ANÁLISE ESPAÇO-TEMPORAL DOS IMPACTOS DO CRESCIMENTO URBANO-INDUSTRIAL NA TEMPERATURA DE SUPERFÍCIE DA REGIÃO DE SUAPE, CABO DE SANTO DE AGOSTINHO/IPOJUCA PE Jacicleide Ramos de Souza,¹² Ygor Cristiano Brito Morais,¹ Henrique dos Santos Ferreira,¹ Ranyére Silva Nóbrega¹ ¹ Universidade Federal de Pernambuco Departamento de Ciências Geográficas cleide.jaci@hotmail.com² RESUMO: A região de Suape vem recebendo investimentos tanto do setor público como privado, os quais possibilitaram um maior dinamismo econômico na mesma. Estes incentivos atraem empresas diversas e, conseqüentemente, trabalhadores, provocando alguns impactos no meio ambiente. Com isso, o presente trabalho tem como objetivo analisar as variação espaçotemporal da temperatura de superfície a partir do adensamento populacional na região do Complexo Industrial de Suape e nas adjacentes, utilizando imagens do satélite LANDSAT 5. Foram utilizadas duas imagens referentes aos anos de 1998 e 2010, e para estimar a temperatura de superfície, utilizou-se parte do algoritmo SEBAL (Surface Energy Balance Algorithm forland).os resultados mostram o aumento expressivo da temperatura de superfície nas áreas onde houve um crescimento urbano e a instalação de estruturas industriais, configurando-se, assim, em ilhas de calor. ABSTRACT: The Suape region has received public and private investments, which allowed a greater economic dynamism. These incentives attract diverse businesses and consequently workers, causing some impacts on the environment. Thus, this study objectived to analyze the spatial and temporal variation of surface temperature from the population density in the region of Suape Industrial Complex and the adjacent, using images from Landsat 5 satellite. We used two images for the years 1998 and 2010, and to estimate the surface temperature, we used part of the algorithm SEBAL (Surface Energy Balance Algorithm forland). The results show the significant increase in surface temperature in areas where there was an installation of urban growth and industrial structures, becoming, thus, in heat islands. INTRODUÇÃO O aumento populacional aliado ao acelerado processo de industrialização traz conseqüências negativas para o meio ambiente, visto através da retirada da vegetação para construções alterando o comportamento das temperaturas. Em virtude de um acelerado processo, aliado à transformações do meio natural em artificial com o crescimento urbano,o meio ambiente tem sido impactado e vem adquirindo problemas diversos e irreversíveis, em muitos casos, trazendo
transtornos ao clima local e contribuindo para o aumento das temperaturas (Loboda &Angelis,2005). Segundo Monteiro (1976), o homem influencia o clima com diversas ações e atividades. As influências ocorridas ocasionam problemas no âmbito climático, como a formação de ilhas de calor. Conforme Lombardo (1985),... as ilhas de calor configuram-se como fenômeno que associa os condicionantes derivados das ações antrópicas sobre o meio urbano, em termos de uso do solo e os condicionantes do meio físico e seus atributos geoecológicos. Para Gartland (2010) as áreas com menos vegetação e mais desenvolvidas tendem a ser mais quentes, e ilhas de calor tendem a ser mais intensas conforme o crescimento das cidades. Nesse sentido, a pesquisa visa analisar as variações espaço-temporal da temperatura de superfície a partir do adensamento populacional na região do Complexo Industrial de Suape e nas adjacentes, utilizando imagens do satélite LANDSAT 5 MATERIAL E MÉTODOS A área em estudo abrange a área litorânea do município do Cabo de Santo Agostinho e o norte de Ipojuca, as quais estão mais próximas da região do Complexo portuário de Suape (figura 1). Segundo o Laboratório de Meteorologia de Pernambuco, a área apresenta uma precipitação média anual de 2110 mm, com concentração das chuvas nos meses de março a julho, e a temperatura média de 25,2 C. Para realização da temperatura de superfície foram utilizadas, primeiramente, duas imagens do satélite LANDSAT 5 sensor TM, ponto 214 e órbita 066, com passagem nos dias 04 de agosto de 1998 e 06 de setembro de 2010, adquiridas gratuitamente no Catálogo de Imagens do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais. Com isso, para obter a temperatura de superfície foram feitas no software ERDAS Imagine 9.3 as etapas de Registro, Radiância e Reflectância, Índice de Vegetação da Diferença Normalizada - NDVI, o Índice de Vegetação Ajustado ao Solo - SAVI, o Índice de Área Foliar IAF e a Emissividade na banda do termal, as quais são parte do algoritmo SEBAL, o qual foi proposto por Bastiaanssen (2000). Por fim, realizou-se a classificação das Imagens e confecção do layout no software Arc Gis 9.3. Os softwares utilizados foram disponibilizados pelo Departamento de Ciências Geográficas da Universidade Federal de Pernambuco. RESULTADOS E DISCUSSÃO Observando a Figura 2, percebe-se que a temperatura de superfície atingiu valor mínimo de 18 c máximo de 31 C. Em 04 de agosto de 1998, as temperaturas mais baixas se encontram a oeste, com valor variando entre 18 a 22 C, mas o predomínio é das temperaturas entre 23 e 24 C, sendo estas registradas em 42,8% da área de estudo. As temperaturas mais elevadas foram registradas no Porto de Suape, de 28 a 31 C, enquanto que nas áreas próximas ao mesmo e ao sul predominam as temperaturas entre 26 e 27 C. Já em 2010, as temperaturas mais elevadas ocorrem nas áreas do complexo portuário de Suape, no município de Ipojuca, 28 a 31 C, e nas
áreas urbanas do município do Cabo de Santo Agostinho (Centro, Praia de Gaibu no litoral e nos bairros de Pontezinha e Ponte dos Carvalhos ao norte), 26 a 31 C. O NDVI consiste em um índice bastante utilizado em sensoriamento remoto e o mesmo detecta a quantidade de clorofila presente na planta. Por isso, a partir de sua utilização buscou-se distinguir a distribuição espacial e fitofisionômica da cobertura vegetal e sua influência na temperatura de superfície. Sendo assim, verifica-se que os corpos hídricos correspondem ao intervalo de -0,99 a -0,03, enquanto que o solo exposto obter valor de -0,04 a 0,4. As áreas com presença de biomassa vegetal apresentaram índice variando entre 0,409 a 0,85, estando divididas em três classes referente a variação fitofisionômica da cobertura vegetal (rala, esparsa e densa). As áreas classificadas como solo exposto são aquelas onde estão presentes as zonas urbanas dos municípios de Ipojuca e Cabo de Santo Agostinho, além da infra-estrutura do Complexo Industrial Portuário de Suape, todas em destaque na figura 3. Percebe-se, assim, que no período de 1998 a 2010 houve expansão de todas estas e, consequentemente uma redução na cobertura vegetal. Nesse aspecto, houve uma perda de vegetação de maior atividade fotossintética, mas em contrapartida os mangues continuam preservados, devido principalmente por consistirem em Áreas de Proteção Integral. Com isso, em 1998 as temperaturas mais baixas são observadas nas áreas com presença de cobertura vegetal, variando, principalmente, entre 23 e 24 C. Já em 2010, foi observado um aumento da temperatura de superfície nas áreas urbanas em destaque, que pode está atrelado ao crescimento horizontal das mesmas e o adensamento urbano (observados no NDVI). Como aponta Corrêa (2006) as superfícies de concreto, asfalto e vidro das cidades conduzem até 3 vezes mais calor que o solo comum, úmido. A capacidade de armazenamento de calor excede à das superfícies naturais. Esse adensamento urbano ocorre nos últimos anos devido ao incentivo às instalações de empresas no Complexo Industrial Portuário de Suape e nas áreas do entorno, que além de provocarem danos ambientais como a retirada da cobertura vegetal também torna a área atrativa para trabalhadores. Segundo dados do Governo de Pernambuco, Suape recebe desde 2007 investimentos da ordem de US$ 17 bilhões, são mais de 100 empresas instaladas e outras 35 em fase de implantação, gerando cerca de 15 mil empregos diretos. CONCLUSÕES Diante do exposto notou-se que o aumento da temperatura de superfície em partes isoladas da área em estudo possui relação com o crescimento urbano-industrial. No período analisado, houve um aumento das principais áreas urbanas dos municípios do Cabo de Santo Agostinho e de Ipojuca, e uma redução da cobertura vegetal. Com isso, a temperatura de superfície dessas áreas ficou em torno de 3 a 4 C mais alta daquelas do entorno, configurando, assim, como áreas prováveis de ilhas de calor.
AGRADECIMENTOS A Universidade Federal de Pernambuco, aos colegas dos Grupos de pesquisas TROPOCLIMA e SERGEO (pela utilização dos softwares) e ao professor Ranyére Nóbrega pela orientação. REFERÊNCIAS Bastiaanssen, W. G. M. SEBAL -Based sensible and latent heat fluxes in the irrigated Gediz Basin, Turkey. Journal of Hydrology, v. 229, p. 87-100, 2000. Catálogo de Imagens. Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais. Disponíveis em: <http://www.dgi.inpe.br/cdsr/>.acesso em: 21 de julho de 2010. Complexo Industrial Portuário de Suape. Disponível em: <http://www.suape.pe.gov.br>. Acesso em: 25 de agosto de 2010. Corrêa, A. C. de B. Contribuição à análise do Recife como um geossistema urbano. Revista de Geografia, Recife: UFPE DCG/NAPA, v.23, n.3, jul./dez. 2006. Gartland, Lisa. Ilhas de Calor: como mitigar zonas de calor em áreas urbanas. Oficinas de Textos, 2010. 248p. Loboda, C. R., Angelis, B. L. D. D. Áreas verdes públicas urbanas: conceitos, usos e funções. Ambiência, Guarapuava, PR, v.1, n.1, p.125-139, jan./jun. 2005. Lombardo, M.A. Ilha de calor nas metrópoles: o exemplo de São Paulo. São Paulo: Editora Hucitec, 1985. 244p. MONTEIRO, C. A. F. Clima Urbano. São Paulo: Contexto, 2003. 192p. Figura 1. Localização da área em estudo.
Figura 2. Temperatura de superfície da região de Suape para (a) 04 de agosto de 1998 e (b) 06 de setembro de 2010. Em destaque: (1) bairro de Pontezinha, (2) bairro de Ponte dos Carvalhos, (3) Centro do Cabo de Santo Agostinho, (4) praia de Gaibu e outras, e (5) Complexo Industrial Portuário de Suape. Figura 3. NDVI da região de Suape para 04 de agosto de 1998 e 06 de setembro de 2010.