TÍTULO / TÍTULO: A DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA COMO PRODUTO DO DISCURSO ACADÊMICO AUTOR / AUTOR: Marci Fileti MARTINS y Solange Maria Leda GALLO INSTITUIÇÃO / INSTITUCIÓN: CORREIO ELETRÔNICO / CORREO ELECTRÓNICO: marci.martins@unisul.br y solange.gallo@unisul.br EIXO / EJE: PALAVRAS-CHAVE / PALABRAS CLAVE: Análise do Discurso; divulgação científica; Revista Laboratório Ciência em Curso RESUMO / RESUMEN O trabalho reflete sobre a formulação e circulação do conhecimento científico na contemporaneidade discutindo especificamente o que é denominado divulgação científica. Para isso, propõe-se uma discussão a partir da análise da Revista Laboratório Ciência em Curso que é ao mesmo tempo um espaço de reflexão e uma proposta de divulgação de ciência. A proposta da Revista é divulgar a ciência através de um site, em que a multiplicidade de meios como áudio, vídeo, texto, links possibilitem significar a ciência de modo não linearizado. Além disso, busca problematizar a forma de divulgação de ciência feita pelo jornalismo científico, já que o que se vê, hoje, nos materiais de divulgação de ciência, é uma tendência a fazer prevalecer os conhecimentos da própria mídia sobre ciência.
A Divulgação Científica como produto do Discurso Acadêmico O desenvolvimento da ciência, contemporaneamente, não é mais de interesse exclusivo da comunidade científica. A ciência ganha novos sentidos ao sair dos seus lugares de produção e circulação tradicionais (as instituições acadêmicas com seus papers e congressos, por exemplo) para se constituir em outro espaço social e histórico em que é ressignificada através de materiais midiáticos (revistas e programas de TV) denominados materiais de divulgação científica. Pensar, portanto, sobre as condições de produção e circulação do conhecimento científico numa sociedade como a nossa, implica refletir sobre a relação entre ciência e as instituições (Estado, escola e mídia), em que o estado e a escola passam a dividir com a mídia o papel de produtores do conhecimento científico. De fato, ao lado dos produtores originais do conhecimento cientifivo está a mídia que, assumindo a função de divulgadora do conhecimento, atravessa os lugares e as posições, arrastada por fluxos discursivos que se entrelaçam e se cruzam e que os produtores do conhecimento do saber original não mais controlam (MOIRAND, 2000:22). A divulgação científica, notadamente o jornalismo científico tem, imaginariamente, como função colocar em linguagem acessível os fatos/pesquisas científicas, os quais são herméticos e incompreensíveis para os sujeitos não especialistas. Nesse funcionamento a ciência é ressignificada a partir da sua publicização, ou seja, a ciência é "retirada" do seu meio de circulação tradicional e levada a ocupar um lugar no cotidiano do grande público. O efeito de sentido que aí se estabelece é o que se pode chamar de efeito de informação científica (ORLANDI, 2001), em que o conhecimento científico passa a informação científica, ou seja: quando se busca, através do uso de certa terminologia, por em contato sem substituir o discurso do senso-comum e o da ciência. Por meio de vários procedimentos o termo científico é apresentado ao lado de descrições, sinônimos, perífrases, equivalentes, etc, deixando à vista o processo pelo qual o discurso científico se apresenta como uma re-tomada (ORLANDI, 2001 p. 27). Nesse contexto, a Revista Laborátorio Ciência em Curso (http://aplicacoes.unisul.br/cienciaemcurso/revista/index.html) é um espaço em que se busca tanto compreender e refletir sobre os procedimentos envolvidos no trabalho de divulgação científica, quanto apresentar uma proposta para divulgar a ciência através de um site em que a multiplicidade de meios como áudio, vídeo, texto, links possibilitem uma interação do sujeito internauta com os sentidos da ciência de modo não linearizado. Tem como objetivo experimentar novas formas de divulgação e o faz através de uma reflexão sobre algumas teorias envolvendo a formulação e circulação do conhecimento científico, especificamente
aquelas que compreendem as formas de linguagem como discurso, ou seja, como espaço de construção do sujeito e do sentido que se constituiem na relacão com a linguagem, história e ideologia. Dessa perspectiva, o jornalismo, a ciência e a própria divulgação são considerados discursos e são constituidos, cada um deles, por suas condicões de produção (históricas, políticas, ideológicas) e por seus sujeitos. Considera-se, portanto, o cientista/especialista, o não especialista (sujeito leitor dos materiais de divulgação de ciência) e o próprio divulgador sujeitos que ocupam uma posição necessariamente determinada por um contexto histórico e social, ou seja, constituidos por e num discurso: o que deve ser decisivo nas práticas de divulgação de ciência não é somente o tipo de meio utilizado (a videoconferência, a internet, a televisão, as mídias impressas, etc.), mas a concepção de linguagem que permeia o processo. [...] o leitor não interage com o texto, mas com outro sujeito [...] nas relações sociais, históricas, ainda que mediadas por objetos (como o texto). Ficar na objetividade do texto, no entanto, é fixar-se na mediação, absolutizando-a, perdendo a historicidade dele, logo sua significância (ORLANDI, 2001). De tal modo, a Revista busca problematizar a forma de divulgação de ciência feita pela mídia de massa, já que o que se vê, hoje, nos materiais de divulgação de ciência, é uma tendência a fazer prevalecer os conhecimentos da própria mídia sobre ciência. Isto se deve ao fato do discurso de divulgação de ciência, segundo Orlandi (2001), produzir efeitos de sentidos que lhes são próprios ao se constituir pelo duplo movimento de interpretação: o divulgador lê em um discurso e diz no outro, isto é, ele toma um discurso constituído numa relação com uma ordem e formula em outra ordem (ORLANDI 2001 p. 24). Para a autora, o discurso de divulgação é uma certa versão do texto científico, pois parte de um texto que é da ordem do discurso científico e busca manter pela textualização jornalística, através de uma certa organizaçao textual, um efeito-ciência. Assim, enquanto a formulação do discurso científico é garantida pela sua metalinguagem específica, significando na direção da ciência, o discurso de divulgação é constituído por essa metalinguagem deslocada para uma terminologia. Contudo, quando a metalinguagem constitutiva do discurso da ciência é substituída pela terminologia que dá ancoragem científica ao discurso de divulgação, o que se observa, segundo Orlandi (2001 p. 28), é uma exarcebação no uso dessa terminologia a fim de garantir uma função legitimadora para o discurso de divulgação. De tal modo, perde-se aí justamente o que seria constitutivo do discurso da ciência: sua objetividade, ou o que ele constrói pela objetividade real contraditória de sua metalinguagem.
Acrescente-se a isso, que a ciência, na maioria dos materiais de divulgação produzidos pela mídia de massa, é mostrada noticiosamnete, o que traz como consequência um apagamento do processo científico. De fato, ao mostrar a ciência enquanto "furo de reportagem", destacando, por exemplo, somente o momento da descoberta de uma vacina (produto), o jornalista apaga todo o percurso pelo qual passou o cientista e sua pesquisa (processo) até chegar ao momento da descoberta. Além disso, a mídia reproduz sentidos que reafirmam o lugar da ciência como produtora de sentidos absolutos e inequívocos. ALGUNS FUNDAMENTOS Entender a linguagem na sua relação com a história é aceitar que todo acontecimento de linguagem organiza-se a partir de relacões de poder e não está ligada a uma cronologia, mas à organização das práticas sociais. Já a ideologia, que é elemento determinante do sentido e está presente em todo discurso, não deve ser entendida como visão de mundo ou como ocultamento da realidade, mas como propõe Orlandi (1999) como mecanismo estruturante do processo de significação. Assim, ideologia, pensada nos termos de Pêcheux (1988), na sua releitura de Althuser (1970), se constitui produzindo uma relação imaginária dos sujeitos com suas condições reais de existência, ou seja, o processo que determina as posições dos sujeitos (jornalista, cientista/pesquisador, internauta) construídas ao longo da história e através de relações de poder (políticas) é, na maioria das vezes, apagado, o que faz com que os sentidos sobre ciência que são aí produzidos se tornem naturalizados e óbvios. Além disso, essas posições óbvias para os sujeitos já estão prontas para serem assumidas, assim, o sujeito ao ser interpelado pelo discurso jornalístico ou científico vai produzir sentidos sobre ciência a partir desses lugares já prontos e óbvios. No caso do discurso jornalístico, o sentidos naturalizados de objetividade e imparcialidade são, produzidos, segundo Mariane (1998 apud GALLO et al 2008 p.123), através da manipulação da língua que, enquanto código sem falhas, é o instrumento capaz de referencializar a realidade dos fatos construindo assim o mito da informação jornalística com base noutro mito: o da comunicação lingüística. Este imaginário constrói para o discurso jornalístico um efeito de sentido de neutralidade e imparcialidade através do qual os acontecimentos são relatados para um leitor (o grande público) que, por ser considerado uma tabula rasa, precisa receber a informação de forma clara e objetiva. O jornalismo, então, ao tratar de ciência o faz através do pré-construído do discurso da própria mídia e não do da ciência: O resultado é um simulacro de ciência exposto ao público leigo, simulacro este que surge como efeito da não explicitação das condições de produção (históricas e ideológicas) da pesquisa científica. Para o sujeito leitor dos materiais jornalísticos,
então, a ciência se produz de forma descontextualizada. Esse efeito se produz, segundo Gallo (2003), justamente porque a contextualização, quando existe, é resultante de outros textos sobre o mesmo tema publicados anteriormente pela própria mídia e não pelo conhecimento da história da ciência e da pesquisa em questão. (GALLO et al 2008 p.123) Por seu turno, o discurso científico se constitui como um discurso de verdade, já que por seus objetivos e de seus métodos considerados ou pela via da razão (ciência cartesiana) ou pela da demonstração (ciência positivista), a ciência é sempre regulada pela busca da verdade e, àqueles que a manipulam ou mesmo dela se beneficiam, assiste o dever de interpretá-la como tal (LAVILLE E DIONNE, 1999). Contudo, para Pêcheux (1988), não é o homem que produz os conhecimentos científicos, mas os homens em sociedade e na história, ou seja, é a atividade humana social e histórica. Consequentemente, a produção histórica de um conhecimento científico dado seria o efeito de um processo histórico determinado por certa condições materiais (econômicas, políticas). A neutralidade do discurso científico, assim como sua legitimidade enquanto discurso da verdade é, portanto, resultado de um modo de funcionamento de certas relações produção. O jornalismo científico enquanto forma discursiva, que se estabelece na relação entre o discurso do jornalismo e o da ciência, traz na sua constituição esses sentidos imaginários resultantes dessas posições já construídas para a ciência e para o jornalismo. O trabalho da Revista Laboratório Ciência em Curso, no exercício de levar a ciência para um leitor que não é um especialista, evidencia a complexidade desse processo. É preciso construir uma posição para o divulgador de ciência que permita produzir um texto de divulgação que não seja nem tão hermético, representando uma outra versão de um artigo científico e nem tão didático e noticioso como um texto jornalístico produzido pela mídia de massa. Para isso, é necessário investir no processo tanto do fazer científico quanto do da divulgação buscando compreender esses discursos através das suas reais condições de produção, através do resgate da sua historicidade. REVISTA LABORATÓRIO CIÊNCIA EM CURSO: UMA PROPOSTA DE DIVULGAÇÃO O trabalho da Revista pretende, portanto, ao ressignificar a ciência, destacar o processo, o percurso pelo qual passou o cientista para chegar a seus resultados. Compreendendo o discurso da ciência como um processo, busca-se evidenciar as suas condições de produção desfazendo a evidência do fato científico entendido tanto como um
resultado apenas, quanto como um processo infalível e absoluto. Interessa assinalar, portanto, que existem acertos e erros que constituem o processo do qual o fato científico é resultado. Para isso a Revista se organiza a partir de alguns estratégias. A primeira delas é a hipertextualidade, em que a multiplicidade de mídias: áudio, vídeo, texto, janelas/links permite uma interação do interlocutor com os sentidos (da ciência) de modo não linearizado e também de modo mais polêmico. O desenvolvimento das tecnologias digitais, que culminou no advento da internet, apresenta-se como elemento potencializador das práticas discursivas da atualidade. Com seu ambiente diferenciado tanto pela organização do conhecimento como uma rede, quanto pela rapidez e pela quantidade do conhecimento aí produzido, a internet se constitui por uma heterogeneidade de vozes, podendo resultar na construção de um espaço mais aberto a polêmica. Orlandi (2003) tratando da relação interlocutiva no discurso, propõe modos de organização dessas vozes a partir de três tipos de discurso: o discurso lúdico é aquele em que seu objeto se mantém presente enquanto tal e os interlocutores se expõem a essa presença, resultando disso o que chamaríamos de polissemia aberta (o exagero é o non-sense). O discurso polêmico mantém a presença de seu objeto, sendo que os participantes não se expõem, mas ao contrário procuram dominar o referente, dando-lhe uma direção, indicando perspectivas particularizantes pelas quais se o olha e se o diz, o que resulta na polissemia controlada (o exagero é a injúria). No discurso autoritário, o referente está ausente, oculto pelo dizer; não há realmente interlocutores, mas um agente exclusivo, o que resulta na polissemia contida (o exagero é a ordem no sentido em que se diz isso e uma ordem, em que o sujeito passa a instrumento de comando). (ORLANDI 2003: 15-16) (grifo nosso) No discurso da internet, há um confronto pelo sentido do referente, já que os interlocutores (internautas), cada um a seu modo, procura dominar o sentido. Isso se deve a fato da internet funcionar como potencializadora de um não fechamento dos sentidos, pois nesse espaço os materiais formam uma rede de relações, em que podem ser considerados como coleções de fragmentos quase desconexos. Destaca-se aí, a posição do sujeito internauta que dominando a tecnologia digital tem certa autonomia, podendo participar do processo. Essa licença do internauta tanto para produzir materiais (sites, vídeos, textos, etc) quanto para interagir através de fóruns, chats e outros sites de relacionamento, gera um efeito de descontinuidade e heterogeneidade. Outro recurso é a utilização, pela Revista, da linguagem imagética (vídeos e fotos, forma gráfica) que aproxima seus materiais de sentidos emergentes na sociedade contemporânea. De fato, atualmente pode-se afirmar que a imagem parece destacar-se reivindicando seu lugar
na interpretação do mundo: somos constantemente levados a dar/fazer sentido a uma infinidade de ícones e é possível dizer que por meio da forma, exprime-se melhor o humanismo contemporâneo (MAFFESOLLI, 1995:153). Busca-se, então, trabalhar na relação entre as forma de linguagem, ou seja, na união do texto e da imagem no espaço virtual buscando a compreensão da linguagem imagética naquilo que lhe é constitutivo, assim como na sua relação com o texto e o espaço virtual. Para isso, a produção do material audiovisual é feita sem roteiro fechado. Nessa abordagem, as entrevistas feitas com os pesquisadores, por exemplo, são direcionadas para funcionar como uma conversa, deixando que os pesquisadores assumam certo controle do assunto discutido podendo utilizar o tempo e o percurso que desejar. Dessa perspectiva, produz-se já um certo afastamento do modo de produção do jornalismo tradicional, em que há um trabalho no sentido de moldar o acontecimento científico pelas perguntas chaves feitas ao entrevistado. A outra estratégia, que está vinculada, sobretudo, ao processo de produção dos materiais imagéticos, é o trabalho com o discurso artístico, que pela sua qualidade polissêmica, segundo Nunes e Martins (2008), pode ser produtivo para a ressignificação dos sentidos da ciência e do jornalismo na divulgação científica, na medida em que os sentidos incertos e mutáveis do discurso artístico podem evidenciar os sentidos estabilizados da ciência e do jornalismo que se quer polemizar: o discurso jornalístico apresenta um funcionamento autoritário, em que o referente (mundo) está apagado pela linguagem, que se constitui sustentada por um agente exclusivo que é o jornalista. Nesse funcionamento, constrói-se o imaginário de discurso objetivo e imparcial, em que dissimula-se a mediação através do apagamento da interpretação: em nome de fatos/noticias que falam por si o jornalista estaria apenas falando sobre ciência da maneira literal e objetiva. O discurso científico, por sua vez, pode ser considerado autoritário, quando compreendido como a manifestação de um saber supremo, quando se constitui, segundo Coracini (1991), no campo da certeza. Nesse caso, o cientista é o agente exclusivo do dizer que controlando um método vai controlar também o referente, pois como bem propõe Coracini (1991:123): quem poderia duvidar das afirmações de um cientista que colheu seu material, observou-o com base em seus princípios teóricos e metodológicos rígidos e inquestionáveis, atingido determinado resultado? (NUNES & MARTINS, 2008). O discurso artístico, por sua vez, constituído por uma polissemia aberta, pode produzir, numa relação com os materiais de divulgação, um efeito de sentidos em que o referente (a ciência) está sujeito a deslocamentos e rupturas, já que no discurso artístico jogam o equívoco, o acaso, a ambigüidade. A linguagem artística, assim, vai funcionar sustentando-se nos
materiais da Revista Ciência em Curso através i) das potencialidades polissêmicas que funcionam expandindo ao máximo o processo de significação e ii) da linguagem do documentário, a qual permite estabelecer uma relação dialógica entre documentado (pesquisador) e documentarista (divulgador) e uma posição autoral para o divulgador. (NUNES & MARTINS, 2008 p.5). O vídeo que se denomina um espaço irreverente (http://aplicacoes.unisul.br/cienciaemcurso/revista/hipermidia01.html) produzido para divulgar o Programa Hipermídia, projeto do Curso de Comunicação Social, especialização em Cinema e Vídeo da Unisul, é um caso exemplar no que se refere ao atravessamento do discurso artístico, pois as potencialidades polissêmicas estão, nesse material, funcionando de maneira a abrir ao máximo o processo de significação. O vídeo, que traz uma profusão de imagens e uma trilha sonora e se constitui de forma não linearizada, produz efeitos de sentido ambíguos rompendo com significações estabilizadas. Assim constituído, o vídeo dificulta ao sujeito internauta produzir espaços significativos naturalizados e estabilizados. Contudo, o trabalho com o artístico que resultou num audiovisual, que se pode chamar de performático, se deve também à própria característica do grupo de pesquisa divulgado (http://aplicacoes.unisul.br/cienciaemcurso/revista/hipermidia.html). É por isso, que Nunes & Martins (2008: 6) destacam que processo de divulgação de ciência se constitui numa linha limítrofe que organiza o lugar do cientista/especialista, o do não especialista e o próprio lugar do divulgador: E nesse entremeio, podemos ressignificar a ciência na exata medida em que, com o nosso trabalho ela não se transforme em outra coisa. Decorre daí a idéia de que a linguagem utilizada para a produção dos materiais de divulgação deve poder resgatar as condições de produção (históricas e ideológicas) que constituem o tema divulgado. Sendo assim, nem sempre o elemento lúdico, artístico, com as características apontadas anteriormente, vai responder a essas expectativas. Assim, uma discussão que também se vislumbra com a pesquisa envolve a relação entre a forma da linguagem de divulgação e a área de conhecimento a ser divulgado. Já a linguagem do documentário, segundo Nunes e Martins (2007) é uma forma de expressão, que apesar de lidar com uma certa representação do real, diferentemente do modo como os materiais fílmicos de ficção o fazem, está também intrinsecamente ligada à manipulação desta mesma realidade, já que está aberta a subjetividade e a autoria. Pode-se afirmar que a linguagem do documentário, desse modo, se constitui através de uma aproximação com o discurso artístico. A partir disso, através da perspectiva do documentário observativo e
interativo 1, produziu-se o vídeo vestígios cerâmicos (http://aplicacoes.unisul.br/cienciaemcurso/revista/arq03.html) que divulga o Núcleo de Pesquisa Patrimônio Histórico e Cultural, do curso de História da Unisul. O audiovisual trata especificamente, de um trabalho de campo junto a um conjunto de sambaquis que estava sendo escavado por uma equipe de arqueólogos, no sul do Estado de Santa Catarina. Nesse material, buscou-se destacar o processo que constitui a pesquisa científica tanto através da nossa aproximação dialógica com a pesquisadora, quanto pelo destaque às dúvidas e incertezas que envolvem um trabalho de pesquisa. Para isso, a estratégia desenvolvida foi aquela do trabalho sem um roteiro fechado, ou seja, a gravação dos vídeos e as entrevistas não seguiram um roteiro (falas/imagem) já definidos a priori. Através do registro observativo, em que a ordem temporal linear dos acontecimentos regem o registro, foi possível mostrar certos aspectos da pesquisa em seu desenvolvimento, em processo, quando, durante a permanência no sítio arqueológico, registrou-se os momentos em que aconteceram algumas descobertas. Como por exemplo, o momento que os pesquisadores encontraram um crânio e algumas peças de cerâmica. Esses últimos artefatos, quando encontrados pela equipe, causaram confusão, pois não se esperava achar cerâmica num sambaqui: Existia ali, algo que não se encaixava, que estava fora de lugar, o que gerou uma situação de incerteza. A pesquisadora demonstra essa dúvida dizendo: agora deu um nó na cabeça. Estávamos então, pesquisadores e divulgadores frente a algo inusitado, ou seja, com arqueólogos que se confrontavam com uma contradição sobre a história de sua pesquisa, a qual parecia já estabelecida. Esse fato revela um sentido de ciência em que é necessário levar em conta que o seu percurso está suscetível a dúvidas e a equívocos. Consequentemente, vemos aí, o processo que queremos evidenciar, que a pesquisa científica é vulnerável e feita sob hipóteses e não constituída por verdades absolutas. Não é um produto apenas, como supõe o jornalismo de massa (NUNES & MARTINS 2007:8). 1 Dos subgêneros do documentário propostos por Nichols (APUD YAKHNI 2003), destaca-se aqui, os documentários observativo e interativo. Segundo o autor, o documentário observativo parte do princípio da não intervenção. Nesse caso, os acontecimentos regem todo o registro e por isso, a edição, nesta modalidade, obedece a uma estrutura dos acontecimentos de modo a manter a sua continuidade espaçotemporal. Já o documentário interativo ou cinema direto rompe com a barreira da não intervenção enfatizando a presença do realizador e, portanto, da relação dialógica entre o documentado e o documentarista. Este estilo de documentário surge junto ao com o som no cinema que possibilitou a exclusão da voz em over/off e a captação da fala em sua espontaneidade. O cinema direto dava a palavra ao outro e dava a palavra ao próprio realizador, que podia intervir com sua voz em off, por exemplo. Nesta modalidade o diálogo era parte fundamental da constituição do documentário.
A linguagem audiovisual interativa, por sua vez, enfatizou a relação dialógica entre o documentado e o documentarista, já que o processo de divulgação ao garantir que a pesquisadora não fosse limitada por uma entrevista do tipo pergunta\resposta podendo assumir, por isso, certo controle do assunto discutido (usou o tempo e o percurso que desejou) possibilitou captar os momentos em que a mesma circulava pelas escavações interagindo com o seu grupo de pesquisa e com os divulgadores. O resultado obtido aproxima o vídeo 2 da espontaneidade de uma conversa. A linguagem do documentário utilizada enquanto forma de expressão que potencializa a criatividade e autoria pode ser observada também no vídeo afastou de suas tradições (http://aplicacoes.unisul.br/cienciaemcurso/revista/bio03.html) produzido para divulgar o Núcleo de Pesquisa Urbanização Litorânea e Impacto Ambiental. O audiovisual discute os problemas da ocupação desordenada das costas litorâneas do estado de Santa Catarina, nesse caso, pela construção de um aterro na área costeira sul da ilha de Florianópolis. Nesse material, destaca-se, ao invés da voz do cientista, outras vozes 3, aquelas dos moradores da região, uma comunidade de pescadores que, em conseqüência dessas mudanças ambientais, viram suas antigas áreas de pesca desaparecerem. preocupar Para garantir o efeito de criatividade e, por conseguinte, de autoria, optou-se por produzir um vídeo com planos em que se destacam enquadramentos com efeito dramático e também com entrevistas em locais pouco convencionais, chamando a atenção para uma forma de desconstrução da entrevista tradicional. Além disso, o tema divulgado foi apresentado de forma polêmica através das vozes contraditórias dos entrevistados. O vídeo se inicia com uma foto do por do sol no bairro da Costeira antes do aterro, onde se vê a silhueta de um pescador em seu barco e logo em seguida, tem-se a entrevista de um 2 Os vídeos aqui analisados, apresentam características de uma linguagem de documentário, que podemos chamar de mais contemporânea. Segundo Nunes & Martins (2007: 9) isso pode ser observado no modo como se deu o tratamento da imagem, em que a câmera se apresenta com mais dinamicidade, ou seja, não está estática, estabilizada. O áudio não é limpo, já que capta o ruído do ambiente e os planos, enquadramentos, closes também fogem um pouco do padrão clássico. Esses materiais parecem se aproximar de alguns materiais audiovisuais que vemos surgir na Internet, materiais estes que fogem também a linguagem audiovisual clássica. No caso dos vídeos da Internet, isso se deve ao acesso cada vez mais fácil à tecnologia de gravação de vídeo possibilitando que, grande número de pessoas leigas nas técnicas de produção de audiovisuais, possam produzir materiais e divulgá-los por meio da Internet. O resultado, em muitos casos, são vídeos em que a câmera não está estática, que captam os ruídos do ambiente e apresentam uma montagem que foge aos padrões convencionais. 3 Ao se buscar ressignificar a ciência destacando o percurso pelo qual passou o cientista para chegar a seus resultados, entende-se que é necessário levar em consideração que o processo da produção de conhecimento, contemporaneamente, pode estar se constituindo de forma heterogênea, tanto através das vozes do cientistas/especialista quanto através da voz dos outros (não especialistas, divulgadores).
pescador antigo da região falando sobre as dificuldades enfrentadas por eles depois da construção do aterro. Buscou-se, com a contraposição da foto com as imagens da entrevista do pescador, um efeito de composição em que se evidenciasse a contradição intrínseca ao tema divulgado: a relação entre a identidade cultural e o processo de urbanização. O vídeo apresenta uma imagem de um homem que pesca, para logo em seguida desconstruir esse sentido através do choque de se saber pela fala de outro um pescador que ali não se pesca mais. Ao mesmo tempo, o vídeo proporciona uma sensação de nostalgia quando este mesmo entrevistado fala de um tempo em que aquela fotografia poderia fazer sentido. O close no rosto do pescador, a luz que ressalta suas rugas proporciona ainda mais essa sensação de tempo perdido. O vídeo se desenvolve com uma segunda entrevista, em uma padaria do local, agora com uma senhora, esposa de pescador. Sua fala complementa a do pescador e ressalta a dificuldade econômica gerada pelo fim da pesca na região. Mas o que se destaca nessas imagens é o local inusitado da entrevista e a atitude despojada da entrevistada perante a câmera: ela não esconde seus trejeitos e fala de modo incisivo, o que não é usualmente registrado em uma entrevista jornalística, por exemplo. O último entrevistado, um gerente de uma empresa de beneficiamento de peixe também no mesmo bairro, foi apresentado, primeiramente, através do áudio, ou seja, sua voz compunha com imagem dos peixes sendo beneficiados. Evidentemente, essas imagens se contrapõem ao discurso do pescador e da mulher na padaria, pois mostra uma outra realidade, ou seja, a da pesca em grande escala. Na construção do vídeo, ao se destacar a falta de peixe, através da voz dos dois primeiros entrevistados, para logo em seguida mostrar esses peixes em quantidade, evidenciou-se uma ruptura: o que foi a pesca na região e o que é a pesca na região na atualidade. O vídeo encerra com uma fotografia do bairro da Costeira na atualidade, dando noção da dimensão da obra e, ao mesmo tempo que reafirma, de algum modo, os dizeres do gerente da empresa, mostra-se também em contradição com os sentidos da fotografia do pescador no por do sol, no início do vídeo. Nesse vídeo observa-se como a montagem da seqüência dos planos gerou sentido. Através da contraposição de imagens produziu-se o efeito de choque, no sentido Eiseinsteiniano 4 da 4 Segundo Rubinato (www.geocities.com/contracampo/notasparaumadefinicao.html), Eisenstein preconizou uma montagem dialética, que se inspirou em fontes tão diversas como o marxismo, o teatro japonês e os ideogramas. A concepção dialética de montagem advoga o princípio da justaposição de dois planos que criam um novo significado, que não o expresso em termos visuais, mas sim em termos conceituais na mente do espectador. Pode-se citar, como exemplo notável desta concepção a memorável seqüência de A Greve (Stachka 1924), onde são justapostos planos consecutivos que mostram cenas de um matadouro de bovinos e a repressão da polícia tzarista aos grevistas. O significado almejado não é exibido plasticamente na tela, mas é obtido de modo abstrato no entendimento. É importante verificar que não há, pois, um objetivo meramente didático, pois o significado não é apresentado como um realidade
montagem dialética, em que o efeito de sentido de uma imagem e, neste caso, também de uma entrevista, colocada junto à outra gera um sentido que potencializa o discurso a ser transmitido: Deste modo a manipulação da montagem é evidenciada e por isso evidenciamos o nosso papel como autores, em que não se procura enquanto autor uma transparência ou uma imparcialidade. Temos então, como já dissemos, uma desconstrução do modelo tradicional de entrevistas feita pelo jornalismo e entendemos que o rompimento com esse padrão possibilita um uso mais criativo da imagem, o que potencializa nossa busca por um tipo de divulgação de ciência que tenha seus sentidos mais abertos e conseqüentemente permita ao interlocutor uma relação mais reflexiva com o material de divulgação. (NUNES & MARTINS 2007:9). ALGUNS ENCAMINHAMENTOS A divulgação de ciência produzida pela mídia de massa, que se constitui na relação entre os discursos jornalístico e científico, traz na sua constituição sentidos imaginários resultantes do pré-construído que constitui tanto o discurso da ciência quanto do jornalismo e a proposta da Revista Laboratório Ciência em Curso é buscar uma forma de divulgação que desestabilize esses sentidos. Contudo, mesmo sendo a posição do sujeito divulgador, nesse caso, uma posição que não está inscrita no discurso jornalístico, predominantemente, mas sim no discurso acadêmico-científico, tendo por isso como foco muito mais o modo de fazer pesquisa cuja divulgação tem fins educativos do que responder a interesses de uma empresa jornalística, o que se observou foi a complexidade do processo, já que a divulgação de ciência produzida pela Revista foi afetada pelos sentidos de divulgação dos quais pretendia se diferenciar. O primeiro núcleo de pesquisa divulgado, Trabalho e Subjetividade 5 estava quase inteiramente determinado pelo discurso jornalístico na sua forma mais noticiosa, pois ao dar a palavra ao pesquisador para que ele falasse sobre sua pesquisa, este foi colocado em uma situação enunciativa idêntica a de um repórter de rua. O vídeo capaz de dar identidade ilustra esse modo de divulgação (http://aplicacoes.unisul.br/cienciaemcurso/revista/ts04.html). acabada, pronta para ser assimilada, mas sim como uma proposta que deve ser discutida pelo espectador. Trata-se de um cinema que desencadeia no público a formação da consciência revolucionária, num processo que exige uma participação ativa daquele que o contempla, que é chamado a refletir sobre o conteúdo expresso na tela. 5 Esse núcleo de pesquisa tem como temática central as atuais mudanças no mundo do trabalho e o impacto destas sobre a subjetividade das pessoas no mundo contemporâneo. Especificamente, desenvolve estudos sobre: o processo de construção das identidades profissionais e ocupacionais, a escolha e a orientação profissional, as novas tecnologias e gestão de pessoas nas organizações; emprego e desemprego, trabalho e educação formal (http://aplicacoes.unisul.br/cienciaemcurso/revista/trabalhoesubjetividade.html).
Já o outro material audiovisual (http://aplicacoes.unisul.br/cienciaemcurso/revista/mpn04.html), do grupo de pesquisa Modelos de Processos de Negocio 6, mostra o pesquisador não como um repórter, mas como um professor e o didatismo do discurso pedagógico foi o sentido predominante. A Revista Laboratório Ciência em Curso, assim, é um trabalho de experimentação em que a pesquisa sobre linguagem, discurso e divulgação de ciência é ainda provisória. Essa proposta de divulgação, portanto, é ela própria uma pesquisa que vai se desenvolvendo de forma processual. Assim, pretende-se dos dois lados, tanto no discurso científico de origem, quanto no discurso de divulgação, dar ênfase ao processo e não ao produto. NOTAS Marci Fileti MARTINS. Lingüista, Profa. Dra. da Pós-Graduação em Ciências da Linguagem da Unisul, Palhoça, Solange Maria Leda GALLO. Lingüista, Profa. Dra. da Pós-Graduação em Ciências da Linguagem da Unisul, Palhoça, REFERÊNCIAS ALTHUSSER, L. Aparelhos Ideológicos de Estado. 3ª ed., São Paulo: Ed. Presença, 1970. GALLO, Solange Leda. A Educação a Distância em uma perspectiva discursiva. Texto apresentado na ANPOLL (2002) no GT em Análise do Discurso e publicado nos anais do evento. GALLO, Solange Lega, MARTINS, Marci Fileti, MORELLO, Rosângela. Linguagens, Ciências e Tecnologias na Formulação do Conhecimento in Ciência da Linguagem: Avaliando o Percurso, Abrindo Caminhos. Org. Sanfro Braga, Maria Ester Wollstein Moritz, Mariléia Reis e Fábio Rauen. Editora Nova Letra. Blumenau. 2008. GUIMARAES, Eduardo. Org.: Produção e Circulação do Conhecimento. Vol.1 e Vol 2 Ed. Pontes, 2001/2003. Pontes, CNPq/ Pronex e Núcleo de Jornalismo Científico.SP MAFFESOLI, Michel. Contemplação do Mundo. Porto Alegre, Artes e Ofícios Editora Ltda. 1995. 6 Um modelo de processos de negócio é um tipo de sistema de informação, que através de um conjunto de atividades busca organizar, através de uma linguagem informatizada, o funcionamento de uma empresa, permitindo que se tenha tanto uma visão global da organização da empresa, quanto uma visão de suas partes. Os Grupos de Pesquisas em Sistema Integrado de Gestão (GPSIG) e em Sistemas Computacionais Inteligentes (GSCI) têm como objetivo desenvolver um modelo de processo de negócio, que possa ajudar na estruturação das pequenas empresas da região da Grande Florianópolis e Sul do Estado de Santa Catarina (http://aplicacoes.unisul.br/cienciaemcurso/revista/modelodeprocessos.html).
MARTINS, Marci Fileti. Divulgação Científica e a Heterogeneidade Discursiva: Análise de "Uma Breve História do Tempo" de Stephen Hawking in Revista Linguagem em (Dis)curso- V. 6 n.2. 2006.. O que pode e deve ser dito no discurso de divulgação de ciência: Nós precisamos da incerteza, é o único modo de continuar in III SEAD. Porto Alegre. 2007 MARIANI, Bethânia. O PCB e a Imprensa: O comunismo imaginário, práticas discursivas da imprensa sobre o PCB (1922-1989). Campinas, Editora da Unicamp. 1998 MOIRAND, Sophie. - Formas discursivas da divisão de saberes na mídia. in.. RUA n.6. Revista do NUDECRI. Unicamp. Campinas, 2000. NUNES, Maria Augusta V. & MARTINS, Marci Fileti. O discurso artístico na constituição dos materiais de divulgação de ciência: A Revista-laboratório Ciência em Curso. Linguasagem. 2008 ORLANDI, Eni. Análise do Discurso: princípios e procedimentos. Pontes. Campinas/SP. 1999. Discurso e Leitura. Editora Cortez, 2a edição. São Paulo. 1993. Divulgação Científica e Efeito Leitor: Uma Política Social e Urbana in Produção e Circulação do Conhecimento Vol 1 (Estado, Mídia, Sociedade). Org. Eduardo Guimarães. Pontes, CNPq/ Pronex e Núcleo de Jornalismo Científico. 2001. A Linguagem e seu Funcionamento: As Formas do Discurso. Campinas SP. Editora Pontes, 2003. PÊCHEUX, Michel. Les Vérités de la Palice. Paris. Mespero.1975. (trad.bras.) Semântica e Discurso. UNICAMP.Campinas/SP. 1988 RUBINATIO, Alfredo. Notas para uma Definição de Cinema Revolucionário in www.geocities.com/contracampo/notasparaumadefinicao.html. Consultado no dia 02/03/2009. ABSTRACT The work reflects about the production of scientific knowledge in contemporary specifically discussing the ways in which that knowledge circulates, as is disclosed. We are interested in what is denominated science communication, social area with a strong order of the media, where, according to some authors, the scientific knowledge "leaves" in its place "original" and will make sense in the way of daily non-specialists. For this, we bring to discuss the proposed disclosure in the journal Science Laboratory Course (http://www.cienciaemcurso.unisul.br). The proposal of the journal is to disseminate science through a site, where the multiplicity of media like audio, video, text, links allow mean the science in not linear order. Also, search discuss about the form of dissemination of science by the scientific journalism, because what we see today, in the divulgations materials of science, is a tendency to giving priority to the knowledge of the media on science. Keywords Analysis of Speech; scientific dissemination; Laboratório Ciência em Curso Magazine