Diferenciais sociodemográficos na prevalência de complicações decorrentes do diabetes mellitus entre idosos brasileiros Resumo: As complicações crônicas do diabetes são as principais responsáveis pela morbidade e mortalidade dos pacientes diabéticos. O principal objetivo deste estudo foi estimar a prevalência de complicações relacionadas com a DM na população idosa brasileira e avaliar possíveis diferenciais sociodemográficos nessa prevalência, no ano de 2013. O delineamento deste estudo é do tipo transversal, adotando-se como fonte de dados os microdados da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS), no ano de 2013 e população alvo pessoas com 60 anos ou mais. Entre os idosos com relato de diabetes, 46,4% (I.C95%: 42,5; 50,0%) declararam que já tiveram ou tem alguma complicação decorrente do diabetes. A variável região mostrou-se associada a presença de complicações decorrentes do diabetes. Palavras-chave: diabetes mellitus; complicações do diabetes; diferencias sociodemográficos 1
INTRODUÇÃO A Organização Mundial da Saúde - OMS apontam estima que no Brasil aproximadamente 11,3 milhões de pessoas serão portadores da Diabetes Mellitus (DM) até o ano de 2030, este crescente número evidencia-se em indivíduos da faixa etária mais avançada (MENEZES et al, 2014). Um estudo realizado por Viegas- Pereira (2008) apontou que nos anos de 1998 quanto 2013, o DM em ambos os sexos seria uma causa específica de maior participação de vida população de idosos. As complicações crônicas do diabetes são as principais responsáveis pela morbidade e mortalidade dos pacientes diabéticos (Gross e Nehme, 1999). Diante deste quadro e por ser o DM considerado um problema sério de saúde pública, a proposta desta revisão é abordar as consequências desta patologia quando não diagnosticada e não tratada adequadamente, as conhecidas complicações crônicas. A DM é uma doença que causa um grande sofrimento nos indivíduos, bem como elevados custos socioeconómicos derivados da sua morbilidade e mortalidade prematuras, estimando-se que cerca de metade dos gastos do tratamento da DM é despendido no tratamento das suas complicações. Os indivíduos com DM estão em risco de desenvolverem dano, disfunção e falência de diversos órgãos, especialmente nos olhos, rins, nervos, coração e vasos sanguíneos. As complicações a longo prazo da DM incluem retinopatia, com potencial perda de visão, podendo mesmo causar cegueira; nefropatia, que pode levar a insuficiência ou mesmo falência renal; neuropatia periférica, com risco de úlceras nos membros inferiores, amputações e articulação de Charcot; e neuropatia autonómica, causando sintomas gastrointestinais, geniturinários e cardiovasculares, e disfunção sexual. As complicações cardiovasculares têm uma incidência aumentada nos doentes com DM, como a angina, o enfarte agudo do miocárdio, o acidente vascular cerebral, a doença arterial periférica e a insuficiência cardíaca congestiva. Nestes doentes, a pressão arterial alta, os elevados níveis de colesterol e glicose sanguíneos e outros fatores de risco contribuem para um risco aumentado de complicações cardiovasculares. 2
O principal objetivo deste estudo foi estimar a prevalência de complicações relacionadas com a DM na população idosa brasileira e avaliar possíveis diferenciais sociodemográficos nessa prevalência, no ano de 2013. METODOLOGIA O delineamento deste estudo é do tipo transversal, adotando-se como fonte de dados os microdados da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS), no ano de 2013 e população alvo pessoas com 60 anos ou mais. A PNS é pesquisa domiciliar, no âmbito nacional, realizada pelo Ministério de Saúde com parceria do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Foram selecionados indivíduos com auto relato de diabetes, a partir da seguinte questão: Algum médico já lhe deu o diagnóstico de diabetes?. A presença de complicações decorrentes do diabetes foi analisada a partir do relato de ao menos um dos seguintes problemas de saúde: problemas na vista; infarto; AVC (Acidente Vascular cerebral) ou derrame; outro problema circulatório; problema nos rins; úlcera/ferida nos pés, fez amputação de pés, pernas, mãos ou braços e tem ou teve coma diabético. As variáveis sociodemográficas analisadas foram: sexo; idade (60 a 69 anos, 70 a 79 anos e 80 anos ou mais); raça/cor (branca, parda e negra), escolaridade (sem instrução/fundamental incompleto, fundamental completo/ médio incompleto, médio completo/superior incompleto, superior completo); mora com cônjuge ou companheiro (sim ou não); grandes regiões (norte, nordeste, centro-oeste, sudeste e sul). Analisouse também a posse plano de saúde (sim ou não) e autorrelato de hipertensão arterial sistêmica. As variáveis foram analisadas descritivamente por medidas de frequência percentual, o teste de qui-quadrado de Pearson foi empregado na análise bivariada para avaliar a associação entre complicações e variáveis sociodemográficas. O modelo de Poisson, com variância robusta será adotado para estimar as razões de prevalência. O desenho da amostra complexa da PNS foi incorporado na análise inferencial. Os dados foram analisados com o software R-3.4.1 for Windows (The R-project for statistical computing). RESULTADOS 3
A prevalência de diabetes na população idosa foi de 19,1% (I.C95%.: 17,8; 20,1%). Entre esses indivíduos que relataram ter diagnóstico de diabetes, 46,4% (I.C95%: 42,5; 50,0%) declararam que já tiveram ou tem alguma complicação decorrente do diabetes. Entre as complicações analisadas (Tabela 1), as mais prevalentes foram problema na visão (32,4%), outro problema de natureza circulatória (14,5%) e problemas nos rins (12,2%). Tabela 1. Prevalência de complicações decorrentes do diabetes, Brasil 2013. Complicações Prevalência (%) I.C. 95% Problema na vista 32,4 [ 28,7 ; 36,0 ] Infarto 5,2 [ 3,7 ; 7,0 ] AVC 4,8 [ 3,3 ; 7,0 ] Outro problema circulatório 14,5 [ 12,1 ; 17,0 ] Problema nos rins 12,2 [ 9,7 ; 15,0 ] Úlcera/ferida nos pés 6,9 [ 4,9 ; 9,0 ] Amputação de pés, pernas, mãos ou braços 2,1 [ 1,2 ; 3,0 ] Coma diabético 2,1 [ 1,3 ; 3,0 ] Ao se analisar a associação entre presença de doenças crônicas e fatores sociodemográficos (Tabela 2), observou-se associação estatisticamente significante (p<0,05) apenas com a variável região. Tabela 2. Associação entre complicações decorrentes do diabetes e características sociodemográficas, Brasil 2013. (continua) Variáveis Sim (%) Não (%) Valor de p* Sexo 0,534 Masculino 40,6 37,6 Feminino 59,4 62,4 Idade 0,454 60 a 69 54,3 55,8 70 a 79 31,9 34,0 80 ou mais 13,8 10,2 Raça/cor 0,13 Branca 53,0 60,5 Preta 13,2 9,1 Parda 33,8 30,4 Tabela 2. Associação entre complicações decorrentes do diabetes e características sociodemográficas, Brasil 2013. (continuação) Variáveis Sim (%) Não (%) Valor de p* 4
Esolaridade 0,323 Sem intrução/fundamental incompleto 78,2 72,7 Fundamental completo/ médio incompleto 7,7 7,8 Médio completo/superior incompleto 7,9 12,1 Superior completo 6,3 7,3 Mora com conjuge /companheiro (a) 0,06 Sim 51,4 59,3 Não 48,6 40,7 Região 0,019 Norte 4,5 4,0 Nordeste 26,9 18,7 Sudeste 46,5 57,1 Sul 14,5 13,1 Centro-Oeste 7,6 7,1 Plano de saúde 0,634 Sim 31,6 33,5 Não 68,4 66,5 Hipertensão arterial 0,229 Sim 73,8 69,2 Não 26,2 30,8 *Teste qui-quadrado de Pearson. DISCUSSÃO No presente estudo, observou-se que 46,4% (I.C95%: 42,5; 50,0%) da população idosa que declaram ter diabetes relataram que já tiveram ou tem alguma complicação decorrente do diabetes. Verificou-se diferencias entre presença de complicações e grandes regiões. Nos próximos passos do trabalho, buscará analisar as razões de prevalência, considerando-se as variáveis que apresentaram valor de p<0,20 na análise bivariada. REFERÊNCIAS GROSS, J. L.; NEHME, M. Detecção e tratamento das complicações crônicas do diabetes melito: consenso da Sociedade Brasileira de Diabetes e Conselho Brasileiro de Oftalmologia. Revista Assoociação Medica Brasileira, v. 45, 1999, p. 279-284. MENEZES, T. N. de et al. Diabetes mellitus referido e fatores associados em idosos residentes em Campina Grande, Paraíba. Revista Brasileira de Geriatria e Gerontologia, v. 17, n. 4, p. 829-839, 2014. VIEGAS-PEREIRA, A. P. F. et al. Fatores associados à prevalência de diabetes autoreferido em idosos em Minas Gerais. Revista Brasileira de estudos de população. São Paulo, v. 25, n. 2, p. 365-376, 2008. 5