PROCESSO Nº 80796-07.2014.4.01.3400 MANDADO DE SEGURANÇA INDIVIDUAL CLASSE 2100 IMPTE. : IRINALDO DIAS DA SILVA IMPDO. : PRESIDENTE DA COMISSÃO ESPECIAL INTERMINISTERIAL - CEI SENTENÇA Trata-se de mandado de segurança com pedido de liminar impetrado por IRINALDO DIAS DA SILVA contra ato dito ilegal praticado pelo PRESIDENTE DA COMISSÃO ESPECIAL INTERMINISTERIAL CEI, em que o impetrante objetiva seja determinado que a autoridade impetrada analise e adentre no mérito do seu pedido de anistia formulado em 1993, ainda em trâmite por meio dos Processos de nºs 6040.023230/93-16, 04500.005325/2009-45, 05200.003231/2012-84 e 05200.002477/2013-10, por violação aos arts. 5º, incisos LIV e LV e 37, caput, da CF/88 c/c arts. 26 e 27 da Lei nº 9.784/99. (fl. 14). Alega que foi empregado público concursado dos quadros da Rede Ferroviária Federal S/A, onde foi demitido em 30 de fevereiro de1990 por ato arbitrário e ilegal no ano de 1990. Prossegue, informando que, com o advento da Lei nº 8.878/94, que abriu prazo para requerimentos administrativos de retorno para a Administração Pública, protocolou junto à Administração, assistida pela Subcomissão de Anistia instituída pela Portaria nº 275/94, os Processos de nºs. 6040.023230/93-16, 04500.005325/2009-45, 05200.003231/2012-84 e 05200.002477/2013-10 e, conquanto tenha sido concedida a sua anistia, devidamente publicada no Diário Pág. 1/5
Oficial da União, esta foi revisada e anulada em 20 de junho de 2000. Assevera que em 25 de junho de 2004 foi publicado o Decreto nº 5.115/2004, como novo ato regulamentador, fixando ainda prazo preclusivo de 90 (noventa) dias para que fossem apresentados novos requerimentos para serem revistos pela Comissão Especial Interministerial - CEI, com o intuito de revisar os atos administrativos praticados pelas comissões criadas pelos Decretos anteriores, quais sejam, os Decretos de nºs. 1.498 e 1.499/1995, e 3.363/2000, referentes a processos de anistia de que tratava a Lei nº 8.878/1994. Sustenta que não houve qualquer publicidade com relação aos novos prazos estabelecidos pela União Federal, pelo que, muitos servidores que haviam sido demitidos deixaram passar o prazo para a interposição de requerimentos administrativos, comprovando suas situações funcionais antes das demissões. Diz que, pela argumentação de perda de prazo bem como pela não análise do requerimento administrativo desde 1994, a autoridade impetrada vem violando o seu direito líquido e certo, assegurado pelo art. 5º, incisos LIV e LV da CF/88 c/c os artigos 26 e 28 da Lei 9.784/99, onde está evidenciado que a intimação do interessado em processo administrativo por meio apenas de publicação no DOU não se mostra eficaz para sua defesa, porque não assegura a observância dos princípios constitucionais do devido processo legal e da ampla defesa. Inicial acompanhada de documentos. Requer assistência judiciária gratuita. A apreciação do pedido liminar foi postergada para depois de manifestação da autoridade impetrada, tendo, na oportunidade, sido deferido o pedido de justiça gratuita (fl. 26). Pág. 2/5
(fls. 32/33). A União manifestou interesse em ingressar no feito (fl. 31). Devidamente notificada, a autoridade coatora prestou informações Decisão que defere a liminar (fls.43/45). O MPF não opinou sobre o mérito da demanda (fls.62/63). É o relatório. DECIDO. No caso concreto, valho-me da denominada técnica da motivação per relationem, cuja legitimidade jurídico-constitucional tem sido reconhecida pela jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, para adotar como razões de decidir a fundamentação em que se apóia a decisão que deferiu a liminar, ante a presença de plausibilidade jurídica da pretensão inaugural. Como dito alhures, na hipótese em apreço, observo inicialmente que o impetrante não pretende que judicialmente seja reconhecido seu direito à anistia, mas apenas que a CEI analise e adentre no mérito de seu requerimento de anistia formulado em 1993. Nada obstante ser incontroverso que a análise do pedido de anistia compete tão somente à Comissão Especial Interministerial - CEI, criada no âmbito do Ministério da Justiça para revisar os atos administrativos praticados pelas Comissões anteriores criadas pelos Decretos nºs. 1.498/95 e 1.499/95, além do Decreto nº 3.363/2000, que criou a Comissão responsável pelo reexame dos processos em que tenha havido decisão concessiva de anistia de que trata a Lei nº 8.878/1994. É o caso do Impetrante. Verifico pelas informações da autoridade impetrada que o processo originário de anistia do impetrante foi protocolizado há mais de 20 (vinte) anos Pág. 3/5
(Proc. Nº 46040.023230/93-16) e até o momento não há qualquer comprovação de que tenha sido analisado pelas Comissões anteriores. Referido processo, bem como os requerimentos posteriores, serão analisados pela CEI independente do prazo, segundo informou a autoridade coatora, uma vez que ainda aguardam decisão final. Frise-se que o grande volume de processos de anistia pendentes de análise, assim como o elevado número de pleitos com prioridade de tramitação em razão de idade avançada dos requerentes, não pode impedir a prestação de serviços pela Administração, que deve, por força do princípio da eficiência, prover meios necessários para que o administrado não suporte danos irreparáveis ou de difícil reparação em face do acúmulo de trabalho. Ademais, se a CEI foi instituída, em síntese, para rever possíveis atos ilegais das comissões instituídas pelos Decretos nºs 1.498, 1.499 e 3.363, a sua atuação deveria ocorrer até mesmo de ofício, pelo que se mostra razoável que ela atue mediante requerimento, ainda que fosse intempestivo, do impetrante. Resta demonstrado o periculum in mora em razão dos gravames suportados pelo suplicante decorrente da demora na análise do pedido em tela. Assim, tenho como imperiosa a ratificação da decisão liminar e, no mérito, a concessão da ordem, a fim de proteger direito líquido e certo do impetrante, ora violado por ato da autoridade impetrada. SEGURANÇA DISPOSITIVO Ante o exposto, CONFIRMO A DECISÃO LIMINAR E CONCEDO A para determinar que a autoridade impetrada analise o Pág. 4/5
requerimento administrativo de anistia formulado pelo impetrante no bojo dos Processos nºs. 6040.023230/93-16, 04500.005325/2009-45, 05200.003231/2012-84 e 05200.002477/2013-10, e profira a respectiva decisão, no prazo máximo de 30 (trinta) dias, a contar da respectiva intimação. Sem honorários (art.25 da Lei 12.016/2009). Publique-se. Registre-se. Intimem-se. Sentença sujeita ao duplo grau obrigatório de jurisdição. Brasília, 1º de fevereiro de 2016. Assinado digitalmente CHARLES RENAUD FRAZÃO DE MORAES Juiz Federal da 2ª Vara/SJDF Pág. 5/5