos e Planos de água Incide sobre a utilização privativa de faixas de terreno e planos de água inseridos no domínio público hídrico. É calculada em função da área ocupada ou utilizada, do tempo de utilização e do valor atribuído tendo em conta os prédios contíguos; 3.2.5. Taxa de Regularização Esta taxa incide sobre os caudais regularizados por obras hidráulicas construídas total ou parcialmente pelo Estado. A sua forma de cálculo baseia-se na distribuição dos custos anuais das infra-estruturas pelos beneficiários dessas regularizações. A forma de distribuição desses custos deverá ser executada pelo Conselho de Bacia respectivo, tendo em conta os dados sobre os custos fornecidos pela entidade que procedem aos investimentos. 12

3.2.6. Aplicabilidade das taxas Existe um ligeiro desfasamento entre a aplicação das taxas e a entrada em vigor na lei das taxas, essa hesitação deve-se a dificuldade de maneira mais realista possível atribuir um valor baseado em argumentos técnicos que terá de ser suportado pelos utilizadores, e que irá ao encontro do cumprimento estabelecido pela Directiva Quadro da Ágape necessário também entre a criação da lei a sua aplicação proceder a uma prévia avaliação económica das utilizações da água com vista ao estabelecimento de valor-base para as taxas e corrigir lacunas, situações incoerentes, omissões, imprecisões. 3.3. Tarifas As tarifas são aplicadas quando há Utilização Simultânea de Bens Públicos e da Prestação de Serviços Complementares. As tarifas são cumulativas as taxas e aplicam-se consoante o serviço prestado. Existe dois tipos de tarifas diferentes são: 3.3.1. Tarifa do Consumo de Água Esta tarifa é cobrada pelos fornecedores do serviço de água. Em Portugal este serviço é em 1º plano prestado pelas Autarquias Locais, directamente ou através de Serviços Municipalizados, de uma empresa municipal ou de um concessionário. De qualquer modo a tarifa é sempre fixada pela Assembleia Municipal. Estas tarifas são compostas em geral por 3 parcelas: uma parte fixa, uma parte variável em função do consumo e do IVA. No entanto a parte fixa da tarifa é geralmente muito elevada e os escalões (embora existentes) nem sempre são os mais adequados. Por outro lado, são habitualmente repartidas em escalões diferentes segundo o tipo de cliente: doméstico, comercial, industrial, etc. 3.3.2. Tarifa de recolha e tratamento de Águas Residuais A tarifa de recolha apresenta as mesmas características que a tarifa de consumo da água. No entanto esta tarifa nem sempre é claramente cobrada. Umas vezes não existe, sendo cobrado o seu valor com a tarifa de consumo de água, outras vezes não existe como tarifa sobre o consumo ou a rejeição mas sim como taxa fixada em função do valor do imóvel do utilizador ou ainda sobre de taxa de conservação de esgotos. 3.3.3. O grau de tarifas em Portugal O grau de cobertura de custos da tarifa da água representa aproximadamente 80% dos custos totais anuais com o abastecimento de água. No caso do grau de cobertura de custos de recolha e tratamento de águas residuais não ultrapassa os 20%. Cobrado em simultâneo representa 60% dos custos totais. 3.4. Taxas e Tarifas na agricultura 13

É de importância introduzir este tema pois é na agricultura que ainda está o maior problema de percentagem de água perdida, não havendo ainda uma gestão eficiente. 3.4.1. Taxas de Beneficiação É uma taxa que se destina a repor ao Estado as despesas que este realizou com as obras para fornecimento de água. 3.4.2. Taxa de Exploração e Conservação Destina-se a suportar todas as despesas de operação e manutenção do empreendimento e é suportado pelos beneficiários, sendo fixada pela entidade gestora do aproveitamento. 4. TIPOS DE INSTRUMENTOS ECONÓMICO-FINANCEIROS Poderemos afirmar que existem basicamente três tipos de financiamento disponíveis, tendo em conta as suas características. 4.1. Taxas e tarifas As taxa e tarifas apresentadas anteriormente podem vir a representar a principal fonte de financiamento pois conforme a DQA visa-se uma auto-sustentabilidade financeira da entidade que os lança para assegurar os custos de gestão, operação e manutenção. No entanto os investimentos para a gestão da água sendo muito importantes em Portugal devido ao atraso que o nosso país apresentava foram e são financiados por meios alternativos. 4.2. Subsídios directos (ou subsídios de fundo perdido) As principais fontes são o Orçamento de Estado, os Contratos-Programa e os Fundos Comunitários. A adesão de Portugal á União Europeia, em 1986, possibilitou o acesso aos fundos comunitários e ao Banco Europeu de Investimentos. O acesso ao fundo permitiu uma politica de subsídio com grande esforço financeiro para levar os principais indicadores a aproximarem-se dos níveis europeus mais desenvolvidos. 4.3. Empréstimos (da Banca Comercial ou BEI) A sua concessão depende do grau de autonomia e capacidade de endividamento de cada entidade. Por norma os do Banco Europeu de Investimentos têm um prazo de pagamento mais dilatado. A entrada de entidades privadas na gestão da água facilitou o acesso ao empréstimo da banca. 14

5. LACUNAS DOS INSTRUMENTOS ECONÓMICO-FINANCEIRO Ainda existem alguns parâmetros que não estão a decorrer como devido, que de seguida apresentamos. 5.1. Deficiência de Informação Para a análise económica previsto no DQA é essencial que haja uma análise sistemática e detalhada cadastro das infra-estruturas, inventário das utilizações da água, contabilização analítica dos custos, fundamentação económica das taxas e tarifas. A informação tem de ser abrangente a todas a s bacias hidrográficas e actualizada. No entanto a informação estatística de apoio a análise económica das utilizações de água é muito pobre. Seria importante o estabelecimento de algumas regras guia que ajudassem a uma harmonização dos métodos de análises. 5.2. Inadequação da actual estrutura das organizações da Administração Central do Estado e autárquicas A estrutura existe da administração central apresenta uma grande rigidez e centralização do poder. Para além de mudar de estrutura de maneira a ter uma estrutura técnica, orgânica e financeira mais ágil e mais vocacionada para os desafios do futuro, tem também de mudar de vacação passando de executor para o âmbito estratégico, normativo, de promoção e fiscalização. Existe também um défice em alguns municípios na questão da água, esse défice deve ser compensado pela criação de empresas municipais ou a atribuição desses serviços a empresas multimunicipais. 5.3. Inadequação das tarifas e taxas dos serviços da água A existência de tarifas que não esta indexadas ao consumo como por exemplo a tarifa de recolha com base no valor do imóvel é destituído de qualquer sentido económico, equitativo ou de promoção de um uso racional. O mesmo se passa com a tarifária de consumo da água cuja parte fixa é extremamente alta: de que serve poupar no consumo, se o valor final a pagar quase não se altera? Quanto as taxas o seu montante monetário deve representar o valor da agua (transferindo para o utilizador os custos da gestão do recurso, os custos ambientais e os custos de escassez); No entanto as taxas aplicam-se às utilizações licenciadas e não existe ainda uma base de dados do Licenciamento, devidamente sistematizada e harmonizada, e é importante clarificar o destino das taxas e a sua forma de utilização futura; 5.4. Falta de integração dos instrumentos fiscais relativos á politica da água 15

5.5. Inadequação de algumas formas de financiamento Verifica-se que alguns tipos de financiamento não são os mais adequados, porque: - Os prazos dos empréstimos bancários (com excepção do BEI) são normalmente bastante inferiores á vida útil esperada das infra-estruturas o que, no caso de não houvesse outros apoios, os tarifários disparavam para valores incomportáveis ou não se fariam as obras necessárias. - Os apoios do Estado, via contratos-programa são sempre concedidos a fundo perdido, o que não incentiva o crescimento gradual dos tarifários nem a escolha das soluções técnicas mais económicas. 5.6. Falta de parcerias entre capitais públicos e privados O investimento realizado é quase exclusivamente público, um maior envolvimento dos capitais privados no sector, quer ao nível das instituições financeiras, quer ao nível dos privados não financeiros, aceleraria o esforço do Estado. Apesar dos problemas existentes há factos que perspectivam um futuro optimista na implementação dos instrumentos económicos como medida fundamental para a gestão da água. - A crescente empresarialização do Sector, - A existência de um Plano Estratégico de Abastecimento de Água e Saneamento de Águas Residuais (PEAASAR) de 2007-20013, induzir a adopção das melhores tecnologias e métodos construtivos e adequar os modelos de gestão; - A decisão de, nas negociações com a União Europeia, conferir uma parte substancial dos fundos comunitários à vertente água e ambiente, sendo que estes meios têm um forte poder de alavanca em todo o processo de financiamento; - A criação de um organismo regulador das águas e resíduos (IRAR) essencial para assegurar o equilíbrio entre a qualidade do serviço prestado pelas entidades fornecedoras e o preço a pagar pela população e restantes agentes económicos; 6. CONCLUSÃO É possível aumentar a qualidade e a quantidade de água disponível desde que haja uma boa gestão dos recursos hídricos. Para tal são implementadas medidas de protecção e gestão deste recurso, nomeadamente com as leis para a água. A Directiva-Quadro da água estabelece as medidas para uma gestão sustentável dos recursos hídricos, criando instrumentos económicos e financeiros para cumprir estes objectivos. O PNA em conjunto com os PBH tentam gerir o recurso, acompanhando-os de taxas e tarifas, algumas delas ainda apresentando algumas lacunas na sua concretização, sendo uma das maiores preocupações o sector agrícola que é o que mais gasta e onde se tem de se conseguir melhorar essa gestão. 16

Os instrumentos económicos e financeiros são mecanismos essenciais para actuar e alcançar as medidas propostas nas leis da água de forma a haver uma gestão equilibrada e sustentável que é o objectivo principal para que esta não se esgote e se torne imprópria para consumo num futuro próximo. 7. BIBLIOGRAFIA West, C. A. e Henriques, A. Gonçalves Instrumentos Económicos e Financeiros para a Gestão Sustentável da Água. 5º Congresso da Água. Associação Portuguesa dos Recursos Hídricos, Lisboa, 2000. Directiva 2000/60/CE do Parlamento Europeu e do Conselho, de 23 de Outubro de 2000, que estabelece um quadro de acção comunitária no domínio da política da água. Lei n.º 58/2005. DR 249 SÉRIE I-A de 2005-12-29 da Assembleia da República que aprova a Lei da Água, transpondo para a ordem jurídica nacional a Directiva n.º2000/60/ce, Plano Nacional da Agua 17