Levantamento etnobotânico de plantas medicinais no domínio dos cerrados na região do Alto Rio Grande Minas Gerais



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17 Levantamento etnobotânico de plantas medicinais no domínio dos cerrados na região do Alto Rio Grande Minas Gerais RODRIGUES, V.E.G.*; CARVALHO, D.A. Docentes; Campus da UFLA; Departamento de Biologia; Sistemática Vegetal; Universidade Federal de Lavras- UFLA; Lavras-MG; 37.200-000; *Correspondência: val@ufla.br RESUMO: Levantou-se junto às comunidades rurais, do sul do Estado de Minas Gerais, microrregião do Alto Rio Grande, municípios de Lavras, Carrancas, Ingaí, Itumirim e Itutinga, quais, como e para que fins as espécies nativas de algumas formações vegetais (cerrados sensu stricto, campos sujos, campos limpos, campos rupestres, bordas de matas de galeria e de encosta) e as plantas invasoras dessas formações, são utilizadas na medicina popular. Foi utilizado o método de questionamento proposto por Ribeiro (1987) e a coleta e análise de informações basearam-se no método de Triviños (1987).Contou-se com a colaboração de 13 raizeiros a nível de campo. Foram levantadas em 37 áreas de amostragens, 527 indivíduos, pertencentes a 52 famílias, 118 gêneros e 172 espécies. As espécies mais utilizadas na medicina popular, são: Baccharis trimera (carqueja), Banisteriopsis argyrophylla (cipó-prata), Bauhinia holophylla (unha-de-vaca), Bidens pilosa (picão), Brosimum gaudichaudii (mamacadela), Cayaponia tayuya (taiuiá), Caryocar brasiliense (pequi), Croton antisyphiliticus (canela-de-perdiz), Dorstenia brasiliensis (carapiá), Herreria salsaparilha (salsaparilha), Heteropteris anceps (guiné-do-campo), Jacaranda decurrens (carobinha), Lychnophora pinaster (arnica), Mikania smilacina (guaco), Rudgea viburnoides (bugre), Smilax campestris (japecanga), Strychnos brasiliensis (quina-cruzeiro), Strychnos pseudo-quina (quina-mineira), Stryphnodendron adstringens (barbatimão) e Vernonia polyanthes (assa-peixe). As plantas são utilizadas principalmente para: afecções dos rins, reumatismo, facilitar a secreção urinária, diabete, má circulação do sangue, arteriosclerose, depurativo do sangue, inflamações, sífilis, colesterol alto, hemorragias, hemorróidas, dores estomacais, cicatrização, paralisias, dores lombares, úlceras, afecções do aparelho respiratório, hematomas, contusões, pancadas, anestesiar, moléstias do fígado, doenças venéreas, afecções do aparelho urinário, diarréias, febres, regular regras menstruais, afecções da pele e vermes. As principais formas de utilização das plantas na região são os chás, em decocto ou infuso. Palavras-chave: espécies nativas, medicina tradicional, formas de utilização, plantas medicinais. ABSTRACT: Etnobotanical survey of medicinal plants in the dominion of meadows in the region of the Alto Rio Grande - Minas Gerais. A survey was carried out next rural commnunities, in the south of Minas Gerais state, Brazil, at the microregion of Alto Rio Grande, cities of Lavras, Carrancas, Ingai, Ituimirim and Itutinga, to know which and what purpose the native species of some vegetation formation (sensu stricto meadow, scrubland, savanna, rupestrian, borders of riverside forest and of hillside) and of invading plants of that formation are used in the popular medicine. Asking method, proposed by Ribeiro (1987), and harvest and analysis data, by Triviños method (1987) were used. The survey counted with collaboration of 13 herb doctors on field level. There were investigated in 37 sampling areas, 527 individuals, belonging to 52 families, 118 genera and 172 species. The most applied species in the popular medicine, are: Baccharis trimera (carqueja), Banisteriopsis argyrophylla (cipó-prata), Bauhinia holophylla (unha-de-vaca), Bidens pilosa (picão), Brosimum gaudichaudii (manacá-do-campo), Cayaponia tayuya (taiuiá), Caryocar brasiliense (pequi), Croton antisyphiliticus (canela-de-perdiz), Dorstenia brasiliensis (carapiá), Herreria salsaparilha (salsaparilha), Heteropteris anceps (guiné-do-campo), Jacaranda decurrens (carobinha), Lychnophora pinaster (arnica), Mikania smilacina (guaco), Rudgea viburnoides (bugre), Smilax campestris (japecanga), Strychnos brasiliensis (quina-cruzeiro), Strychnos pseudo-quina Recebido para publicação em 20/09/2004 Aceito para publicação em 22/05/2006

18 (quina-mineira), Stryphnodendron adstringens (barbatimão), and Vernonia polyanthes (assa-peixe). The plants are used mainly for: kidney affections, rheumatism, to facilitate the urinary secretion, diabetes, bad blood circulation, arteriosclerosis, blood depurative, stomach aches, cicatrization, paralysis, back pains, ulcers, respiratory system affections, hematomas, contusions, blows, anesthetize, liver affections, venereal disease, urinary system affections, diarrhea, fevers, irregular menstruation, skin affections, and worms. The main methods of application to the region are the teas, by boiling or infusion. Key words: native species, medicine traditional, methos of application, medicinal plants. INTRODUÇÃO A exploração de recursos genéticos de plantas medicinais no Brasil está relacionada, em grande parte, à coleta extensiva e extrativa do material silvestre e apesar do volume considerável da exportação de várias espécies medicinais na forma bruta ou de seus subprodutos, pouquíssimas espécies chegaram a ser cultivadas, mesmo em pequena escala. O fato torna-se mais marcante quando consideramos as espécies nativas, cujas pesquisas básicas ainda são incipientes (Vieira, 1994). Vários são os exemplos de espécies medicinais nativas do nosso país, das quais os laboratórios internacionais possuem total domínio da tecnologia agrícola e de produção, como no caso do jaborandi brasileiro (Pilocarpus pinnatifolius), do qual se extraem os sais de policarpina, desde 1876, pela Merck, que atualmente através da Vegetex, os exporta para América, Ásia e Europa, além de atender às necessidades nacionais. Considerando ainda, a grande biodiversidade que detém o nosso país e a dificuldade de se colocar em prática o Capítulo do Meio Ambiente do Título VIII da Constituição Brasileira, que trata da Conservação da Natureza e da estratégia mundial para conservação dos recursos vivos para um desenvolvimento sustentado, torna-se também necessária a realização de estudos que relatem a diversidade biológica de cada complexo vegetacional, as inter-relações e a qualidade de vida dos seres vivos ali presentes. A Etnobotânica inclui todos os estudos concernentes à relação mútua entre populações tradicionais e as plantas (Cotton, 1996). Apresenta como característica básica de estudo, o contato direto com as populações tradicionais, procurando uma aproximação e vivência que permita conquistar a confiança das mesmas, resgatando, assim, todo conhecimento possível sobre a relação de afinidade entre o homem e as plantas de uma comunidade. Portanto, o estudo etnobotânico é o primeiro passo para um trabalho multidisciplinar envolvendo botânicos, engenheiros florestais, engenheiros agrônomos, antropólogos, médicos, químicos, entre outros, para se estabelecer quais são as espécies vegetais promissoras para pesquisas agropecuárias e florestais, justificando assim seu uso e sua conservação. Ainda, por ser o Bioma Cerrado um complexo vegetacional que detém grande diversidade biológica, que ocupa extensa área territorial nas regiões centrais do nosso país, com maior concentração populacional, e que vem sofrendo nos últimos tempos grandes devastações, é que se justifica a importância deste estudo. Neste contexto, esse trabalho teve como objetivo: levantar junto às comunidades rurais, raizeiros e ou curandeiros da região do Alto Rio Grande, nos municípios de Lavras, Itumirim, Ingaí, Itutinga e Carrancas/MG, quais, como e para que fins, as espécies nativas e invasoras desse complexo vegetacional e de outros que compõem à região, são utilizadas na medicina popular. MATERIAL E MÉTODO Os estudos foram realizados em áreas de cerrado, campo rupestre e de altitude, bordas de matas de galeria e de encosta, e em áreas de transição cerrado/mata, do sul do Estado de Minas Gerais, microrregião do Alto Rio Grande, nos municípios de Lavras (537 Km 2 ), Itumirim (238 Km 2 ), Ingaí (305 Km 2 ), Itutinga (360 Km 2 ) e Carrancas (702 Km 2 ). Microrregião constituída de superfícies planas e onduladas, de onde sobressai a elevação do Complexo Serra da Bocaina com uma altitude aproximada de 1.200m. Destacam-se entre os vários mananciais, com suas nascentes, o Rio Capivari e o Rio Grande, este último formando as Represas de Camargos e Itutinga, cujas águas banham os municípios de Itutinga e Carrancas. O clima dominante na região é tropical de altitude, com temperatura média anual variando de 19-21ºC e de precipitação média anual entre 1.200-1.500 m (Queiroz, 1980). Dentre os solos que ocorrem na microrregião, predominam em cada um dos municípios, as seguintes classes de solos: 1)- Lavras (das partes mais elevadas em direção aos rios): Solos Litóticos, Cambissolos, Podzólicos Vermelho - Amarelos, Latossolos Vermelho - Amarelos, Solos Hidromórficos

19 e Solos Aluviais (Curi et al., 1990); 2)- Carrancas: Latossolos Variação UNA, Cambissolos, Latossolos Vermelhos - Escuros e Solos Litólicos (EMBRAPA, 1981; Giarola et al., 1997); 3)- Itumirim: Latossolos Vermelho - Estudos, Latossolos Vermelho - Amarelos e Cambissolos (EMBRAPA, 1981; Giarola et al., 1997); 4)- Ingaí: Latossolos Vermelho - Amarelos, Cambissolos, Latossolos Vermelho - Escuros (EMBRAPA, 1981; Giarola et al., 1997); e 5)- Itutinga: Latossolos Variação UNA, Cambissolos, Latossolos Vermelho - Escuros e Solos Litólicos (EMBRAPA, 1981; Giarola et al., 1997). A paisagem vegetacional nativa é composta pelos cerrados, campos cerrados, matas de galeria, matas de encosta e campos rupestres e de altitude (Queiroz, 1980). Atualmente a vegetação nativa forma um mosaico com as pastagens e culturas diversas. Os campos cerrados constituem a fisionomia vegetal predominante na região nas cotas até 900 m de altitude, dando lugar aos campos rupestres e de altitude, no intervalo de 900 e 1.200 m, que ocorrem em grande extensão do complexo Serra da Bocaina. As matas de galerias acompanham os cursos d água; as matas de encosta normalmente ocorrem nas depressões e em ondulações com solo de melhor qualidade (Carvalho, 1992). A atividade agropecuária na região é moderada devido à má qualidade do solo e/ou topografia. A classificação, segundo a aptidão agrícola das terras, é 2C, em que, 2 (um ou mais nutrientes com reserva limitada, bons rendimentos nos primeiros anos), C (melhoramento viável somente com práticas de grande vulto aplicadas a projetos de larga escala, que estão normalmente além das possibilidades individuais dos agricultores) o controle da erosão deve ser intensivo; só equipamentos mais leves devem ser utilizados na mecanização e são limitantes para plantas de raízes mais sensíveis (Queiroz, 1980); e, segundo a potencialidade agrícola do solo, é classificado como área atualmente desaconselhável à utilização agrícola, por ter limitações muito fortes de solos e/ou topografia (IBGE, 1975-1992). O uso atual da maior parte das terras da região sob influência dos reservatórios das hidrelétricas de Itutinga/Camargos (MG), encontrase em desarmonia com a aptidão agrícola, o que contribui em muito para os problemas sócioeconômicos e ambientais atualmente muito evidentes nessa região. Mesmo com os avanços tecnológicos significativos na agricultura, isto não se aplica às condições das propriedades localizadas na região, pois a adaptação de tecnologia para essas condições caminha lentamente, enquanto que o processo de degradação do solo avança a passos largos (Giarola et al., 1997). As áreas a serem amostradas foram escolhidas mediante referências levantadas junto à população rural e raizeiros da região. Tendo como guia 13 raizeiros da região, foram amostradas 37 áreas, assim distribuídas nos municípios de: Carrancas - 9; Ingaí - 8; Itumirim - 7; Itutinga - 7 e Lavras - 6. Com um mesmo raizeiro foram percorridas de 3-4 áreas distintas com relação a algumas das formações do bioma cerrado (cerrado sensu stricto, campos cerrados e campos limpos), das formações vegetais de campo rupestre e de altitude, matas de galeria e de encosta (bordas), e áreas de transição cerrado/mata. E visando possibilitar algumas comparações do conhecimento da relação homemplanta entre raizeiros, no mínimo dois raizeiros percorreram a mesma área. Na maioria, as formações vegetais das áreas amostradas se encontram perturbadas pela ação antrópica, em intensidades que variam de pouco perturbadas a bem perturbadas. Entre as que sofrem hoje perturbações antrópicas, estão em maior escala as ocupadas pela pecuária de leite e de corte, onde praticamente o único manejo realizado é cortar os subarbustos e arbustos antes de se colocar o gado. Quanto ao manejo por queimadas, pode-se observar que está sendo pouco utilizado; apenas 5 das 37 áreas amostradas apresentam vestígios de queimadas recentes e programadas através do aceiramento. Nenhum tipo de estratégia conservacionista foi observada nas áreas amostradas. Nota-se, contudo, que há necessidade de um esforço maior, com uma mudança substancial na política e na ação conservacionista pública e privada, principalmente de conscientização, para que seja garantida a conservação do solo e da biodiversidade; entre os quais está a preservação dos recursos genéticos das plantas medicinais nos complexos vegetacionais amostrados na microrregião do Alto Rio Grande. As coletas dos dados etnobotânicos e de material botânico no campo tiveram início em setembro de 1996 e terminaram em setembro de 1999, através de visitas semanais, quinzenais ou mensais, de acordo com a disponibilidade dos raizeiros, Estes, num total de 13, foram disponibilizados nos municípios de Carrancas (3), Ingaí (2), Itumirim (2), Itutinga (3) e Lavras (3). As visitas para coletas de dados foram realizadas em quatro etapas: 1 a etapa - realizadas em cada município, com a finalidade de levantar junto à população urbana e rural, através de indagações, quais os raizeiros e/ou curandeiros mais procurados para a cura de enfermidades; 2 a etapa - realizadas para contactar os raizeiros e/ou curandeiros levantados na primeira visita, e verificar a disponibilidade de cada um em transmitir seus conhecimentos sobre a cura de enfermidades através de plantas;

20 3 a etapa - realizadas, junto aos raizeiros, com a finalidade de se escolherem as áreas a serem amostradas; 4 a etapa - realizadas, junto a cada raizeiro, nas áreas amostradas, com a finalidade de se levantarem: quais, como e para que fins as plantas nativas e invasoras das formações vegetais em estudo, são utilizadas na medicina popular, seguindo a ficha de informações (Tabela 1). Devido à característica peculiar do estudo, de ter um enfoque qualitativo, utilizou-se o método de questionamento proposto por Ribeiro (1987), caracterizado por não impor, inadvertidamente, as próprias idéias e categorias culturais a seus informantes ou consultores culturais, estabelecer o tom necessário a um relacionamento compartilhado entre iguais, questionar com perguntas mais abertas, dando liberdade ao informante para responder segundo sua própria lógica e conceitos, e selecionar palavras empregadas pelo informante, a partir das respostas iniciais, para obter e completar dados. Os dados etnobotânicos foram levantados simultaneamente à coleta do material botânico no campo, através de entrevistas seguindo a ficha de informações (Tabela 1), que serviu como roteiro, para cada espécime coletado. A coleta e análise de informações basearam-se no método de Triviños (1987), o qual sustenta que o ideal é que a análise esteja presente durante os vários estágios da pesquisa e que o tipo de técnica não admite visões isoladas, parceladas ou estanques, já que a coleta e análise dos dados obedecem a um processo unitário integral, no qual ambas se retroalimentam constantemente e podem influenciar todo processo de pesquisa. Os espécimes coletados foram numerados e acondicionados em sacos plásticos no campo, posteriormente, levados ao laboratório do Herbário ESAL, do Departamento de Biologia da Universidade Federal de Lavras -UFLA (Lavras-MG), onde foram prensados, secos, montados, etiquetados, registrados e incorporados ao mesmo. As identificações dos espécimes foram feitas por meio de comparações com exsicatas no Herbário ESAL, de consultas à especialistas e obras clássicas. Visando ainda a identificação de alguns espécimes, foram levadas duplicatas aos Herbários SP (Instituto de Botânica de São Paulo São Paulo/SP) e UEC (Departamento de Botânica do Instituto de Biologia da Universidade Estadual de Campinas -Campinas/SP). TABELA 1: Ficha de roteiro de entrevistas para cada espécime amostrado. (*) r = rara, o = ocorrente, f = frequente, a = abundante, d = dominante, pela escala DAFOR (Kent & Coker, 1992). As determinações dos espécimes coletados foram baseadas em caracteres morfológicos vegetativos e reprodutivos e, em alguns casos, também em caracteres anatômicos. Para cada espécime amostrado, também foram anotados, na ficha de informações (Tabela 1), o hábito e o grau de ocorrência pela escala DAFOR (Kent & Coker, 1992). RESULTADO E DISCUSSÃO Todos os raizeiros levantados são descendentes de avós indígenas, africanos ou ambos, e de faixa etária entre 56-72 anos. Entre os treze, onze são do sexo masculino e apenas dois deles não constituíram família; os dois do sexo feminino constituíram família. Dos que constituíram família,

21 apenas três transmitiram seus conhecimentos sobre a utilização, dosagem e preparo das plantas medicinais nativas a alguns de seus filhos. Os motivos apresentados pelos raizeiros, por não terem passado a todos os filhos seus conhecimentos sobre as plantas medicinais nativas, são sobretudo: - falta de tempo ocasionada ora pelo trabalho dos filhos para ajudar na renda familiar (na maioria dos casos), ora ocasionada pelo estudo dos mesmos; - falta de interesse por parte dos filhos, principalmente após terem entrado na idade escolar; - e, em alguns casos, porque os filhos constituíram família ainda jovens, distanciando-se dos pais, dificultando, assim, o ensino-aprendizagem. Apenas três raizeiros freqüentaram a escola; assim mesmo, a nível de 1 o grau incompleto. Portanto, possuem uma linguagem terapêutica popular quase que própria de cada um no que se refere às enfermidades, aplicações das plantas e formas de preparo, com algumas expressões bem particulares, como por exemplo: esta planta é da mesma família desta, o que significa que podem ser misturadas para se fazer um chá para a cura de uma determinada doença, ou esta planta é utilizada quando o homem está acabrunhado, o que significa que é para cura da impotência sexual, entre tantas outras; ou de maneira dissertativa, principalmente, quanto às formas de utilização, como por exemplo: coloca-se as folhas da planta numa vasilha com água fria e ferve-se por 10-15 minutos, o que indica que a forma de preparo é a decocção. Isto ocasionou uma série de entrevistas e indagações com um mesmo raizeiro, visto que a maioria deles apresenta uma maneira particular de se expressar, principalmente quando se trata de doenças venéreas, das afecções do aparelho reprodutor feminino e masculino e da impotência sexual, justamente por não utilizarem uma linguagem terapêutica científica. Todos os raizeiros acreditam, sem sombra de dúvida, nos efeitos das plantas medicinais para a cura das enfermidades e se orgulham do que fazem. A maioria salienta que a dosagem utilizada é fundamental para a cura das doenças, que o excesso pode provocar intoxicação ou danos no organismo e que o tempo de utilização das plantas medicinais não deve ser muito prolongado, ou seja, mencionam que, mesmo no caso de doenças de cura demorada ou incuráveis, há necessidade de dar intervalos de tempo sem o uso dos medicamentos à base de plantas. Esse tempo é chamado por alguns raizeiros de repouso e por outros de restabelecimento. Segundo a maioria dos raizeiros, eram muito procurados em décadas passadas. Ocorreu um declínio na procura, entre as décadas de 70-80, retomou por volta de 1985 e intensificou-se cada vez mais até os dias de hoje. Verificou-se que nenhum tipo de desperdício consciente ocorreu por parte dos raizeiros nas coletas das plantas medicinais, ou seja, colhem somente o que precisam. Embora, geralmente não se preocupam com os danos causados pelas coletas na planta, mostrando assim, falta de consciência sobre a conservação desses recursos vivos para um desenvolvimento sustentado. Nota-se então o enorme risco de desaparecimento, até mesmo rápido, de algumas espécies medicinais das formações vegetais estudadas na região, principalmente, como conseqüência de um manejo inadequado das áreas pelos proprietários rurais e, em menor escala, pela retirada das mesmas para uso medicinal. Com isto, as espécies que correm mais risco são aquelas cujas partes utilizadas para o preparo dos medicamentos são raízes, caule ou casca do caule, pois, muitas vezes o dano causado à planta pode levar à morte. Como exemplos, podem ser citados: raiz-preta (Senna rugosa), da qual se usa a raiz como vermífugo e nas mordeduras de cobra; velame-branco (Macrosyphonia velame) em que a raiz é utilizada como depurativa do sangue, e a planta toda como depurativa do sangue, antireumática e nas úlceras pécticas, conseqüentemente, na maioria das vezes essas plantas, quando de porte menor, são arrancadas inteiras. Verifica-se; então, que o papel dos raizeiros de hoje, em alguns aspectos, se assemelha aos dos curandeiros ancestrais, ou seja, indivíduos que, dentro das suas comunidades, detêm a sabedoria passada por seus ancestrais de como utilizar as plantas do meio ambiente onde vivem; e em outros se assemelha aos dos indivíduos que formavam as famílias camponesas da região: pessoas simples e fraternas, que mesmo em função da sabedoria que detêm de poderem aliviar as dores e o mal-estar provocados pelas doenças, através das plantas da região, vivem sem ocupar qualquer posição de destaque ou privilégios nas sociedades das quais fazem parte. Nenhum deles utiliza-se de seus conhecimentos para fins lucrativos, mesmo que precisando aumentar a renda familiar. Entretanto, aceitam qualquer tipo de ajuda dada pelas pessoas que os procuram, pois a maioria é de classe social de renda baixa. Também desconhecem, nas suas comunidades, qualquer tipo de retirada de plantas medicinais na região para efeito de comercialização, a não ser aquelas que são por eles utilizadas. Segundo os raizeiros, vários são os fatores que influenciam na demanda diferenciada de plantas para cura de enfermidades. E entre eles, em ordem decrescente de importância, têm-se: - o preço elevado de certos medicamentos sintéticos; - anseio no bem estar e na cura mais rápida, fazendo uso dos dois tipos de medicamentos (quimioterápicos e fitoterápicos); - e as irritações causadas no organismo dos indivíduos pelo uso constante dos medicamentos

22 sintéticos. Foi identificado, nos cinco municípios, um total de 172 espécies de plantas medicinais nas formações vegetais amostradas, dessas, 130 nativas do cerrado. Listadas segundo indicações de uso, parte utilizada e forma de preparo (Tabela 2). Este resultado é bastante expressivo se comparado aos estudos de Siqueira (1982), segundo o qual foram apresentadas 81 espécies de cerrado de uso medicamentoso. Verificou-se também, bastante similaridade nas indicações de uso e de parte usada das espécies medicinais, quando comparado, os resultados deste trabalho, com os dados de Siqueira (1982) e Grandi (1989). Contudo, algumas espécies merecem destaque, pois, não foram listadas nos estudos de Siqueira 1982), Grandi (1989), Silva Filho & Brandão (1992), Gavilanes & Brandão (1991), nem em obras clássicas ou literaturras de fitoterapia, como plantas medicamentosas, tais como: Erygium pristis (língua-de-tucano), Baccharis lymanii (alecrimgrande), Gochnatia barrosii (assa-peixe), Gochnatia velutina (assa-peixe-branco), Vernonia ferruginosa (assa-peixe), Siphocampylus duplosserratus (bico-depassarinho), Merrenia tomentosa (velame-do-campo), Keithia denudata (poejo-do-campo), Cissampelos ovalifolia (orelha-de-onça), Eugenia kunthiana (apertaguela-miúda), Eugenia livida (aperta-guela), Relburnium hirtum (vasourinha), Cestrum sendtnerianum (guiné-do-campo), e Solanum subumbellatum (velame-do-cupim). Embora, outras espécies se apresentam com os mesmos nomes vulgares. Constatou-se muito pouca diferença entre as recomendações de uso, preparo e dosagem de raizeiro para raizeiro, para uma mesma espécie medicinal e, quando aconteceram, foram somadas às recomendações da maioria. Também, pouca diferença foi encontrada no número de plantas por eles utilizadas. A maior dificuldade encontrada, junto a cada raizeiro, visando a compreensão das recomendações, foi a padronização das indicações da quantidade de planta para o preparo dos medicamentos. Normalmente, indicavam um punhadinho, uma mão cheia, um maço, entre outros. Foi então, verificado junto a cada um, quanto seria cada recomendação da quantidade das partes da planta indicada, convertida em: colher de café, colher de doce, colher de sopa e xícara de chá. Estes utensílios foram levados ao campo, em cada visita, com a finalidade de se fazer as conversões com maior segurança. CONCLUSÃO Considerando os dados levantados neste estudo, é surpreendente verificar que, mesmo tratandose de áreas de formações vegetacionais perturbadas pela ação antrópica e sem nenhum tipo de atividade conservacionista, de solo ou da biodiversidade, ainda se tem ecossistemas ricos em espécies de plantas medicinais. Observou-se que a fé depositada nos raizeiros pela população rural e urbana vem sendo atualmente resgatada e a procura por estes tem sido intensificada, embora sejam poucos os que detêm a sabedoria dos índios e caboclos antepassados, de quais, como e para que fins são utilizadas as espécies medicinais. Diferentes raizeiros indicaram a mesma espécie de planta medicinal, para o mesmo uso, com o mesmo preparo e posologia, isto parece mostrar que devem ser, há muito tempo, utilizadas com eficácia na cura de enfermidades e que, provavelmente, a raiz de origem desses conhecimentos, deve ser a mesma na região. Também, uma maior probabilidade destas conterem princípios ativos de interesse medicinal. Já, o retorno a um mesmo raizeiro, à procura de uma mesma planta, parece mostrar a capacidade desta em atuar ou no combate a determinadas doenças, destruindo ou inibindo o desenvolvimento de agentes patogênicos; ou na purificação do sangue, eliminando toxinas, o excesso de gorduras, etc; ou no bom funcionamento do corpo, estimulando ou normalizando o funcionamento de certos órgãos; ou estimulando as defesas naturais e suprindo a falta de certos elementos nutritivos, e enfim, promovendo a recuperação da boa saúde. Tendo em vista que as espécies de plantas medicinais mais procuradas são aquelas relacionadas à cura de enfermidades que necessitam de doses diárias de medicamentos e que na população de baixa renda os remédios quimioterápicos estão sendo substituídos pelos fitoterápicos para a cura destas enfermidades, pode-se ainda constatar que esta procura poderá estar relacionada não só a eficácia das mesmas, mas também, ao fato dos medicamentos quimioterápicos estarem influenciando, em muito, nos gastos das famílias mais carentes da região.

TABELA 2. Espécies de plantas medicinais no domínio do cerrado, nos municípios de Carrancas, Ingaí, Itumirim, Itutinga e Lavras- MG, com seus respectivos habitat, indicações de uso, parte usada e preparo. Habitat: Cerrado = cer. Campo rupestre = c. r. Borda de mata = b.ma. Área de transição = á. tr. Invasora = inv. Parasita = par. 23

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35 REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA APG II 2003. An update of the Angiosperm Phylogeny Group classification for the orders and families of flowering plants: APGII. London: The Linnean Society of London, Botanical Journal of the Linnean Society, 2003. p.399-436. CARVALHO, D.A. Flora fanerogâmica de campos rupestres da Serra da Bocaina, Minas Gerais: caracterização e lista de espécies. Ciência e Prática, v.16, n.1, p.97-122, 1992. COTTON, C.M. Ethnobotany: principles and applications. New York: Ed. John Wiley & Sons, 1996. p.1-18. CURI, N. et al. Geomorfologia, física, química e mineralogia dos principais solos da região de Lavras (MG). Ciência e Prática, v.14, n.3, p.297-307, 1990. EMBRAPA. Serviço Nacional de Levantamento e Conservação de Solos. Mapa de solos do Brasil. Rio de Janeiro, 1981. Escala:1:000:000. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA - IBGE. Anuário estatístico do Brasil. Rio de Janeiro, 1975-1992. 300p. GAVILANES, M.L.; BRANDÃO, M. Informações preliminares acerca da cobertura vegetal do município de Lavras, MG. Daphne, v.1, n.2, p.44-50, 1991. GRANDI, T.S.M. et al. Plantas Medicinais de Minas Gerais, Brasil. Acta Botânica Brasilica, v.3, n.2, supl., p. 185-218, 1989. GIAROLA, N.F.B. et al. Solos da região sob influência do reservatório da hidrelétrica de Itutinga/Camargos (MG): perspectiva ambiental. Lavras: CEMIG/UFLA, 1997. 101p. KENT, M.; COKER, P. Vegetation description and analysis: a pratical approach. Florida: Boca Raton, 1992. p.45-51. QUEIROZ, R. et al. Zoneamento agroclimático do estado de Minas Gerais. Belo Horizonte: Secretaria de Estado da Agricultua, 1980. 114p. RIBEIRO, B.G. Etnobiologia. In: RIBEIRO, B.G. (Coord). Suma etnológica brasileira. 2.ed. Petrópolis: FINEP, 1987. 302p. SILVA FILHO, P.V.; BRANDÃO, M. Plantas medicamentosas de uso popular coletadas e comercializadas na região metropolitana de Belo Horizonte, MG. Daphne, v.2, n.2, p.39-52, 1992. SIQUEIRA, J.C. Plantas do cerrado na medicina popular. Spectrum, v.2, n.8, p.41-4, 1982. TRIVIÑOS, A.N.S. Introdução à pesquisa em ciências sociais: a pesquisa qualitativa em educação. São Paulo: Atlas, 1987. 175p. VIEIRA, R.F. Coleta e conservação de recursos genéticos de plantas medicinais. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE MEDICINA E TERAPIAS NATURAIS, 1., 1994, Brasília. Anais... Brasília, 1994. p.44-9.