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Transcrição:

fls. 391 Registro: 2019.0000438186 ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Cível nº 1002231-90.2017.8.26.0097, da Comarca de Buritama, em que é apelante BANCO DO BRASIL S/A, é apelado LUIZ SERAFIM PINTO (JUSTIÇA GRATUITA). ACORDAM, em sessão permanente e virtual da 21ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: Negaram provimento aos recursos. V. U., de conformidade com o voto do relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Desembargadores ADEMIR BENEDITO (Presidente) e ITAMAR GAINO. São Paulo, 4 de junho de 2019. Décio Rodrigues Relator Assinatura Eletrônica

fls. 392 VOTO Nº 6806 APELAÇÃO Nº 1002231-90.2017.8.26.0097 COMARCA: BURITAMA APELANTES: BANCO DO BRASIL S/A e LUIZ SERAFIM PINTO APELADOS: OS MESMOS APELAÇÃO. Contratos bancários. Empréstimo pessoal. Autor servidor público aposentado. Regularidade da cobrança. Comprometimento, contudo, de seus provimentos. Limitação dos descontos a 30% dos vencimentos. Possibilidade. Resguardo de parte do vencimento para garantir condições de subsistência do devedor e de sua família, bem como quitação das obrigações assumidas por meio menos oneroso. JUROS REMUNERATÓRIOS. Súmula 566/STJ. Inexistência de abusividade dos juros. Sentença mantida. Recursos não providos. Cuida-se de apelações respondidas e bem Apelação Cível nº 1002231-90.2017.8.26.0097 -Voto nº 6806 2

fls. 393 processadas, por meio das quais querem ver as partes reformada a r. sentença de parcialmente procedência proferida nos autos da ação revisional de contrato de empréstimo cumulado com pedido de obrigação de fazer e tutela de urgência que condenou o réu na obrigação de fazer consistente na limitação do desconto das prestações dos contratos de empréstimos descritos na inicial em 30% (trinta por cento) dos vencimentos líquidos do autor, sob pena de pagamento de multa no valor de R$ 2.000,00 (dois mil reais) por cada desconto indevido. Reconhecida a sucumbência parcial as custas e despesas foram rateadas na proporção de 50% para cada um dos litigantes, e os honorários advocatícios, a serem pagos pela parte adversa, arbitrados em R$1.000,00 (mil reais), observada a gratuidade deferida ao demandante. O Banco defende o respeito ao pacta sunt servanda e ao ato jurídico perfeito, de modo a entender não ser cabível a ordem de limitação dos descontos. Pugna pela manutenção dos contratos nos termos em que foram celebrados, em nome do princípio da boa-fé objetiva. Cita o Decreto-lei que admite a limitação em 40% dos vencimentos do autor. Por fim, pretende ver prequestionada a matéria. Apresentou o autor contrarrazões por meio das quais pugnou pela manutenção da r. sentença. Após a decisão dos embargos declaratórios, a Apelação Cível nº 1002231-90.2017.8.26.0097 -Voto nº 6806 3

fls. 394 instituição financeira ratificou os termos da apelação interposta. Interpôs, então, o autor apelo, por meio do qual, requer a limitação dos juros remuneratórios à taxa Selic e o reconhecimento da aplicação do Código de Proteção ao Consumidor aos contratos firmados entre as instituições financeiras e os usuários de seus serviços (art. 3º, 2º, da Lei nº 8078/90), importando na declaração de nulidade absoluta das cláusulas ilícitas, abusivas, excessivas e/ou enganosas inseridas no contrato (art. 51, caput e incisos, e 1º). É o relatório. Os recursos não prosperam. Celebraram as partes 4 (quatro) contratos de empréstimo, ora impugnados pelo autor, diante do desconto excessivo das parcelas em sua folha de pagamento. Aplica-se, evidentemente, ao presente caso o Código de Defesa do Consumidor, consoante entendimento sumulado do Superior Tribunal de Justiça : Súmula 297 : O Código de Defesa do Consumidor é aplicável às instituições financeiras. A aplicação do referido diploma, todavia, não auxilia nem prejudica quaisquer uma das partes. Discute-se nos autos contratos de empréstimo Apelação Cível nº 1002231-90.2017.8.26.0097 -Voto nº 6806 4

fls. 395 consignado em na folha de vencimentos do autor, servidor público aposentado (fls. 14/15). A disposição contratual que autoriza descontos em folha de pagamento não violenta qualquer diploma legal vigorante, nem mesmo o Código de Defesa do Consumidor, ressaltando não ser considerada abusiva cláusula livremente pactuada, que, ao autorizar forma de pagamento menos onerosa ao mutuante, permite a prática de encargos mais vantajosos ao mutuário. Os descontos em conta corrente se alastraram pelo País porquanto houve facilidade extrema em pagamentos de débitos das mais variadas ordens por esta forma. Hoje, raramente pessoas deixam de autorizar débitos em conta de despesas como as de luz, água, telefone, cartões de crédito e muitas outras, inclusive prestações de contratos. É uma forma prática de se pagar com a vantagem de resolver de vez o problema do esquecimento, além de retirar do devedor uma série de preocupações com os pagamentos aos quais estão sujeitos todos os que vivem em sociedade e se beneficiam das facilidades da vida moderna. O problema surge quando os descontos autorizados se tornam de tal forma grandes que passam a ameaçar a própria sobrevivência do devedor, como é o caso dos autos. Apelação Cível nº 1002231-90.2017.8.26.0097 -Voto nº 6806 5

fls. 396 O pacta sunt servanda não é preceito absoluto, como pretende ver reconhecido o banco apelante. Todavia, não houve situação tal a ensejar a nulidade desta cláusula, mas apenas sua adequação à realidade das partes, com observância da função social inerente a toda contratação. No caso, o autora é servidor público aposentado e os descontos efetuados estão inviabilizando o custeio de suas necessidades básicas, além de privá-la do mínimo existencial para uma vida digna, de modo se mostrou acertada a r. sentença, porquanto a limitação dos descontos faz com que sejam garantidas condições suficientes à sua subsistência, bem como permite a quitação das obrigações assumidas por meio menos oneroso, o que, por seu turno, não causará prejuízo a qualquer das partes. Anote-se que, nos empréstimos bancários, a garantia do Banco para a concessão deles, com juros e encargos vantajosos, é o desconto em conta corrente ou em folha de pagamento. Não pode o mutuário obter o empréstimo e depois não querer a contrapartida. Porém, no caso concreto, a limitação dos descontos a 30% (trinta por cento) dos vencimentos, melhor atendem às necessidades da autora, que, embora tivesse ciência dos valores das prestações quando da contratação, não poderá honrar com a contratação nos moldes iniciais sob pena de colocar em risco Apelação Cível nº 1002231-90.2017.8.26.0097 -Voto nº 6806 6

fls. 397 a sua sobrevivência e a de sua família. Nestas circunstâncias, o desconto de expressiva quantia não pode ser admitido, sob pena de ofensa à dignidade da pessoa humana; a prática não se mostra razoável ou admissível à luz da lei e da jurisprudência pátrias, impondo-se a limitação. É o princípio da proporcionalidade aplicado para equilíbrio entre os arts. 1º, inciso III, e o art. 5º, inciso XXXVI, ambos da CF. Não se olvida que para os servidores públicos estaduais e pensionistas aplicam-se atualmente as disposições do Decreto Estadual nº 61.750 de 2015, determinando que fica alterada de 30% para 35% a margem consignável a que alude o artigo 2º, 1º, item 5 do Decreto de 60.435 de 2014. Vale ressaltar que o Decreto Estadual nº 51.314/06, que determinava a limitação de descontos em 50% dos vencimentos dos servidores estaduais percebidos, foi revogado pelo Decreto nº 60.435 de 13 de maio de 2014 (30%) que, por sua vez, foi revogado pelo Decreto 61.750 de 2015. Consigne-se, entretanto, que o Decreto que vigora atualmente somente estabelece o teto para descontos dos vencimentos, e não o mínimo, dependendo de cada caso concreto. Não é, na hipótese, caso de se aumentar o limite do desconto para Apelação Cível nº 1002231-90.2017.8.26.0097 -Voto nº 6806 7

fls. 398 35%, já que o aumento desse limite acarretará sério prejuízo ao autor, que ficará privado de quantia significativa para o seu sustento. Mais adequado é mesmo o limite de 30%, como constou da r. sentença. A respeito do tema, a jurisprudência consolidada pelo Colendo STJ se posicionou nesse sentido: AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. DESCONTO EM FOLHA DE PAGAMENTO. LIMITE DE 30% DOS VENCIMENTOS. PRECEDENTES. ALEGADA MÁ-FÉ DO RECORRIDO. REEXAME DE PROVAS. SÚMULA 7/STJ. 1. A jurisprudência deste egrégio Tribunal consolidou-se no sentido de considerar que os descontos na folha de pagamento devem ser limitados a 30% (trinta por cento) da remuneração, em função do princípio da razoabilidade e do caráter alimentar dos vencimentos. 2. Omissis. (AgRg no AREsp 133283/SP, Relator Ministro Raul Araújo, Quarta Turma, julgamento 11/09/2012)(grifos nossos). No mesmo sentido são as seguintes decisões Apelação Cível nº 1002231-90.2017.8.26.0097 -Voto nº 6806 8

fls. 399 desse Sodalício: AgRg no REsp 959.612/MG, Rel. Min. João Otávio de Noronha, Quarta Turma, DJe 03/05/2010;; AgRg no Ag 1.381.307/DF, Rel. Min. Sidnei Beneti, DJe 27/04/2011; AgRg no REsp 1.226.659/RS, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, DJe 08/04/2011; RMS 21.380/MT, Rel. Min. Arnaldo Esteves Lima, DJe 15/10/2007; AgRg nos EDcl no REsp 1313312/RS, Rel. Min. Sidnei Beneti, DJe 29/06/2012. Assim, em virtude da natureza alimentar do salário e em razão do princípio da razoabilidade e da dignidade da pessoa humana, a determinação de descontos no limite de 30% (trinta por cento) mostrou-se acertada, até mesmo para manutenção do equilíbrio econômico da avença. A r. sentença, pois, deve ser prestigiada. Quanto aos juros remuneratórios, o E. Superior Tribunal de Justiça, no julgamento do REsp nº 1.061.530/RS, ao constatar a questões idênticas nos contratos bancários que se submetem à legislação consumerista, aplicando o disposto no art. 543-C, 7º, do CPC, que visa unificar o entendimento e orientar a solução de recursos repetitivos, assim decidiu: I. a) As instituições financeiras não se sujeitam à limitação dos juros remuneratórios que foi estipulada na Lei de Usura (Decreto 2.626/33), como dispõe a Súmula 596/STF; b) A Apelação Cível nº 1002231-90.2017.8.26.0097 -Voto nº 6806 9

fls. 400 estipulação de juros remuneratórios superiores a 12% ao ano por si só não indica abusividade; c) São inaplicáveis aos juros remuneratórios dos contratos de mútuo bancário as disposições do art. 591 c/c o art. 406 do CC/02; d) É admitida a revisão das taxas de juros remuneratórios em situações excepcionais, desde que caracterizada a relação de consumo e que a abusividade (capaz de colocar o consumidor em desvantagem exagerada art. 51, 1º, do CDC) fique cabalmente demonstrada, ante às peculiaridades do caso concreto (...). Para o reconhecimento de abusividade seria necessário que o autor apontasse, de forma clara, a existência de juros mensais remuneratórios muito acima da taxa média de mercado, o que não ocorreu. Não há abusividade no caso dos autos. Os contratos de R$ 16.731,44, R$ 3.682,57, R$ 3.477,95 e R$ 1.876,44 tiveram seus juros remuneratórios estabelecidos em 1,928% a.m. e 25,163% a.a.; 3,85% a.m e 57,35% a.a.; 6,54% e 113,87% e 7,36% e 134,49% a.a.. Desta forma, é de rigor a manutenção da r. sentença. Tendo em vista o trabalho desenvolvido nesta Apelação Cível nº 1002231-90.2017.8.26.0097 -Voto nº 6806 10

fls. 401 instância recursal, elevo a verba honorária de sucumbência ao patamar de R$ 1.500,00 (um mil e quinhentos reais), nos termos do art. 85, 11, do Novo Código de Processo Civil. Diante do exposto, pelo meu voto, é negado provimento aos recursos, mantida a r. sentença tal como proferida, ressalvada a majoração dos honorários advocatícios. DÉCIO RODRIGUES Relator Apelação Cível nº 1002231-90.2017.8.26.0097 -Voto nº 6806 11