Direito Internacional Humanitário Aspectos gerais do DIH Professor Sérgio Tavares 1
Conceito e natureza do DIH -Ramo do Direito Internacional Público (DIP), voltado a regulamentar situações de guerra. -Dois destinatários : combatentes e pessoas (civis e militares) sob o domínio do inimigo. - Escopo: humanizar algo que é desumano(guerra). -O DIH atua numa perspectiva do quase não-direito. Se a guerra é a negação do Direito, como haver um Direito dentro da guerra?. -2 correntes de pensamento: -Realista a guerra não tem como ser regulamentada. -Normativista a guerra é um fenômeno social e pode ser regulamentada. 2
Terminologia - Direito da Guerra expressão abandonada após a 2ª GGM, com a criação da ONU: a guerra passou a ser proibida como escolha política. Paradoxo entre direito e guerra. - Direito Internacional dos Conflitos Armados (DICA) origem: Art 2º (comum) às 4 Convenções de Genebra(1949). - Direito Internacional Humanitário (DIH) origem: década de 50, Comitê Internacional da Cruz Vermelha(CICV). -Obs as expressões se equivalem. Todavia, as organizações internacionais preferem DIH, enquanto as FFAA preferem DG ou DICA. -Vertentes do DIH: Direito de Haia (a partir das Conferências de 1899 e 1907, natureza preventiva e protetiva aos combatentes) e Direito de Genebra (vertente humanitária do DIH, proteção à população civil e os que eram combatentes, mas estão fora do combate). 3
Fontes - Principais - Atos convencionais - Costumes internacionais(direito consuetudinário). - Princípios gerais do Direito -Auxiliares -Jurisprudência internacional -Doutrina internacional -Essas fontes são informadas pelo Art 38, do Estatuto da Corte Internacional de Justiça, principal órgão judiciário da ONU. 4
Principais atos convencionais de DIH (tratados) - Declaração de São Petersburgo(1868). -IVConvençãodeHaia(1907). - 4 Convenções de Genebra(1949). - Convenção de Haia(1954). - Protocolos Adicionais I e II às Convenções de Genebra(1977). -Protocolo sobre a interdição ou a limitação do emprego de certas armas convencionais que podem ser consideradas excessivamente lesivas ou geradoras de efeitos indiscriminados(1980). - Estatuto de Roma do Tribunal Penal Internacional(1998). - Protocolo facultativo referente à Convenção sobre os direitos da criança, concernente ao envolvimento de crianças em conflitos armados(2000) -Protocolo Adicional III às Convenções de Genebra(2005). 5
Evolução histórica das regras de guerras - Referências no Extremo Oriente, Oriente Médio, América pré-colombiana, África pré-colonial, Mundo Greco-Romano e Idade Média Cristã. - Primeiras codificações internacionais século XIX (Batalha de Solferino 1859) Henri Dunant em seu livro Lembranças de Solferino registra os horrores dessa batalha. -1863 fundação do movimento da Cruz Vermelha. -1864 adoção da Convenção Internacional protetiva ao militares feridos. -Curiosidade: símbolo da Cruz Vermelha é uma inversão da cruz da bandeira suíça -1863 GuerradaSecessão(EUA) CódigoLieber -1899 1ª Conferência Internacional da Paz(Haia) -1907 2ª Conferência Internacional da Paz (Haia) Brasil presente (Rui Barbosa ÁguiadeHaia ). 6
BANDEIRA DA SUÍÇA BANDEIRA DA CRUZ VERMELHA 7
Evolução histórica - continuação - Situação caótica pós-2ª GGM Comitê Internacional da Cruz Vermelha (agosto de 1949) 4 Convenções de Genebra. -Obs ConvençãoIV proteçãodecivisemtempodeguerra Holocausto. -Décadas de 60 e 70 guerras de liberação nacional (ex: Angola) e conflitos decorrentes da Guerra Fria (ex: Coreias) Protocolos Adicionais às Convenções de Genebra(1977). -1972 Convenção sobre proibição de armas bacteriológicas. -1980 Convenção sobre armas convencionais excessivamente lesivas. Também sobre minas terrestres e armas incendiárias(1980. -1993 Convenção sobre proibição de armas químicas. -1995 Convenção sobre limitação de armas cegantes a laser. -1997 Convenção sobre proibição de minas antipessoal. - Desafios atuais conflitos assimétricos e guerra contra o terrorismo. 8
DIH versus Dto Internacional dos DH (DIDH) DIH - Para otempo de guerra. Protegepessoas afetadas por conflitos armados DIDH Para o tempo de paz. Porém,pode ser aplicado em situações excepcionais (estado de sítio,pex) Protege as pessoas em qualquer situação (dtos civis, políticos, econômicos, sociais e culturais) Não sofrederrogações Comitê Internacionalda Cruz Vermelha (CICV) Destina-se às partes beligerantes Mais antigo. Desde a Antiguidade Não possui instrumentosregionais Pode sofrer derrogações (por conta dessas situações excepcionais) Organização das Nações Unidas (ONU). Destina-se a todos os Estados. Relativamente novo. Pós-2ª GGM Possui instrumentos universais (criam Comitês) e regionais (criam, pex, Cortes de DH) 9
Interação entre DIH e DIDH. Correntes -1ª corrente integracionista fusão entre o DIH e o DIDH, sob a ótica de um ou de outro(correntes internas). Predomínio: o DIDH contem o DIH -2ª corrente separatista as normas do DIH e do DIDH são incompatíveis posição ultrapassada. -3ª corrente complementarista são distintos, mas há pontos de contato entre os dois ramos do Direito, os quais devem se complementar, a fim de dar uma proteção mais abrangente ao indivíduo. -Utilidade prática dessa distinção EC 45/2004 status de norma constitucional para tratados de DH. Isso incluiria os tratados de DIH? -OBS Estatuto de Roma, ao criar o Tribunal Penal Internacional (TPI) faz menção a violações grave de DIH (crimes de guerra), mas também menciona graves violações ao DIDH(crimes contra a humanidade e genocídio em tempo de paz). 10
Princípios do DIH -Limitação hálimitesparaseatacaroinimigo. - Humanidade deve-se respeitar as pessoas que estejam fora de combate sob opoderdaparteadversa.cláusulamartens Art1ºincisoII,ProtAdcI,de1977. - Necessidade militar capacidade de realizar atos tidos como indispensáveis em relação ao objetivo individual de vencer o adversário. Permite a derrogação de algumas normas humanitárias (ex: privação de comunicação, de visitas, de socorro, etc). - Proporcionalidade relação de equilíbrio que deve haver entre a necessidade militar e o princípio da humanidade. Quando for possível escolher entre vários objetivos militares para obter uma vantagem militar equivalente, a escolha deverá recair sobre o objetivo cujo ataque seja susceptível de apresentaromenor perigopara as pessoascivisou para os bens da caráter civil. 11
Princípios do DIH (continuação) -Distinção fundamental entre civis e combatentes consiste em assegurar o respeito e a proteçãoda população civil e dos bens de caráter civil, de modo que as operações se dirijam unicamente contra os objetivos militares. - Proibição de causar males supérfluos e sofrimentos desnecessários consiste na proibição de determinadas armas, bem como da crueldade exacerbada, desproporcional, excessiva. Declaração de São Petersburgo (1868) já dispunha sobre o objetivo da guerra (enfraquecimento das forças armadas inimigas). TambémArt35,item2,ProtAdc I(1977). -Independência do ius in bello (direito na guerra) em relação ao ius ad bellum (direitodeiràguerra) a prioridade deve ser manter a paz. Missão maior da ONU. Alguns falam em ius contra bellum (direito contra a guerra). Essa independência garante que as normas protetivas do DIH sejam respeitadas (não importa quem tem razão na guerra, importam as normas humanitárias na guerra). -Obs após 11 de setembro de 2011 doutrina estadunidense defende dependência entre os dois direitos. 12
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Critérios para aplicação do DIH -Competência ratione materiae a que se aplica? - Competência ratione personae a quem se aplica? - Competência ratione loci onde se aplica? - Competência ratione temporis - quando se aplica? 14
Competência ratione materiae do DIH - Aplica-se aos conflitos armados, que podem ser: -Internacionais(CAI) ou Não-internacionais(CANI) - CAI em regra, é o conflito entre no mínimo 2 Estados. Mas, conformeas4cg/49eos2pa/77,oscaipodemserde4tipos: - Guerra declarada há uma declaração de guerra. - Confronto armado de fato ato de hostilidade armado. -Ocupação militar não resistida inexiste ato de afronta armado. - Guerras de liberação nacional contra colonialismo e estrangeiros. - CANI mitigado pela noção de soberania. Não intervenção poucosatosconvencionaisarespeito:art3º,das4cg(1949);art1ºpa II(1977); Art8º,f,EstatutodeRoma. 15
Competência ratione materiae contin. -CANI -Distúrbios internos não há conflito armado. O Estado usa a força armada para manter a ordem. -Tensões internas não há distúrbios internos. O Estado usa a força de modopreventivo paramanterorespeitoàleieàordem. - Conflitos armados internacionalizados: CANI CAI. Exs de situações: - conflito armado interno com secessão reivindicação de independência de uma parte do território de um Estado. Com a independência, o conflito, antes interno, passa a ser internacional. Ex: Catalunha(?) - Conflito armado interno com intervenção de um ou vários Estados estrangeiros Exs:durante aguerrafria;asíria(?) 16
Competência ratione personae do DIH -ODIHtem4categorias desujeitos: -Estados que sejam vinculados por ratificação ou adesão -Movimentos de Liberação Nacional povo que luta contra dominação colonial, ocupação estrangeira ou regimes racistas. Autodeterminação dos povos. Art 96, 3, PAI(1977). - Entidades não estatais grupos rebeldes com autoridade de fato sobre um território ou facções em combate com pretensão de se tornar um Estado. Exs: EI, FARCS Colômbia. -Indivíduos também podem responder por crimes de guerra. 17
Competência ratione loci do DIH - O DIH não tem aplicabilidade espacial restrita. Pode ser aplicado: - Teatro de operação de combate. - Território das partes beligerantes - Fora do território dos beligerantes - Territórios estrangeiros. - Res nullius( terra de ninguém ) - Estados não envolvidos diretamente no conflito (Estados neutros e potências protetoras). 18
Competência ratione temporis do DIH -O DIH aplica-se desde o início do conflito armada, da guerra declarada ou da ocupação sem resistência. -O DIH deixa se aplicado aos poucos, conforme situações fáticas(não cessa em bloco): -Comofimdas operações militares de modoinformal ou formal(tratado de paz, cessar fogo, armistício, etc). -Comofimdasprisõesouinternamentosdoscivis. -Comofimdaocupaçãomilitar.Art6º,daIVCG. 19
O Brasil e o DIH - Postura internacional correta, com relação aos instrumentos do DIH: assinaturas, ratificações e adesões. - Todavia, postura interna desidiosa: falta da internalização de várias dessas obrigações no ordenamento jurídico brasileiro. -Ex: Brasil aderiu às CG em 1957. A IV CG (Art 146, IV) manda os Estados contratantes regulamentarem sanções penais adequadas conforme as CG. O CPM (1969), ao tratar dos crimes militares em tempo de guerra, não acompanhou os parâmetros fixados pelos tratados internacionais, o que perdura até hoje. -Conduta assimétrica do Brasil: da porta de casa para fora, é exemplar; mas em casa, deixa a desejar. 20
Assinatura, ratificação, adesão - Art11,daConvençãodeViena: O consentimento de um Estado em obrigar-se por um tratado por manifestar-se pela assinatura, troca dos instrumentos constitutivos do tratado, ratificação, aceitação, aprovação ou adesão, ou por quaisquer outros meios, se assim for acordado. - Assinatura consiste na manifestação do consentimento, pela qual o texto de um tratado é considerado autêntico e definitivo. Em regra, após a assinatura, não se admite posterior modificação, salvo se as partes acordarem novamente sobre o caso. - Ratificação considerada a fase mais importante do processo de conclusão dos tratados, pois confirma a assinatura e dá validade a ele. Gera a obrigatoriedade no plano internacional. - Adesão consiste na manifestação de vontade posterior à celebração. 21