PARECER Nº, DE 2011 Da COMISSÃO DE ASSUNTOS ECONÔMICOS, sobre o Projeto de Lei do Senado nº 641, de 2007, que "acrescenta artigo à Lei nº 10.820, de 17 de dezembro de 2003, que dispõe sobre a autorização para desconto de prestações em folha de pagamento, e dá outras providências. " RELATOR: Senador GIM ARGELLO I RELATÓRIO Em exame nesta Comissão, o Projeto de Lei do Senado nº 641, de 2007, de autoria do Senador PEDRO SIMON, que "acrescenta artigo à Lei nº 10.820, de 17 de dezembro de 2003, 'que dispõe sobre a autorização para desconto de prestações em folha de pagamento, e dá outras providências.'" O art. 1º do Projeto de Lei em comento visa acrescentar o seguinte artigo 7-A à citada Lei nº 10.820, de 2003: Art. 7º-A. A autorização para a retenção de valores nas contas de benefícios pagos pelo INSS ou o desconto em folha de pagamento dos valores referentes ao pagamento de empréstimos, financiamentos e operações de arrendamento mercantil concedidos por instituições financeiras e sociedades de arrendamento mercantil, de que trata esta Lei, será formalizada mediante contrato específico e determinado para esse fim, exigida a presença do tomador, para a assinatura e a entrega dos documentos requisitados. O artigo 2º do Projeto dispõe sobre a cláusula de vigência. Na justificação, o autor argumenta que a proposição visa atender a demanda de "empregados ou beneficiários do INSS, contratantes de empréstimos consignados, com desconto em folha de pagamento..., que vêm sendo levados a equívocos ou iludidos pelas facilidades e ofertas de obtenção
2 de crédito". As ofertas, feitas por meios indiretos de comunicação, como a comunicação eletrônica e telemarketing, não raro impõem contratos sem a devida reflexão e atenção do tomador, gerando-lhe compromissos diversos do pretendido. Distribuído inicialmente à Comissão de Assuntos Sociais, a proposição foi aprovada em 18 de março de 2009, sem modificações, nos termos do Parecer oferecido pelo Relator, Senador ALDEMIR SANTANA. Cabe, agora, à Comissão de Assuntos Econômicos, a deliberação sobre a matéria, em decisão terminativa. II ANÁLISE No prazo regimental não foram apresentadas emendas. A Constituição Federal estabelece competência ao Congresso Nacional para dispor sobre todas as matérias de competência da União, especialmente sobre matéria financeira, cambial e monetária, instituições financeiras e suas operações, consoante disposto no art. 48, inciso XIII, da Lei Maior. O projeto de lei versa sobre matéria ordinária não incluída entre aquelas cuja iniciativa é reservada a outras instâncias dos Poderes. A esta Comissão cabe opinar sobre aspecto econômico e financeiro das matérias que lhes são submetidas, conforme art. 99, inciso I, do Regimento Interno do Senado Federal. Depreende-se que o projeto em comento não apresenta óbices de natureza constitucional ou regimental, nem injuridicidade. Quanto ao mérito, cabe observar, inicialmente, que o crédito consignado é um tipo de operação realizada pelas instituições financeiras, no âmbito do crédito pessoal. Nesta categoria, enquadra-se o crédito consignado em geral, especialmente o consignado em folha de pagamento. A modalidade registra trajetória expansionista, refletindo as condições mais favoráveis de renda e emprego, a ampliação da oferta e redução de custo, assim como o arcabouço legal e regulamentar instituído a partir de 2003.
3 Em 17 de setembro de 2003, o Presidente da República editou a Medida Provisória nº 130, dispondo sobre as operações de crédito em consignação. A MP foi transformada na Lei nº 10.820, de 2003, beneficiando especialmente os trabalhadores sob o regime da CLT, na medida em que essa modalidade de operação de crédito permite o desconto das parcelas relativas a empréstimos, financiamentos e operações de leasing na folha de pagamento dos empregados. Esta Lei beneficiou, também, os aposentados, ao permitir que o pagamento de empréstimos e financiamentos pudesse ser feito mediante o desconto autorizado de benefícios previdenciários, consoante a redação que deu ao inciso VI do art. 115 da Lei nº 8.213, de 24 de julho de 1991. Como se sabe, as operações de crédito consignado preexistiam à Medida Provisória, mas eram restritas a funcionários públicos. De outro lado, os bancos também realizavam empréstimos similares aos consignados aos trabalhadores cujos salários eram depositados em contas correntes da instituição financeira cedente e cujas prestações eram descontadas na data do recebimento do salário. Depreende-se que a providência adotada ampliou o mercado, pois, assegurou "a possibilidade de celebração de acordos entre instituições financeiras e empresas e/ou entidades sindicais, com o estabelecimento de parâmetros financeiros e condições gerais aplicáveis aos empregados. Assim, diversas instituições financeiras firmaram acordos com as principais centrais sindicais, no sentido de viabilizar esses empréstimos para grande quantidade de trabalhadores." Importa ressaltar que, no bojo da política de ampliação do volume de crédito disponível na economia, com a política adotada para o segmento de crédito para pessoas físicas - especialmente na modalidade de empréstimos consignados em folha de pagamento - foram criadas condições para que as taxas de juros efetivas a serem pagas pelos tomadores fossem reduzidas. Isto ocorre porque, com a responsabilização do empregado e empregador na operação, reduz-se o risco de inadimplência e, assim, o spread bancário. Por outro lado, as medidas permitiram a substituição de dívidas, até então assumidas sob a forma de cheque especial e de crédito pessoal, por exemplo, por empréstimos consignados em folha. Como se sabe, nesse segmento, o limite máximo de comprometimento com pagamento do empréstimo é de 30% do valor do
4 beneficio pago pela Previdência. Por outro lado, o Conselho Nacional de Previdência Social (CNPS) estabelece o teto para a taxa de juros a ser cobradas pelas instituições financeiras conveniadas, vedadas a cobrança de taxa de abertura de crédito e a venda "casada" de serviços bancários (seguros, cartões de crédito, etc.). Estabeleceu-se, assim, o sistema de concorrência entre as instituições financeiras, no qual a taxa de juros nominal coincide com a efetiva. As taxas de juros máximas, fixadas pelo CNPS, acompanham a trajetória da taxa básica de juros (Selic) determinada pelo Copom, registrando, assim, trajetória projetada pela autoridade monetária. O Ministério da Previdência Social fornece a relação das instituições financeiras credenciadas pelo INSS, assim como as taxas de juros por elas cobradas dos tomadores, em função do prazo de retorno dos empréstimos que pode estender-se até 60 meses. Para evitar fraudes e outras distorções similares, medidas normativas de segurança foram adotadas nos últimos anos. A propósito do Projeto sob exame, vale enfatizar que o art. 6º da citada Lei nº 10.820, de 2003, foi alterado pela Lei nº 10.953, de 2004, de modo a deixar claro que os titulares de benefícios de aposentadoria e pensões do Regime Geral de Previdência Social poderão autorizar a retenção de valores relativos a amortização de empréstimos, financiamentos e arrendamento mercantil, realizados com a instituição financeira onde recebam seus benefícios observadas as normas editadas em ato próprio pelo INSS. (cf. art. 6º, in fine, e 1º, da citada Lei n 10.820, de 2003, com a redação dada pela Lei 10.953, de 2004). Por outro lado, o art. 115 da Lei nº 8.213, de 1991, com a redação que lhe foi dada pela citada Lei nº 10.820, de 2003, exige a autorização expressa do beneficiário para que haja desconto de até 30% do valor de seus benefícios. O disposto no 1 do citado art. 6 elenca o rol de medidas que o INSS está autorizado a dispor, em ato próprio sobre o assunto. Todavia, não figura no rol dessas medidas os mecanismos de proteção do aposentado - tomador do empréstimo consignado -, conforme propostos pelo presente projeto de lei, especialmente quanto à obrigatoriedade de contrato específico combinada com a exigência da presença física do tomador para a assinatura do contrato e a entrega dos documentos requisitados. Ressalte-se que os propostos mecanismos legais sob exame visam proteger, de eventuais fraudes, segmento extremamente vulnerável da população, qual seja, grande parte dos inativos e pensionistas titulares de
5 benefícios do Regime Geral de Previdência Social (RGPS). Assim, os mecanismos propostos se somam às medidas contidas nas leis acima citadas e nas próprias instruções normativas editadas pelo CNPS/INSS sobre o assunto. Somam-se, também, aos avanços tecnológicos protetores dos tomadores no âmbito das transações bancárias e financeiras. Depreende-se, portanto, que o presente projeto de lei contribui para o aprimoramento de nosso ordenamento jurídico, conferindo maior segurança e proteção aos inativos e pensionistas que vierem a utilizar a modalidade de empréstimo consignado, com autorização para descontos em seus benefícios previdenciários. Em vista do início da nova legislatura e da retomada da tramitação do projeto de lei, o Presidente desta Comissão designou-me, em 17 de março de 2011, novamente relator da matéria. Registre-se que a oportunidade de reexaminar o assunto permitiu-me reformular a conclusão contida no Relatório anteriormente oferecido a esta Comissão. III VOTO Pelas razões expostas, voto pela aprovação do Projeto de Lei do Senado nº 641, de 2007. Sala da Comissão,, Presidente, Relator