Racismo velado ou administrável? Algumas reflexões sobre a representação étnica na TV Silvânia de Cássia Lima 1 Resumo: Se inquestionável é o poder da televisão no Brasil, há que se preocupar com esse meio e sua mensagem. Qual é o comportamento do telespectador diante da programação, indiferente à crítica, cativo? Que valores sociais e afetivos a programação televisiva tem propagado, especialmente nos telejornais, há inovação ou contribuição aos valores vigentes na sociedade ou apenas reforço desses valores como, por exemplo, o racismo. Sob esse prisma vemos que cidadania também passa pela TV. Palavras-Chave: televisão, telejornalismo, representação étnica, cidadania. 1. Meio ou mensagem No Brasil, a TV é o principal veículo do sistema de comunicação de massa. Os anos 80 marcaram a virada mundial pelo mercado da informação. Em 1992, havia um bilhão de televisores no mundo, metade instalada desde 1987. Mas, o fascínio que suscita pela televisão não se deve, porém, a fatores circunstanciais relativos à realidade social. Parece que advém da própria natureza do meio televisivo. O meio é a mensagem, afirmou McLuhan, revelando o papel da forma, da técnica em detrimento da função desempenhada pelo conteúdo da mensagem. Meyersohn comenta que os telespectadores parecem divertir-se com o brilho e o fluxo, não importando que se apresente um anúncio, um cômico de segunda classe ou um antigo western.... A sensação de encantamento despertada pela experiência visual seria, por si, suficientemente compulsiva para mantê-lo preso diante do televisor. A televisão torna-se fonte de muitas coisas: diversão, entretenimento, utilidade pública, informação. Volton vai mais além e diz que ela une o indivíduo ao coletivo. Vários fatores contribuem para tornar a TV um dos instrumentos mais facilmente manipuladores da sociedade: o público parece muito receptivo, a roupagem 1 Aluna do curso de Mestrado em Comunicação, linha Mídia e Cidadania, da UFG
de entretenimento - inóspito supõe-se pode encobrir perigos que passam despercebidos, como a construção e múltipla reafirmação de apelos da indústria cultural. Seu principal traço distintivo é o ritmo frenético e incessante da sucessão de fragmentos encadeados (fragmentação e aceleração). Em ensaio sobre cultura brasileira, Alfredo Bosi compara o ritmo da mídia com o ritmo da produção e do mercado da sociedade capitalista. Assinala que esse tempo se regula pelo processo de fabricação ininterrupta de signo com vistas a um consumo total em que a TV funciona 24 horas por dia, tal como um posto bancário eletrônico (Bosi, 1987:8). No ritmo da mídia, o que prepondera é A lei do maior número, no prazo mais breve e com o lucro mais alto, em que a produção dos bens simbólicos segue o modelo de tempo cultural acelerado. Em aparente contradição, a TV exalta, como mandamento máximo da indústria cultural, a idéia de que tudo deve ser descartável, de modo a impingir a impressão de que se deve estar sempre em busca do novo. A TV opera, então, a troca compulsiva de notícias, de cenas, de personagens, sempre subordinada ao tempo, elemento básico de sua estrutura de produção. Outro aspecto é a redundância, definido por Jorge de Rezende como um dos traços mais notáveis da indústria cultural e particularmente da televisão, como recurso indispensável para manter o espectador ligado à programação. No caso do telejornalismo, a repetição chega a ser recomendada nos manuais em nome da simplicidade e da clareza exigidas de um jornalismo feito para ser ouvido. Notícias espetaculares que oferecem imagens inusitadas ou fatos curiosos e surpreendentes são exploradas repetidas vezes nos anúncios dos programas onde são veiculadas (programas de entretenimento, de esporte, telejornais etc), nas manchetes de abertura desses programas e nos finais dos blocos, antes do comercial, até o penúltimo ou o último bloco, quando finalmente a novidade é veiculada. Muitas vezes, provoca-se uma expectativa maior do que correspondente o fato. Isso parece não afetar o telespectador viciado nas repetições. Sem dúvida, os telejornais são hoje a principal fonte de informação da sociedade brasileira: mais barata, mais cômoda e de fácil acesso. Nas emissoras comerciais de TV predominantes no Brasil a programação adota um caráter primordialmente diversional. Motivada por essa ideologia do entreter para conquistar maiores níveis de audiência e faturamento, a televisão privilegia a forma espetáculo que afeta, inclusive, as produções telejornalísticas. O telejornalismo no Brasil se organiza como melodrama (Eugênio Bucci).
Qual o limite entre ficção e realidade, na TV? O que é fato, evento naturalmente acontecido, e o que é simulacro, evento programado para parecer natural? O que merece ser notícia, por carregar-se de verdade e interesse coletivo, e o que é noticiado só para suscitar emoções na audiência, tenha ou não compromisso com o real? Já houve tempo em que essas questões pareciam bizantinas, destinadas ao debate acadêmico, nas mais altas esferas da abstração. No entanto, considerando o que ocorre na TV atual, convém trazê-las para o plano do vulgo, porque a cada dia se desvanece mais a fronteira entre o que se entende por jornalismo e por entretenimento. Nunca, como agora, tivemos tanto do show da vida, que o Fantástico anuncia desde 1973 (Gabriel Priolli). Apesar disso e indiferente à crítica, o público telespectador é cativo. Becher 2003 observa que ao agir sobre o cotidiano, a televisão produz efeitos de unificação de laços sociais e efetivos, com poderes muitas vezes maiores que a família, a igreja, a escola e a polícia, inclusive já assumindo o lugar do Estado, como defensora dos direitos públicos, principalmente no espaço dos noticiários. E é isso que precisa ser refletido, como a TV, especialmente a prática do telejornalismo, contribui para os processos cidadãos de prevalência dos direitos humanos, do aperfeiçoamento da democracia, da educação etc. 2. Visual x verbal A TV suplanta os demais veículos de comunicação, porque, além dos códigos linguísticos e sonoro (disponíveis também no rádio), utiliza o código icônico como suporte básico de sua linguagem. Por isso, as produções televisivas privilegiam, às vezes em excesso, a força expressiva da imagem, inclusive nos programas jornalísticos. A primazia do elemento visual requer a aplicação eficiente de recursos não verbais para atrair e manter constante o nível de curiosidade do telespectador. Por essa razão, Baggaley e Duck (1979) asseguram que sem o complemento de inflexões de voz, expressão facial, postura e todo um sistema de gestos e de senhas não-verbais, aperfeiçoado por gerações de práticas, a lógica verbal imaculada de um pronunciamento não funciona. O atrofiamento da capacidade imaginativa é, portanto, de certa maneira, proporcional ao tempo de exposição à comunicação pelas imagens. Por essa razão, o
jornalista Marco Antônio Gomes acusa a televisão de fascista:...ela impõe, não permite imaginação (Gomes, In: Vieira, 1991:97). O papel da palavra é identificar os elementos da cena e tem uma função denominativa, ou seja, ao nominar a cena, o texto realiza uma operação de ancoragem dos sentidos do objeto filmado. O texto dirige o leitor entre os significados da imagem e exerce o controle sobre a mesma, no dizer de Barthes, ao selecionar os signos que quer destacar. Uma coisa é certa, em televisão texto e imagem devem estar casados, sendo que um depende do outro. O papel da palavra é enriquecer a informação visual. Mas há quem diga ser impossível que a palavra possa competir com a imagem. Ou o texto tem a ver com o que está sendo mostrado ou o texto trai a sua função. (Rede Globo de Televisão, 1984:11). Contrapondo à primazia da imagem, Muniz Sodré afirma que a importância do elemento verbal no nosso cotidiano real (a conversa, o diálogo) termina por impor-se na tevê. É que o compromisso com o real histórico (com a informação jornalística) impele a tevê a uma lógica de demonstração, de explicação, que percorre todas as suas possibilidades expressivas. Ela pode mostrar qualquer coisa, mas tem de explicar, de esclarecer o que mostra. E nesta operação, as palavras impõem seu poder ao elemento visual (Sodré 1977:74). Coutinho lembra que nenhuma imagem no jornalismo pode entrar pura, sem o comentário que a explique, sem a música que lhe dê sentido. Uma imagem muda é perigosa, porque a busca de seu sentido fica livre, o mundo pleno de significado oscila em sua base. Em conseqüência dessa compreensão, acredita-se que o espectador tende a mudar de canal ou a supor que haja uma falha técnica da emissora. A TV tal como se pratica hoje depende tanto da imagem, ou mais do som quanto da imagem. (Coutinho, 1991:281-2). Revendo o provérbio chinês uma boa imagem vale mais do que mil palavras, no caso da TV, Nogueira (1997) prefere dizer que uma boa imagem vale mais associada a uma boa palavra. 3. A produção do telejornalismo Não existe fórmula única para se produzir telejornalismo. Fatores de natureza diversa horário do telejornal, características das audiências, condições de cobertura de um fato influenciam a confecção da notícia. Dewerth-Pallmeyer (1997) demonstra
como os valores-notícia: atualidade, proximidade, conflito, proeminência, impacto e interesse, especialmente os dois últimos estão intimamente ligados com a idéia de audiência. O gênero jornalístico que melhor se coaduna com vida quotidiana é o discurso factual, conciso que proclama facts, nothing but the facts. A crítica, os mitos da objetividade jornalística dizem respeito à forma como esta linguagem predominantemente denotativa se associa com as evidências quotidianas, prescindindo de qualquer investigação. Porém, esse tipo de relato factual é uma metonímia do discurso jornalístico: supõe uma parte para se referir ao todo. Para Vizeu, os jornalistas constroem antecipadamente a audiência a partir da cultura profissional da organização do trabalho, dos processos produtivos, dos códigos particulares (as regras de redação), da língua e das regras do campo das linguagens para, no trabalho da enunciação, produzirem discursos. É importante ressaltar também a rotina de produção telejornalística brasileira sempre copiada da norte-americana. Cada vez mais as redações são ocupadas por jovens profissionais, por volta dos 30 anos valorização da técnica sobre a experiência e o poder intelectual; os jornalistas estão mais profissionais e são escravos dos deadlines; a oferta de matérias é variada e quase sempre acima da capacidade de produção das equipes, com o poder de decisão nas mãos dos produtores escolhas importantes nas mãos de poucos; as mulheres já são maioria, mas são os homens que ainda ocupam as principais posições de chefia na maioria das emissoras; e a concorrência diária entre as emissoras é intensa, o que gera pressão. 4. Maioria étnica x menor representação Muitos trabalhos de pesquisa social apontam os meios de comunicação em geral, e a televisão em particular, como possuidores de um poder considerável para mudar a realidade, ao mudar as percepções com base nas quais as pessoas irão agir depois. Octavio Paz disse certa vez que a televisão estimula o ódio, a fome e a submissão quando não abre espaço à pluralidade de opinião, à criatividade e à diversidade. Por isso, o desafio da TV no novo século será menos o da sobrevivência (o negócio vai bem, obrigado!) que o de não subestimar o público. Apesar de já haver quem acredite na mudança favorável desse aspecto, Ellis Cashmore lembra que uma das afirmações tradicionais a respeito das redes de
televisão é que elas ou relegam os grupos minoritários, incluindo os negros e as mulheres minorias em termo de poder, não de tamanho a personagens periféricos, ou os retratam como caricaturas bidimensionais e estereótipos. O que tem feito o poder televisivo para diminuir o preconceito e contribuir para a aceitação das diferenças étnicas no Brasil? Paul Hartmann e Charles Husband concluíram que os meios de comunicação não apenas refletiram a consciência do público sobre questões de raça e de cor, mas tiveram um papel significativo ao formar esta consciência. A questão é que a maioria dos seus estudos focaliza a consciência do público, mas realmente avalia a consciência da maioria branca. Esse é um ponto importante porque os efeitos do modo como as minorias são representadas na TV são diferentes naqueles que fazem parte dessas minorias e naqueles que não fazem. Os negros e outras minorias podem se sentir ameaçados de algum modo e não aceitarão isso necessariamente como real. A televisão tem sido responsável pelas imagens mais grotescas e revoltants das minorias étnicas. Os afro-americanos têm sido tratados de um modo especialmente repugnante... Mas, como James Baldwin apontou certa vez, a imagem que o país tem a respeito de uma pessoa negra não tem muito a ver com a pessoa negra. O que a imagem reflete, com uma precisão assustadora, é o estado da mente do país (Ellis Cashmore,1998). Ao analisar alguns programas e personagens étnicos exibidos nas televisões norte-americanas e inglesas nos anos 70 e 80, Cashmore afirma que historicamente, o tratamento predominante que a televisão dava às pessoas negras tinha sido paralelo ao tratamento dado pela sociedade: exclusão, ou no melhor dos casos, marginalização, guetinização, estereotipia; estes são os processos-chaves que distinguem o tratamento dado aos negros. E estes processos também afetaram a imagem de outras minorias étnicas, por exemplo, latinos, asiáticos e índios nativos americanos. Outro aspecto interessante é a forma como são apresentados os conflitos nos dramas. Na televisão, o distúrbio exterior é evitado, e se opta pelo ambiente fechado: os negros podem ter problemas, mas os problemas são sempre representados de um modo que permite solução dentro das circunstâncias sociais existentes. O conflito é contido; a situação é controlada. E isto é visível em cada produção, comédia, drama ou documentário que envolva minorias étnicas e a experiência minoritária étnica. Cashmore afirma que a televisão se tornou sofisticada demais para ignorar ou
mesmo subestimar o racismo e que é o modo como ele é visto e abordado que merece atenção. Normalmente o racismo é visto como algo que pode ser trabalhado. A evidência de nossos sentidos sugere o contrário, levando à conclusão de que a televisão, longe de refletir de modo preciso o conflito manifesto, serve realmente como um contraponto a ele. O formato tem uma simplicidade elegante: pegue um assunto, um problema ou uma questão para o qual não exista uma resposta pronta e o traduza realisticamente em algo que seja muito mais fácil para o intelecto. A credibilidade é mantida ao se criar personagens e contextos que soem verdadeiros; apenas as soluções são falseadas. O estigma racial ainda persiste e nas redações não é diferente. Nos Estados Unidos os repórteres negros, asiáticos, hispanicos são aceitos na imprensa, mas costumam cobrir os assuntos locais, comunitários ou étnicos. Ou seja, as minorias cobrem os assuntos relevantes às próprias minorias. Isso é considerado um avanço nas redações e tenta-se preservá-lo com um duvidoso corporativismo étnico. A questão é que a solução se torna uma prisão ou uma armadilha. É difícil quebrar o estigma racial e profissional. A armadilha do racismo é perversa. Admite-se um jornalista negro na redação mas ele está condenado a uma carreira medíocre. No Brasil, onde o racismo é velado, o quadro é semelhante e propõe que se discuta mais o racismo em termos gerais e no conteúdo da nossa imprensa. Deveríamos questionar a representatividade racial brasileira dentro das nossas redações e propor a implantação nelas do sistema de cota, a exemplo do que vem ocorrendo nas universidades públicas brasileiras. Apesar de admitir que isso não é o ideal mas que é melhor do que a velha e confortável preferência nacional: fechar os olhos, dizer que aqui no Brasil não existe racismo e não fazer absolutamente nada (CláudiBrasil,2007). 5. Um exemplo de representação étnica Em busca de um exemplo de representatividade de etnias na televisão, realizamos uma breve pesquisa em um telejornal brasileiro. Trata-se do Jornal da Record, veiculado diariamente de segunda-feira a sábado, a partir das 20 horas, na TV Record. A coleta de dados foi feita no período de 13 a 28 de abril de 2009. Trata-se de uma pesquisa por acesso, uma vez que os dados coletados são oriundos da exibição ao vivo do telejornal, sem o recurso da gravação.
Basicamente composto por três ou quatro grandes blocos, pudemos observar também no Jornal da Record uma grande variação entre flashes, notas e reportagens, inseridas em todos os blocos, aparentemente sem uma ordem rígida, nem com relação à origem dos assuntos (política, esporte, saúde etc) ou se são notícias locais, nacionais ou internacionais. Exceção se faz com relação ao último bloco para o qual está reservado o espaço de uma pequena série semanal de reportagens, elaborada pela emissora. E embora o horário de início da edição seja exato, às 20 horas, observamos uma variação significativa de até 20 minutos para o término das edições, cuja duração, no período em questão, variou de 40 minutos a 60 minutos. Foram registradas 31 ocorrências de representação étnica nas notícias veiculadas, média de 2 a 3 ocorrências por edição do telejornal. Todas foram matérias pré-gravadas, mesmo no caso de entrevistas. Dos grupos representados 70% são de negros, 20% asiáticos (tailandeses e vietnamitas) e 10% indígenas e outros. A representação ocorre em grupo (35%) ou individualmente (35%) e de forma impessoal, com vários indivíduos independentes (30%). Pelo que foi observado, a presença das etnias se dá, em sua maioria, em notas sem a apuração própria da emissora, com a predominância de textos informativos narrados. Na maioria das ocorrências o povo não fala (80%). As notícias com representação étnica foram exibidas em forma de reportagens (50%), notas simples (30%), comentários (18%) e entrevistas (2%). A política (40%) e os confrontos, combates e ações violentas (40%) foram os assuntos mais frequentes das notícias estudadas, seguidos dos itens social (9%), economia (5%), cultura e moda (3%), esporte (1%), meteorologias e catástrofes naturais (1%) e saúde e bem-estar (1%). Em sua maioria os representantes étnicos são autores (60%) da ação que motivou a notícia / reportagem, seguido por personagens (30%) e vítimas (10%); também a maioria dos fatos noticiosos são de caráter informativo (70%) e contaram com vinhetas anunciativas (70%). Chamou a atenção as ocorrências de notícias de origem internacional. No jornal analisado, foram apuradas 50% de notícias nacionais e 50% internacionais. A presença de um presidente negro nos Estados Unidos, do qual em quase todos os dias da pesquisa foi gerada alguma matéria ou nota, e uma série de reportagem da própria emissora sobre o povo vietnamita, exibida durante uma das duas semanas da pesquisa, contribuíram também para dar visibilidade a algumas ações positivas relacionadas às etnias. No
período, metade das notícias com alguma representação étnica foi classificada como positiva e a outra metade com conotação negativa. Conclusão Em pouquíssimos países do mundo a televisão tem uma presença tão avassaladora e ao mesmo tempo tão desconhecida enquanto meio de comunicação de massa como no Brasil. O preconceito ao meio é proporcional à nossa ignorância. Cláudio Brasil denuncia que há pouco investimento em pesquisa séria sobre a TV em nosso país, e ainda menos na busca de novas linguagens. Qualquer um opina ou critica. Mas poucos procuram pesquisar, analisar e dedicar-se a desvendar os mistérios do meio televisivo. Hoje, com a pulverização de audiência, a TV parece viver seu maior paradoxo. Tem padrão internacional, mas cada vez mais os canais copiam-se, à caça de uma audiência sem riscos (Pereira Júnior, 2005). A TV é o portal de uma negociação ininterrupta entre uma parte forte, o dono e os anunciantes, e uma fraca, os telespectadores. Pois, o seu sucesso não é medido em termos de qualidade e audiência, e, sim, do que ela é capaz de nos fazer consumir. O modelo em vigor é realmente vitorioso ou desconhecemos caminhos - se é que eles realmente existem que possam fazer da televisão um importante veículo de promoção da cidadania. Renato Janine afirma que a única saída estaria na sociedade. Entretanto ela precisará ter voz própria, em vez de oscilar entre o Estado suspeito e ineficiente para controlá-la e as TVs, condôminos que se fingem de adversários e que não se auto-regulam porque buscam o lucro. E sugere como um começo da saída a diversificação dos canais, aumentando o número de redes comunitárias e universitárias, com menor compromisso com o lucro. Mas, se o caminho regulador da televisão, no sentido da justiça social, passa pela conscientização da própria sociedade, como aponta Janine, é preciso que essa luta seja encampada também por todos os movimentos e segmentos interessados na promoção dos direitos humanos, no fim do preconceito, na construção da cidadania. Bibliografia: PEREIRA JÚNIOR, Luiz Costa A Vida com a TV, o poder da televisão no
cotidiano, 2ª. edição, Editora Senac, 2005 REZENDE, Guilherme Jorge de Telejornalismo no Brasil um perfil editorial, Summus editorial, São Paulo, 2000 EURICO JÚNIOR, Alfredo; PORCELLO, Flávio Antônio Camargo; MOTA, Célia Ladeira (organizadores) Telejornalismo a nova praça pública, Editora Insular, Florianópolis, 2006 BRASIL, Antônio Cláudio Antimanual de jornalismo e comunicação - Ensaios crítico sobre jornalismo, televisão e novas tecnologias, Editora Senac, São Paulo, 2007 CASHMORE, Ellis...E a televisão se fez, Summus Editorial,1998