Autos 0801266-48.2017.8.12.0045 - Procedimento Comum Autora: Mirian dos Santos Gomes Ré: Energisa - Distribuidora de Energia S.A SENTENÇA Vistos. Mirian dos Santos Gomes propôs a presente ação de indenização por danos morais contra Energisa - Distribuidora de Energia S.A, devidamente qualificados nos autos. Aduziu, em síntese, que, na data de 15/8/2016, por volta das 19h00, ocorreu queda no fornecimento de energia elétrica em sua propriedade, local onde possui criação de animais e plantação de verduras e legumes. Disse que após a suspensão do serviço efetuou ligação à concessionária ré, que somente efetuou o restabelecimento em 19/8/2016, às 22h00. Anotou que sofreu vários prejuízos em razão da falta de energia, pelo que pediu a condenação da ré ao pagamento de indenização por danos morais no valor de R$20.000,00 (vinte mil reais). Fez os requerimentos de praxe e juntou documentos. Audiência inicial em f. 51. A ré contestou (f. 53-66). Arguiu preliminar de falta de interesse de agir. No mérito, refutou a inversão automática do ônus da prova. Disse que a interrupção do serviço não ocorreu por ato voluntário da concessionária, mas foi motivada por caso fortuito na rede elétrica. Refutou o cabimento de danos morais. Pediu a improcedência. Houve réplica (f. 71-73). O feito foi saneado (f. 89). -MS - E-mail: sid-2v@tjms.jus.br - autos 0801266-48.2017.8.12.0045 1 fls. 95
Em audiência, as testemunhas foram ouvidas. Vieram conclusos. É o relatório. Fundamento e decido. Não há preliminares ou prejudiciais pendentes de apreciação, razão pela qual passo diretamente à análise do mérito. O pedido é procedente, em parte. Com efeito, a interrupção imotivada no fornecimento de energia elétrica é hábil a justificar a condenação da parte requerida ao pagamento de danos morais à requerente. Houve, estreme de dúvidas, desrespeitosa afronta a direito da personalidade ante o impedimento do gozo de tão esmerado serviço público. O dano, inclusive, é in re ipsa, pelo que dispensa comprovação. Sobre o tema, acodem-nos os seguintes julgados: TJRS-1026235) APELAÇÃO CÍVEL. RESPONSABILIDADE CIVIL. FORNECIMENTO DE ENERGIA ELÉTRICA. SUSPENSÃO IMOTIVADA. SERVIÇO PÚBLICO ESSENCIAL. AFRONTA AO PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA. DANO MORAL CONFIGURADO. QUANTUM INDENIZATÓRIO. MAJORAÇÃO. É objetiva a responsabilidade civil da fornecedora de energia elétrica, tanto pelas disposições do Código de Defesa do Consumidor (art. 14, caput, CDC) quanto por força da Constituição Federal (art. 37, 6º, CF), cujos elementos a serem examinados são a efetiva ocorrência dos fatos, o nexo de causalidade e o dano. A interrupção do serviço de energia elétrica sem causa que a justifique e por período demasiado é situação de per si suficiente a causar dano moral, mormente porque se constitui em serviço de natureza essencial à pessoa para desenvolvimento da vida moderna em sociedade. O dano é in re ipsa e decorre diretamente do fato, independentemente, portanto -MS - E-mail: sid-2v@tjms.jus.br - autos 0801266-48.2017.8.12.0045 2 fls. 96
da demonstração pela vítima dos danos resultantes. Comporta majoração o valor da condenação para R$ 3.000,00, diante das peculiaridades do caso concreto e dos princípios da proporcionalidade e razoabilidade, bem como da natureza jurídica da indenização, conforme os parâmetros adotados pela Câmara. QUEIMA DE APARELHOS ELETRÔNICOS. DANO MATERIAL CONFIGURADO. Situação dos autos em que a prova acostada é bastante para se aferir a existência de relação de causa e efeito entre a má prestação de serviço de energia elétrica (oscilação/sobrecarga) e a queima dos aparelhos eletrônicos da parte autora, configurando dano material passível de indenização. Não configurada excludente da responsabilidade por força maior ou caso fortuito. Precedentes jurisprudenciais. RECURSO DA PARTE AUTORA PROVIDO. RECURSO DA PARTE RÉ DESPROVIDO. (Apelação Cível nº 70077740959, 9ª Câmara Cível do TJRS, Rel. Tasso Caubi Soares Delabary. j. 12.07.2018, DJe 16.07.2018). TJRS-1006536) APELAÇÃO CÍVEL. RESPONSABILIDADE CIVIL. AÇÃO INDENIZATÓRIA. FORNECIMENTO DE ENERGIA ELÉTRICA. SUSPENSÃO IMOTIVADA. INTERRUPÇÃO DE 31.08.2013 A 02.09.2013. LOCALIDADE DE PIRATINI. PRAZO EXCESSIVO PARA O RESTABELECIMENTO. AFRONTA AO PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA. DANO MORAL CONFIGURADO. A interrupção do serviço de energia elétrica sem comprovação de caso fortuito ou força maior que a justifique e por período demasiado é situação de per si suficiente a causar dano moral, mormente porque se constitui em serviço de natureza essencial à pessoa para desenvolvimento da vida moderna em sociedade. O dano é in re ipsa e decorre diretamente do fato, independentemente, portanto da demonstração pela vítima dos danos resultantes. Valor da condenação fixado (R$ 3.000,00), para a parte autora, integrante da Unidade Consumidora nº 4628384-6, observado que se trata de responsabilidade civil contratual e que a indenização deverá levar em conta a unidade consumidora afetada pela energia elétrica como um todo indivisível, de modo a compensar os integrantes afetados, independentemente do número de habitantes, evitando distorções e o locupletamento indevido, em homenagem aos princípios da proporcionalidade e razoabilidade. RECURSO PROVIDO. (Apelação Cível nº 70077993400, 9ª Câmara Cível do TJRS, Rel. Tasso Caubi Soares Delabary. j. 15.06.2018, DJe 20.06.2018). Configurada a violação à dignidade de cada parte requerente, nasce o direito à indenização por dano moral, cujo valor fica ao prudente arbítrio do julgador, com seu subjetivismo e ponderação, de forma a compensar o dano e desencorajar reincidências do ofensor. Além de estabelecido de acordo com as peculiaridades de cada caso concreto, haverão de ser observados os critérios de proporcionalidade e razoabilidade, conforme o entendimento jurisprudencial pátrio sobre o assunto: -MS - E-mail: sid-2v@tjms.jus.br - autos 0801266-48.2017.8.12.0045 3 fls. 97
APELAÇÃO CÍVEL INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS DANO MORAL INDENIZAÇÃO DEVIDA QUANTUM MANTIDO RAZOABILIDADE FIXAÇÃO EQUITATIVA SENTENÇA MANTIDA RECURSO NÃO PROVIDO... O valor da indenização por danos morais, por não haver valores pré-fixados, deve ser estabelecido de acordo com as peculiaridades de cada caso concreto, observados os critérios de proporcionalidade e razoabilidade (TJMS. Segunda Câmara Cível. Apelação Cível n. 2011.013144-0. Desembargador Relator João Batista da Costa Marques. Diário da Justiça de 1-7-2011, página 32). Portanto, dadas as particularidades do caso, bem como observados os princípios anteriormente esposados, entende-se razoável a condenação da parte requerida ao pagamento de R$ 10.000,00 (dez mil reais) a título de indenização por dano moral. Isso posto, com fundamento no artigo 487, inciso I, do Código de Processo Civil, julgo procedente, em parte, o pedido inicial para condenar a parte requerida ao pagamento de R$ 10.000,00 (dez mil reais), a título de indenização por danos morais, com juros moratórios de 1% (um por cento) ao mês e com correção monetária mensal pelo IGPM-FGV, ambos a partir da data desta sentença de arbitramento (a correção monetária com base no enunciado da Súmula de n. 362 do e. Superior Tribunal de Justiça). Em consequência da sucumbência, condeno a requerida ao pagamento de 25% das custas processuais e dos honorários advocatícios, que fixo em 10% (dez por cento) sobre o valor atualizado do total da condenação relativa ao dano moral, "ex vi" do artigo 20, 3º., do Código de Processo Civil. A parte requerente fica condenada ao pagamento de 75% das custas processuais e em 10% sobre o valor da causa em honorários, sobrestada a execução em razão da gratuidade judiciária. Publique-se. Registre-se. Intimem-se. -MS - E-mail: sid-2v@tjms.jus.br - autos 0801266-48.2017.8.12.0045 4 fls. 98
Oportunamente, arquivem-se. Cumpra-se., 05 de dezembro de 2018. Fernando Moreira Freitas da Silva Juiz de Direito -MS - E-mail: sid-2v@tjms.jus.br - autos 0801266-48.2017.8.12.0045 5 fls. 99