DIREITOS HUMANOS. Sistema Global de Proteção dos Direitos Humanos: Instrumentos Normativos

Documentos relacionados
DIREITOS HUMANOS. Sistema Interamericano de Proteção dos Direitos Humanos: Instituições. Comissão Interamericana de Direitos Humanos Parte 2.

Preâmbulo PARTE I. Artigo 1.º

CONVENÇÃO INTERNACIONAL PARA A PROTEÇÃO DE TODAS AS PESSOAS CONTRA OS DESAPARECIMENTOS FORÇADOS. Preâmbulo

DIREITOS HUMANOS. Estatuto de Roma e o Tribunal Penal Internacional Parte 2. Profª. Liz Rodrigues

DECLARAÇÃO SOBRE A PROTEÇÃO DE TODAS AS PESSOAS CONTRA A TORTURA E OUTRAS PENAS OU TRATAMENTOS CRUÉIS, DESUMANOS OU DEGRADANTES

Convenção Contra a Tortura e Outros Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanos ou Degradantes

Observações finais sobre o relatório apresentado por Portugal ao abrigo do artigo 29.º, n.º1, da Convenção *

CONVENÇÃO INTERAMERICANA SOBRE O DESAPARECIMENTO FORÇADO DE PESSOAS

CÓDIGO DE CONDUTA PARA OS FUNCIONÁRIOS RESPONSÁVEIS PELA APLICAÇÃO DA LEI. Artigo 1.º

DIREITOS HUMANOS. Estatuto de Roma e o Tribunal Penal Internacional Parte 1. Profª. Liz Rodrigues

DIREITOS HUMANOS. Sistema Interamericano de Proteção dos Direitos Humanos: Instrumentos Normativos. Convenção Americana sobre Direitos Humanos Parte 1

Declaração sobre a Proteção de Todas as Pessoas contra os Desaparecimentos Forçados

DECLARAÇÃO SOBRE A PROTEÇÃO DE TODAS AS PESSOAS CONTRA OS DESAPARECIMENTOS FORÇADOS

DIREITOS HUMANOS. Sistema Global de Proteção dos Direitos Humanos: Instrumentos Normativos. Convenção sobre os Direitos da Pessoa com Deficiência

DIREITOS HUMANOS Professor Luis Alberto

PROTOCOLO QUE ALTERA A CONVENÇÃO REFERENTE ÀS INFRAÇÕES E A CERTOS OUTROS ATOS COMETIDOS A BORDO DE AERONAVES

Convenção sobre Prevenção e Repressão de Infracções contra Pessoas Gozando de Protecção Internacional, Incluindo os Agentes Diplomáticos.

FAZER RESPEITAR A VIDA E A DIGNIDADE DAS PESSOAS PRIVADAS DE LIBERDADE

TRIBUNAL PENAL INTERNACIONAL

FOLHETO O CICV E O DIÁLOGO COM AS FORÇAS POLICIAIS

DETENÇÃO. - Os actos processuais com detidos são urgentes e os prazos correm em férias (art. 80º CPP).

GUIA PARA A CONDUTA E O COMPORTAMENTO DA POLÍCIA SERVIR E PROTEGER FOLHETO

CONVENÇÃO RELATIVA ÀS INFRAÇÕES E A CERTOS OUTROS ATOS COMETIDOS A BORDO DE AERONAVES

OAB 1ª Fase Direitos Humanos Emilly Albuquerque

DIREITOS HUMANOS. Sistema Interamericano de Proteção dos Direitos Humanos: Instituições. Comissão Interamericana de Direitos Humanos - Parte 1.

Mecanismo de monitorização. Convenção do Conselho da Europa relativa à Luta contra o Tráfico de Seres Humanos

11) A população do Quilombo da Cachoeira e da Pedreira é surpreendida com o lançamento do Centro de Lançamento de Foguetes da Cachoeira e da Pedreira

PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS

As pessoas desaparecidas e as suas famílias

TRIBUNAL PENAL INTERNACIONAL

CÓDIGO DE CONDUTA P ARA OS FUNCI ONÁ RIOS RESP ONSÁ VEI S P ELA AP LICAÇÃO DA LEI

O PROCEDIMENTO DE EXTRADIÇÃO NA GUATEMALA

Resolução 53/144 da Assembleia Geral das Nações Unidas, de 9 de dezembro de 1998.

PROTOCOLO OPCIONAL À CONVENÇÃO, SOBRE A ELIMINAÇÃO DE TODAS AS FORMAS DE DISCRIMINAÇÃO CONTRA AS MULHERES

9116/19 JPP/ds JAI.2. Conselho da União Europeia

DIREITO PROCESSUAL PENAL Das Provas

DIREITOS HUMANOS. Sistema Global de Proteção dos Direitos Humanos: Instituições e Mecanismos. Corte Internacional de Justiça. Profª.

DIREITOS HUMANOS. Sistema Global de Proteção dos Direitos Humanos: Instrumentos Normativos. Convenção sobre os Direitos da Criança

MATERIAL DE APOIO - MONITORIA

DIREITOS HUMANOS: SISTEMA INTERNACIONAL DE PROTEÇÃO - ONU. Curso Popular da Defensoria Pública - setembro de 2018

DIREITOS HUMANOS. Sistema Global de Proteção dos Direitos Humanos: Instrumentos Normativos

AMNISTIA INTERNACIONAL

DIREITOS HUMANOS. Direito Internacional dos Direitos Humanos. Direitos Humanos, Direito Humanitário e Direito dos Refugiados Parte 2.

PROPOSTA DE RESOLUÇÃO

Convenção Interamericana para Prevenir e Punir a Tortura (1985)

Conselho de Segurança

DIREITO CONSTITUCIONAL

Organização das Nações Unidas - ONU

Direito Internacional Humanitário (DIH) e Direito Penal Internacional (DPI) Profa. Najla Nassif Palma

AG/RES (XXXVI-O/06) PROMOÇÃO E RESPEITO DO DIREITO INTERNACIONAL HUMANITÁRIO

MINISTÉRIO DAS RELAÇÕES EXTERIORES

DIREITO CONSTITUCIONAL

NOTA PÚBLICA PGR /2019

TRIBUNAL PENAL INTERNACIONAL

DIREITO CONSTITUCIONAL

Direito Internacional Público

DIREITOS HUMANOS. Sistema Global de Proteção dos Direitos Humanos: Instrumentos Normativos

Conselho de Segurança, Corte Internacional de Justiça e o Direito Internacional Público. Projeto Universitários pela Paz- UFRJ e UNIC-ONU

Direito Internacional Público. D. Freire e Almeida

COMISSÃO DE CONSTITUIÇÃO E JUSTIÇA E DE CIDADANIA

SUMÁRIO. 3. TRIBUNAL PENAL INTERNACIONAL 3.1 Introdução 3.2 Competência 3.3 Composição do tribunal 3.4 Órgãos do tribunal

DIREITOS HUMANOS. Direito Internacional dos Direitos Humanos. Direitos Humanos, Direito Humanitário e Direito dos Refugiados. Profª.

APOSTILA ESQUEMATIZADA SOBRE O PROCESSO PENAL INTERNACIONAL-TPI

DECRETO N.º 210/IX REGULA A UTILIZAÇÃO DE CÂMARAS DE VÍDEO PELAS FORÇAS E SERVIÇOS DE SEGURANÇA EM LOCAIS PÚBLICOS DE UTILIZAÇÃO COMUM

O Tribunal Penal Internacional RICARDO RIBEIRO VELLOSO

DIREITO INTERNACIONAL

DIREITOS HUMANOS. Direito Internacional dos Direitos Humanos. Características dos Direitos Humanos Parte 1. Profª. Liz Rodrigues

Tribunal Penal Internacional. Carlos Eduardo Adriano Japiassú

DIREITOS HUMANOS: SISTEMA INTERNACIONAL DE PROTEÇÃO - ONU. Curso Popular da Defensoria Pública - outubro de 2017

DIREITO PENAL. Lei da Interceptação Telefônica. Lei nº 9.296/1996. Prof.ª Maria Cristina.

NOTA DE REPÚDIO AOS PROJETOS DE LEI QUE AUTORIZAM USO DE ARMA DE FOGO POR SOCIOEDUCADORES NO DEGASE

ACORDO ENTRE A REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL E A REPÚBLICA HELÊNICA SOBRE EXTRADIÇÃO

DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO

Estatutos do Comitê Internacional da Cruz Vermelha

Aula 20. Comissão Interamericana de Direitos Humanos. 2. Reconhecimento de outros direitos (art. 31 do Pacto de San José da Costa Rica)

Estudo da Legislação sobre a caução em Malawi, Moçambique e Burundi

OBSERVATÓRIO DOS DIREITOS HUMANOS

Direito Internacional Público Mag. Federal 6ª fase Asilo e Diplomacia

Pontos fundamentais a serem considerados para qualquer proposta de criação de uma Comissão de Verdade no Brasil

COMITÊ INTERAMERICANO CONTRA O TERRORISMO (CICTE)

DIREITO CONSTITUCIONAL

PROPOSTA DE RESOLUÇÃO

DIREITOS HUMANOS. Sistema Global de Proteção dos Direitos Humanos: Instituições e Mecanismos. Assembleia Geral das Nações Unidas. Profª.

TEORIA GERAL DO DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO

ESTATUTO DO ACNUR. RESOLUÇÃO 428 (V) DA ASSEMBLÉIA GERAL DAS NAÇÕES UNIDAS, de 14 de Dezembro de 1950

O PROCEDIMENTO DE EXTRADIÇÃO PARECER

DIREITOS HUMANOS. Organização Internacional do Trabalho. Direito Internacional do Trabalho parte 2. Profª. Liz Rodrigues

Resolução da Assembleia da República n.º 39/98 Convenção sobre a Segurança do Pessoal das Nações Unidas e Pessoal Associado

DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO

TABELA 1 Protocolos do Mercosul

Convenção Contra a Tortura e Outros Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanos ou Degradantes

PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS

Comitê Internacional da Cruz Vermelha: Missão e Desafios Humanitários. Instituto de Relações Internacionais da Universidade de São Paulo

(DO PODER EXECUTIVO) MENSAGEM N SUBSTITUTIVO CAPÍTULO I DAS DISPOSIÇÕES GERAIS

LFG MAPS. INQUÉRITO POLICIAL 08 questões. qualquer diligência, que será realizada, ou não, a juízo da autoridade.

DIREITO PROCESSUAL PENAL

Eduardo e outros-col. Leis Especiais p Conc-v45.indd 13 25/11/ :33:53

SOCIEDADE INTERNACIONAL. SUJEITOS NAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS. PROFA. ME. ÉRICA RIOS

Transcrição:

DIREITOS HUMANOS Sistema Global de Proteção dos Direitos Humanos: Instrumentos Normativos Profª. Liz Rodrigues

- Criada em 2006 e ratificada pelo Brasil em 2007, nos termos da Convenção entende-se por desaparecimento forçado a prisão, a detenção, o sequestro ou qualquer outra forma de privação de liberdade que seja perpetrada por agentes do Estado ou por pessoas ou grupos de pessoas agindo com a autorização, apoio ou aquiescência do Estado, e a subsequente recusa em admitir a privação de liberdade ou a ocultação do destino ou do paradeiro da pessoa desaparecida, privando-a assim da proteção da lei.

- Nenhuma pessoa será submetida ao desaparecimento forçado e nenhuma circunstância excepcional, seja estado de guerra, ameaça de guerra, instabilidade política interna ou qualquer emergência pública pode ser invocada como justificativa para o desaparecimento forçado. - Nenhuma ordem ou instrução poderá ser invocada para justificar um crime de desaparecimento forçado.

- Os Estados signatários devem transformar em crime estas condutas, nos termos de seu direito penal. - A prática generalizada ou sistemática de desaparecimento forçado é um crime contra a humanidade, nos termos do direito internacional, e está sujeita às consequências previstas nas regras internacionais.

- Devem ser responsabilizados (ao menos na esfera penal): a) Toda pessoa que cometa, ordene, solicite ou induza a prática de um desaparecimento forçado, tente praticá-lo, seja cúmplice ou partícipe do ato; b) O superior que: i) Tiver conhecimento de que os subordinados sob sua autoridade e controle efetivos estavam cometendo ou se preparavam para cometer um crime de desaparecimento forçado, ou que tiver conscientemente omitido informação que o indicasse claramente;

ii) Tiver exercido sua responsabilidade e controle efetivos sobre as atividades relacionadas com o crime de desaparecimento forçado; e iii)tiver deixado de tomar todas as medidas necessárias e razoáveis a seu alcance para prevenir ou reprimir a prática de um desaparecimento forçado, ou de levar o assunto ao conhecimento das autoridades competentes para fins de investigação e julgamento.

- Apesar de ser considerado um crime contra a humanidade, quando inserido em um contexto de prática generalizada (e, por ser da competência do TPI, ser imprescritível), o crime de desaparecimento forçado, fora desta circunstância, pode prescrever. Porém: - O prazo prescricional deve ser de longa duração e só pode começar a correr no momento em que cessar o desaparecimento forçado.

- O crime de desaparecimento forçado não é considerado crime político (e nem conexo com político) para fins de extradição. - Os Estados assumem o compromisso de lista-lo entre os crimes passíveis de extradição em todos os tratados que firmarem.

- Nenhum Estado expulsará, devolverá, entregará ou extraditará uma pessoa a outro Estado onde haja razões fundadas para crer que esta pessoa corre o risco de ser vítima de desaparecimento forçado. - Nenhuma pessoa será detida em segredo. O art. 17 prevê vários direitos das pessoas detidas, inclusive o de comunicar-se com seus familiares e advogados.

- Monitoramento: foi criado um Comitê contra Desaparecimentos Forçados, composto por dez peritos de elevado caráter moral e reconhecida competência em matéria de direitos humanos e que atuam a título pessoal. - São eleitos para mandatos de quatro anos e podem ser reeleitos uma vez.

- O Comitê recebe relatórios dos Estados, emite comentários, observações e recomendações, podendo, também, solicitar informações. - Há um procedimento especial previsto na Convenção, que é a possibilidade de o Comitê receber um pedido de busca e localização de uma pessoa desaparecida.

- Este pedido poderá ser submetido ao Comitê, em regime de urgência, por familiares da pessoa desaparecida ou por seus representantes legais, advogado ou qualquer pessoa por eles autorizada, bem como por qualquer outra pessoa detentora de interesse legítimo. - Se o pedido for aceito, o Comitê irá pedir informações ao Estado e, após, poderá transmitir recomendações.

- Estas recomendações podem incluir medidas de natureza cautelar, para localizar e proteger a pessoa, e que informe ao Comitê quais as medidas tomadas, face à urgência da situação. O Comitê manterá o autor da petição informado. - Petições individuais: além do pedido urgente, o Comitê pode ser autorizado (cláusula expressa) a receber e considerar comunicações apresentadas por indivíduos (ou em seu nome) que aleguem ser vítimas de desaparecimento forçado.

- As comunicações interestatais também são possíveis, mas dependem de aceitação expressa dos Estados (art. 32). - Por fim, caso receba informação confiável de que um Estado Parte está incorrendo em grave violação do disposto na presente Convenção, o Comitê poderá, após consulta com o Estado Parte em questão, encarregar um ou vários de seus membros a empreender uma visita a esse Estado e a informá-lo a respeito o mais prontamente possível.

- Caso receba informação que pareça conter indicações bem fundamentadas de que desaparecimentos forçados estão sendo praticados de forma generalizada ou sistemática em território sob a jurisdição de um Estado Parte, o Comitê poderá, após solicitar ao Estado Parte todas as informações relevantes sobre a situação, levar urgentemente o assunto à atenção da Assembleia Geral das Nações Unidas, por intermédio do Secretário-Geral das Nações Unidas.

- O Comitê terá competência somente em relação a desaparecimentos forçados ocorridos após a entrada em vigor da presente Convenção. - Caso um Estado se torne signatário da presente Convenção após sua entrada em vigor, as obrigações desse Estado para com o Comitê se aterão somente a desaparecimentos forçados ocorridos após a entrada em vigor da presente Convenção para o referido Estado.

- A Convenção não afeta as disposições de direito internacional humanitário, incluindo as obrigações das quatro Convenções de Genebra de 1949 e de seus dois Protocolos Adicionais de 1977, nem a possibilidade que qualquer Estado Parte tem de autorizar o Comitê Internacional da Cruz Vermelha a visitar locais de detenção, em situações não previstas pelo direito internacional humanitário.