UNIVERSIDADE DO ESTADO DE MINAS GERAIS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO - PPGE FACULDADE DE EDUCAÇÃO - BELO HORIZONTE MESTRADO EM EDUCAÇÃO



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Transcrição:

UNIVERSIDADE DO ESTADO DE MINAS GERAIS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO - PPGE FACULDADE DE EDUCAÇÃO - BELO HORIZONTE MESTRADO EM EDUCAÇÃO Autor: Cacilda da Silva Rodrigues Coautor: Prof. Dr. José de Sousa Miguel Lopes Eixo Temático: Pesquisa e Práticas Educacionais Categoria: Pôster RESUMO A linguagem cinematográfica nas práticas escolares: a percepção da criança e do professor O presente artigo corresponde à pesquisa de mestrado em educação, em desenvolvimento, que propõe um estudo sobre a linguagem cinematográfica nas práticas escolares, sob o ponto de vista da criança e do professor. O objetivo principal deste estudo se propõe a verificar o potencial e o impacto da linguagem cinematográfica no ensino, na aprendizagem e na expressão criativa das crianças dentro do ambiente escolar, considerando as percepções do aluno e do docente. Assim, pretendemos favorecer a aproximação entre cinema e educação, ampliando os vários usos que o audiovisual pode assumir na escola. A abordagem metodológica utilizada se apoia na pesquisa qualitativa a partir de um estudo de caso. Atualmente a pesquisa está em fase de exploração do campo e caracterização dos sujeitos envolvidos, para posterior verificação de suas percepções acerca das atividades desenvolvidas na escola em relação ao cinema. Desta forma, este estudo pretende contribuir com a produção de conhecimentos sobre a infância e sobre o desenvolvimento de práticas escolares que favoreçam os processos de comunicação e a aprendizagem por meio da utilização da cinematografia, por meio da identificação de métodos de ensino que permitam avançar nos estudos sobre a infância e sobre a educação escolar das crianças com uso de mídias. PALVRAS CHAVE: Cinema, Infância, Educação 0

INTRODUÇÃO Este artigo se refere a uma pesquisa de mestrado que está em processo e se constrói a partir da análise de três eixos: a criança, o cinema e a educação. Nesta pesquisa que se desenvolve, o estudo acerca das questões que envolvem o cinema e a criança é realizado a partir dos quadros teóricos da Educação, da Sociologia da Infância e das Tecnologias da Informação com destaque para as audiovisuais. O objeto de estudo que conduzirá o presente estudo compreende a linguagem cinematográfica no ensino escolar de crianças, considerando as atividades desenvolvidas e as percepções dos alunos e do professor. O objeto em questão pretende investigar a relação do professor e dos estudantes com a cinematografia por meio do olhar interpretativo, da construção, do fazer e do sentir o cinema. Partimos do pressuposto de que é importante compreender as intencionalidades pedagógicas do docente ao envolver as crianças com a exibição e a produção de vídeos através da utilização da linguagem cinematográfica nas práticas escolares. O estudo em questão pretende verificar as práticas com o cinema como um ato social desenvolvido no ambiente escolar, onde são expressos modos específicos de interpretação do mundo. O papel da escola e dos professores, neste sentido, é determinante na formação e educação da criança, considerando a construção de conhecimentos e sua formação para a vida. Daí surge a importância de se compreender as percepções da criança e do professor na construção de saberes por meio da utilização da linguagem cinematográfica nas práticas escolares, e assim, identificar práticas pedagógicas que possam contribuir com o processo de ensino. Para condução da ideia central a ser desenvolvida neste estudo pretendemos compreender como os professores e os alunos percebem a utilização da linguagem cinematográfica nas práticas escolares e como estas atividades se desenvolvem no ambiente escolar, tendo em vista as intencionalidades pedagógicas do professor e a aprendizagem dos alunos do sexto ano do Ensino Fundamental. Consideramos importante compreender como os professores e as crianças vivenciam e percebem todo esse processo. Que olhar lançam sobre as atividades com uso do cinema que se integram as atividades escolares. Neste sentido, consideramos imprescindível discorrer sobre questões relacionadas à infância, ao cinema e à educação para melhor compreensão dos eixos reflexivos que constituem este estudo. 1

O percurso metodológico na consolidação do estudo Por meio da pesquisa qualitativa, propomos, a partir de um estudo e caso, estudar o cinema nas práticas escolares, considerando a infância e sua relação com a mídia cinematográfica. Segundo Yin (2005), o estudo de caso é uma forma distintiva de investigação empírica, utilizado em muitas situações para contribuir com o conhecimento dos fenômenos sociais contemporâneos dentro do seu contexto. Yin (2005) destaca que, estudo de caso é aplicado entre outras funções, para descrever e apresentar uma intervenção e o contexto em que ela ocorre na vida real. Na pesquisa em questão, consideramos importante verificar a relação das crianças e do professor com o cinema, recorrendo a suas vivências e relatos no cotidiano da escola. Assim, inicialmente, realizamos um estudo exploratório do campo a ser pesquisado e, a partir daí, iremos investigar as práticas culturais cinematográficas desenvolvidas por meio das atividades escolares, além de verificar a familiaridade das crianças com a temática. Os procedimentos iniciais de exploração do campo foram aplicados para reconhecimento e identificação do contexto em que os estudos serão desenvolvidos, levando em consideração aspectos referentes ao: espaço físico e territorial em que a escola está localizada, público que atende e formação e experiência profissional dos professores que serão envolvidos no processo. O estudo e a análise das atividades desenvolvidas com os alunos somente serão iniciados no segundo semestre de 2014, quando os professores iniciarem atividades com produção de vídeos. O grupo de sujeitos da pesquisa é composto inicialmente por cerca de 20 crianças de 10 a 12 anos, estudantes do sexto ano do Ensino Fundamental. Por meio da observação, pretendemos explorar as falas e reações das crianças ao se envolverem com o tema da pesquisa, e assim, compreender como as conversas se processam e quais os significados e sentidos construídos pelos estudantes na relação com a aprendizagem escolar. Partimos do princípio de que, a partir das observações realizadas podemos apreender muitas informações sobre as experiências dos alunos e dos professores com o cinema na escola. Yin (2005) diz que, ao fazer observações acerca das atividades reais da vida, o pesquisador entra no mundo do sujeito da pesquisa e ao realizar observação participante, pode exercer variadas funções dentro do estudo de caso, participar dos eventos pesquisados, e assim, ter a percepção de quem está dentro do caso estudado. 2

Os estudos teóricos são utilizados para consolidação da pesquisa e para uma análise mais precisa dos dados coletados, por meio de uma interlocução com teorias e estudiosos que abordam temáticas relacionadas à infância, ao cinema e a ligação destes com a escola. Uma breve abordagem sobre a infância De acordo com o Artigo Segundo do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), considera-se criança, a pessoa até doze anos de idade incompletos. Ainda segundo o ECA, esta pessoa goza de todos os direitos fundamentais inerentes a pessoa humana. A criança, assim, é reconhecida legalmente como indivíduo pertencente a uma sociedade e possuidora de direitos sociais. Em seus estudos, Belloni (2009) destaca a importância de ver as crianças como atores sociais que ganham valor enquanto cidadãos. Olhar para a infância no contexto atual em que vivemos requer o reconhecimento da influência da mídia na vida das crianças. Nos dias atuais a infância assume novas configurações por meio dos vários estímulos recebidos diariamente. Ao falar sobre a infância na sociedade contemporânea Sarmento (2005) destaca que a inserção de jogos, vídeos e equipamentos tecnológicos alterou a forma de brincar das crianças e produziu novas formas de consumo de produtos derivados da indústria cinematográfica. Os estímulos tecnológicos que recebe diariamente refletem nas experiências pessoais construídas por ela por meio das novas linguagens que integram seu repertório de experiências sociais e culturais. Ao falar sobre a criança, Sarmento (2005) chama a atenção para a importância de escutar o seu ponto de vista e reconhecer que estas são capazes de interpretar o mundo e possuem competências para participar e assumir seu protagonismo diante de questões que compõe seus espaços sociais. Um pouco sobre o cinema O cinema tem o poder de despertar em nós o desejo de conhecer, além de nos permitir compartilhar e vivenciar experiências diferentes das nossas. No cinema, imagem e movimento aliados a outros fatores como falas, efeitos sonoros, luminosidade e efeitos especiais conseguem capitar nossa atenção de forma instantânea, nos envolvendo de todas as maneiras. Contar histórias através das 3

imagens é uma arte que nos faz olhar para além da tela. Como destaca Teixeira, Larrosa e Lopes (2007, p. 12), o cinema abre-nos os olhos. Com os olhos abertos, nos abrimos também para o mundo e para as possibilidades de encantamento e conhecimento que um filme pode nos oferecer. O cinema se constitui como um documento valiosíssimo de estudo para compreensão dos fenômenos que correspondem ao patrimônio histórico e cultural da humanidade, pois possui características cinematográficas riquíssimas como o caráter ilustrativo e os efeitos sonoros, que prendem a atenção do expectador. É um espaço de possibilidades para a criação e a manifestação do sujeito. Segundo Fantin (2011, p.20) o cinema passa a ser um dos contadores de história da era moderna e Lopes (2007, p. 21) diz que não há nenhuma arte que iluda a vida como ele. O cinema conta histórias e evoca sensações escondidas ou nunca vivenciadas. A experiência com o cinema pode levar a formas significativas de pensamento. Como diz Bergala (2008), ele nos permite compartilhar experiências. Atualmente, a computação gráfica surge como uma grande aliada do cinema, promovendo a utilização de novas técnicas digitais que são incorporadas às produções e trazem novas possibilidades para as histórias e enredos projetados nas telas. O processo de transformação que o cinema vem passando tem facilitado o acesso da população aos filmes e às informações referentes à sua produção. Quanto às mudanças ocorridas, Bergala (2008) fala da mutação dos recursos técnicos com a passagem do analógico para o digital, constituindo uma pequena revolução que, no aspecto educativo, irá refletir nas relações da escola com o cinema. O envolvimento da criança com o cinema O envolvimento da criança com o cinema ocorre de variadas formas, podendo ser iniciado em espaços e momentos distintos de brincadeira, lazer ou aprendizagem. Tanto a família como a escola pode ser favorável nesse processo e o interesse pela cinematografia vai depender das experiências vivenciadas. Ao falar do cinema na infância, Bergala (2008) relata que o imaginário que construímos acerca dele ao longo de nossa vida não se constitui de modo homogêneo e contínuo. Segundo o autor, partimos de um ponto inicial que irá definir nossas zonas de atração e de desinteresse (BERGALA, 2008, p. 60). Assim, a importância que a criança dará a ele e a constituição de seu universo imaginário vai depender das experiências cinematográficas construídas por ela no decorrer de suas vivências. 4

A indústria cinematográfica vende imagens que encantam seus telespectadores. As crianças consomem o que lhes é oferecido pelo mercado cinematográfico de forma natural. As produções fílmicas e animações diversas chegam a elas, seja por meio de suas atividades de lazer do dia a dia, seja como oferta de produto mediado por meio das práticas escolares. Diante da grande oferta de filmes e animações produzidas especialmente para o mundo infantil e frente ao alheamento da criança para uma escolha consciente sobre a qualidade do que ela irá assistir, suas percepções se deparam com inúmeras possibilidades de interpretação. O encantamento que o cinema causa nas crianças tem também o poder de despertar seu olhar para novos horizontes, levando-as a pensar no novo, no nunca visto, tocando-as de forma muito peculiar. O Cinema nas práticas escolares Segundo Netto (2011), o cinema surgiu na Europa, nos Estados Unidos, no Brasil e em outros países, no final do século dezenove e somente neste século foi descoberto o impacto educacional de uma imagem projetada (NETTO, 2011, p. 22). O autor afirma ainda que o uso de filmes educativos nas escolas começou no início do século vinte, logo após a invenção do cinema, sendo capaz de registrar espaços, momentos, situações e acontecimentos diversos, ele pode atuar como um valioso instrumento de ação pedagógica. Bergala (2008, p. 101) destaca que, para que a política do cinema no sistema escolar seja eficaz e séria, é necessário que os filmes estejam permanentemente presentes em sua rotina diária, assim como os livros e a música. Entretanto, conforme Fantin (2011), os estudos desenvolvidos revelam que a escola ainda parece estar muito aquém de pensar a potencialidade entre cinema e educação. Esta lacuna nos leva a pensar em como a escola utiliza a cinematografia como prática pedagógica na formação educativa e cultural de seus alunos e nos desafios, limites e possibilidades que encontra ao decidir empregá-la em suas atividades. Os estudos de Lopes (2007) mostram que a incorporação do cinema nos processos e práticas escolares implica em uma reorganização do trabalho pedagógico e a elaboração de novos métodos de ensino e aprendizagem escolar. Ao se envolver com o cinema e adentrar as narrativas dos filmes na escola, a criança se vê imersa em um novo universo onde se coloca como telespectadora que olha e interpreta os diversos assuntos abordados, além de descobrir e utilizar novas linguagens que a leva a novos caminhos e desafios. Nesta relação, tem a 5

oportunidade de olhar o outro, perceber o outro e contemplar o que está vendo. Assim, novos saberes são construídos a partir da mediação do professor. Na produção cinematográfica o olhar da criança vê o que o cinema quer mostrar. Com auxílio da tecnologia, ele desperta emoções e produz efeitos na vida das crianças por meio das imagens em movimento. Os filmes reproduzem textos culturais capazes de ensinar e contribuem para a construção de significados sociais, podendo favorecer o conhecimento sobre a sociedade em que vivemos. Sobre o envolvimento dos professores com o cinema para utilização pedagógica, Bergala (2008) ressalta o medo que possuem por não apresentarem formação específica na área. Desta forma, se apegam a práticas mais simples e confortáveis que traem o cinema concentrando a atenção dos alunos na exploração de um filme como produtor de sentido ou de emoção. Para Bergala, o que é decisivo, entretanto, é menos o saber do professor sobre cinema e mais a forma como ele se apropria de seu objeto. Ao se apropriar do objeto cinematográfico, o professor absorve outras possibilidade de manifestação da aprendizagem, convidando o aluno para vivenciar novas experiência e saberes. Conforme Lopes (2007), o cinema pode ser usado no ensino para iniciar a discussão de um assunto ou desenvolver o conteúdo, sendo importante explorar a narrativa contida na história do filme e como ela foi desenvolvida. Os recursos cinematográficos podem ser utilizados para ir além de informar o aluno, levando-o a comentar sobre o conteúdo de forma reflexiva, a ler com o olhar crítico e com sensibilidade. O campo e os sujeitos da pesquisa O estudo de caso em questão está sendo realizado em uma escola privada situada em Poços de Caldas, Minas Gerais. A escola alia a tecnologia aos seus processos pedagógicos e atualmente desenvolve algumas atividades com o cinema, proporcionando um espaço de vivências, interações e aprendizagem escolar por meio da linguagem cinematográfica. Os sujeitos da pesquisa compreendem professores e alunos do 6º ano do Ensino Fundamental, com idade entre 10 e 12 anos. Os professores envolvidos na pesquisa lecionam as disciplinas de português, geografia e artes. Por meio de relatos os professores disseram que os alunos dão opinião sobre os vídeos exibidos durante as atividades desenvolvidas e acreditam que as práticas são diferenciais na aprendizagem das crianças. 6

Na pesquisa que se desenvolve, acreditamos que o olhar do aluno talvez seja o mais importante a nos mostrar algo por meio de suas percepções. Mostrar, inicialmente, o que o cinema significa para eles. Assim, ao perguntar sobre o que é cinema associaram à diversão, pipoca e encontro com os amigos. Disseram também que é um lugar para assistir filmes variados, de forma diferente, ou que cinema é um lugar para assistir filmes que nos contam histórias reais e irreais, que nos ensinam alguma coisa, ou ainda, algo que mexe com a imaginação e o sentimento das pessoas. Por meio desta concepção podemos perceber o que o cinema significa para estas crianças. Fantin (2011), discorre sobre a necessidade de discutir as especificidades das diferentes maneiras de ver filmes e destaca que precisamos refletir sobre o que estas especificidades possibilitam em termos de construção do significado. Neste primeiro contato com os alunos foi possível perceber que para alguns alunos, assistir filmes no cinema significa diversão, pipoca e encontro com os amigos, enquanto assistir filmes na escola está relacionado à aprendizagem. Os alunos disseram que aprendem mais quando assistem aos vídeos, sejam filmes, documentários ou outro tipo que aborde o conteúdo em estudo, do que quando o professor explica a matéria oralmente. Netto (2011) defende a ideia de que o ser humano aprende por meio da observação atenta do que seus olhos captam ao vivo ou por meio de experiências icônicas que abrangem desde imagens simples e estáticas a representações mais complexas. O autor ressalta ainda que aprendemos também por meio de demonstrações e dramatizações, que são muito mais envolventes, do que a simples exposição oral ou a leitura de textos. Atividades pedagógicas: práticas com o cinema Nas atividades pedagógicas que serão realizadas, serão desenvolvidas ações que irão abranger o desenvolvimento de práticas com o cinema na produção de vídeos com os alunos. As atividades referentes à produção dos vídeos serão realizadas no segundo semestre de 2014. Até o momento, nas atividades pedagógicas desenvolvidas em sala e aula, foi possível verificar em alguns aspectos, o que os alunos pensam sobre cinema. Quanto ao tipo de vídeo exibido nas aulas, a maioria dos alunos prefere filmes, documentários, simulações e vídeos explicativos. Em relação às atividades, por meio de relatos, foi possível perceber que não gostam de atividades em que é necessário responder 7

perguntas sobre o conteúdo do vídeo e que preferem aquelas onde tem a oportunidade de manifestar a opinião pessoal sobre o conteúdo exibido na tela. Outra questão a ser destacada é a preferência das crianças por aulas em que são utilizados vídeos nas atividades, pois, ao ver os vídeos, conseguem compreender melhor os conteúdos estudados. Para Netto (2011), os elementos visuais, como os do cinema, se articulam com os auditivos enriquecendo a aprendizagem e o ensino, tornando-os mais atraente, significativo e produtivo. Foi possível observar até o momento, que, o trabalho com os mais variados tipos de vídeos na escola, desde que pensado e planejado de forma reflexiva pelo professor, sempre traz possibilidades para o desenvolvimento de atividades escolares que favoreçam a aprendizagem e a atuação reflexiva do aluno. Neste momento da pesquisa, a intenção é a exploração do campo e conhecimento do perfil dos participantes, sendo assim, acreditamos que as informações coletadas, referentes ao desenvolvimento das atividades junto aos alunos, devem ser observadas com precisão e cautela, para não conduzir a uma visão negativa ou positiva do processo, mas sim para avaliar como ele é percebido por professores e alunos. REFERÊNCIAS BAKHTIN, Mikhail. (Volochinov). Marxismo e filosofia da linguagem. Trad. Michel Lahud e Yara Frateschi Vieira. Hucitec: São Paulo, 2010. BASÍLIO, Luiz Cavalieri; KRAMER, Sonia. Infância, Educação e Direitos Humanos 2ª ed. São Paulo: Cortez, 2006. BELLONI, Maria Luiza. O que é sociologia da infância? Campinas: Autores Associados, 2009. BERGALA. Alain. A Hipótese Cinema: pequeno tratado de transmissão do cinema dentro e fora da escola. Rio de Janeiro: Booklink, CINEAD-LISE-FE/UFRJ, 2008. DARLAN, Siro. Estatuto da Criança e do Adolescente: Lei 8.069/90. Rio de Janeiro: DP&A, 2006. 8

FANTIN, Monica. Crianças, Cinema e Educação: além do arco-íris. São Paulo: Annablume, 2011.. Produção cultural para crianças e o cinema na escola. Trabalho apresentado na 26 Reunião Anual da ANPEd (Associação de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação), no GT Educação e Comunicação. Poços de Caldas (MG): 2003. Disponível em: http://www.anped.org.br/reunioes/26/trabalhos/monicafantin.rtf.. Acessos em 05 jul. 2013.. Da mídia-educação aos olhares das crianças: Pistas para pensar o cinema em contextos formativos. Trabalho apresentado na 29ª Reunião Anual da ANPEd (Associação de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação), no GT Educação e Comunicação. Caxambu (MG): 2009. Disponível em: http://www.anped.org.br/reunioes/29ra/trabalhos/trabalho/trabalho_gt16.htm Acessos em 27 jul. 2013. LOPES, José de Sousa Miguel. Educação e Cinema: novos olhares na produção do saber. Porto: Editora Profedissões, 2007. NETTO, Samuel Pfromm. Telas que ensinam: do cinema às tecnologias digitais. Campinas: Editora Alínea, 2011. SARMENTO, Manuel Jacinto. Gerações e Alteridade: interrogações a partir da sociologia da infância. 2005. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/es/v26n91/a03v2691.pdf. Culturas infantis e interculturalidade. In: DORNELLES, Leni Vieira. Produzindo pedagogias interculturais na infância. Petrópolis, RJ: Vozes, 2007. TEIXEIRA, Inês Assunção de Castro; LARROSA, Jorge; LOPES, José de Sousa Miguel (Orgs.). A infância vai ao cinema. Belo Horizonte: Autêntica, 2006. YIN, Robert K. Estudo de caso: planejamento e métodos. Porto Alegre: Bookman, 2005. 9