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e-scrita ISSN 2177-6288 INGLÊS LÍNGUA FRANCA E INTERSECÇÃO COM IDENTIDADE DE GÊNERO: ALGUMAS REFLEXÕES Jessica Martins de Araújo 1 Aparecida de Jesus Ferreira 2 RESUMO: Este trabalho faz uma visita a trabalhos recentes que versam sobre o tema de Inglês língua franca (SEIDLHOFER, 2001) e identidade social de gênero (LOURO, 2008). O objetivo é compreender se esses mesmos trabalhos fazem intersecção entre esses dois campos citados. A metodologia é de cunho bibliográfico e trata-se de uma revisão bibliográfica (GIL, 2005), pois fazemos uma revisão de trabalhos que estão sendo publicados sobre os temas. Ao buscarmos no banco de teses e dissertações da CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), na Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações e também no banco de periódicos da CAPES, os trabalhos que foram publicados dentro dessas temáticas, é possível perceber que pesquisas acerca de língua franca e questões de identidades de gênero ainda não foram bem exploradas, visto que nessas buscas não foi possível encontrar trabalhos que façam essa intersecção. Crenshaw (1994) fez uma rápida menção a essa intersecção, quando citou a presença de mulheres imigrantes em países que possuem o Inglês como primeira língua, porém, essa intersecção não é o centro da pesquisa da autora citada. Esse fato demonstra que uma pesquisa que faça esse elo pode ser importante para o campo de estudos da linguagem. PALAVRAS-CHAVE: Inglês língua franca; identidade de gênero; intersecção. ENGLISH LINGUA FRANCA AND INTERSECTION WITH GENDER IDENTITY: SOME REFLECTIONS ABSTRACT: This paper makes a visit to recent papers that deal with the theme of English lingua franca (SEIDLHOFER, 2001) and gender social identity (LOURO, 2008). The objective is to understand if these same papers intersect between these two fields. The methodology is a bibliographical one and it is a bibliographical review (GIL, 2005), since we do a review of papers that are being published about the themes. When we search in CAPES (Coordination for Improvement of Higher Level Personnel), in the Brazilian Digital Library of Theses and Dissertations, and also in the CAPES journal bank, the papers that have been published within these themes, it is possible to perceive that research on lingua franca and questions of gender identities have not yet been well explored, since in these searches it was not possible to find papers that make this intersection. Crenshaw (1994) made a quick mention of this intersection when she mentioned the presence of immigrant women in countries that have English as 1 Jessica Martins de Araujo é mestranda em Estudos da Linguagem (UEPG) e bolsista CAPES, licenciada em Letras Português e Inglês (UEPG). 2 Aparecida de Jesus Ferreira é doutora em Educação de Professores e Linguística Aplicada pela Universidade de Londres - Inglaterra. Atualmente é professora associada da UEPG - Universidade Estadual de Ponta Grossa. Atuando na graduação em Letras e no Mestrado em Estudos da Linguagem pela mesma instituição, no Departamento de Estudos da Linguagem (DEEL).

142 their first language, but this intersection is not the focus of the author's research. This fact demonstrates that a research which makes this link may be important for the field of language studies. KEYWORDS: English lingua franca; gender identity; intersection. 1. INTRODUÇÃO De acordo com o levantamento acerca de pesquisas sobre Inglês como língua franca (durante o período de 2005 a 2012), as autoras Bordini e Gimenez (2014) afirmam terem encontrado somente dois trabalhos que relacionassem ILF 3 e identidade, sendo eles: 1. Inglês como língua franca e a concepção de identidade nacional por parte do professor de inglês: uma questão de formação. (KALVA; FERREIRA, 2011) e 2. Identidade nacional e língua franca: negociações no processo de ensino e aprendizagem de inglês. (KALVA, 2012), ainda assim, esses trabalhos não focam na questão da identidade de gênero, portanto, diante da escassez com relação ao tema, uma pesquisa que faça essa intersecção é válida. Além dessa introdução, a seguir trazemos reflexões acerca de: Inglês língua franca, Identidades sociais de gênero interseccionadas e Identidades sociais de gênero interseccionadas com Inglês língua franca, para responder a pergunta: Quais trabalhos estão sendo desenvolvidos sobre língua franca e identidade de gênero? A resposta encontra-se na última seção. A metodologia é de cunho bibliográfico e trata-se de uma revisão bibliográfica. Gil (2005) afirma que esse formato de pesquisa revisita trabalhos já publicados sobre um determinado tema, trazendo os resultados dessas pesquisas. 2. DISCUSSÃO TEÓRICA: ILF No banco de teses e dissertações da CAPES, 4 (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), ao buscar o termo língua franca, (entre aspas), foram encontrados 38 resultados, ao todo, no período de 2013 a 2016 5, na grande área de conhecimento: Linguística, Letras e Artes. Abaixo, trazemos a tabela 1 para melhor visualização: 3 Inglês Língua Franca 4 Busca feita em Abril de 2017 5 Escolhemos fazer esse recorte no tempo, pois até 2012 já tínhamos os dados de Bordini e Gimenez (2014), portanto, trazemos aqui os dados de 2013 em diante.

143 Tabela 1 BDTD Tipo/ano 2013 2014 2015 2016 Total Dissertações 12 7 4 7 30 Teses 2 3 0 3 8 Total 14 10 4 10 38 Fonte: http://bancodeteses.capes.gov.br/banco-teses/. Desses 38 trabalhos, apenas 2 deles trazem a palavra identidade no título, sendo eles: 1. Políticas Linguísticas no Ensino de Línguas e a identidade do professor de Língua Estrangeira Inglês, (PRADO, Silvana Aparecida Carvalho do, 2014 UEPG, dissertação de mestrado) e 2. Questionando o falante nativo de Inglês: Representações e Identidades de estudantes em um Instituto Federal de Educação, (SOUZA, Jefferson Adriano de, 2014 UEL, tese de doutorado) e nenhum dos 38 trabalhos traz no título a palavra gênero. Diante desse resultado, é possível perceber que ainda há uma lacuna de pesquisa sobre os temas de inglês como língua franca e identidade de gênero, de forma interseccionada. Portanto, uma pesquisa que faça essa intersecção é válida e necessária. Definindo Inglês Língua Franca, a autora Seidlhofer (2001) considera como uma língua que pode ser definida como um sistema linguístico adicional e serve de comunicação entre falantes de línguas maternas diferentes ou, uma língua pela qual os membros de diferentes comunidades de fala conseguem se comunicar entre si, porém essa não é a língua materna de nenhum deles, um exemplo seria a comunicação de uma pessoa brasileira com uma pessoa italiana, em inglês. Um dos trabalhos citados acima, encontrado pelas autoras Bordini e Gimenez (2014), o qual atrela língua franca e identidade, de Ferreira e Kalva (2011), discorre sobre identidade nacional e, portanto, não toca em questões de identidade de gênero. Definindo o termo de ILF, as autoras destacam o caráter plural pelo qual a língua deve ser vista nesse contexto. Canagarajah (2006), afirma que já se pode admitir a complexidade do Inglês Global e adotar a sua heterogeneidade com múltiplas normas, sem nenhuma estabilidade. Nesse processo, os/as falantes podem fazer espaço para seus próprios interesses através dessa pluralização.

144 Além de ser destacada por Canagarajah (2006) e Ferreira; Kalva (2011), essa ideia de multiplicidade e hibridez também é destacada por Silva (2016, p. 57), em sua dissertação de mestrado, na qual a autora afirma que: A nomenclatura Língua Franca foi a primeira a ser utilizada para indicar uma língua de comunicação e foi primordialmente utilizada no século XIX para indicar um pidgin baseado em dialetos do italiano. De maneira geral, o termo língua franca assume uma natureza hibrida da língua a que se refere. É por isso que, conforme a autora, não se pode esperar que existam estereótipos de ILF, porque não há uma única cultura por trás da língua que permita criar imagens fixas daquela condição da língua, pois há diversas culturas interagindo e se transformando em situações comunicativas. Além disso, a autora faz a importante ressalva de que não somente a cultura do ILF é híbrida, como também o próprio ILF resulta do enlace de diferentes variedades do inglês. A dissertação citada traz questões relativas ao Inglês Língua Franca, sem fazer intersecção com identidade de gênero. 3. IDENTIDADES SOCIAIS DE GÊNERO INTERSECCIONADAS Crenshaw (1989) acredita que qualquer análise que não leva em conta interseccionalidades não parece ser suficiente, pois não compreende todas as subordinações a que uma pessoa pode estar exposta. Um exemplo que a autora traz é de uma mulher negra ser estuprada por um homem branco. Segundo a autora, essa mulher não está só sendo estuprada como uma mulher, de forma ampla, mas mais especificamente, como uma mulher negra. Ou seja, ela sofre por uma dupla subordinação. Shields (2008) afirma que uma categoria de identidade, como exemplo, a identidade de gênero, tem seu significado como categoria em relação à outra categoria, ou seja, nossas identidades estão interligadas, correlacionadas, interseccionadas, pois, ainda conforme a autora, não há uma única identidade que descreva satisfatoriamente como nós agimos em nosso meio social. Não podemos pensar identidade de forma una. A autora cita o exemplo de uma mulher branca lésbica, conforme ela, essa mulher tem privilégios sobre uma mulher negra, mas tem desvantagens com relação a pessoas heterossexuais. Parent; Deblaere; Moradi (2013), ao fazerem um estudo sobre interseccionalidade de identidades LGBT, de gênero e raça/etnia, afirmam que gênero é uma categoria que se entrelaça com outras identidades sociais, incluindo: raça, idade, classe social e orientação sexual, dentre

145 outras. Para esses autores, a interseccionalidade pode ser trabalhada em diversas áreas do conhecimento. Para a escritora bell hooks 6 (1995), existe um sexismo ocidental, o qual elimina e nega às mulheres a possibilidade de alcançar espaços, supostamente considerados como mais intelectuais, relegando-as à subordinação, o que pode criar vários estereótipos sexistas a respeito dos papéis femininos dentro da sociedade. Segundo Auad (2003, p. 142), este conjunto gênero corresponderia aos significados, símbolos e atributos que, construídos histórica e socialmente, caracterizam e diferenciam, opondo o feminino e o masculino. Em outras palavras, o gênero é construído ao longo do tempo: ele não pode ser definido somente com o nascimento de um sujeito, mas ao longo de toda a sua vida (LOURO, 2008). Para Butler (1988), gênero é uma identidade instável, construída através do tempo e através da repetição de atos. Portanto, a construção do gênero é um processo sempre inacabado, não é ato único, e sim, fruto de construções sociais estabelecidas (AUAD, 2003; LOURO, 2008; PEREIRA, 2013; TÍLIO, 2012), as quais ressaltam as diferenças, fabricando, muitas vezes, identidades de/para homens e mulheres. Segundo Louro (1997), essas diferenças e desigualdades só podem encontrar justificativas nos arranjos sociais, nas formas de representação e nas condições de acesso aos recursos da sociedade, pois, segundo a autora, o debate de gênero deve ser situado no campo do social, pois é nesse espaço que se constroem as relações entre os sujeitos e, consequentemente, em que se constroem, também, os gêneros. Não à toa, conforme lembra a autora: Observa-se que as concepções de gênero diferem não apenas entre as sociedades ou os momentos históricos, mas no interior de uma dada sociedade, ao se considerar os diversos grupos (étnicos, religiosos, raciais, de classe) que a constituem. (LOURO, 1997, p. 23) Ou seja, toda essa construção é social e histórica, bem como tem caráter plural, transitório e contingente, não podendo ser essencializada ou estabilizada (conforme preveem os estudos estruturalistas, que são mais objetivos). Sendo assim, assumimos a mesma visão de Louro (1997), com uma perspectiva pós-estruturalista das identidades, que nega aspectos totalizantes e essencialistas das identidades sociais. Louro (2000) ainda argumenta que, quando assumimos esse caráter múltiplo das identidades, sugerimos uma abordagem bastante complexa. Pois, segundo a autora, as variadas 6 Mantemos a grafia em minúsculas preferida pela própria autora.

146 identidades são, sem exceção, constituídas (e constituintes) por/de relações de poder, não havendo identidades fora do poder, pois, todas o exercitam e também sofrem a sua ação, fazendo então, parte dos jogos políticos, se constituindo no meio deles. Pensando em interseccionalidade, Butler (1990) também afirma a necessidade de estabelecer intersecções entre gênero, raça, classe e demais identidades que são discursivamente construídas. Porém, conforme crítica feita por Piscitelli (2008), a teórica Judith Butler só faz, de fato, essa intersecção, posteriormente, na obra Bodies that matter, datada de 1993. Os trabalhos mencionados acima fazem intersecção entre identidade social de gênero com outras categorias, porém não fazem a intersecção com Inglês língua franca, ou seja, não fazem referências a mulheres imigrantes em países de língua inglesa, por exemplo, que é uma intersecção feita por Crenshaw (1994), conforme trazido abaixo. 4. IDENTIDADES SOCIAIS DE GÊNERO INTERSECCIONADAS COM INGLÊS LÍNGUA FRANCA Para Crenshaw (1989) e Shields (2008), não é possível entender identidade apenas em um eixo, pois há várias formas de desigualdades que podem ocorrer interativamente. Para melhor explicar intersecção, Crenshaw (2002) utiliza-se de uma metáfora, na qual a autora a define como ruas que se entrecruzam e formam vários outros eixos, que podem ser subordinados e que também estão em jogo. Hirata (2014, p. 69) conceitua interseccionalidade de forma semelhante, pois, para ela, essa é uma forma de combater múltiplas opressões que são imbricadas. Shields (2008) reitera ainda que identidades interseccionadas devem estar em primeira linha em qualquer investigação de gênero. Afinal, a investigação torna-se, assim, mais completa e proporciona uma visão mais complexa sobre as práticas sociais, conforme ensina Melo (2015). Tal intersecção já foi mencionada por Crenshaw (1994). A autora ressalta uma barreira linguística que limita oportunidades para mulheres que não são falantes nativas de Inglês, no sentido de limitar acesso a informações. Esse exemplo é dado pela autora, quando ela cita a presença de mulheres imigrantes. Por isso, é importante sentir-se inserida ou representada dentro desse contexto global, bem como se faz necessário um trabalho que verse sobre esse tema. Norton e Pavlenko (2004) destacaram que há muitas pesquisas recentes que indicam um crescente número de jovens mulheres interessadas em aprender Inglês. Visto que essas

147 mulheres enxergam nesse idioma uma forma de empoderamento e de possibilidades de adentrar o mercado de trabalho, garantindo uma libertação do patriarcado. Norton (2000) insiste nessa questão da libertação quando afirma que: mesmo quando tal acesso é concedido, a natureza do trabalho concedido às mulheres imigrantes fornece poucas oportunidades para interação social. 7 (NORTON, p. 13, tradução nossa). Isso demonstra a relação existente entre a língua e o poder. Nesse caso, o poder de acesso e interação com a sociedade de maneira mais ampla e profícua, negando às mulheres essa interação e esse acesso. A intersecção feita por Crenshaw (1994) acerca da barreira linguística é importante e, apesar de esse não ser o centro da pesquisa da autora, parece ser um indício dessa intersecção. Afinal, conforme explicitou Crenshaw (2002, p. 178), há a violação de muitos direitos humanos quando não se consideram as vulnerabilidades interseccionais de mulheres marginalizadas. Portanto, um trabalho que leve em consideração essas intersecções pode contribuir para dar maior visibilidade a essa situação. 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS Respondendo à pergunta proposta: Quais trabalhos estão sendo desenvolvidos sobre língua franca e identidade de gênero? Diante das reflexões feitas, é possível afirmar que temos o trabalho de Crenshaw (1994), que faz uma tímida referência a essa intersecção, conforme destacado na seção anterior. Pela busca no banco de teses e dissertações da CAPES, trazida na introdução, percebemos que ainda não há um trabalho que faça essa intersecção. A mesma percepção nós temos ao resenhar trabalhos que tratam de Inglês língua franca e dos trabalhos sobre identidade social de gênero, visto que nenhum deles traz essa intersecção. Dessa forma, uma pesquisa que traga tal visão interseccionada pode ser de grande relevância para a área de Estudos da Linguagem, demonstrando inquietação e sugerindo trabalhos futuros dentro da intersecção mencionada. 5. REFERÊNCIAS AUAD, Daniela. Educação para a democracia e co-educação: apontamentos a partir da categoria gênero. REVISTA USP, São Paulo, n.56, pp. 136-143, 2003. 7 even when such access is granted, the nature of the work available to immigrant women provides few opportunities for social interaction.

148 BORDINI, Marcella, GIMENEZ Telma. Estudos sobre Inglês como Língua Franca no Brasil (2005-2012): uma metassíntese qualitativa. Signum: Estud. Ling., Londrina, n. 17/1, pp. 10-43, jun. 2014. BUTLER, Judith. Performative Acts and Gender Constitution: an essay in Phenomenology and Feminist Theory. Theatre Journal, v. 40, n. 4, dez. 1988, pp. 519-531. CANAGARAJAH, Suresh. Negotiating the local in English as a lingua franca. Annual Review of Applied Linguistics, USA, n. 26, pp. 197 218, 2006..Gender Trouble: Feminism and the Subversion of Identity. New York, Routledge, 1990..Bodies that matter. On the Discursive Limits of "Sex". New York: Routledge, 1993. CRENSHAW, Kimberle. Demarginalizing the intersection of race and sex: A black feminist critique of antidiscrimination doctrine, feminist theory and antiracist politics. University of Chicago Legal Forum, pp. 139-167, 1989.. Documento para o encontro de especialistas em aspectos da discriminação racial relativos ao gênero. Tradução de Liane Schneider. Revista Estudos Feministas, v. 10, n. 1, 2002, pp. 171-188.. Maping the margins: intersectionality, identity politics, and violence against women of color. In: FINEMAN, Martha; MYKITIUK, Roxanne. (eds.). The public nature of private violence. New York: Routledge, 1994, pp. 93-118. GIL, Antônio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2008. HIRATA, Helena. Gênero, classe e raça: Interseccionalidade e consubstancialidade das relações sociais. Tempo Social, revista de sociologia da USP, v. 26, n. 1, pp. 61-73, 2014. http://bdtd.ibict.br/vufind/. HOOKS, bell. Intelectuais negras. Estudos Feministas. Tradução de Marcos Santarrita, n. 2, ano 3, pp. 464-478, jul/dez. 1995. KALVA, Júlia. Margarida. Identidade nacional e língua franca: negociações no processo de ensino e aprendizagem de inglês. 2012. Dissertação (Mestrado em Linguagem, Identidade e Subjetividade) Universidade Estadual de Ponta Grossa, Ponta Grossa, 2012. ; FERREIRA, Aparecida de Jesus. Inglês como língua franca e a concepção de identidade nacional por parte do professor de inglês: uma questão de formação. Fórum Linguístico, Florianópolis, v. 8, n. 2, pp. 165-176, jul./dez.2011. LOURO, Guacira Lopes. Corpo, escola e identidade. Educação e Realidade, v. 25, n.2, jul.- dez., pp. 59-75. Porto Alegre, 2000.

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150 Recebido em: 05/08/2018 Aceito em: 08/11/2018