Gasto Público Federal no Primeiro Semestre: O Grande Salto em 2009

Documentos relacionados
Evolução dos Gastos Federais com Saúde (cresceu depois de extinta a CPMF) 1

Política Fiscal CONSELHO REGIONAL DE ECONOMIA. Consultoria Desenvolvendo soluções, alavancando resultados!

Transferência de renda é a principal marca da gestão Lula

A Evolução Financeira da Previdência Social em 2017 e 2018

18/05/2017. Gasto Público Total no Brasil. Carga Tributária % do PIB. GASTO FISCAL NO BRASIL: crescimento e dilemas

LEI DE DIRETRIZES ORÇAMENTÁRIAS

Nota Técnica Aumento dos Gastos Públicos no Primeiro Trimestre de 2009

LEI DE DIRETRIZES ORÇAMENTÁRIAS

Fóruns Estadão Brasil Compe55vo

LEI DE DIRETRIZES ORÇAMENTÁRIAS

DESPESAS COM PESSOAL E ENCARGOS DA UNIÃO: 1º SEMESTRE DE 2002 VERSUS

Orçamento com a Dívida aumenta R$ 500 bilhões, 37,13% Restante do Orçamento aumenta R$ 81,9 bilhões, 5,11%

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO. ORÇAMENTO Fechamento

FUNDO DE PARTICIPAÇÃO DOS MUNICÍPIOS (FPM)

A EXECUÇÃO DO PAC E SEU EFEITO NA DEMANDA AGREGADA

Gasto Fiscal em 2012: uma rápida análise

-0,09 Indice de setembro 2018 Ìndice de setembro de Índice de agosto de 2018

JF 1 TEM AUMENTO DE 8,51%

Desmistificando o debate fiscal

Conjuntura. Boletim de EMPREGO E SALÁRIOS DO SETOR DE SERVIÇOS SE RECUPERAM NO INÍCIO DE T.1 PIB por setor de atividade, R$ Bilhões

Federação Nacional dos Engenheiros (FNE) Colocar a economia no rumo do crescimento

Conjuntura. Boletim de FATURAMENTO, PIB E EMPREGO NO SERVIÇOS APRESENTARAM EXPANSÃO NO INÍCIO DE T.1 PIB por setor de atividade, R$ Bilhões

Ajuste Fiscal em 2011.

Licença para gastar CORREIO BRAZILIENSE. 07mar16. Rosana Hessel

Mansueto Almeida. Brasília, 19 de fevereiro de 2013

Resultados de março 2017

ANO 1 NÚMERO 09 SETEMBRO 2012 PROFESSORES RESPONSÁVEIS: FLÁVIO RIANI & RICARDO RABELO

Desafios da Política Fiscal

4. POLÍTICA FISCAL E DÍVIDA PÚBLICA

Conjuntura. Boletim de REDUÇÃO DOS JUROS E AUMENTO DA LIQUIDEZ INDICAM PERSPECTIVAS MELHORES PARA PIB por setor de atividade, R$ Bilhões

SINCOR-SP 2017 ABRIL 2017 CARTA DE CONJUNTURA DO SETOR DE SEGUROS

Desafios da Política Fiscal

Crise fiscal: diagnóstico e desafios

Política Fiscal: como vai o pilar dos fundamentos? Geraldo Biasoto

Previdência Social: Diagnóstico e Reforma. Felipe Salto Diretor-Executivo

Um programa de ajuste incompleto

Curso para Jornalistas: Questões Fiscais Vilma da Conceição Pinto* 17 de Março de 2017

É possível acabar com a CPMF em 2008 Paulo Skaf

NOTA TÉCNICA ARRECADAÇÃO FEDERAL DE FEVEREIRO/15: ANTECIPANDO OS NÚMEROS OFICIAIS

SINCOR-SP 2016 SETEMBRO 2016 CARTA DE CONJUNTURA DO SETOR DE SEGUROS

O desempenho dos principais indicadores da economia brasileira em 2008

Os sérios desafios da economia. Econ. Ieda Vasconcelos Reunião CIC/FIEMG Maio/2016

SINCOR-SP 2016 AGOSTO 2016 CARTA DE CONJUNTURA DO SETOR DE SEGUROS

Conjuntura. Boletim de PIB DO SETOR DE SERVIÇOS DEVE CRESCER 0,7% EM 2017 PUXADO POR TI E TRANSPORTES. PIB por setor de atividade, R$ Bilhões 1

BOLETIM ECONOMIA & TECNOLOGIA Informativo do Mês de Junho de 2011

Prefeitura Municipal de Ourolândia publica:

Política Social no Brasil e seus Efeitos sobre a Pobreza e a Desigualdade

31/8 1º a 20/10 22/12. Apresent. e Aprov. do Relatório da Receita. Apresent., Emend. e Aprov. do Relatório Preliminar

CONTABILIDADE PÚBLICA

Projeto de Lei Orçamentária Anual 2015

Fundo de Participação dos Municípios (FPM) e o seu comportamento neste primeiro quadrimestre de 2018

Resultados de maio 2018

JF 1 TEM AUMENTO DE 21,70%

Perspectivas para a Política Fiscal Brasileira

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO. ORÇAMENTO Primeira Revisão

INFLAÇÃO - IPCA ANUAL Em % , , , , , , , , , , ,00*

POLÍTICA FISCAL E GASTOS COM SEGURANÇA PÚBLICA

ILAESE. ANÁLISE ECONÔMICA Janeiro de 2015

SINCOR-SP 2017 MAIO 2017 CARTA DE CONJUNTURA DO SETOR DE SEGUROS

A crise de subfinanciamento das Universidades Estaduais Paulistas

Resultados de setembro

POLÍTICA FISCAL E GASTOS COM SEGURANÇA PÚBLICA

SINCOR-SP 2017 JULHO 2017 CARTA DE CONJUNTURA DO SETOR DE SEGUROS

Investimentos apresentam sinais de recuperação

Debate sobre Política Fiscal no Conselho Federal de Economia (COFECON)

REUNIÃO ENTRE FIESP E BNDES

Congresso de Fundação da Força Sindical do Distrito Federal Mercado de trabalho e negociação coletiva no DF

PEC 241/16: Mitos e Verdades sobre o Ajuste Fiscal

BOLETIM ECONOMIA & TECNOLOGIA Informativo do Mês de Setembro de 2010

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO. ORÇAMENTO Segunda Revisão

Audiência Pública - CAE Situação Fiscal dos Estados Secretaria de Estado da Fazenda

A Evolução da Aposentadoria por Invalidez

Resultados de novembro

Conjuntura econômica fraca persiste no terceiro trimestre. PIB Trimestral em %

BOLETIM ECONOMIA & TECNOLOGIA Informativo do Mês de Março de 2011

SINCOR-SP 2017 JUNHO 2017 CARTA DE CONJUNTURA DO SETOR DE SEGUROS

Qual a Efetividade do Novo Regime Fiscal? Vilma da Conceição Pinto

MINISTÉRIO DA FAZENDA SECRETARIA DO TESOURO NACIONAL

Evolução das Despesas Federais

Contribuição para um debate sobre a estabilidade financeira da UNESP Alvaro de Souza Dutra Conselheiro do CADE e do CEPE

A PEC 241/2016 e a Saúde

FPM - FUNDO DE PARTICIPAÇÃO DOS MUNICÍPIOS 2015

Brazilian Economic Outlook

NOVO REGIME FISCAL: UM BALANÇO

PANORAMA E DESAFIOS PARA A ECONOMIA BRASILEIRA. Bruno Leonardo

Pesquisa Anual da Indústria da Construção. Paic /6/2012

Nova queda do PIB não surpreende mercado

Resultados de outubro

O cenário econômico ainda repleto de incertezas

LEI DE RESPONSABILIDADE FISCAL Audiência Pública. 2º Quadrimestre 2017

PIB brasileiro recua 3,6% em 2016, e país tem pior recessão da história

Boletim de. Recessão avança com diminuição lenta da inflação em 2015 Inflação e desemprego

Taxa de juros e semiestagnação desde 1981

VALOR ECONÔMICO 8/11/2011

PEC n 241. o novo regime fiscal e seus possíveis impactos SINDPD - RJ

Prefeitura Municipal de Mira Estrela

Julho de 2013 Deterioração da conjuntura leva a nova revisão da taxa de crescimento para 2013 Gráfico 1 Componentes do IPCA,

PROJETO DE LEI Nº 0101/2018

SINCOR-SP 2017 AGOSTO 2017 CARTA DE CONJUNTURA DO SETOR DE SEGUROS

Transcrição:

1 Nota Técnica 22/07/2009 Gasto Público Federal no Primeiro Semestre: O Grande Salto em 2009 José Roberto R. Afonso Gabriel G. Junqueira EXECUÇÃO DO ORÇAMENTO DA UNIÃO NO PRIMEIRO SEMESTRE - EM % DO PIB Valores Pagos 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2003/08 Pessoal 4,64% 4,32% 4,35% 4,73% 4,81% 4,74% 5,53% 4,60% Outras Correntes 12,89% 13,14% 14,00% 14,67% 15,01% 15,05% 16,96% 14,13% Investimentos 0,20% 0,29% 0,27% 0,46% 0,51% 0,67% 0,77% 0,40% Gasto NãoFinanceiro 17,73% 17,75% 18,62% 19,87% 20,32% 20,45% 23,26% 19,12% Investimento/Somatório 1% 2% 1% 2% 2% 3% 3% 2% Fonte primária: SIAFI. Extração pelo Contas Abertas. Valores pagos de dotações do orçamento do mesmo exercício financeiro mais restos pagos de exercícios anteriores. Gasto não-financeiro exclui pagamentos de despesas com serviço da dívida e inversões financeiras. Média para 2003/2008. Em 2009, PIB até maio do BACEN; estimado junho com mesma variação entre maio. 25% 23,26% 20% 18,62% 19,87% 20,32% 20,46% 17,73% 17,75% 15% 10% 5% 0% 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 Pessoal Outras Correntes Investimentos

2 Síntese Desde o primeiro semestre do Governo Lula, nunca os pagamentos de gastos fiscais (excluído os financeiros) foram tão altos como no início de 2009: 23,3% do PIB contra 19,1% na média entre 2003/08. O salto foi de 4,1 pontos do PIB, dos quais 91% explicados por aumento de gastos correntes (ou 97% se comparado só com 2008). Os investimentos continuam sem prioridade para fins de expansão do gasto: ainda que o valor pago de 0,8% do PIB no primeiro semestre de 2009 seja a melhor marca no período desde o início do Governo Lula, representam tão somente 3% do total desembolsado com salários e compra de bens e serviços no semestre. COMPOSIÇÃO DOS PAGAMENTOS DE GASTO NÃO-FINANCEIRO DA UNIÃO NO PRIMEIRO SEMESTRE DE 2009: R$ 337 BILHÕES 3,31% 23,78% Pessoal Outras Correntes Investimentos 72,91% Mesmo depois da crise, a situação pouco mudou: entre a primeira metade de 2008 e a de 2009, os valores pagos com investimentos subiram irrisórios 0,1% do PIB (ou R$ 1,3 bilhões) enquanto o incremento dos gastos com pessoal subiu em 0,8% do PIB (ou R$ 10,5 bilhões), ou seja, o gasto com funcionalismo se acelerou oito vezes mais do que com obras. O tamanho e a evolução do gasto público federal no primeiro semestre de 2009 representam uma clara mudança na política fiscal. É inegável que diante da crise

3 financeira global, o governo federal brasileiro, a exemplo de qualquer outro governo no mundo, precisou mudar sua política e adotou medidas fiscais de estímulo da economia, reduzindo impostos e/ou ampliando gastos. EM % DO PIB VARIAÇÃO Valores Pagos 2009-2008 2009-2003/08 Pessoal 0,80% 0,93% Outras Correntes 1,91% 2,83% Investimentos 0,10% 0,37% Gasto NãoFinanceiro 2,81% 4,14% Investimento/Somatório 3% 9% O que pode ser altamente questionável é a tese de que tal salto no gasto público se justifica como política anticíclica. Primeiro, os investimentos continuam irrelevantes (3%) na estrutura de gasto e até desaceleraram ao observar quanto explicam do aumento de gasto de 2009 para a média 2003/08 (0.4% do PIB) e em relação a 2008 (0.1% do PIB). Segundo, o expressivo aumento de despesas correntes reflete em grande parte decisões tomadas muito antes de irromper a crise como é o caso típico da criação de novos órgãos e cargos e a contratação de novos servidores e os seus reajustes salariais. Terceiro, mesmo o louvável aumento de gastos sociais, como compreende menos programas e muito mais benefícios, desde aposentadorias até bolsa-família, tem uma boa parte do aumento explicado por uma forma de indexação de reajustes calibrados pela inflação e expansão da economia. Vale apresentar e analisar com calma os resultados. *** Análise Detalhada A crise financeira global gerou recessão e desemprego em grande parte do mundo. O Brasil não foi exceção, tendo seu ritmo de crescimento econômico significativamente reduzido pela desalavancagem da economia mundial bancos, empresas e famílias. Nesse contexto, os governos aparecem como os únicos agentes econômicos capazes de implementar medidas eficazes no combate aos problemas gerados pela crise.

4 Nesse sentido, as diversas correntes teóricas tendem a convergir quando o tema é definir quais as melhores políticas econômicas para enfrentar a insuficiência de demanda: dada a ineficácia momentânea da política monetária, recai sobre a política fiscal o papel de estimular a recuperação. Os teóricos também não divergem significativamente no debate acerca do tipo de gasto mais eficaz para tanto: o investimento, especialmente aqueles destinados à infraestrutura. Ocorre que os momentos de crise são justamente aqueles nos quais a capacidade de gasto dos governos é mais afetada. No Brasil, a receita tributária registrou perdas mais do que proporcionais à queda do PIB (especialmente na União), diminuindo os recursos disponíveis para os governos quando eles mais precisam fomentar a demanda agregada. Diante dessa constatação, cabe questionar a respeito do comportamento dos governos frente a esse fenômeno: cortaram gastos? Expandiram? Quais tipos de gasto: correntes ou investimentos? Respondendo a essas perguntas, é possível ter indicações das principais características da política anticíclica dos governos. Para responder a algumas dessas questões, é fundamental analisar a execução do orçamento no primeiro semestre de 2009 e compará-la com o mesmo período de anos anteriores, quando a crise não havia atingido a economia brasileira. Uma vez que os governos subnacionais têm espaço muito reduzido para adotar políticas fiscais anticíclicas (em função dos acordos de rolagem das dívidas com o Tesouro Nacional), essa nota técnica se restringe à análise do comportamento dos gastos do governo federal. O foco foi na execução orçamentária da União no primeiro semestre. Os dados foram extraídos do sistema oficial de administração financeira, o SIAFI, por intermédio de tabulações especiais gentilmente cedidas pela ONG Contas Abertas. A nossa elaboração foi converter em preços constantes do primeiro semestre de 2009 (adotado o IPCA como deflator) e também em proporção do PIB semestral (foi adotada a série mensal do PIB divulgada pelo Banco Central até maio de 2009, que, por sua vez, equivale a do IBGE até o primeiro trimestre deste ano; para junho último foi suposto que sua variação nominal em relação a junho do ano passado foi igual a estimada entre maio dos dois anos pelo Banco Central). Sobre a abrangência, as tabulações básicas (como as de 2009 e 2008 reproduzida ao final) levantaram a execução por grupo de natureza de despesa (GND). Foram

5 excluídas aquelas relativas aos juros e encargos da dívida, entre as correntes, e à amortizações da dívida e inversões financeiras, entre as de capital. A idéia é analisar os gastos primários, que tem impacto sobre a demanda, seja na forma de salários e benefícios, de compra de bens e serviços, de custeio, ou de formação de capital. Afinal, o foco das atenções é o impacto do governo na geração de demanda. Também as atenções foram concentradas em três variáveis da execução: a despesa executada; os valores pagos (tanto do orçado no ano, quanto de restos dos anos anteriores); e o total de restos a pagar acumulados ao final do semestre. Para resumir, as principais conclusões, como antecipado no início desta nota, foram concentradas no total dos pagamentos realizados. À parte, vale chamar a atenção que o grupo de outras despesas correntes inclui os benefícios da previdência social, que apresenta discrepâncias em relação à apuração do resultado primário divulgado pelo Tesouro Nacional (que é um levantamento de caráter gerencial). Em audiência no Senado, o próprio Ministro da Fazenda confessou que a contabilidade não refletia adequadamente os pagamentos que foram efetuados em dia, o que foi objeto de noticiário recente. De qualquer forma, o SIAFI é um sistema gerido pelo próprio Tesouro e suas informações têm caráter oficial, afinal são elas que alimentam os balanços e relatórios assinados pelas autoridades federais e submetidos formalmente ao controle externo. Logo, se optou por mantê-lo como fonte primária desta análise. As tabulações da série são reproduzidas ao final desta nota. Para fins de análise, destacamos aquelas que mostram variações mais recentes em valores constantes e como proporção do PIB. É interessante comparar os dois gastos correntes básicos (pessoal e outros) vis-avis os investimentos fixos ou seja, não são computados os gastos ditos financeiros (juros, amortização, inversões). O dado mais relevante a ser analisado é o referente ao total de pagamentos (o que foi contratado no ano somado aos restos do passado). Entre o primeiro semestre de 2008 e de 2009, os investimentos cresceram 12,79% em termos reais, o que significou um aumento de 0,67 para 0,77% do PIB ou seja, apesar da crise e da dita política anticíclica, além da prioridade do PAC, os gastos federais com obras no país cresceram em apenas 0,1 pontos do produto. Apesar de ser o melhor primeiro semestre desde o início do Governo Lula, o resultado é pífio pela magnitude em si, assim como na comparação com outros gastos públicos.

6 O gasto não-financeiro do governo federal cresceu em 2,8 pontos do PIB no mesmo período saltara de 21,2% para 23,2% do PIB. Num ano em que o PIB pode fechar com variação nula, numa previsão otimista, o gasto federal não-financeiro pode fechar com expansão de 12%, se o segundo for igual ao primeiro semestre. É uma expansão demasiado acelerada. Porém, pior que quantidade, é a qualidade desse gasto. Gastos não-financeiros da União, 1º semestre de 2009 x 2008 (deflacionado pelo IPCA médio do período) Var 2009x2008 Grupo de Despesa em R$ bi em % em % do PIB PESSOAL E ENCARGOS SOCIAIS (1) 10,5 15,00% 0,80% OUTRAS DESPESAS CORRENTES (2) 24,3 10,96% 1,91% GASTO CORRENTE = (1) + (2) 34,7 11,93% 2,71% INVESTIMENTOS (3) 1,3 12,79% 0,10% GASTOS NÃO-FINANCEIROS = 1 + 2 + 3 36,0 11,95% 2,81% Fonte: elaboração própria com base em levantamento do Contas Abertas no SIAFI O tão desejado aumento dos investimentos explicou irrisórios 3% do aumento total do gasto federal não-financeiro no primeiro semestre. Por dedução, 97% do aumento de gasto é permanente. Os pagamentos relativos a folha salarial cresceram 15%, o que significou um aumento de 0,8% do PIB. Já as outras despesas correntes, incluindo os benefícios da previdência social, mesmo crescendo 11%, deram um salto de 1,9% do PIB. A comparação entre os pagamentos de gastos em 2009 e em 2003 dá cores ainda mais fortes à expansão do orçamento federal: no primeiro semestre deste ano, o gasto não-financeiro foi R$ 140 bilhões superior ao realizado seis anos antes, já descontada a inflação. Isto significou um aumento acumulado de 71% ou, em termos médios geométricos, um incremento de 9.4% ao ano, muito superior à expansão da economia. Isto ocasionou um crescimento de 5,5 pontos do PIB. No médio prazo, a expansão dos investimentos até foi mais expressiva, porém, isso explicado porque no primeiro semestre de 2003 tais gastos tinham sido quase inteiramente paralisados: foram de apenas 0,2% do PIB. Se subiram bastante, para 0,77% do PIB na primeira metade deste ano, por outro lado, esse incremento mal

7 explica 10% do aumento do gasto federal no período. Ou seja, a aceleração dos gastos correntes foi muito maior do que o de obras. Gastos não-financeiros da União, 1º semestre de 2009 x 2003 (deflacionado pelo IPCA médio do período) VALORES PAGOS Var 2009x2008 Grupo de Despesa em R$ bi em % em R$ bi em % em % ao ano (média geom) PESSOAL E ENCARGOS SOCIAIS (1) 10,5 15,0% 28,7 55,7% 7,7% OUTRAS DESPESAS CORRENTES (2) 24,3 11,0% 102,6 71,7% 9,4% GASTO CORRENTE = (1) + (2) 34,7 11,9% 131,2 67,4% 9,0% INVESTIMENTOS (3) 1,3 12,8% 8,9 405,7% 31,0% GASTOS NÃO-FINANCEIROS (4= 1+2+3) 36,0 12,0% 140,2 71,2% 9,4% INVESTIMENTOS EM % DA SOMA (3/4) 3,5% 6,4% Var 2009x2003 VALORES PAGOS Var 2009-2008 Var 2009-2003 Grupo de Despesa em % do PIB em % do PIB PESSOAL E ENCARGOS SOCIAIS (1) 0,80% 0,89% OUTRAS DESPESAS CORRENTES (2) 1,91% 4,07% GASTO CORRENTE = (1) + (2) 2,71% 4,96% INVESTIMENTOS (3) 0,10% 0,57% GASTOS NÃO-FINANCEIROS = 1 + 2 + 3 2,81% 5,53% Uma última observação se refere ao volume de despesas executadas e aos restos a pagar acumulados. A diferença entre os valores executados e os pagos (sempre maiores) é sempre mais relevante no primeiro do que no segundo semestre pois retratam as contas a pagar contratadas no exercício anterior, ou mesmo nos exercícios mais antigos. De qualquer forma, no caso dos grupos de despesas correntes, os valores pagos superam os executados por uma pequena margem e, no caso de pessoal, quase nada resta por pagar em junho. O diferencial entre executado x pago x restos abre muito no caso de investimentos refletindo uma prática orçamentária no qual a exceção virou a regra. Se já se investe pouco, os valores empenhados no início do ano se aproximam da nulidade de modo que a maior parte dos pagamentos é de investimentos incluídos em orçamentos do ano anterior, ou de anos anteriores, que ficaram pendentes de contratação e execução. Em 2008, por exemplo, o montante de investimentos incluídos no

8 orçamento e empenhados na primeira metade do ano foi de apenas 0,07% do PIB; como foram pagos 0,67% do produto nesse período, se deduz que 0,6% se referiam aos restos pagos. Para 2009, pela primeira vez no governo Lula, houve uma aceleração nos empenhos e a despesa executada chegou a 0,18% do PIB, porém, continua sendo um valor tão baixo que não chega a 1% do total de gastos não-financeiros executados no período. Na verdade, para fins de induzir o aumento da demanda por investimentos na economia, acelerar a execução do governo é muito diferente e mais relevante do que aumentar os pagamentos pois estes últimos, na prática federal recorrente, estão refletindo decisões de gastos tomadas no passado, antes da crise. O volume de restos a pagar em investimentos é impressionantemente elevado, a ponto de que o seu tamanho ao final de junho supera o total pago no primeiro semestre em todos os anos do governo Lula. Em 2009, por exemplo, mesmo sendo o melhor início de ano para fins de valor pago, com R$ 11,1 bilhões correntes, ainda restaram no final do período R$ 30 bilhões. Ou seja, entre algumas obras por executar e muitas por pagar, o governo federal tinha uma conta em aberto 2,7 vezes superior aos correspondentes pagamentos realizados nesse semestre. O enorme diferencial entre executar, pagar e dever, além de constituir uma aberração em termos das instituições orçamentárias, é mais uma medida da falta de prioridade e, em especial, da incapacidade gerencial para a realização dos investimentos públicos em patamar mais próximo ao das demais economias emergentes (afinal, o Brasil aparece em penúltimo lugar em ranking com mais de uma centena de países elaborado com base em estatísticas que cada um reporta ao FMI sobre sua taxa de investimento governamental). Em conclusão, é importante discernir ações fiscais de combate a crise, que devem ser emergenciais e temporárias, daquelas que refletem uma atuação estrutural do governo, que por terem um caráter permanente, exigem uma visão estratégica de médio e longo prazo. O incremento dos investimentos públicos é tido como o remédio mais recomendado pela teoria e pela experiência internacional para combater os males da crise financeira global. A despeito da anunciada prioridade para acelerar investimentos, o cenário do orçamento federal pouco mudou depois da crise financeira global subiu muito a taxa de incremento desses gastos, porém, no mesmo ritmo que subiram os gastos correntes e, o mais importante, tomaram por partida uma base demasiada

9 reduzida. O resultado é que os investimentos continuam representando uma parcela irrisória no orçamento federal. A contrapartida, esta sim mais preocupante, é que tal gasto público deu um salto expressivo no primeiro semestre de 2009 e em sua maior parte representado por despesas de caráter fixo ou permanentes como é o caso da folha salarial e dos benefícios previdenciários e assistenciais. Ora, se a receita não subir em ritmo semelhante depois de atenuada a crise, o desequilíbrio fiscal e financeiro será evidente. A preocupação imediata é que, apesar da produção econômica apresentar cada vez mais sinais de que o pior já passou, a arrecadação tributária federal parece estacionada num patamar bem mais reduzido do que a diminuição do ritmo da economia. ------------------------------------- Vide a seguir tabulações para análise ano a ano, inclusive as primárias.

10 em R$ bilhões correntes Grupo de Despesa 2003 2004 2005 2006 PESSOAL E ENCARGOS SOCIAIS (1) 37,3 37,6 0,2 40,3 40,3 0,3 47,3 44,9 0,6 53,1 53,4 0,4 OUTRAS DESPESAS CORRENTES (2) 101,5 104,5 3,4 118,9 122,7 6,6 142,0 144,5 5,0 157,2 165,5 7,0 GASTO CORRENTE = (1) + (2) 138,8 142,1 3,6 159,2 163,0 7,0 189,3 189,4 5,6 210,3 218,9 7,4 INVESTIMENTOS (3) 0,3 1,6 3,4 0,7 2,7 3,1 0,8 2,8 4,4 0,7 5,2 8,5 GASTOS NÃO-FINANCEIROS = 1 + 2 + 3 139,1 143,7 7,0 159,9 165,7 10,0 190,0 192,2 10,0 211,0 224,1 15,8 Inflator IPCA 1,37 1,369791 1,37 1,29 1,290767 1,29 1,20 1,199384 1,20 1,14 1,14334 1,14 em R$ bilhões constantes (IPCA médio - 1o sem/09) Grupo de Despesa 2003 2004 2005 2003 2004 PESSOAL E ENCARGOS SOCIAIS (1) 51,0 51,5 0,3 52,1 52,0 0,4 56,8 53,8 0,7 60,7 61,1 0,5 OUTRAS DESPESAS CORRENTES (2) 139,0 143,1 4,6 153,4 158,3 8,6 170,3 173,3 6,0 179,7 189,2 8,0 GASTO CORRENTE = (1) + (2) 190,1 194,6 4,9 205,5 210,4 9,0 227,0 227,1 6,7 240,4 250,3 8,4 INVESTIMENTOS (3) 0,4 2,2 4,7 0,9 3,5 3,9 0,9 3,4 5,3 0,8 5,9 9,7 GASTOS NÃO-FINANCEIROS = 1 + 2 + 3 190,5 196,8 9,6 206,4 213,9 13,0 227,9 230,5 12,0 241,3 256,2 18,1 2006 2005 2006 em % do PIB PIB 810,62 810,62 810,62 933,78 933,78 933,78 1.031,78 1.031,78 1.031,78 1.127,84 1.127,84 1.127,84 Grupo de Despesa 2003 2004 2005 2006 2003 2004 2005 2006 PESSOAL E ENCARGOS SOCIAIS (1) 4,60% 4,64% 0,03% 4,32% 4,32% 0,04% 4,59% 4,35% 0,06% 4,71% 4,73% 0,04% OUTRAS DESPESAS CORRENTES (2) 12,52% 12,89% 0,42% 12,73% 13,14% 0,71% 13,76% 14,00% 0,48% 13,94% 14,67% 0,62% GASTO CORRENTE = (1) + (2) 17,12% 17,53% 0,44% 17,05% 17,45% 0,75% 18,35% 18,35% 0,54% 18,64% 19,41% 0,65% INVESTIMENTOS (3) 0,04% 0,20% 0,42% 0,07% 0,29% 0,33% 0,07% 0,27% 0,43% 0,06% 0,46% 0,75% GASTOS NÃO-FINANCEIROS = 1 + 2 + 3 17,16% 17,73% 0,87% 17,12% 17,75% 1,08% 18,42% 18,62% 0,97% 18,71% 19,87% 1,40%

11 em R$ bilhões correntes Grupo de Despesa 2006 2007 ATÉ A ATÉ A ATÉ ATÉ A PESSOAL E ENCARGOS SOCIAIS (1) 53,1 53,4 0,4 60,6 60,4 0,5 66,5 66,1 1,2 79,7 80,2 1,4 OUTRAS DESPESAS CORRENTES (2) 157,2 165,5 7,0 178,1 188,4 5,7 202,8 209,9 13,7 225,3 245,7 16,1 GASTO CORRENTE = (1) + (2) 210,3 218,9 7,4 238,6 248,8 6,2 269,4 276,0 14,9 305,0 325,8 17,4 INVESTIMENTOS (3) 0,7 5,2 8,5 1,3 6,4 11,0 1,0 9,4 21,6 2,6 11,2 30,1 GASTOS NÃO-FINANCEIROS = 1 + 2 + 3 211,0 224,1 15,8 239,9 255,2 17,2 270,4 285,4 36,6 307,6 337,0 47,5 2008 2009 Inflator IPCA 1,14 1,143339964 1,14 1,11 1,108545189 1,11 1,05 1,054798097 1,05 1,00 1 1,00 em R$ bilhões constantes (IPCA médio - 1o sem/09) Grupo de Despesa 2006 2007 2008 2006 2007 2008 ATÉ A ATÉ A ATÉ ATÉ A PESSOAL E ENCARGOS SOCIAIS (1 60,7 61,1 0,5 67,1 66,9 0,6 70,2 69,7 1,3 79,7 80,2 1,4 OUTRAS DESPESAS CORRENTES (2 179,7 189,2 8,0 197,4 208,9 6,3 214,0 221,4 14,5 225,3 245,7 16,1 GASTO CORRENTE = (1) + (2) 240,4 250,3 8,4 264,5 275,8 6,9 284,1 291,1 15,7 305,0 325,8 17,4 INVESTIMENTOS (3) 0,8 5,9 9,7 1,4 7,1 12,2 1,0 9,9 22,8 2,6 11,2 30,1 GASTOS NÃO-FINANCEIROS = 1 + 2 + 3 241,3 256,2 18,1 265,9 282,9 19,1 285,2 301,0 38,6 307,6 337,0 47,5 2009 2009 em % do PIB PIB 1.127,84 1.127,84 1.127,84 1.255,58 1.255,58 1.255,58 1.395,23 1.395,23 1.395,23 1.448,88 1.448,88 1.448,88 Grupo de Despesa 2006 2007 2008 2009 2006 2007 ATÉ A ATÉ A ATÉ 2008 2009 ATÉ PESSOAL E ENCARGOS SOCIAIS (1) 4,71% 4,73% 0,04% 4,82% 4,81% 0,04% 4,77% 4,74% 0,09% 5,50% 5,53% 0,09% OUTRAS DESPESAS CORRENTES (2) 13,94% 14,67% 0,62% 14,18% 15,01% 0,45% 14,54% 15,05% 0,98% 15,55% 16,96% 1,11% A GASTO CORRENTE = (1) + (2) 18,64% 19,41% 0,65% 19,01% 19,82% 0,49% 19,31% 19,78% 1,07% 21,05% 22,49% 1,20% INVESTIMENTOS (3) 0,06% 0,46% 0,75% 0,10% 0,51% 0,87% 0,07% 0,67% 1,55% 0,18% 0,77% 2,07% GASTOS NÃO-FINANCEIROS = 1 + 2 + 3 18,71% 19,87% 1,40% 19,11% 20,32% 1,37% 19,38% 20,45% 2,62% 21,23% 23,26% 3,28% Fonte primária: SIAFI. Extração pelo Contas Abertas. Gasto não-financeiro exclui pagamentos de despesas com serviço da dívida e inversões financeiras. Média para 2003/2008. Em 2009, PIB até maio do BACEN; estimado junho com mesma variação entre maio.

12 Dotação Autorizada,Empenhos Emitidos, Despesa Executada, Valores Pagos Tipo de Valor Saldo Atual Orçamento Fiscal e de Seguridade Social S Mês de Referência JUNHO Exercício: 2009 Base: 30-JUN-2009 Moeda: REAL (Em unidade monetária) Item de Informação Grupo de Despesa Dotação Atualizada Empenhadas Valores Pagos RP PAGO EM A 2009-1 PESSOAL E ENCARGOS SOCIAIS 168.856.808.350,00 81.360.320.282,43 79.687.338.040,58 79.430.403.619,09 720.508.986,77 80.150.912.605,86 1.370.672.204,47 2 JUROS E ENCARGOS DA DIVIDA 124.710.971.425,00 120.802.978.080,81 54.901.821.206,82 54.901.340.278,81 26.176.397,74 54.927.516.676,55 25.242.139,83 3 OUTRAS DESPESAS CORRENTES 543.822.992.976,00 472.208.273.628,12 225.309.077.485,42 224.692.159.247,83 20.995.273.619,16 245.687.432.866,99 16.051.893.428,89 4 INVESTIMENTOS 50.468.587.705,00 14.300.649.489,08 2.624.836.050,71 2.420.107.719,89 8.730.847.398,96 11.150.955.118,85 30.053.832.277,74 5 INVERSOES FINANCEIRAS 42.043.078.558,00 25.941.399.822,50 10.877.587.810,99 10.438.951.197,99 1.178.078.146,32 11.617.029.344,31 3.358.672.313,04 6 AMORTIZACAO/REFINANCIAMENTO DA DIVIDA 631.677.751.800,00 601.743.871.736,82 220.955.762.436,08 220.948.102.767,08 45.091.294,01 220.993.194.061,09 226.907.643,74 9 RESERVA DE CONTINGENCIA 25.104.783.174,00 0,00 0,00 0,00 TOTAL 1.586.684.973.988,00 1.316.357.493.039,76 594.356.423.030,60 592.831.064.830,69 31.695.975.842,96 624.527.040.673,65 51.087.220.007,71 Dotação Autorizada,Empenhos Emitidos, Despesa Executada, Valores Pagos Tipo de Valor Saldo Atual Orçamento Fiscal e de Seguridade Social S Mês de Referência JUNHO Exercício: 2008 Base: 03-FEV-2009 Moeda: REAL (Em unidade monetária) Item de Informação Grupo de Despesa Dotação Atualizada Empenhadas Valores Pagos RP PAGOS Proc Não Proc EM A 2008 1 PESSOAL E ENCARGOS SOCIAIS 145.200.546.818,00 68.042.114.580,95 66.537.326.928,62 65.439.994.796,82 637.111.548,94 66.077.106.345,76 1.194.059.656,10 2 JUROS E ENCARGOS DA DIVIDA 152.219.855.114,00 143.373.686.497,25 59.876.290.704,36 59.876.290.704,37 25.956.039,55 59.902.246.743,92 1.405.873,42 3 OUTRAS DESPESAS CORRENTES 470.749.032.705,00 389.095.533.629,23 202.835.185.493,69 202.117.674.737,11 7.799.298.038,12 209.916.972.775,23 13.716.094.923,01 4 INVESTIMENTOS 40.188.673.762,00 11.407.576.041,92 978.515.202,85 846.661.521,12 8.526.499.272,52 9.373.160.793,64 21.642.064.083,70 5 INVERSOES FINANCEIRAS 50.358.137.007,00 34.122.481.725,31 22.677.187.898,46 22.668.661.194,45 1.447.383.230,72 24.116.044.425,17 2.919.491.374,85 6 AMORTIZACAO/REFINANCIAMENTO DA DIVIDA 504.520.152.190,00 482.619.917.805,05 220.593.742.268,74 220.591.765.721,99 34.048.179,34 220.625.813.901,33 2.665.816,25 9 RESERVA DE CONTINGENCIA 22.732.518.752,00 0,00 0,00 0,00 13.922,87 TOTAL 1.385.968.916.348,00 1.128.661.310.279,71 573.498.248.496,72 571.541.048.675,86 18.470.296.309,19 590.011.344.985,05 39.475.795.650,20

13