CINÉTICA DE LIXIVIAÇÃO SULFÚRICA DE CONCENTRADO DE ZINCO WILLEMÍTICO COM PRESENÇA DE ESFALERITA

Documentos relacionados
ESTUDO DO EFEITO DO ZINCO, MAGNÉSIO E MANGANÊS NA LIXIVIAÇÃO DE CONCENTRADOS USTULADOS DE ZINCO

4. Resultados e Discussão

OBTENÇÃO DE ÁCIDO FOSFÓRICO DE ALTA PUREZA A PARTIR DE CALCINADO DE OSSOS BOVINOS

5 Apresentação e discussão dos resultados

Uso de vermiculita revestida com quitosana como agente adsorvente dos íons sintéticos de chumbo (Pb ++ )

DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA METALÚRGICA. Introdução à metalurgia dos não ferrosos

P4 - PROVA DE QUÍMICA GERAL - 05/12/07

PROVA ESCRITA DE CONHECIMENTOS EM QUÍMICA

4. Parte Experimental.

TRATAMENTO DE EFLUENTES INDUSTRIAIS CONTENDO METAIS PESADOS

8º CONGRESSO IBEROAMERICANO DE ENGENHARIA MECANICA Cusco, 23 a 25 de Outubro de 2007

Avaliação Cinética da Gaseificação com CO 2 do Bagaço de Maçã

DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA METALÚRGICA. Cinética das Reações Heterogêneas

Tratamento do resíduo da drenagem ácida de mina para recuperação de urânio

Escola Secundária de Lagoa. Ficha de Trabalho 15. Física e Química A 11º Ano Paula Melo Silva. Escola Secundária de Lagoa Paula Melo Silva Página 1

8 Apresentação e discussão dos resultados

DETERMINAÇÃO DOS PARÂMETROS CINÉTICOS DE ADSORÇÃO DE ÍONS DOS METAIS DE TRANSIÇÃO UTILIZANDO O MODELO DE AVRAMI

Reações Heterogêneas - Sólido / Fluido

EXERCÍCIOS REAÇÕES SÓLIDO/GÁS

Neste caso, diz-se que a reação é de primeira ordem, e a equação pode ser resolvida conforme segue abaixo:

Aula Prática - 1 Obtenção de Dados Cinéticos para projeto de reator

Na obtenção de prata por eletrólise de solução aquosa de nitrato de prata, o metal se forma no: a) cátodo, por redução de íons Ag(+) b) cátodo, por

CINÉTICA DA ADSORÇÃO DE OURO CONTIDO EM SOLUÇÕES LIXIVIADAS DE MICROPROCESSADORES UTILIZANDO QUITINA COMO ADSORVENTE

Tabela 5.1- Características e condições operacionais para a coluna de absorção. Altura, L Concentração de entrada de CO 2, C AG

Professor: Fábio Silva SOLUÇÕES

ESTUDO DA SOLUBILIDADE DO PARACETAMOL EM ALGUNS SOLVENTES UTILIZANDO O MODELO NRTL

ESTUDO DA CORROSÃO DO Al RECICLADO DA INDÚSTRIA DE BEBIDAS

ESTUDO CINÉTICO DA HIDRÓLISE DO ACETATO DE ETILA EM MEIO ALCALINO EM REATOR BATELADA DE TANQUE AGITADO

VALIDAÇÃO DE MÉTODOS ANALÍTICOS

Universidade Federal do Espírito Santo, Campus de Alegre para contato:

HIDROMETALURGIA UMA NOVA DEMANDA PARA OS CURSOS TÉCNICOS DE GEOLOGIA E MINERAÇÃO

EFEITO DA MISTURA DE PARTÍCULAS E CONCENTRAÇÃO NA IDENTIFICAÇÃO DOS REGIMES DE SEDIMENTAÇÃO: SUSPENSÃO DE CARBONATO DE CÁLCIO

EEIMVR-UFF Refino dos Aços I Verificação 2, Período 2 de SEM CONSULTA (07/01/2014)

ESTEQUIOMETRIA - 3C13 - Profª

CQ110 : Princípios de FQ. Imagens de Rorschach

(MACK-SP) Na eletrólise ígnea de NaCl, verificase

Moagem Fina à Seco e Granulação vs. Moagem à Umido e Atomização na Preparação de Massas de Base Vermelha para Monoqueima Rápida de Pisos Vidrados

CATÁLISE ENZIMÁTICA. CINÉTICA Controle da velocidade de reações. CINÉTICA Equilíbrio e Estado Estacionário

AVALIAÇÃO TÉRMICA DO PROCESSO DE SECAGEM DE MISTURAS DE GRAVIOLA E LEITE EM SECADOR DE LEITO DE JORRO

CINÉTICA DE EVAPORAÇÃO DO ÓXIDO DE ZINCO. N. Duarte 1, W.B. Ferraz 2, A.C.S.Sabioni 3. Universidade Federal de Ouro Preto Ouro Preto, Brasil

Utilização de lama vermelha tratada com peróxido de BLUE 19

7 Resultados e discussão

EFEITO DA FRAÇÃO MOLAR NA CINÉTICA DE ADSORÇÃO BICOMPOSTO DE ÍONS PRATA E COBRE EM ARGILA BENTONÍTICA

RECUPERAÇÃO DE COBRE ATRAVÉS DE ELETRO- OBTENÇÃO DE UMA SOLUÇÃO EXTRAÍDA SUPERCRITICAMENTE DE PLACAS DE CIRCUITO IMPRESSO

QUÍMICA. Soluções: características, tipos de concentração, diluição, mistura, titulação e soluções coloidais. Parte 7. Prof a.

ESTUDO DA CINÉTICA DA HIDRÓLISE ÁCIDA DO ACETATO DE ETILA.

Olimpíada Brasileira de Química

QUÍMICA GERAL EXPERIMENTAL 2º SEMESTRE DE 2016 EXPERIMENTO VIRTUAL DE CINÉTICA QUÍMICA

USO DA CINETICA DE ORDEM ZERO E PRIMEIRA ORDEM DO CLORETO FERRICO PARA PURIFICAÇÃO DE ÁGUA

01/08/2010. química).

CQ049 FQ Eletroquímica. prof. Dr. Marcio Vidotti Terça / Quarta: 15:30 17:30

OQ-SP 2012 Exame da Fase Final Nota parcial. Série: 2ª ou 3ª; Ingresso: Redação Fuvest ORRP TVQ; Senha [ ] Parte I Experimentos de combustão da vela

APLICAÇÃO DO SIMULADOR EMSO EM UM PROBLEMA ESPECÍFICO DE CINÉTICA E CÁLCULO DE REATORES

DETERMINAÇÃO DE ALGUNS PARÂMETROS CINÉTICOS DA REAÇÃO DE DECOMPOSIÇÃO DO PERÓXIDO DE HIDROGÊNIO.

REDUÇÃO DO ÓXIDO DE ZINCO PELO HIDROGÊNIO VISANDO A OBTENÇÃO DA LIGA FeZn

MASSA ATÔMICA. 1u corresponde a 1, g, que equivale aproximadamente à massa de um próton ou de um nêutron.

QUÍMICA RECUPERAÇÃO PARALELA. Prof. ALEXANDRE D. MARQUIORETO

Química Fascículo 06 Elisabeth Pontes Araújo Elizabeth Loureiro Zink José Ricardo Lemes de Almeida

2 Considerações teóricas

Físico-Química Experimental Exp. 10. Cinética Química

Universidade do Vale do Rio dos Sinos PPGEM Programa de Pós-Graduação de Engenharia Mecânica

4. RESULTADOS E DISCUSSÕES 4.1Comprimento de onda do corante Telon Violet

AVALIAÇÃO DOS FATORES QUE INFLUENCIAM A VELOCIDADE DAS REAÇÕES QUÍMICAS: CONCENTRAÇÃO DE REAGENTES E TEMPERATURA DE REAÇÃO.

Exemplo 2: A baixas temperaturas a lei de velocidade da reação A + B C + D é r A =

CRAQUEAMENTO TÉRMICO DE ÓLEO DE FRITURA: UMA PROPOSTA DE MECANISMO CINÉTICO COM BASE EM AGRUPAMENTOS DE COMPOSTOS

Campus de Ilha Solteira. Disciplina: Fenômenos de Transporte

PROJETO DE SEDIMENTADOR CONTÍNUO A PARTIR DE ENSAIOS DE PROVETA COM SUSPENSÃO DE CARBONATO DE CÁLCIO UTILIZANDO O MÉTODO DE TALMADGE E FITCH

PROCESSOS QUÍMICOS INDUSTRIAIS I APRESENTAÇÃO DA DISCIPLINA

Mestrado Integrado em Engenharia do Ambiente 1º Ano/ 1º Semestre

1) A principal caracterís0ca de uma solução é:

PROCESSOS QUÍMICOS INDUSTRIAIS I

Prática 10 Determinação da constante de equilíbrio entre íons Fe 3+ e SCN -

Físico-química Farmácia 2014/02

NOÇÕES SOBRE EXPERIMENTOS FATORIAIS

Universidade Federal do ABC. Disciplina: Transformações Químicas. Equilíbrio Químico. Hueder Paulo M. de Oliveira. Santo André - SP 2018.

2. Considerando a figura dada na questão 2, explique a principal dificuldade de conformação da sílica fundida em relação ao vidro de borosilicato.

6 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Difusão em Sólidos TM229 - DEMEC Prof Adriano Scheid

CINÉTICA QUÍMICA PROFª SIMONE

ALVARO ANTONIO OCHOA VILLA

FIGURA 12 - Segundo ensaio de sedimentação

O estudo de oxidação da amônia foi realizado usando-se solução sintética de 100mg/L de NH 3 obtida a partir de uma solução de NH 4 OH, PA, 33%.

ESTEQUIOMETRIA (Conceitos básicos) QUÍMICA A 1415 ESTEQUIOMETRIA

CAPÍTULO 1 Quantidades e Unidades 1. CAPÍTULO 2 Massa Atômica e Molecular; Massa Molar 16. CAPÍTULO 3 O Cálculo de Fórmulas e de Composições 26

AVALIAÇÃO DO EFEITO DOS PARÂMETROS OPERACIONAIS DENSIDADE DE CORRENTE E ph DO BANHO SOBRE AS PROPRIEDADES DA LIGA Mo-Co-Fe

CINÉTICA DE EXTRAÇÃO DE LIPÍDIOS DE MICROALGA SPIRULINA

PROCESSAMENTO DE LIGAS À BASE FERRO POR MOAGEM DE ALTA ENERGIA

DETERMINAÇÃO EXPERIMENTAL DA VISCOSIDADE CINEMÁTICA E DINÂMICA ATRAVÉS DO VISCOSÍMETRO DE STOKES

CURSO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS. DISCIPLINA: Química Geral. Assunto: Equilíbrio Químico Docente: Prof a. Dr a. Luciana M. Saran

TÍTULO: BOMBEAMENTO DE POLPA: CURVA EXPERIMENTAL DA PERDA DE CARGA EM FUNÇÃO DA VELOCIDADE E VISCOSIDADE APARENTE DE SUSPENSÕES DE AREIA EM ÁGUA

FORMULÁRIO DE DIVULGAÇÃO DO CONTEÚDO DA PROVA FINAL E RECUPERAÇÃO FINAL

6 RESULTADOS E DISCUSSÕES

SIMULADO de QUÍMICA 2 os anos 2008 TODOS COLÉGIOS

R: a) t r = 2,23 h b) nº bateladas = 7 c) N Rt = 179,4 kmol por dia

BIOENGENHARIA I PROF. MARCELO HENRIQUE ENGENHARIA DE ALIMENTOS


5 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Prova de Química Analítica

4 Considerações teóricas

ESTUDO DA TRANSIÇÃO ENTRE ESCOAMENTO LAMINAR E TURBULENTO EM TUBO CAPILAR

Transcrição:

CINÉTICA DE LIXIVIAÇÃO SULFÚRICA DE CONCENTRADO DE ZINCO WILLEMÍTICO COM PRESENÇA DE ESFALERITA M. J. Dias, J. C. Balarini, C. Konzen, T. L. S. Miranda, A. Salum. Departamento de Engenharia Química, Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Av. Antônio Carlos, 6627, Pampulha, Belo Horizonte, MG, CEP 31270-901. email: salum@deq.ufmg.br RESUMO Os avanços recentes em lixiviação ácida de concentrados de zinco despertaram grande interesse comercial pelos minérios contendo silicatos de zinco. No entanto, impurezas, como a presença de esfalerita (ZnS) nesses concentrados, reduzem a eficiência do processo de extração de zinco. Neste trabalho, foram realizados estudos cinéticos de lixiviação de um concentrado de zinco willemítico, contendo esfalerita, visando à avaliação dos principais parâmetros que influenciam a extração de zinco e à determinação da etapa controladora do processo. Para a realização do trabalho experimental, foram realizados ensaios descontínuos de lixiviação variando-se parâmetros como concentração de H 2 SO 4 (de 6 a 10g.L -1 ), granulometria (de 100# a 400#) e temperatura (de 30 a 70 C). Para a modelagem, foi utilizado o modelo topoquímico (núcleo em diminuição). Os resultados das curvas cinéticas de extração de zinco demonstraram que tanto a concentração do ácido quanto a granulometria não tiveram efeito significativo no tempo para se alcançar a máxima extração. No entanto, a variação da temperatura possui grande influência na cinética de lixiviação, indicando que, dependendo da faixa de trabalho, há modificação no mecanismo de extração de zinco. Pela modelagem cinética, determinou-se que a dissolução da willemita em meio sulfúrico é controlada pela reação química quando a temperatura não ultrapassa 40 C. Na faixa entre 40 e 60 C, o mecanismo passa a ter controle misto entre reação química e difusão na camada de inertes e, na temperatura de 70 C, a difusão passa a ser a etapa limitante do processo de lixiviação. Nas condições de controle do mecanismo de reação química, a constante da velocidade específica (k s ) foi estimada em 4,0 10-8 mol de willemita.cm -2.s -1 para a granulometria -200# +270#. PALAVRAS-CHAVE: lixiviação, concentrado de zinco, willemita, bolsões de esfalerita, modelo topoquímico. 995

1. INTRODUÇÃO Na atualidade, a principal forma de extração de zinco a partir de concentrados é por via hidrometalúrgica. A lixiviação é a primeira etapa da rota hidrometalúrgica e o seu estudo cinético se faz importante a fim de se garantir uma extração econômica do metal (Abdel-Aal, 2000; Espiari et al., 2006). Os avanços recentes em lixiviação ácida e em técnicas de extração por solvente de concentrados de silicato de zinco despertaram grande interesse comercial por essas matérias-primas (Souza et al., 2007). Para se realizar a modelagem cinética dos dados de lixiviação, deve-se ter em mente que o bom modelo em engenharia é aquele que, além de representar bem o processo real, pode ser tratado sem muita complexidade matemática (Levenspiel, 1983). Um dos modelos mais simples e que serve de base para muitos sistemas de lixiviação é o modelo do núcleo em diminuição. Para um sistema bem agitado, duas etapas principais podem ser abordadas, que são a reação química na interface sólido-fluido e a difusão das espécies na camada de inertes, cujos equacionamentos estão representados, respectivamente, pelas Equações 1 e 2. t 1/ 3 B = 1 (1 X B ) τ bk sc Af t = 1 3 1 X B 1 X B ρ R τ = (1) ρ R 2 2 / 3 B ( ) + 2( ) τ = (2) τ 6bDeC Af Nas Equações 1 e 2, t é o tempo de reação, τ é tempo mínimo para se atingir 100% de conversão, X B é a conversão fracional da partícula com base na espécie B, ρ B é a densidade molar da espécie B, R é o raio da partícula, b é o coeficiente estequiométrico da espécie B na reação de lixiviação, k s é a constante de velocidade superficial da reação de primeira ordem, D e é o coeficiente de difusão efetiva e C Af é a concentração do ácido. O objetivo principal deste trabalho é realizar o estudo cinético da lixiviação do concentrado de zinco willemítico, contendo bolsões de esfalerita, em meio sulfúrico. 2. METODOLOGIA EXPERIMENTAL O material utilizado para o estudo cinético consistiu em um concentrado de zinco willemítico, contendo bolsões de esfalerita, que foi devidamente homogeneizado e quarteado para se garantir a obtenção de uma amostra representativa. Os ensaios descontínuos de lixiviação foram realizados em um reator de vidro de 500 ml, sem aletas, com 6,5 cm de diâmetro interno e 15 cm de altura, com encamisamento externo para controle de temperatura e condensador acoplado à tampa para evitar perdas de vapor d água. A polpa era mantida em suspensão por meio de uma hélice de vidro de duas pás com inclinação de 60º, acoplada a um sistema de agitação mecânica. Foram investigados os efeitos da concentração de ácido sulfúrico (6, 8, 10 e 14 g.l -1 ), da granulometria ((-100# +150#), (-150# +270#), (-270# +325#) e (-325# + 400#)) e da temperatura (30, 40, 50, 60 e 70ºC), variando-se apenas um desses parâmetros de cada vez, mantendo-se os demais fixados. A massa de concentrado utilizada foi calculada para que o consumo de ácido, ao término dos ensaios, não ultrapassasse 10% de sua massa. A extração de zinco foi determinada, utilizando-se a técnica de espectrofotometria de absorção atômica, em equipamento Thermo Electron Corporation, M Series e, a partir desses resultados, foram calculados os percentuais de extração de zinco em função do tempo. De posse dos resultados dos ensaios de lixiviação, procedeu-se à análise dos dados de porcentagens de extração de zinco em função do tempo, utilizando-se o modelo cinético de núcleo em diminuição. 996

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO 3.1. Influência da Concentração de Ácido Sulfúrico Com o intuito de se investigar a cinética de lixiviação do concentrado, estudou-se a variação da concentração do ácido sulfúrico na solução lixiviante, cujos resultados estão apresentados na Figura 1. Figura 1 Ensaios da influência da concentração de ácido sulfúrico. Condições fixadas: 30ºC, 840 rpm, -200# +270#. Nota-se que, para os níveis investigados, a cinética de lixiviação foi similar para todas as curvas, sobretudo nos primeiros 5 primeiros minutos (Fig. 1), indicando, a priori, que a extração não é muito sensível em relação à concentração de ácido. Uma primeira análise deve ser efetuada sobre os íons presentes na solução, uma vez que o mecanismo de reação é fortemente dependente dessa condição. Terry e Monhemius (1983) estudaram a lixiviação de willemita sintética em ácido sulfúrico com a adição de sulfato de sódio em ph 1,2 e em ph 3. Os autores mostraram que, em ph igual a 1,2, em que há predominância do ânion bissulfato (HSO 4 - ), a variação da concentração dos íons H + possui uma pequena influência na cinética de lixiviação em comparação com a condição de ph 3, em que há predominância do íon sulfato (SO 4 2- ). O diagrama de distribuição de espécies, apresentado na Figura 2, permite visualizar as condições experimentais do presente trabalho em comparação ao trabalho de Terry e Monhemius (1983). Nesse diagrama, nota-se que, na faixa de ph estudada, a espécie predominante na solução lixiviante é praticamente o íon HSO 4 -, o que explica a pequena variação das curvas cinéticas da Figura 1 em relação à variação da concentração de ácido sulfúrico. 997

Figura 2 Diagrama de distribuição de espécies do ácido sulfúrico (25 C e atividades unitárias). 3.2. Influência da Granulometria Posteriormente, foram investigados os efeitos da variação da granulometria na lixiviação do concentrado silicatado, cujos resultados estão apresentados na Figura 3. Figura 3 Ensaios de lixiviação variando a granulometria. Condições fixadas: 30ºC, 840 rpm, 6 g/l de ácido. Observa-se, como esperado, que a faixa mais grosseira do concentrado (-100# +150#) possui uma cinética de lixiviação significativamente mais lenta do que as outras faixas, pois a inclinação dessa curva, nos primeiros minutos, está abaixo das demais (Fig. 3). Considerando os ensaios restantes (excetuando-se a faixa -100# +150#), nota-se também, pela Figura 3, que estes apresentaram uma inclinação inicial muito próxima, o que permite dizer que a taxa de extração foi equivalente nesse tempo e que um tempo de 30 minutos é suficiente para se atingir 100% de extração. 998

3.3. Influência da Temperatura Por fim, foram realizados os ensaios variando-se a temperatura, estando os resultados mostrados na Figura 4. Figura 4 Ensaios de lixiviação variando a temperatura. Condições fixadas: 840 rpm, -200# +270#, 6 g/l de ácido. Observa-se, pela Figura 4, que, entre 30 e 60ºC, houve um aumento esperado da taxa de lixiviação, que também pôde ser verificado por Souza et al. (2007). Esse efeito pôde ser notado pela diminuição do tempo de máxima conversão (Tab. I) e pelo aumento da inclinação nos períodos iniciais. Tabela I Relação do tempo de máxima conversão, calculado graficamente, com base nos dados experimentais. Temperatura (ºC) τ (min) 30 30 40 17 50 10 60 3 A curva de extração na condição de 70 C apresentou comportamento fora da tendência apresentada pelas demais (Fig. 4). Em muitos estudos cinéticos, essa diferença, em função da temperatura, é observada em virtude da mudança de mecanismo de extração, o que pode ser comprovado pelos resultados de modelagem dos dados experimentais que serão apresentados posteriormente. Ao se comparar os efeitos encontrados entre as curvas apresentadas na Figura 3 e na Figura 4, nota-se que a cinética de lixiviação do concentrado silicatado em meio sulfúrico é mais sensível em relação à temperatura do que à granulometria. Esse fato é um indício de que a reação química pode ser a etapa controladora do processo, visto que a difusão na camada de inertes ou nos poros é menos sensível em relação à variação de temperatura. 999

3.4. Modelagem Cinética A modelagem cinética, cujos resultados se encontram nas Figuras 5, 6 e 7, se procedeu investigando-se a linearidade dos dados das Figuras 1, 3 e 4 de acordo com as equações das etapas de reação química (Eq. 1) e de difusão na camada de inertes (Eq. 2). Figura 5 Dados linearizados das curvas de lixiviação, em função da concentração de ácido, segundo as etapas de difusão na camada de inertes (a) e reação química (b). Figura 6 Dados linearizados das curvas de lixiviação, em função da granulometria do concentrado, segundo as etapas de difusão na camada de inertes (a) e reação química (b). Pelos resultados obtidos, mostrados nas Figuras 5, 6 e 7, observa-se que, em sua maioria, os ajustes das curvas linearizadas são melhores para a equação da etapa de reação química, pois, em comparação com a equação de difusão na camada de inertes, os valores de coeficiente de correlação linear são mais elevados (R²). No entanto, a etapa controladora de um estudo cinético não é apenas determinada pelos ajustes dos dados experimentais, mas pela capacidade do modelo matemático representar fisicamente o processo de extração, levando em conta as simplificações consideradas no equacionamento do modelo. O modelo do núcleo em diminuição considera que a reação química, como etapa controladora do processo, possui uma ordem de reação unitária e uma relação linear entre os parâmetros τ e 1/C Af (Eq. 1). Por isso, realizou-se a determinação da ordem de reação por meio da inclinação do gráfico ln(τ) em função de ln(c Af ) (Fig. 8 (a)), cujo valor encontrado é da ordem de 0,36. Embora a ordem da reação não seja unitária, a correção da concentração do ácido pelo novo valor (C Af 0,36 ) manteve a linearidade entre τ e 1/C Af 0,36, conforme apresentado pela Figura 8 (b). 1000

Figura 7 Dados linearizados das curvas de lixiviação, em função da temperatura, segundo as etapas de difusão na camada de inertes (a) e reação química (b). De posse dos dados da Figura 5 e com o auxílio da Equação 1, o valor da velocidade específica da reação química (k s ) foi estimada em 4,0 10-8 mol de willemita.cm -2.s -1 para a granulometria -200# +270#, considerando b = 1, n = 0,36, ρ B = 18,18 mol/l e R = 32 µm. Figura 8 Determinação da ordem de reação química (a) e confirmação da linearidade da equação de reação química (b). Ao se fazer uma avaliação de todos os resultados dos efeitos térmicos apresentados na Figura 7, observa-se que, com o aumento da temperatura do sistema, a equação referente à etapa de difusão na camada de inertes passa se ajustar tão bem quanto a equação de reação química. Nota-se também que os ensaios realizados nas temperaturas de 30 e 40 C são mais bem representados pela equação de reação química, ao passo que, nas temperaturas de 50 e 60 C, as duas equações constituem uma boa representação dos dados, e, por último, na temperatura de 70 C, o ajuste por difusão se sobressai ao de reação química. Esse fenômeno pode ser visualizado na curva de Arrhenius apresentada na Figura 9. Na Figura 9, nota-se a mudança de inclinação entre os pontos de menor temperatura para temperaturas intermediárias, indicando que, nessa última condição, é possível haver uma cinética mista envolvendo reação química e difusão. Já no ponto de 70 C, o primeiro ponto indicado na Figura 9, observa-se que este não possui comportamento linear semelhante aos demais, podendo esse fato ser um indício de que houve mudança no mecanismo do processo de lixiviação. 1001

0-0,5-1 ln (1/τ) -1,5-2 -2,5-3 -3,5 0,0028 0,0029 0,0030 0,0031 0,0032 0,0033 0,0034 1/T (K -1 ) Figura 9 Curva de Arrhenius para o modelo do núcleo em diminuição controlado pela reação química. Os resultados obtidos por Terry e Monhemius (1983) comprovam esse comportamento. Esses pesquisadores concluíram que em baixos valores de ph e de temperatura, o processo de lixiviação da willemita é dominado pela reação química, enquanto que, com a elevação da temperatura, o processo se torna misto e depois difusivo. 4. CONCLUSÕES Neste trabalho, foi realizado o estudo da cinética de lixiviação do concentrado willemítico contendo esfalerita em soluções de ácido sulfúrico, utilizando-se o modelo do núcleo em diminuição. Os resultados das curvas de extração de zinco em função do tempo demonstraram que apenas a temperatura possui efeito significativo na cinética de lixiviação. Dependendo da faixa de temperatura, o mecanismo de extração de zinco pode sofrer alterações, indicando um mecanismo de controle misto envolvendo reação química e difusão na camada de inertes. Para temperaturas abaixo de 40 o C, a reação química é a etapa controladora; entre 50 e 60 o C, ocorre o controle misto; em 70 o C, a difusão passa a controlar o mecanismo de extração. Os resultados da modelagem, sob o controle da reação química, revelaram que a ordem da reação química não é unitária, apresentando valor de 0,36. No entanto, a relação linear entre o tempo de conversão máxima da partícula e a concentração de ácido, requerida pelo equacionamento do modelo, foi satisfeita. Nas condições de controle do mecanismo de reação química, a constante da velocidade específica (k s ), a 30 o C, foi estimada em 4,0 10-8 mol de willemita/cm².s, para a granulometria -200# +270#. 5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Abdel-Aal, E.A. Kinetics of sulfuric acid leaching of low-grade zinc silicate ore. Hydrometallurgy, 55, p. 247 254, 2000. Espiari, S., Fereshteh R., Sadrnezhaad S. K.. Hydrometallurgical treatment of tailings with high zinc content. Hydrometallurgy, 82, p. 54 62, 2006. Levenspiel, O. Engenharia das Reações Químicas. vol. 1, São Paulo: Edgar Blucher, 481p., 1983. Souza, A. D., Pina P. S., Lima E. V. O., da Silva C. A., Leão V. A.. Kinetics of sulphuric acid leaching of a zinc silicate calcine. Hydrometallurgy, 89, p. 337 345, 2007. Terry, B. & Monhemius, A. J. Acid dissolution of willemite ((Zn,Mn) 2 SiO 4 ) and hemimorphite (Zn 4 Si 2 O 7 (OH) 2 H 2 O). Metallurgical Transactions B (Process Metallurgy), v 14B, n 3, p 335-346, 1983. 1002