BIODIVERSIDADE DAS ESPÉCIES TOXIGÊNICAS DE ASPERGILLUS NO BRASIL: OCORRÊNCIA, TAXONOMIA POLIFÁSICA E DISTRIBUIÇÃO

Documentos relacionados
Contaminantes microbianos do cacau: aspectos de saúde pública do cacaueiro até o chocolate

11º Congresso Interinstitucional de Iniciação Científica CIIC a 04 de agosto de 2017 Campinas, São Paulo ISBN

12º Congresso Interinstitucional de Iniciação Científica CIIC a 03 de agosto de 2018 Campinas, São Paulo ISBN

XIX CONGRESSO DE PÓS-GRADUAÇÃO DA UFLA 27 de setembro a 01 de outubro de 2010

6º Congresso Interinstitucional de Iniciação Científica - CIIC a 15 de agosto de 2012 Jaguariúna, SP

XIX CONGRESSO DE PÓS-GRADUAÇÃO DA UFLA 27 de setembro a 01 de outubro de 2010

Orientadora: Pesquisadora, CCQA-MICROBIOLOGIA/ITAL, Campinas-SP. Colaborador: Pós-graduando, CCQA-MICROBIOLOGIA/ITAL, Campinas-SP.

10ºCongresso Interinstitucional de Iniciação Científica CIIC a 04 de agosto de 2016 Campinas, São Paulo ISBN

EFEITO DA CAFEÍNA SOBRE O CRESCIMENTO MICELIAL DE FUNGOS ASSOCIADOS AO CAFÉ E PRODUÇÃO DE TOXINAS

OCRATOXINA A EM DEFEITOS DE CAFÉS, CINÉTICA DE DESTRUIÇÃO DA TOXINA E AVALIAÇÃO DAS BEBIDAS PELO USO DA LÍNGUA ELETRÔNICA

FUNGOS TOXIGÊNICOS E AFLATOXINAS EM LEVEDURA SECA. Instituto de Tecnologia de Alimentos, Microbiologia/CCQA, Campinas/SP Nº 13235

Fungos Isolados a Partir de Rações Para Roedores Comercializadas na Cidade de Fortaleza Ceará

DETECÇÃO MOLECULAR DE FUNGOS COM POTENCIAL TOXIGÊNICO EM AMOSTRAS DE AMENDOIM VENDIDAS NO COMÉRCIO VAREJISTA DE MARINGÁ/PR, BRASIL

DISCIPLINA MICOTOXICOLOGIA DEPARTAMENTO DE MICROBIOLOGIA E IMUNOLOGIA VETERINÁRIA

XIX CONGRESSO DE PÓS-GRADUAÇÃO DA UFLA 27 de setembro a 01 de outubro de 2010

MONITORAMENTO DE FUNGOS POTENCIALMENTE TOXIGÊNICOS EM CAFÉS COM PERMANÊNCIA PROLONGADA NA PLANTA E EM CONTATO COM SOLO.

UNIVERSIDADE FEDERAL DE LAVRAS

AVALIAÇÃO MICOLÓGICA E MICOTOXICOLÓGICA DO PÓLEN DA ABELHA JATAÍ (Tetragonisca angustula) PROVENIENTE DE ILHA GRANDE, ANGRA DOS REIS, RJ*

SEMINÁRIO ARMAZENAMENTO E PREPARO DE GRÃOS PALESTRA: MICOTOXINAS

EFEITO DA CAFEÍNA E DO ÁCIDO CAFEICO SOBRE O DESENVOLVIMENTO DE FUNGOS E SÍNTESE DE MICOTOXINAS EM CAFÉ (Coffea arabica L.)

Prof Luís Roberto Batista - UFLA

AVALIAÇÃO DE SUBSTRATOS VEGETAIS DESTINADOS À ALIMENTAÇÃO ANIMAL COMO SUPORTES PARA A PRODUÇÃO DE OCHRATOXINA A POR ESPÉCIES DO GÊNERO Aspergillus FR.

BIODIVERSIDADE DE FUNGOS FILAMENTOSOS ISOLADOS EM GRÃOS DE CAFÉ (Coffea arabica)

DE AMENDOIM IN NATURA E PAÇOCAS

Identificação de aflatoxinas em paçocas de amendoim comercializadas na cidade de Lavras-MG

TÍTULO: OBTENÇÃO E QUANTIFICAÇÃO DA FORMAÇÃO DE (-)-HINOQUININA A PARTIR DA BIOTRANSFORMAÇÃO FÚNGICA DA (-)-CUBEBINA POR ASPERGILLUS TERREUS

DETERMINAÇÃO DE AFLATOXINAS EM AMOSTRAS DE LEITE E AMENDOIM CONSUMIDAS NA CIDADE DE BELÉM-PARÁ 1.

Luís Abrunhosa, Thalita Calado e Armando Venâncio

Influência do pré-processamento do café em coco no desenvolvimento de sua flora microbiana

Larissa Compri 1, Ligiane Aparecida Florentino 2, Rosane Micaela Veiga 3, Adriano Bortolotti da Silva 4, José Messias Miranda 5

CONTAMINAÇÃO ENDÓGENA POR ASPERGILLUS SPP. EM MILHO PÓS-COLHEITA NO ESTADO DO PARANÁ 1

Palavras-chave: feijão, qualidade dos grãos, contaminação, micotoxinas.

FUNGOS NA MASSA PARA PREPARO DE FISHBURGER E SEUS INGREDIENTES

Fungos xerofílicos: métodos para isolamento e enumeração

IV Congresso Brasileiro de Mamona e I Simpósio Internacional de Oleaginosas Energéticas, João Pessoa, PB 2010 Página 968

Diferentes pré-inóculos, temperaturas e tempos de incubação na produção aflatoxina B 1. em arroz

Pró-Reitoria Acadêmica Escola de Exatas, Arquitetura e Meio Ambiente. Curso de Ciências Biológicas. Curso de Ciências Biológicas

TÍTULO: ANÁLISE MICROBIOLÓGICA DE ESPONJAS UTILIZADAS NA HIGIENIZAÇÃO DE UTENSÍLIOS DE COZINHA DE RESTAURANTES DO MUNICÍPIO DE ANÁPOLIS-GO

ASPECTOS SANITÁRIOS DO CAFÉ SUBMETIDO A DIFERENTES PROCESSAMENTOS E SECADO EM TERREIROS COM TRÊS TIPOS DE PAVIMENTAÇÃO

C. Soares 1, L. Abrunhosa 1, A. Venâncio 1 *

EFEITO DO CONTATO DOS FRUTOS DO CAFEEIRO COM O SOLO DA LAVOURA EM SUA QUALIDADE FINAL

Fabiana Aparecida Couto¹, Mônica Cristina Pereira Monteiro 2, Daiani Maria da Silva 3, Marcelo Ângelo Cirillo 4, Luis Roberto Batista 5

IDENTIFICAÇÃO DE FUNGOS PATOGÊNICOS EM GRÃOS DE AMENDOIM E MILHO PROVENIENTES DA INDÚSTRIA E DA FEIRA LIVRE DE CARUARU/ PE

MICOTOXINAS PRESENTES NA CULTURA DO MILHO

IDENTIFICAÇÃO DOS PRINCIPAIS GÊNEROS FÚNGICOS NAS FARINHAS DE MANDIOCA COMERCIALIZADAS NOS PRINCIPAIS MERCADOS DE MANAUS

APLICAÇÃO DA FOTOCATÁLISE HETEROGÊNEA NO TRATAMENTO DE AFLATOXINA PROVENIENTE DE RESÍDUOS DE LABORATÓRIOS

QUANTIFICAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DA MICROBIOTA DA SUPERFÍCIE DE FRUTOS DE CAFÉ (Coffea arabica L.) EM VIÇOSA, MG DURANTE A SAFRA DE

POTENCIAL ENZIMÁTICO E TOXIGÊNICO DE FUNGOS ISOLADOS DE GRÃOS DE CAFÉ ENZYMATIC AND TOXIGENIC POTENTIAL OF FUNGI ISOLATED FROM COFFEE BEANS

INSTITUIÇÃO: CENTRO UNIVERSITÁRIO DAS FACULDADES METROPOLITANAS UNIDAS

IDENTIFICAÇÃO MOLECULAR DOS FUNGOS ASPERGILLUS NIGER E ASPERGILLUS CARBONARIUS ENCONTRADOS EM UVAS VENDIDAS NO COMÉRCIO NA CIDADE DE MARINGÁ-PR

Universidade Federal de Minas Gerais Instituto de Ciências Biológicas Departamento de Microbiologia DISSERTAÇÃO DE MESTRADO

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL FACULDADE DE VETERINÁRIA

BRENO RAFAEL DE PAIVA NUNES MICOTOXINAS EM RAÇÕES A GRANEL REALIDADE E CONSEQUÊNCIAS

INCIDENCIA DE FUNGOS TOXIGÊNICOS E AFLATOXINAS EM ARROZ

AVALIAÇÃO SANITÁRIA DAS SEMENTES DE Piptadenia stipulacea (Benth.) E Amburana cearensis (Allemão) A. C. Smith

Microbilogia de Alimentos I - Curso de Engenharia de Alimentos Profª Valéria Ribeiro Maitan

INFLUÊNCIA DE Bacillus spp. ISOLADOS DA REGIÃO AMAZÔNICA SOBRE O CRESCIMENTO DE FUNGOS TOXIGÊNICOS E PRODUÇÃO DE OCRATOXINA A

Soja Armazenada em Silo Bolsa: Avaliação Sanitária

(Coffea arabica L.): BÓIA, MISTURA E VARRIÇÃO APÓS SECAGEM EM TERREIROS DE TERRA, ASFALTO E CIMENTO

IDENTIFICAÇÃO DE FUNGOS TOXIGÊNICOS E SUAS RESPECTIVAS TOXINAS EM UVAS PASSAS ESCURAS COMERCIALIZADAS EM VOTUPORANGA-SP

Uso de marcadores fenotípicos e bioquímicos para caracterização de isolados de Aspergillus seção Flavi

Eficiência do gás ozônio na desinfecção microbiológica de grãos de milho armazenado 1

ANÁLISE DE AFLOTOXINA EM FARELO DE MILHO. PAIVA, Maria. Victória.¹; PEREIRA, Camila. Mello.²

AVALIAÇÃO QUALITATIVA E QUANTITATIVA DOS GRÃOS DE MILHO E DE SOJA ARMAZENADOS EM SILOS BAG

OCORRÊNCIA DE MICOTOXINAS EM MASSAS ALIMENTÍCIAS

Ocorrência de Aflatoxinas em amendoim e produtos de amendoim comercializados na região de Marília SP, Brasil no período de

4024 Síntese enantioseletiva do éster etílico do ácido (1R,2S)-cishidroxiciclopentano-carboxílico

CONTAGEM DE FUNGOS NO CONTROLE DE QUALIDADE DA ERVA- MATE (Ilex paraguariensis St. Hil) E ISOLAMENTO DE GÊNEROS POTENCIALMENTE MICOTOXIGÊNICOS

ISOLAMENTO E IDENTIFICAÇÃO DE Listeria spp. EM PRESUNTO COZIDO FATIADO COMERCIALIZADO EM PORTO ALEGRE, BRASIL

PESQUISA DE AFLATOXINAS EM AMOSTRAS DE PUBA DA MESOREGIÃO METROPOLITANA DE SALVADOR-BAHIA

AVALIAÇÃO DA CONTAMINAÇÃO POR OCRATOXINA A EM SUCO DE UVA INTEGRAL E NÉCTAR DE UVA COMERCIALIZADOS NO BRASIL EM 2014

MARLON CORRÊA PEREIRA

Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária Centro Nacional de Pesquisa de Tecnologia Agroindustrial de Alimentos

amostras de amendoim disponível para o consumo humano.

ANÁLISE DA CONCENTRAÇÃO DE AFLATOXINA EM PASTAS DE AMENDOIM NAKANO, G. B. 1 ; TOLEDO, E. A. 2

Teores de ocratoxinas em milho armazenado com palha na região Central de Minas Gerais

QUALIDADE SANITÁRIA DE SEMENTES DE MAMONA, CULTIVARES NORDESTINA E PARAGUAÇU.

Métodos cromatográficos e espectrométricos usados em quimiotaxonomia, prospecção de metabólitos bioativos e identificação rápida de fungos

AVALIAÇÃO DA CONTAMINAÇÃO FÚNGICA EM ALIMENTOS DISTRIBUÍDOS NAS ESCOLAS PÚBLICAS DE CAMPOS GERAIS, MINAS GERAIS.

Ecologia Microbiana. Microbiologia do Ar

Ocorrência de ocratoxina A e aflatoxinas em arroz

Influência de hidrocolóides na cor de estruturado de maracujá-do-mato

Manutenção de culturas de fungos e bactérias

INTRODUÇÃO. Departamento de Análises Clinicas, UEM, Maringá, PR, Brasil. Ciência Rural, v.37, n.6, nov-dez, 2007.

Controlo da Qualidade em Vinhos

Ocorrência de Aflatoxinas em Amendoim e Produtos Derivados

Instrução normativa 62/2003: Contagem de coliformes pela técnica do NMP e em placas

PRODUÇÃO DE CÉLULAS ÍNTEGRAS DE Penicilium citrinum PARA APLICAÇÃO NA MODIFICAÇÃO DE ÓLEOS E GORDURAS

Redalyc. Dilkin, Paulo; Mallmann, Carlos Augusto; Santurio, Janio Morais; Hickmann, José Luis

EXTRAÇÃO E PURIFICAÇÃO DE PIGMENTO PRODUZIDO PELO FUNGO TALAROMYCES COMPLEXO MINIOLUTEUS

Maria Eugênia Silveira da Rosa 1 ; Sheila Mello da Silveira 2 INTRODUÇÃO

Contaminação de Castanha do Brasil por aflatoxinas: uma revisão do panorama atual

BIODIVERSIDADE DE FUNGOS FILAMENTOSOS ISOLADOS DE GRÃOS DE CAFÉ DE CULTIVO ORGÂNICO E CONVENCIONAL FABIANA APARECIDA COUTO

Bolsista PIBIC FAPEMIG/EPAMIG - EcoCentro, Lavras, MG,

Identification of Aspergillus Species and Toxigenic Potential of Aspergillus flavus Isolated from Commercial Feed

AVALIAÇÃO DA QUALIDADE MICROBIOLÓGICA DE MILHOS BRANCO E AMARELO PARA PRODUÇÃO DE RAÇÃO ANIMAL

Micoflora das uvas e micotoxinas

Identificação de fungos produtores de micotoxinas cancerígenas em pães de sanduíches vendidos no centro comercial de Macapá-AP

ANÁLISE MOLECULAR DE ESPÉCIES DE Aspergillus CONTAMINANTES DE UVAS VENDIDAS NO COMÉRCIO DE MARINGÁ-PR

Teores de aflatoxinas totais em milho armazenado em paióis da região Central de Minas Gerais

Transcrição:

BIODIVERSIDADE DAS ESPÉCIES TOXIGÊNICAS DE ASPERGILLUS NO BRASIL: OCORRÊNCIA, TAXONOMIA POLIFÁSICA E DISTRIBUIÇÃO Júlia Maria da Silveira 1a ; Marta Hiromi Taniwaki 1b ; Beatriz Thie Iamanaka 1c ; Camila K. Possari 1c ; Aline Morgan Von Hertwig 1c 1 Instituto de Tecnologia de Alimentos, Centro de Ciência e Qualidade de Alimentos, Unidade laboratorial de Microbiologia Nº 13218 RESUMO - As espécies de Aspergillus estão entre os mais importantes fungos produtores de micotoxinas. O Brasil possui uma biodiversidade muito grande destes fungos que precisa ser mais explorada. O objetivo deste trabalho foi identificar espécie toxigênicas de Aspergillus utilizando os caracteres morfológicos e fisiológicos. Durante o período, um total de 60 amostras de alimentos foi analisado sendo: café, cacau e amendoim. Os cafés provenientes dos Estados de Minas Gerais e São Paulo, o cacau da Bahia e Pará e o amendoim do Estado de São Paulo. Houve uma grande diferença na atividade de água entre as amostras de cafés coletadas em diferentes estádios de processamento. As amostras de cacau e amendoim apresentaram uma variação intermediária nos valores de atividade de água. Destes alimentos, foram isolados 1208 fungos, sendo 28,5% pertencentes a Aspergillus section Flavi, 13,9% Aspergillus section Nigri, 0,16% Aspergillus section Circumdati e 57,3% de outras espécies de fungos, entre estes estavam Fusarium sp., Penicillium sp., Eurotium sp., fungos dematiáceos, hifomicetos e outros fungos. Dos pertencentes a A. section Flavi, 33,8% foram produtores de aflatoxinas B1 e B2 e 2,7% foram produtores de aflatoxinas B1, B2, G1 e G2. Dos produtores de ocratoxina A apenas 2,1% foram positivos. Palavras-chaves: micobiota, amendoim, café, cacau, micotoxinas. 1a Bolsista CNPq: Graduação em Ciências Biológicas, Pontifícia Universidade Católica de Campinas, Campinas-SP, julia.m.silveira@hotmail.com 1b Orientadora: Pesquisadora, CCQA/ITAL, Campinas-SP. 1c Colaborador: CCQA/ITAL, Campinas-SP. 1

ABSTRACT- The Aspergillus species are among the most important fungi producers of mycotoxins. Brazil has a very large biodiversity of these fungi that needs to be explored. The objective of this study was to identify toxigenic Aspergillus species using morphological and physiological features. During the period, a total of 60 food samples was analyzed such as coffee, cocoa and peanuts. Coffee samples from the States of Minas Gerais and São Paulo, cocoa from Bahia and Pará, and peanuts from the State of São Paulo. There was a big difference in water activity among coffee samples collected at different stages of processing. The cocoa and peanut samples showed an intermediate value of water activity. From these foods 1,208 fungi were isolated, 28.5% belonging to Aspergillus section Flavi, 13.9% Aspergillus section Nigri, 0.16% Aspergillus section Circumdati and 57.3% of other species of fungi, among them were Fusarium sp., Penicillium sp., Eurotium sp., dematiaceous fungi, hyphomycetes and other fungi. From those belonging to A. section Flavi, 33.8% were aflatoxins B1 e B2 producers and 2.7% were aflatoxins B1, B2, G1 e G2 producers. From ochratoxin A producers only 2.1% were positive. Key-words: mycobiota, peanuts, coffee, cocoa, mycotoxins. 1 INTRODUÇÃO O Brasil possui uma biodiversidade pouco explorada na área de espécies toxigênicas de fungos incluindo as espécies de Aspergillus que estão entre os mais importantes fungos produtores de micotoxinas. A identificação correta à nível de espécie é muito importante na micologia de alimentos, porque existem várias características associadas à cada espécie. Além disso, o conhecimento da distribuição das espécies toxigênicas nos alimentos pode fornecer parâmetros para o controle e prevenção da produção de toxinas pelos fungos. Nestas condições, o presente projeto teve como objetivo estabelecer uma taxonomia polifásica para a identificação de espécies toxigênicas de Aspergillus que têm sido isoladas no Brasil. O gênero Aspergillus é um dos mais importantes gêneros de fungos filamentosos. As espécies de Aspergillus são usadas na fermentação industrial, mas também podem estar presentes em diversos produtos agrícolas, e causar mudanças na qualidade como: sensorial, nutricional, pigmentação e descoloração. As micotoxinas são metabólitos tóxicos, produzidos por algumas espécies fúngicas durante o seu crescimento, com efeitos mutagênicos, teratogênicos e carcinogênicos sobre humanos e 2

animais. As micotoxinas são contaminantes naturais de difícil controle em alimentos. Estima-se que cerca de 25% de todos os produtos agrícolas do mundo estejam contaminados por tais substâncias (Benett & Klich, 2003). Nestas condições o presente projeto teve os seguintes objetivos: (i) Identificar as espécies toxigênicas de Aspergillus utilizando os caracteres morfológicos e fisiológicos; (ii) Verificar a distribuição destas espécies em café e amêndoas de cacau e amendoim, coletados de diversas partes do Brasil. 2 MATERIAL E MÉTODOS 2.1 Amostras Foi coletado um total de 60 amostras de alimentos de diferentes regiões do Brasil. Aproximadamente de 1 a 2 kg de cada amostra foi coletado, conforme disponível, para análise micológica e potencial toxigênico dos fungos isolados. As amostras foram transportadas até o laboratório de Micologia e Micotoxinas do Instituto de Tecnologia de Alimentos (ITAL) em bolsas estéreis e armazenadas congeladas ou refrigeradas até o momento da análise. A Tabela 1 apresenta a quantidade e origem das amostras. Tabela 1. Quantidade e origem das amostras de alimentos coletadas Amostra Quantidade Origem Local de Coleta Amêndoas de Cacau 5 Bahia Processadora Amêndoas de Cacau 5 Pará Processadora Café robusta 18 São Paulo Fazenda Café arábica 3 Minas Gerais Fazenda Amendoim 29 São Paulo Cooperativa 2.2 Análise da Atividade de Água (a w ) As amostras de alimentos foram colocadas no medidor de atividade de água Aqualab, modelo 3T (Decagon,USA). A atividade de água das amostras foram medidas em triplicata a 25ºC ± 1ºC. 3

2.3 Plaqueamento das amostras Para o isolamento da micobiota, as amostras foram desinfectadas separadamente com 0,4% de solução de hipoclorito de sódio por 2 minutos conforme a metodologia descrita em Pitt & Hocking (2009). Após a desinfecção, foram plaqueados 50 pedaços ou grãos dependendo do tamanho em placas de Petri, contendo o meio de cultura ágar Dicloran 18% Glicerol (DG18) para o isolamento dos fungos. As placas foram incubadas a 25ºC por 5 dias. Os resultados foram expressos em porcentagem de infecção. 2.4 Isolamento dos fungos Para identificação dos fungos, as cepas suspeitas de pertencerem à Aspergillus section Flavi, A. section Nigri e A. section Circumdati crescidas no meio DG18, foram isoladas e inoculadas no meio Czapek Extrato de levedura (CYA) e incubadas nas temperaturas de 25ºC e 37ºC por 7 dias. Cada isolado foi identificado de acordo com a chave de Klich (2002), Samson et al. (2010), Pitt & Hocking (2009) e Varga et al. (2011). As espécies de Eurotium foram cultivadas no meio ágar Czapek Extrato de Levedura 20% Sacarose (CY20S) durante 14 dias a 25ºC. As espécies de Penicillium e as outras espécies de Aspergillus foram cultivadas com três pontos eqüidistantes no meio CYA a 25ºC e 37ºC por 7 dias. Em alguns casos foi também usado o meio de Creatina Sacarose (CSN) a 25ºC por 7 dias (Samson et al. 2010, Pitt & Hocking, 2009). As espécies do grupo Aspergillus section Flavi foram também cultivadas no meio AFPA (meio de cultura seletivo para a detecção de Aspergillus flavus e Aspergillus parasiticus), para auxiliar na identificação das espécies. 2.5 Avaliação do potencial de produção de micotoxinas pelas espécies de Aspergillus Todos os isolados identificados como pertencentes à Aspergillus section Flavi, A. section Nigri e A. section Circumdati, foram inoculados separadamente no meio ágar Extrato de Levedura Sacarose (YESA), meio com alta concentração de sacarose e incubados a 25ºC por 7 dias, para avaliação do potencial de produção de aflatoxinas e ocratoxina A. Decorrido o período de incubação, as toxinas foram extraídas, aplicando-se a técnica de ágar plug associada à cromatografia de camada delgada (TLC), de acordo com a técnica de Filtenborg et al. (1983. Os plugs foram aplicados nas placas de TLC silicagel-g de 500 µm de espessura, juntamente com 2 µl do padrão de aflatoxinas e de ocratoxina A. A placa foi colocada numa cuba com a fase móvel, constituída dos seguintes solventes: tolueno: acetato de etila: ácido fórmico 90%: clorofórmio (7:5:2:5 v/v/v/v). Após o desenvolvimento do cromatograma, as placas foram secadas, colocadas em câmara UV e observadas sob dois diferentes comprimentos de ondas, 356nm e 254nm. O 4

tempo de retenção e as fluorescências foram comparadas qualitativamente com os padrões de aflatoxinas B 1, B 2, G 1 e G 2 e ocratoxina A para avaliação da presença das mesmas nas cepas testadas. 2.6 Técnicas de preservação por Sílica Gel Para a manutenção das cepas por um longo período, seguiu se a metodologia de Smith & Onions (1983). As cepas foram cultivadas no meio CYA a 25ºC por 7 dias. Tomou-se uma suspensão de esporos num frasco pequeno com um agente protetor constituído de 5% de leite desnatado. Em seguida, a suspensão foi distribuída em tubos com sílica gel estéreis, congelados e estes foram agitados para a penetração do líquido. A secagem foi realizada em estufa ou lugar escuro por uma semana com agitações constantes. Após este período os tubos foram armazenados em refrigeração ou longe da luz. 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO 3.1 Valores de Atividade de Água (a w ) Houve uma grande diferença na atividade de água entre as amostras de cacau, cafés e amendoim. Os valores de atividade de água das amostras de amêndoas de cacau, café e amendoim estão apresentados na Tabela 2. Tabela 2. Valores de atividade de água das amostras Amostra Aw máx Aw mín Amêndoas de Cacau (Bahia) 0,686 0,586 Amêndoas de Cacau (Pará) 0,710 0,648 Café robusta (São Paulo) 0,952 0,404 Café arábica (Minas Gerais) 0,968 0,436 Amendoim (São Paulo) 0,970 0,383 3.2. Análise da micobiota A Figura 1 mostra a infecção fúngica das amostras de café (A), cacau (B), e amendoim (c) após 5 dias a 25ºC no meio DG18. Todas as amostras analisadas apresentaram a presença de fungos indicando susceptibilidade destes alimentos à infecção fúngica. 5

A B C Figura 1. Infecção fúngica nas amostras de Café (A), Cacau (B) e Amendoim (C) A Tabela 3 apresenta a porcentagem de infecção dos grupos de fungos encontrados em cada produto analisado. No caso do amendoim em algumas amostras foram plaqueadas casca e grãos separadamente e no café foram plaqueados cereja, verde e seco de algumas amostras. Tabela 3. Porcentagem de infecção das amostras. Amostra Amêndoas de Cacau (Bahia) % Amêndoas de Cacau (Pará) Café (São Paulo) Café (Minas Gerais) Amendoim (São Paulo) A. section Flavi 138 24 10 0 372 A. section Nigri 18 0 4 2 256 A. section Circundati 0 0 0 4 0 Eurotium sp. 388 276 2 0 54 Penicillium sp. 0 0 44 34 4 Fungos dematiáceos 64 56 4 6 18 Mucor sp. 0 0 0 0 4 Fusarium sp. 0 0 174 90 60 Hifomicetos 24 43 14 16 62 Outros fungos 0 0 12 24 82 3.2 Teste de produção de toxina pelos fungos isolados No cacau, o maior número de isolados foi do grupo A. section Flavi (104 isolados), sendo 27 produtores de aflatoxinas B1 e B2 e 2 de B1, B2, G1 e G2 e 8 apenas B1. Dos 9 isolados de A. section Nigri, nenhum foi produtor de OTA. No café, foram encontrados apenas 3 do grupo A. section Nigri e entre eles, 1 isolado da amostra 29 apresentou produção de ocratoxina. Do grupo A. section Flavi também foram isolados poucos fungos (5), sendo 3 produtores de aflatoxinas B1 e B2 e 2 não produtores. Foram encontrados 2 fungos do grupo A. section Circumdati, sendo os dois produtores de Ocratoxina A. No amendoim foram encontrados 35 produtores de Aflatoxina B1, 102 produtores de B1 e B2, 14 produtores de B1, B2, G1 e G2 e 73 fungos não produtores. Não foi isolado nenhum fungo produtor de ocratoxina A. Estes valores podem ser observados na Tabela 4. 6

Tabela 4. Produção de toxina pelos fungos isolados das amostras. Amostra Amêndoas de Cacau (Bahia) Aspergillus Section Flavi Aspergillus Section Nigri N o isolados 28 19 09 % produtores aflatoxinas B1 e B2 B1,B2,G1,G2 5,2 10,5 % produtores ocratoxina A 0 Amêndoas de Cacau (Pará) Aspergillus Section Flavi 85 85 34,1 0 Café (São Paulo) Aspergillus Section Flavi Aspergillus Section Nigri 07 05 02 60 0 0 Café (Minas Gerais) Aspergillus Section Nigri Aspergillus Section Circumdati 03 01 02 100 100 Amendoim (São Paulo) Aspergillus Section Flavi Aspergillus Section Nigri 314 186 128 36,8 3,7 0 Todas as cepas de Aspergillus section Flavi, section Nigri e section Circumdati isoladas mantidas em sílica gel permaneceram viáveis. 4 CONCLUSÃO Os resultados deste trabalho mostram a presença de fungos toxigênicos no café, cacau e amendoim. A metodologia utilizada diferenciou as espécies de Aspergillus section Flavi, section Nigri e section Circumdati. No café existe a potencialidade de se encontrar a ocratoxina e no cacau e amendoim as aflatoxinas. 5 AGRADECIMENTOS Ao CNPQ PIBIC, pela bolsa concedida. 6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Bennet, J.W. & Klich, M. Mycotoxins. Clinic. Microbiol. Rev., v.16, p. 497-516, 2003. Filtenborg, O., Frisvald, J.C. & Svendensen, J.A. Simple screening method for molds producing intracellular mycotoxins in pure cultures. Appl. Environm. Microbiol. v.45 p. 581-585, 1983 Klich, M.A. Identification of common Aspergillus species. The Netherlands: Centraalbureau voor Schimmelcultures, 2002, 116p. 7

Pitt, J. I. & Hocking, A. D. Fungi and Food Spoilage. 3 rd ed. Springer, New York. 2009. Samson, R.A., Houbraken, J., Thrane, U., Frisvad, J.C. & Andersen, B. Food and Indoor Fungi. Utrecht, The Netherlands: CBS-KNAW Fungal Biodiversity Centre, 2009, 390p. Smith, D.; Onions, A.H.S. The preservation and maintenance of living fungi. England: Commonwealth Mycological Institute, 1983, 132 p. Varga J., Frisvad, J.C. & Samson R.A. Two new aflatoxin producing species, and an overview of Aspergillus section Flavi. Stud. Mycol. v.69, p. 57-80, 2011. 8