PESQUISA EM SALA DE AULA E FORMAÇÃO DOCENTE Anelise Carvalho dos Reis Carla Webber Ligia Chies Maria Angélica Magagnini Borges Cineri Fachin Moraes O seguinte texto tem o intuito de demostrar e refletir sobre os resultados obtidos a partir de um projeto de pesquisa desenvolvido na disciplina Análise Crítica da Prática Docente. O foco do projeto é a presença da pesquisa em sala de aula e na formação docente. A pesquisa, desenvolvida em sala de aula, como instrumento pedagógico que potencializa o ensino e a aprendizagem, representa um importante meio para produzir conhecimentos. Pesquisar, partindo de uma determinada problematização, contribui para a articulação dos saberes englobando teoria e prática. De fato, o ato de pesquisar, analisar dados e concluir ideias deve fazer parte do cotidiano escolar de nossos educandos e também da vida funcional dos professores. Tem uma pedra no meio do caminho da educação que impede o sucesso pleno das práticas pedagógicas. Vemos alunos desmotivados, professores desvalorizados e descrentes nas mudanças e uma comunidade à mercê de um sistema de ensino falho. Dessa forma faz-se necessário buscar novas alternativas que visem a excelência no processo de aprendizagem, sendo este o mais importante. Infelizmente, o que se tem visto, são professores abdicando de suas carreiras por estarem cansados frente a uma realidade nada fácil, mas felizmente não são todos que desistem. Uma escola não existe sem o professor, que é a peça chave para a concretização de todos os processos que nela ocorrem. Falar a respeito dos motivos pelos quais os professores optam por esta profissão, se torna complexo se for analisado somente pelo ponto de vista do senso comum, para tal, se faz necessário uma busca avançada da epistemologia da pratica profissional docente. Segundo Tardif (2012), os saberes profissionais dos professores estão ligados às vivências que adquiriram no decorrer de suas experiências pessoais e como alunos. Estas experiências formam sistemas de crenças, modelos e baseiam as ações na
resolução dos problemas docentes. Também pode o professor se apoiar nos saberes disciplinares, didáticos e pedagógicos, durante seu curso universitário. E, por fim, nas trocas profissionais, nas leituras e manuais que apoiam as suas práticas. Se levarmos em consideração a primeira afirmativa, de que o professor leva para a sala de aula seus saberes prévios e os modelos que obteve no momento em que era estudante, podemos concluir que talvez a opção de muitos profissionais nesta área, tenha se baseado nas experiências positivas. No passado, a profissão professor era muito relacionada a feminilidade e a maternidade. O professor na sua grande maioria se representava no gênero feminino, pois às mulheres era dada a incumbência dos cuidados da maternidade, da delicadeza, e dos valores humanos, e, em consequência disso, o ensino. Em relação aos motivos que levam os indivíduos a cursar pedagogia, baseando-se nas respostas encontradas, nota-se que a maioria dos entrevistados optou por esta carreira devido a uma escolha pessoal, pois, 114 professores sempre desejaram seguir no magistério. Na pesquisa que realizamos com professores da rede pública municipal, estadual e particular da cidade de Caxias do Sul e redondeza, constatamos que a grande maioria dos entrevistados teve influência familiar e modelos positivos que levaram a reforçar suas escolhas. O que vem a confirmar a teoria que Tardif se utiliza para explicar a psicogênese da carreira de professor. Os modelos são fundamentais nesta escolha e o papel da mulher e da maternidade veio através dos tempos influenciando estes profissionais. O ser afetivo, que se encontra no estereótipo feminino possui a afetividade e a intuição, que são capazes de promover a empatia tão necessária a pratica docente. Segundo Tardif (2002, p. 130) uma boa parte do trabalho docente é de cunho afetivo, emocional. Baseia-se em emoções, em afetos, na capacidade não somente de pensar nos alunos, mas igualmente de perceber e de sentir suas emoções, seus temores, suas alegrias, seus próprios bloqueios afetivos. Pensamos ser esta uma das explicações mais convincentes para justificar tal preferência. Dar aulas, ou promover aulas, vem de uma construção histórica, de valores e modelos, que influenciaram muitos profissionais e que
ainda hoje, influenciam estas escolhas. Nos próximos anos, este quadro poderá mudar, pois a mulher já assumiu outros papeis na sociedade, e não está mais somente vinculada à feminilidade. Hoje concorre em competência de igualdade com os homens no mercado de trabalho. Existe um consenso na literatura educacional de que a pesquisa é um elemento essencial na formação profissional dos professores. Existe também a ideia de que a pesquisa deve ser parte integrante do trabalho do professor, ou seja, de que os professores devam se envolver em projetos de pesquisa nas escolas e salas de aula. Iniciar uma pesquisa em sala de aula com os alunos consiste em muitas questões, mas é de suma importância considerar que o ponto de partida é a criação de um projeto de pesquisa, um momento de muito estudo, questionamento e reflexão onde o diálogo e a interação dos envolvidos se torne parte constituinte deste processo. Ser professor pesquisador é ser ouvinte, observador e também é ser autor, é registrar experiências, sejam elas de vida ou de outros temas, bem como as vivências transcorridas durante sua pesquisa, consolidando espaços de aperfeiçoamento e construção de novos significados. De acordo com os resultados da pesquisa realizada, 128 professores se consideram pesquisadores, seja para procurar alternativas diferenciadas para melhorar o planejamento ou buscar conhecimentos e aperfeiçoamento, com participação em cursos, palestras, leituras e formação diferenciada. Nesse sentido, percebese o interesse dos profissionais pela inovação e por planejamentos que agreguem dinâmicas e novas tecnologias, o que favorece a participação e o interesse dos educandos. Pesquisar é comprometer-se com essa prática, sendo que a pesquisa na sala de aula, inquieta tanto professores como alunos. De acordo com Demo (2007, p. 8) a pesquisa inclui sempre a percepção emancipatória do sujeito que busca fazer e fazer-se oportunidade à medida que começa a se constitui pelo questionamento sistemático da realidade. Incluindo a prática como componente necessário à teoria, e vice versa, englobando a ética dos fins e valores. Fica assim evidente que o papel da pesquisa na formação docente vai muito além da questão do professor pesquisador/reflexivo. É preciso avaliar as razões pelas quais esta prática ainda não faz parte do cotidiano e do
planejamento de todos os professores ou quando aparece, fica restrita a apenas alguns assuntos e conteúdos fechados. Propiciar tal prática favorece a construção de ideias, o pensamento crítico e promove uma reflexão sobre a realidade dos sujeitos. Neste sentido, é preciso compreender de que professor e quais os objetivos ao elaborar um projeto de pesquisa. A intencionalidade pedagógica deve estar clara e coerente, visto que o sucesso de uma atividade investigativa potencializa a aprendizagem. Mediante tamanha importância do pesquisar, a tarefa do professor tornase complexa e desafiadora. Demanda tempo, iniciativa, dedicação e espírito investigativo, isso mesmo, os educadores necessitam despertar em si uma postura reflexiva e pesquisadora. Tratando-se do perfil dos profissionais, nos remetemos à sua formação acadêmica. Não se pode exigir que um professor organize projetos de pesquisa em sala de aula, se ele não foi exposto a esta vivência enquanto acadêmico. Como nos diz André: é extremamente importante que ele aprenda a observar, a formular questões e hipóteses e a selecionar instrumentos e dados que o ajudem a elucidar problemas e a encontrar caminhos alternativos na sua prática docente. E nesse particular os cursos de formação têm um importante papel: o de desenvolver com os professores, essa atitude vigilante e indagativa, que os leve a tomar decisões sobre o que fazer e como fazer nas suas situações de ensino, marcadas pela urgência e pela incerteza. (2011 p.59) Mediante os resultados da pesquisa, a maioria dos professores vivenciou situações de pesquisa durante sua formação. De acordo com os resultados, muitos professores da graduação, utilizavam a pesquisa como metodologia de ensino o que consequentemente influenciou positivamente no aparecimento da pesquisa hoje nos planejamentos nas escolas. Alguns entrevistados ainda responderam que a pesquisa foi pouco divulgada em seus cursos, então encontraram alternativas para buscar conhecimentos e qualificar sua prática. Considerando o questionamento realizado percebe-se que muitos entrevistados entenderam a prática de pesquisar apenas quando se utiliza livros didáticos, ou seja, aquela pesquisa básica. O trabalho educativo necessita ser aprimorado e a pesquisa em sala de aula deve ser considerada como recurso facilitador no processo de ensino e de aprendizagem, visto que os alunos exercitam seu lado reflexivo, questionam e interagem sadiamente com a sociedade onde vivem.
Referências ANDRÉ, Marli Eliza Dalmazo Afonso de (Org.). O papel da pesquisa na formação e na prática dos professores. 12.ed. Campinas, SP: Papirus, 2011. DEMO, Pedro. Educar pela pesquisa, 8 ed, Campinas, SP: Autores Associados, 2007. TARDIF, Maurice. Saberes docentes e formação profissional. 13.ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2012